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segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Mensagem na Garrafa 148 – Luiz Otávio (Oração do Poeta)

 

LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP
Oração do Poeta 

Senhor!

Eu vos agradeço, humildemente, por terdes, entre muitos, dado a mim o dom da poesia!

Fazei que jamais eu esqueça de que nada sou, e que de Vós, tudo me veio!

Não permitais que eu use os meus versos para bajular os poderosos e humilhar os pequeninos!

Nas vitórias de meus irmãos que eu sinta a mesma alegria que sentiria se elas fossem minhas!

Se generosamente, a mim trouxerem coroas de louro, que eu as receba com a mesma humildade com que Vós aceitastes a coroa de espinhos!

Que na realidade eu não seja outro diferente daquele mostrado na minha poesia!

Que eu ouça com serenidade as críticas dos amigos, as invejas dos invejosos, e os elogios dos bajuladores!

Que eu cante singelamente, como um pássaro liberto, o canto que Vós me destes sem me preocupar com os aplausos deste mundo!

Que meus versos sirvam de estimulo aos jovens,
de consolo aos velhos,
de esperança aos aflitos,
e de paz aos angustiados.

Que minha vida e minha poesia, nos minutos de alegria

e nos momentos de dor, sejam sempre condensadas numa só palavra: 
A M O R!…

Imagem criada por JFeldman com Microsoft Bing

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Mensagem na Garrafa 147 = O mais difícil de viver com um cão não é o que imaginas


Joe Randolph Ackerley
(Londres/Reino Unido, 1896 – 1967)

O mais difícil de viver com um cão não é o que imaginas.

Não é sair com ele à chuva, no frio, quando estás cansado e sem forças.

Não é recusar viagens ou convites — “Estar sem ele.”

Não é o pelo em todo o lado — na cama, na comida, nas tuas roupas.

Não é limpar o chão vezes sem conta, sabendo que logo voltará a ficar sujo.

Não são as contas do veterinário, nem o medo de perder algo importante.

Não é perder a liberdade — porque agora a liberdade chama-se “nós”.

Nem é o fato de o teu coração já não te pertencer.

Tudo isso é amor. Tudo isso é vida. Tudo isso é escolha.

O mais difícil chega devagar, como a dor nas velhas cicatrizes, como o frio que entra nos ossos.

Um dia percebes: ele já não consegue.

Tenta, mas não consegue. Corre até ti, mas mais devagar.

Os olhos são os mesmos, só que neles há aquele silêncio: “Estou aqui, mas está a custar.”

Lembras-te de como ele era. E de como se tornou — totalmente teu, fiel até ao fim.

Sempre acreditou que estarias lá, que o ajudarias, que o salvarias.

E estiveste. Mas agora não o podes salvar da velhice.

O mais difícil é saber: para ti ele foi luz,
mas para ele tu foste todo o universo.

Viveu por ti, respirou por ti, amou-te incondicionalmente.

E tu não estás pronto. Não estás pronto para deixá-lo ir.

Depois vem o silêncio.

A almofada vazia. A tigela intocada.

E o teu coração — ferido.

Sais de casa — mas sem ele.

E ouves-te a murmurar no vazio: “Vamos, meu bom amigo.”

Mas se pudesses voltar atrás no tempo — escolherias de novo.

Com toda a dor, com todo o cansaço, com todo o amor.

Porque esse amor é verdadeiro.

Ter um cão na tua vida é deixar entrar o fogo,
que te aquecerá para sempre. 

Mesmo depois de se apagar.
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JOE RANDOLPH ACKERLEY (1896 - 1967) foi um escritor e editor britânico. Começou a trabalhar na BBC um ano após a sua fundação, em 1927, e foi promovido a editor literário do The Listener, o seu semanário, onde trabalhou por mais de duas décadas. Publicou muitos poetas e escritores emergentes que se tornaram influentes na Grã-Bretanha.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Mensagem na Garrafa 146 = Amigos loucos e sérios (de Oscar Wilde)


Oscar Wilde
Dublin/Irlanda, 1854 – 1900, Paris/França

Amigos loucos e sérios

Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.

Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero meu avesso.

Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco.

Louco que senta e espera a chegada da lua cheia.

Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.

Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade palermice, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Pena, não tenho nem de mim mesmo, e risada, só ofereço ao acaso.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos, nem chatos.

Quero-os metade infância e outra metade velhice.

