segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Elisa Alderani (Sonho de Valsa)




Como é fácil deixar-se transportar em um tempo cronologicamente longínquo, escutando uma música; neste caso uma valsa. Tempo que, está vivo no agora, neste preciso instante. Um CD toca uma valsa...

Vejo-me menina, magra, de trancinhas apertadas, vestidinho simples, sempre de manguinha comprida com saia pregueada.

Lá estou eu, naquela pequena casa, sem luxo, frente a um magnífico jardim. Um pequeno aparelho de rádio tocando. Foi um presente de meu irmão mais velho que já trabalhava na fábrica da cidade. Comprado a prestação, fazia a alegria de minha mãe.

Ela amava ouvir programas musicais, consertos sinfônicos e música clássica, especialmente as valsas de Viena.

- Agora, agora, vem aqui "Lisute". Com este apelido ela me chamava, pegava-me pelas mãos e ensinava-me a dançar a valsa…

Assim, olha: "Um, dois, três, e um, dois, três"... O vestidinho rodado abria, eu fechava os olhos e sonhava estar em um lindo salão de baile, dançando com um príncipe. O vestido era de seda e o sapatinho de cristal... Igual a história de Cinderela.

A música acabava e tudo ficava como antes. Eu voltava contente ao brinquedo posto de lado e minha mãe retomava o trabalho deixado, voltava ao fogão, Ela sabia cozinhar muito bem, até os ingredientes mais simples se transformavam em pratos deliciosos; especialmente os doces e os bolos faziam a alegria na hora da merenda.

Acredito piamente que também ela, por um momento, a duração da valsa, viveu meu mesmo encanto, deixando-se transportar pelo lindo sonho de valsa...

A realidade de Cinderela iria reconduzi-la com um sorriso à nossa casinha pobre, mas cheia de paz e serenidade.

Fonte:
Elisa Alderani. Flores do meu jardim – Fiori del mio giardino. Edição bilingue. Ribeirão Preto/SP: Legis Summa, 2008.

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