sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Contos e Lendas do Mundo (Inglaterra: O Rei dos Gatos)


Numa tarde de Inverno, a mulher do coveiro estava sentada junto da lareira, com Old Tom, o seu grande gato preto, ao lado, à espera, semi-adormecidos, de que o dono da casa regressasse. Por fim, entrou precipitadamente e bradou:

- Quem é Tommy Tildrum?

Estava tão nervoso, que a mulher e o gato o olharam fixamente, empenhados em averiguar o que tinha.

- Que te aconteceu? - inquiriu ela. - Porque estás tão interessado nisso?

- Devias ter visto o que me sucedeu! Preparava-me para abrir a sepultura do velho Fordyce e creio que adormeci. O caso é que acordei ao ouvir o miar de um gato.

- Miau - fez Old Tom.

- Sim, exatamente desse modo! Espreitei por cima da sepultura, e que te parece que vi?

- Como queres que o saiba? - replicou a esposa.

- Imagina nove gatos pretos, todos iguais ao nosso Old Tom, com uma mancha branca no peito. E que achas que transportavam? Uma pequena urna, com uma mortalha de veludo preto por cima, e, sobre ela, uma coroa de ouro, enquanto, a cada passo que davam, gritavam em coro: "Miau!"

– Miau! - ecoou Old Tom.

- Sim, exatamente desse modo! - afirmou o coveiro. - A medida que se aproximavam, pude vê-los melhor, pois os olhos emitiam um clarão verde e fixavam-se em mim. Oito deles transportavam a urna, precedidos pelo maior, que caminhava com uma dignidade impressionante... Repara como o nosso Old Tom me olha! Até parece que entende tudo o que digo.

- Continua, continua - urgiu a mulher. - Não te preocupes com ele.

- Como dizia, avançavam com lentidão e aprumo, continuando a gritar "Miau!" a cada passo que davam.

- Miau! - tornou a repetir Old Tom.

- Sim, exatamente nesse tom, até que chegaram ao local, colocaram-se em volta da sepultura de Fordyce, mesmo diante de mim, e ficaram a olhar-me em silêncio... Mas repara no Old Tom, que não afasta a vista de mim, como eles!

- Continua, continua - estimulou a mulher. - Não te preocupes com ele.

- Onde é que ia?... Ah, já sei! Olhavam-me todos fixamente. Por fim, o que vinha à frente adiantou-se um passo e, em voz débil, juro-te que isto é verdade, disse-me: "Comunica a Tom Tildrum que Tim Toldrum morreu." Foi por isso que te perguntei se sabias quem era Tom Tildrum. De contrário, como lhe posso comunicar que Tim Toldrum morreu?

- Repara no Old Tom! - exclamou a mulher.

Ficaram ambos embasbacados, quando o gato arqueou o corpo, eriçou o pelo e bradou:

- O velho Tim morreu? Então, passei a ser o rei dos gatos!

E escapou-se velozmente pela chaminé, para não tornar a ser visto.

Fonte:
Ulf Diederichs, Palácio dos Contos. Lisboa/Portugal: Círculo de Leitores, 1999.

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