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.
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Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde nasceu em 1854, na cidade irlandesa de Dublin. Na infância, era muito apegado à mãe, uma poetisa casada com um famoso cirurgião. O dr. William Wilde, pai do escritor, esteve envolvido em um escândalo sexual quando foi a público um caso amoroso (ou de suposto abuso) com uma jovem. Oscar estudou em Dublin e em Oxford, onde iniciou sua carreira literária com o premiado poema Ravenna, em 1878. Mudou-se para Londres, em 1879. Com a publicação de seu primeiro livro — Poemas —, em 1881, começou a ficar conhecido. No ano seguinte, viajou aos Estados Unidos como palestrante. Casou-se, em 1884, com a escritora Constance Lloyd (1858-1898). Além de ser dramaturgo e poeta, também trabalhou em uma revista de moda feminina chamada Woman’s World. A essa altura, entre 1887 e 1889, já era bastante famoso na Inglaterra. Em 1889, iniciou a escrita do romance O retrato de Dorian Gray e se tornou amigo de Robert Ross (1869-1918), uma pessoa que seria seu grande apoiador durante os anos de prisão. Esse fim trágico teve início quando Wilde conheceu, em 1891, o jovem Alfred Douglas (1870-1945), sua grande paixão. Era um rapaz mimado e egoísta, como o autor sugere em seu livro De profundis. Com ele, o escritor vivenciou uma fase de homossexualismo intenso, mas também de muitos gastos. O rapaz tinha uma relação conturbada com o pai, o marquês de Queensberry. Ele queria que o filho terminasse seu relacionamento amoroso com o escritor. Revoltado, o marquês chamou Wilde de “sodomita”. Assim, em 1895, influenciado pelo amante, Wilde processou o marquês por difamação. Mas os testemunhos contra o escritor durante o julgamento fizeram com que ele fosse julgado e preso por sua homossexualidade. Wilde foi condenado a dois anos de trabalhos forçados por sua orientação sexual, e foi muito humilhado. Foi solto em 1897, mas, desprezado pela sociedade da época, exilou-se na França com o nome falso de Sebastian Melmoth. Apesar de receber a ajuda de alguns amigos fiéis, morreu na pobreza, em um hotel de Paris, em 30 de novembro de 1900.
O esteticismo, movimento artístico a que pertenceu Oscar Wilde, defendia a beleza como principal objetivo estético. Essa concepção de arte buscava criar uma realidade ideal e prazerosa. Dessa forma, em suas obras trazem reflexões em torno da fugacidade da vida e da beleza. O autor, ao expor questões sociais e morais da época, recorreu à ironia e ao paradoxo. O individualismo é valorizado em detrimento do que é coletivo. Por isso, seus textos tratam de questões existenciais, como a culpa, mas também falam de corrupção, sacrifícios, luxúria, violência e mostram uma sociedade decadente ainda presa ao esnobismo de classe.
Fontes:
Oscar Wilde. A esfinge sem segredo e outras histórias. Publicado originalmente em 1887 . Disponível em Domínio Público.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

domingo, 24 de agosto de 2025

Mensagem na Garrafa 145 = O céu, o inferno e a amizade


AUTOR DESCONHECIDO
O céu, o inferno e a amizade

Um homem, seu cavalo e seu cão, caminhavam por uma estrada. Depois de muito caminhar, esse homem se deu conta de que ele, seu cavalo e seu cão haviam morrido num acidente.   

Às vezes os mortos levam tempo para se dar conta de sua nova condição. A caminhada era muito longa, morro acima, o sol era forte e eles ficaram suados e com muita sede. Precisavam desesperadamente de água.

Numa curva do caminho, avistaram um portão todo magnífico, todo de mármore, que conduzia a uma praça calçada com blocos de ouro, no centro da qual havia uma fonte de onde jorrava água cristalina.

O caminhante dirigiu-se ao homem que numa guarita, guardava a entrada.

- Bom dia, ele disse.

- Bom dia, respondeu o homem.

- Que lugar é este, tão lindo?, ele perguntou.

- Isto aqui é o céu, foi a resposta.

- Que bom que nós chegamos ao céu, estamos com muita sede, disse o homem.

- O senhor pode entrar e beber água à vontade, disse o guarda, indicando-lhe a fonte.

- Meu cavalo e meu cachorro também estão com sede.

- Lamento muito, disse o guarda. Aqui não se permite a entrada de animais.

