segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Professor Garcia (Trovas que Sonhei Cantar) 6


A cruz que a pobre criança,
carrega sem perceber...
Tem os braços da esperança
e a luz do eterno viver!
*
Ama mais!... Sê mais feliz!...
Que esse amor, nas horas calmas,
será qualquer cicatriz
que dói no fundo das almas!
*
Aos ritos do amor se entrega
um casal apaixonado,
que até nos olhos carrega
o silêncio do pecado!
*
As borboletas formosas
imitando o beija-flor,
deixam nos lábios das rosas
eternos beijos de amor!
*
A tapera, no abandono,
afirma que em seu tormento,
sempre escuta a voz do dono
quando sopra a voz do vento!
*
À tarde, é que se descobre,
o quanto o sol nos afaga;
se apaga essa luz tão nobre
só a saudade não se apaga!
*
Desde minha juventude
que eu faço versos feliz...
Já fiz todos quanto pude,
mas o que eu quero, não fiz!
*
Essas roseiras viçosas
que a mão de Deus recupera,
nos dão de presente as rosas
que eclodem na primavera!
*
Faz ó Deus, que eu seja forte.
que em mim, brilhe a eterna Luz!
Que até meu fim, que eu suporte
os braços de minha cruz!
*
Fostes primavera em flor,
ó, mãos, na infância da idade!…
E hoje, no outono do amor,
sois estações de saudade!
*
Graças a Deus!... Minha aurora,
me reflete a mesma luz
daquela Estrela, que outrora,
brilhou nos braços da cruz!
*
Meu sertão não tem floresta,
é pobre o pó deste chão...
Mas esta paz que me empresta
me faz amar meu sertão!
*
Muito além, das nuvens densas,
do azul, desse mundo assim...
Reside o Pastor das crenças
desse Infinito sem fim!
*
Nas nuvens, da cor de neve,
com tinta rubra e dourada...
Deus mostra a paz que descreve
os arrebóis da alvorada!
*
Na tapera abandonada,
toda noite, a vela acesa...
Mostra a saudade sentada
repartindo o pão na mesa.
*
Na velha praça, à distância,
escuto um grito de dor,
da sombra de minha Infância
juntando cacos de amor!
*
Nossa vida se assemelha
à flacidez de uma vela,
que o tempo, a cada centelha,
enruga a beleza dela!
*
Ouvindo a voz do acalanto
dos fados sentimentais,
tentando acalmar meu pranto
dobrei a dor dos meus ais!
*
Quando a aurora adormecida,
rasga o ventre da alvorada...
Ouve-se o choro da vida
nos braços da madrugada!
*
Quando a noite me conduz,
minha inspiração vagueia
sob a neblina de luz
dos raios da lua cheia!
*
Quando nasce uma criança,
Deus vem do céu, para vê-la.
É uma estrela de esperança
enchendo a vida de estrela!
*
Quem és tu? fala destino,
aonde vais, de onde vens?
Sou teu viver peregrino,
dono de tudo que tens!
*
Se alguém me ferir, não ligo;
só perdoar me convém!...
Perdão - resposta e castigo
a quem coração não tem!
*
Se as rimas são maltrapilhas,
assumo os versos que faço...
No passo das redondilhas,
eu tento acertar meu passo!
*
Sem mágoa e sem dissabor,
onde eu pisar neste chão…
Que brote a rosa do amor,
nunca a flor da solidão!
*
Se na fé, tu te assemelhas,
ao justo Mártir da cruz...
Serás luz, entre as centelhas,
de outras centelhas de luz!
*
Sozinho!... E, no velho outono
da vida, na noite fria!...
A nostalgia, sem sono,
me esquenta a noite vazia!
*
Teu adeus trouxe os tormentos,
e com tanta fugacidade...
Que até nos uivos dos ventos
escuto a voz da saudade!
*
Uma aranha tão singela,
nada faz, que a nada ofenda;
é uma tecelã tão bela
que dorme em rede de renda!
*
Usando as tintas mais belas,
curto os sonhos de menino.,.
Pintando vergéis nas telas
dos arrebóis do destino!
*
Vai com fé, que a vida é bela,
se crês filho, a paz te alcança;
que a fé brilha, e o brilho dela,
mantém acesa a esperança!

Fonte:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar. vol.2. Caicó: Ed. do Autor, 2018.

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