O homem ficou muito desapontado porque sua sede era grande. Mas ele não beberia, deixando seus amigos com sede. Assim, prosseguiu seu caminho.

Depois de muito caminharem morro acima, com sede e cansaço multiplicados, ele chegou a um sítio, cuja entrada era marcada por uma porteira velha semi-aberta.

A porteira se abria para um caminho de terra, com árvores dos dois lados que lhe faziam sombra. À sombra de uma das árvores, um homem estava deitado, cabeça coberta com um chapéu, parecia que estava dormindo:

- Bom dia, disse o caminhante.

- Bom dia, disse o homem.

- Estamos com muita sede, eu, meu cavalo e meu cachorro.

- Há uma fonte naquelas pedras, disse o homem e indicando o lugar. Podem beber a vontade.

O homem, o cavalo e o cachorro foram até a fonte e mataram a sede.

- Muito obrigado, ele disse ao sair.

- Voltem quando quiserem, respondeu o homem.

- A propósito, disse o caminhante, qual é o nome deste lugar?

- Céu, respondeu o homem.

- Céu? Mas o homem na guarita ao lado do portão de mármore disse que lá era o céu!

- Aquilo não é o céu, aquilo é o inferno.

O caminhante ficou perplexo.

- Mas então, disse ele, essa informação falsa deve causar grandes confusões.

- De forma alguma, respondeu o homem. Na verdade, eles nos fazem um grande favor. Porque lá ficam aqueles que são capazes de abandonar até seus melhores amigos.

Fontes: 
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sábado, 23 de agosto de 2025

Mensagem na Garrafa 144 = Antero Jerónimo (Lisboa/Portugal)


Antero Jerónimo 
(Lisboa/Portugal)

Doses intensas de desejo adensam o ar de rarefeitos odores.

A razão é um pássaro temeroso, em voo desgovernado, despenhando-se pelas escarpas salientes da paixão.

As palavras ensaiam dialetos de sedução, promessas de prazer em momento de antecipação.

O universo confidencia amores intrépidos em teu regaço pagão.

Lânguidos são os olhares, pestanejando na sede fátua de anunciada insatisfação.

Os lábios comprimem-se boquiabertos, mudos de espanto, enquanto ouvidos guardam segredos.

Os corpos espreguiçam-se na constância de ininterruptas vagas, imagens de fogo alimento de imaginação.

O prazer é uma casa de portas viradas do avesso, refúgio de vontades em corpos subjugados.
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Antero Maria Jerónimo, é natural do concelho de Abrantes/Portugal, onde nasceu em 1962. Casado, pai de duas filhas, é aposentado do Exército. Os livros sempre lhe foram fiel companhia desde tenra idade, mas só começou a escrever a partir de 2013. Participa regularmente em tertúlias e eventos literários. Há uma página de autor no Facebook “Na Pele do Sentir” que serviu de inspiração ao nome deste livro. Obteve o 2.º lugar no II Concurso Literário da Edições Vieira da Silva, entre 120 autores a nível Nacional. É autor do programa de rádio “Ligados à Poesia” na RLX- Rádio Lisboa, desde 2021, onde divulga poesia de vários autores. Tem também um espaço de entrevistas “Autores Com Voz” no Youtube para dar a conhecer autores. Editou dois livros de poesia Janela do Tempo, em 2015, e Na Teia do Esquecimento, em 2022. Desde 2013 e até ao presente participou em mais de três dezenas de Coletâneas e Antologias Poéticas.
Fontes:
Facebook do autor
Dados Biográficos = Edições Vieira da Silvana 
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quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Mensagem na Garrafa 143 (Tito Olívio Henriques) O Verão de Antigamente

TITO OLÍVIO HENRIQUES
(Vila Cova do Covelo/Portugal, 1931 – 2024, Faro/Portugal)

O verão de antigamente

Nos anos 30 e 40 do século passado, que incluíam os seis anos da Segunda Guerra Mundial, já havia uma grande afluência às praias, mas ao domingo, que era o único dia de descanso semanal. No campo ainda se trabalhava de sol a sol e só tinham férias de um mês os funcionários públicos. Na atividade privada, os patrões davam quinze dias de férias por ano e apenas aos empregados mais antigos.

Como a quase totalidade das pessoas tinha de utilizar os transportes públicos, somente podia frequentar as praias servidas por eles. Quem vivia em Lisboa tinha ao seu dispor o elétrico, o comboio de Cascais e os barcos do Tejo. O primeiro chegava até o Dafundo, permitindo que se aproveitasse a praia de Algés ou a da Cruz Quebrada; o segundo tinha início no Cais do Sodré e servia toda a chamada linha, permitindo usar as praias de Caxias, Paço de Arcos, Parede, Estoril e Cascais; os terceiros partiam de Belém e dirigiam-se para a Trafaria, de onde havia autocarros (chamavam-se camionetas) para a Costa da Caparica. O transporte mais barato era o elétrico, mas, mesmo assim, andava-se muito a pé, para poupar uns centavos. O custo dos bilhetes estava dividido em três escalões, conforme a distância, sendo de cinquenta (verde), oitenta centavos (amarelo) e um escudo (vermelho). Aos dias de semana e antes das oito horas da manhã, este último tinha um desconto para setenta e cinco centavos e chamava-se bilhete operário.

Os pobres atravessavam a cidade de Lisboa, a pé, descendo para a rua marginal, onde apanhavam o elétrico que partia de Xabregas e seguia até à Cruz Quebrada, passando pelo Terreiro do Paço, Cais do Sodré, Alcântara, Belém e Algés, cujo bilhete custava um escudo, estando isentas as crianças até os quatro anos.

Na praia, os banheiros instalavam barracas e toldos, mas os mais pobres sentavam-se na sombra formada nas traseiras das barracas, onde não tinham de pagar. Os banhos eram de manhã e à tarde e o almoço não era menos importante. Comia-se de prato e garfo e ninguém dispensava o garrafão de vinho. Para isso, as mulheres levavam, em alcofas de palha ou em cestos de verga, a comida feita, a louça e talheres necessários. Estas refeições também não dispensavam o guardanapo de pano e a fruta. Por essa altura, estavam na moda os piqueniques, que, fora do Verão, eram feitos nos campos de cultivo e nas hortas dos arredores da capital, porque ainda não estavam ligados a Lisboa o Lumiar, Odivelas, Sacavém e Olivais.

As férias escolares eram de três meses, de Julho a Setembro. A burguesia alugava casas de pescadores nas praias do litoral oceânico, entre Sintra e Mafra, onde, os homens deixavam a família e as criadas, ficando em Lisboa a trabalhar, apenas podendo aproveitar aquela mudança de ares nos domingos e nas suas pequenas férias. As pessoas do povo, porém, não podendo dar-se a esse luxo, iam ao domingo à praia, de transporte público. Os oriundos de fora da capital aproveitavam as férias do chefe da família para irem para a terra, exibindo, na pobreza das aldeias provincianas, uma falsa riqueza de quem vivia em Lisboa, traduzida em roupas novas e em dinheiro para gastar nas vendas.
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TITO OLÍVIO HENRIQUES mudou-se para Lisboa ainda durante a infância, tendo feito os seus estudos naquela cidade. Em 1958, licenciou-se em engenharia civil, e em 1981 concluiu a licenciatura em Sociologia. Viveu na cidade de Faro desde 1963. Trabalhou como técnico superior da Direção-Geral dos Recursos Naturais, e dirigiu os Serviços Regionais de Hidráulica do Guadiana, em Faro. Membro da Ordem dos Engenheiros. Professor de ensino técnico em Silves e de Faro, e ensino no Liceu de Faro. Destacou-se pelo apoio que deu às associações de Faro, tendo dirigido o Cineclube de Faro, o Sporting Clube Farense, a Comissão Distrital de Árbitros de Faro, a Comissão Administrativa do Sport Faro e Benfica, a Associação de Xadrez de Faro, a Delegação de Faro da Cruz Vermelha Portuguesa, a Santa Casa da Misericórdia de Faro e a Direção dos Bombeiros Voluntários de Faro, membro da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Foi responsável pela organização de conferências e de vários eventos culturais. Fundador e editor do jornal Poetas de Faro, e subdiretor do Jornal Escrito. Publicou vários textos em prosa e versa em jornais e revistas regionais, além de antologias. Lançou cerca de sessenta livros, incluindo poesia, prova, ensaio e crónicas. Participou em várias edições dos Jogos Florais, tanto em Portugal como no Brasil. Recebeu mais de cem prêmios literários, tanto em Portugal como no Brasil. Em 1973 recebeu a medalha de louvor da Cruz Vermelha Portuguesa, em 2011 foi condecorado com a Medalha de Mérito, Grau Ouro da Câmara Municipal de Faro 

Fontes> Carlos Leite Ribeiro e Iara Melo (eds.). Recanto da Prosa e do Verso. Ano II - Agosto - 2009. http://www.caestamosnos.org/Recanto_Prosa_e_Verso/Agosto_2009.html 
Biografia = https://pt.wikipedia.org/wiki/Tito_Olívio
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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Mensagem na Garrafa 142 (Libia Carciofetti) Os Amigos são...


Libia Beatriz Carciofetti 
Argentina

Os amigos são…

Os amigos são como o “cachecol” que me teceu minha mãe … Tão quente e macio! para conservar o seu perfume, embora ela não esteja comigo.

São os caramelos de menta que tenho sempre em minha mesa de cabeceira, no caso de eu ter uma tosse à noite, estendo o meu braço e costumo sentir o “barulhinho” do papel celofane ao desenrola-los, já me acaricia a garganta ..

Os amigos são os “sapatos” que conservo escondido por ali… e quando eu provei pela primeira vez dei-me conta que eu estava usando uma luva …

São as “figurinhas” brilhantes que jogava no playground com cara ou coroa, e ganhava e as acomodava entre as páginas do meu livro bem passadas… e não queria perdê-las.

Os amigos são como os ovos “kinder” que papai me trazia porque sabia que toda a noite eu estive pensando “qual seria a surpresa que traria consigo? sem importar se eu comer a cobertura.

São como o “lenço” no bolso da roupa ou avental, pois se me resfrio …dobrado em triângulo com pontinha tecida por minha avó.

Os amigos são como o “cartão postal” de aniversário que me enviou meu pai. Porque trabalhava muito longe e não podia estar quando eu fiz 5 anos.

São como as “meias” de lã com as quais “patinava” no assoalho da casa sem raspar.

Os amigos são como o “chocolate” quente nas tardes de inverno, que nos alegra o dia… pois com seu calor nos aquece até a alma.

São como o “cofrinho” que nunca se enche, porque sempre que precisamos de “ajuda financeira” sem ser visto abrimos e tiramos moedas.

Os amigos são como as “canetas” que às vezes não escrevem e devemos esfregar o cartucho, aquecê-los para continuar escrevendo.

São como a mascote que sempre nos recebe ao entrar em casa e faz palhaçadas para nós a percebamos.

Os amigos são o “oásis” no deserto da vida, sempre tem algo para nos dar, e quando são verdadeiros, nunca nos censuram, nem pedem nada em troca.

Eles são como as “flores” que adornam os jardins, deleitando os olhos e perfumando a todos que passam.

Meus amigos são como um bando de “glicinas”, minha flor favorita … cada flor ligada a um galho e todas formam um ramalhete… se … se … meus amigos são isso, um buquê de florzinhas perfumadas, que no muro de minha vida se vão misturando e me afogando em amor e ternura … São de sexos diferentes, raças diferentes, idades diferentes, culturas diferentes …

São como as velas de aniversário que se sopra para apaga-las, mas elas continuam brilhando.

E hoje o mundo comemora o dia do amigo, eu agradeço a Deus, porque graças a Ele, compreendi o verdadeiro significado da amizade … e por me amar tanto, me deu até seu filho, o único que tinha … e disse em sua palavra que eu sou sua amiga se eu fizer o que ele quer … para servir e amá-lo …

Não é uma bênção ser amigo de Deus?

Obrigado, amigos queridos, por perfumar minha vida com sua amizade!

Fontes:
Texto enviado pela autora (Tradução do espanhol por José Feldman). 
22 julho 2012.
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domingo, 11 de maio de 2025

Mensagem na Garrafa = 141 = O que é ser mãe…


JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

O que é Ser Mãe…

Quando a dor se aproxima, ela é a luz,
com um beijo e um abraço, tudo se acalma.
Mãe, teu amor é o que sempre traduz
na tempestade da vida, és nossa alma.

O sol desponta no horizonte, e o dia começa com um cheiro doce de café fresco e o som suave de risadas infantis. É o Dia das Mães, uma data que, embora comemorativa, sempre parece ser um lembrete do que significa ser mãe. Para muitas, ser mãe é um chamado, uma jornada que começa muito antes do primeiro choro do bebê e se estende por toda a vida.

Desde o momento em que a gravidez é anunciada, um turbilhão de emoções toma conta. A alegria e a ansiedade se misturam, enquanto o corpo passa por transformações. As noites em claro começam antes mesmo do bebê nascer, com as preocupações sobre o que está por vir. São os medos que dançam na mente: "E se não for capaz? E se algo der errado?" Cada movimento do pequeno ser dentro de si é um lembrete do milagre da vida e da responsabilidade que está por vir.

Quando finalmente o bebê chega, a realidade se instala. As primeiras semanas são um oceano de noites em claro, com choros e fraldas trocadas em meio a olheiras profundas. Mas cada sorriso que surge, cada pequeno gesto de carinho, faz todo o cansaço valer a pena. 

Ah, como é doce ver o primeiro sorriso, o primeiro balbuciar de palavras que ecoam como música no coração. "Mãe" se torna a palavra mais bela que alguém pode ouvir.

A jornada de ser mãe é, no entanto, um caminho repleto de desafios. A educação e a criação dos filhos são tarefas que exigem paciência, dedicação e, acima de tudo, amor. Cada ensinamento é uma semente plantada, e as mães se tornam jardineiras da vida, cuidando para que essas sementes cresçam saudáveis e fortes. Elas se preocupam com a alimentação, a educação, as amizades… Tudo isso enquanto tentam equilibrar o trabalho e as demandas do lar.

Quando os filhos ficam doentes, o coração da mãe se parte em mil pedaços. As noites em claro se tornam ainda mais dolorosas, com a angústia de ver a criança sofrendo. É uma batalha diária, de cuidar, de confortar, de estar presente. E mesmo quando os filhos crescem e começam a explorar o mundo, as preocupações não diminuem. Cada machucado, cada queda é um novo motivo de apreensão. A mãe se vê sempre pronta para oferecer um abraço, um beijo, um remédio e, principalmente, um amor que cura.

E quando a adolescência chega, o desafio se intensifica. Os filhos começam a buscar sua identidade, e muitas vezes, isso significa desviar-se do caminho que as mães imaginavam. As brigas e desentendimentos são inevitáveis, e o coração materno sente cada uma das feridas. Mas, em meio a toda a dor, existe algo mais forte: o perdão. Porque ser mãe é também saber compreender, é aceitar que os filhos são seres humanos que erram e aprendem. E, assim, mesmo quando fazem escolhas que as magoam, as mães sempre encontram forças para abraçá-los novamente, com amor incondicional.

Ser mãe é uma batalha diária, onde o amor e o sacrifício se entrelaçam em um fio invisível que une gerações. É trabalhar fora e, ao chegar em casa, ainda ter disposição para brincar, ouvir, entender e apoiar. 

É viver em um constante estado de alerta, sempre atenta às necessidades dos filhos, mesmo quando isso significa esquecer-se de si mesma.

No final do dia, quando os filhos dormem tranquilamente, a mãe olha para eles e sente que, apesar de todas as dificuldades, cada lágrima, cada sorriso, cada desafio valeu a pena. E, mesmo com o coração cansado, ela se sente rica, porque sabe que o amor que dá é o mesmo amor que receberá de volta, em forma de abraços e sorrisos que iluminam até os dias mais sombrios.

Neste Dia das Mães, celebramos não apenas a figura materna, mas toda a complexidade e beleza de ser mãe: a força que vem da vulnerabilidade, a coragem que nasce do amor e a capacidade de perdoar e recomeçar. 

Que cada mãe se sinta abraçada, valorizada e reconhecida, pois o que fazem vai além do dia a dia; elas moldam o futuro com seu amor incondicional.

Fontes:
José Feldman. Gangorra do tempo. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 
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segunda-feira, 28 de abril de 2025

Mensagem na Garrafa = 140 =


LUCIANA SOARES CHAGAS 
Rio de Janeiro/RJ

Só eu sei por que

Eu não sei por que, não sei dizer, não me peça para explicar, mas foi assim...

Já parei para pensar muitas vezes e continuo sem saber o porquê, sem saber explicar, eu só sei que foi assim...

Ver tua foto, depois fechar os olhos e ver-te perto. 

Quero manter os olhos fechados, porque te sinto a mim abraçado e todos os meus sentidos despertos. 

Eu não sei por que, não sei dizer, não me peça para explicar, eu só sei que foi assim...

Vou continuar olhando tua foto, para de olhos fechados ver teu sorriso aberto.

Me espera, só mais um pouco, eu estou chegando...

Mas, se quiser sonhar meu sonho, eu também estou aqui, de braços abertos, para me sentires bem perto, muito perto.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 

LUCIANA SOARES CHAGAS é do Rio de Janeiro/RJ. Doutoranda em Educação, Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade. Especialista em Gestão de Recursos Humanos. Formação em Pedagogia Empresarial. Especialização em Mídias e Tecnologia na Educação pela Universidade Veiga de Almeida e Licenciatura em Pedagogia. Docente há mais de 10 anos dos cursos de MBAs do Núcleo de Negócios e das Pós Graduação de Educação. Palestrante nas Jornadas presenciais para os alunos da EaD. Atuou como Instrutora comportamental em empresas como ABRADECONT, Marinha de Brasil-EMGEPRON, Miriam S.A., CIPA Administradora (BKR-Lopes e Machado), IBEF, Casa de Cultura (SevenStarmarketing). Diretora e sócia da Prassos Treinamento Empresarial. Autora de diversos E-books de disciplinas da área de Pedagogia na Universidade Veiga de Almeida e Organizadora do Livro E-Book da Coletânea de textos sobre inclusão escolar: Pedagogia.

Fontes:
Texto enviado pela autora.

sábado, 26 de abril de 2025

Mensagem na Garrafa = 139 =


ELIANE DE ARAUJO 
São Paulo/SP

O que é o amor?

Numa sala de aula, havia várias crianças. Quando uma delas perguntou à professora:

- Professora, o que é o amor?

A professora sentiu que a criança merecia uma resposta à altura da pergunta inteligente que fizera. Como já estava na hora do recreio, pediu para que cada aluno desse uma volta pelo pátio da escola e trouxesse o que mais despertasse nele o sentimento de amor.

As crianças saíram apressadas e, ao voltarem, a professora disse:

- Quero que cada um mostre o que trouxe consigo.

A primeira criança disse:

- Eu trouxe esta flor, não é linda?

A segunda criança falou:

- Eu trouxe esta borboleta. Veja o colorido de suas asas, vou colocá-la em minha coleção.

A terceira criança completou:

- Eu trouxe este filhote de passarinho. Ele havia caído do ninho junto com outro irmão. Não é
uma gracinha?

E assim as crianças foram se colocando.

Terminada a exposição, a professora notou que havia uma criança que tinha ficado quieta o tempo todo. Ela estava vermelha de vergonha, pois nada havia trazido.

A professora se dirigiu a ela e perguntou: - Meu bem, por que você nada trouxe? E a criança timidamente respondeu:

- Desculpe, professora. Vi a flor e senti o seu perfume. Pensei em arrancá-la, mas preferi deixá-la para que seu perfume exalasse por mais tempo. Vi também a borboleta, leve, colorida! Ela parecia tão feliz que não tive coragem de aprisioná-la. Vi também o passarinho caído entre as folhas, mas, ao subir na árvore, notei o olhar triste de sua mãe e preferi devolvê-lo ao ninho. Portanto professora, trago comigo o perfume da flor, a sensação de liberdade da borboleta e a gratidão que senti nos olhos da mãe do passarinho. Como posso mostrar o que trouxe?

“A professora agradeceu a criança e lhe deu nota máxima, pois ela fora a única que percebera que só podemos trazer o amor no coração".
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Eliane de Araujo, nasceu em São Caetano do Sul, mora em São Paulo, é escritora, comunicadora, palestrante, Bacharel em Matemática com Ênfase em Processamento de Dados, Neurolinguísta e Numeróloga. Trabalhou como atriz na Paixão de Cristo de São Tomé das Letras, Trabalhou como analista de sistemas na empresa General Motors, fundou em 1996 a empresa Consciência Cósmica Cursos, Livraria e Turismo. Um espaço para o desenvolvimento pessoal com loja, cursos, palestras, atendimentos, viagens e eventos. Seleciona os profissionais que desenvolvem suas atividades no Espaço e também organiza diversas Viagens para locais místicos como São Tomé das Letras, Chapada dos Veadeiros, Serra do Roncador, Machu Picchu (Peru), Egito, India, etc. Autora dos Livros: É dentro de ti onde tudo acontece; Histórias para sua Criança Interior; Liberdade de Ser.

Fontes:
Eliane de Araujo. Histórias para sua Criança Interior. Editora: Roca. Disponível no livro Momento Espírita v. 2 e no CD Momento Espírita v. 6, ed. FEP. em 18.10.2010..
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

segunda-feira, 24 de março de 2025

Mensagem na Garrafa = 138 = A Ilusão da Superioridade


AUTOR ANÔNIMO
A Ilusão da Superioridade

Dizem que a pedra é dura,
mais duro é o teu coração;
ela é dura, na verdade,
mas não faz ingratidão.
(Quadra anônima)
* * *

Na vastidão da criação literária, a poesia ocupa um espaço sagrado, onde a alma humana se expressa em versos, emoções e imagens. Contudo, quando a pessoa se vê como o centro do universo, sua visão pode se transformar em um espelho distorcido de sua própria prepotência. Essa figura, que se julga superior e detentora da verdade absoluta, é um exemplo perturbador das desvantagens de uma perspectiva egocêntrica.

Esta pessoa, envolta em suas convicções, acredita que suas palavras são verdadeiras epifanias, superiores a qualquer outra forma de expressão. Ela se coloca em um pedestal, onde a humildade e a vulnerabilidade são deixadas de lado em favor de uma autoconfiança exacerbada. Essa posição não apenas a aliena de suas contemporâneas, mas também a isola em um mundo onde a empatia e a compreensão são substituídas pela crítica e pelo desprezo.

Uma das desvantagens mais evidentes dessa postura é a tendência de julgar os outros com base em suposições e preconceitos. A pessoa, convencida de sua superioridade, se sente no direito de criticar e avaliar o trabalho alheio sem considerar o contexto e as experiências que moldaram cada autor, sem respeitar os sentimentos dos outros, atacando, julgando e condenando indiscriminadamente. Essa abordagem é, em essência, uma negação da complexidade da vida humana e da riqueza de suas narrativas. Ela ignora que cada um traz consigo um universo de vivências que influenciam sua vida.

Quando a pessoa se permite julgar, ela não apenas desmerece o trabalho dos outros, mas também fecha as portas para o diálogo e a troca de ideias. Assim, a pessoa se priva não apenas da sabedoria alheia, mas também da possibilidade de crescimento pessoal e artístico.

A crença de que se possui a verdade absoluta é uma armadilha perigosa. A pessoa prepotente, ao se colocar como a voz da razão, ignora a natureza multifacetada da verdade. A realidade é composta por uma infinidade de experiências subjetivas, e a arte é uma expressão dessas realidades. Quando ela se recusa a reconhecer isso, transforma suas palavras em um ato de arrogância em vez de um convite à reflexão.

Enquanto a pessoa se vê como superior, ela ignora que a verdadeira força reside na capacidade de tocar o coração das pessoas, de se conectar com elas em um nível profundo e significativo.

Ao criticar e afastar os outros, encontra-se cada vez mais isolada, e seu trabalho se torna um reflexo de sua própria alienação. A arte, que deveria ser uma forma de comunicação e de união, transforma-se em um grito solitário, ecoando em um espaço vazio. A falta de diálogo e de troca de experiências resulta em uma produção que, embora técnica e esteticamente correta, carece de profundidade emocional e de relevância.

A verdadeira grandeza não está em se colocar acima dos outros, mas em reconhecer a beleza e a complexidade da experiência humana. Quem abraça a humildade, que se permite ouvir e aprender, enriquece sua própria arte e se torna um canal mais profundo para a expressão de sentimentos universais.

A pessoa com esta visão de superioridade, embora possa ser tentadora como um escudo contra a vulnerabilidade, é uma armadilha que aprisiona a pessoa em um ciclo de solidão e superficialidade. Ao se julgar o centro do universo, ela se isola de um mundo rico e vibrante, repleto de experiências que poderiam enriquecer sua arte.

Esta pessoa não consegue enxergar além de seu nariz, e só consegue visualizar seu reflexo no espelho, ignorando um vasto mundo ao seu redor.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Mensagem na Garrafa = 137 =


ARTHUR THOMAZ
Campinas/SP

CUMPLICIDADE

Pequeno preito de gratidão à lua.

Tu me seduzias com tua inebriante claridade.

E eu, cativo, não resistia aos teus insistentes apelos.

Sob o manto da noite, me guiaste, soberana, quando percorri caminhos improváveis e situações inusitadas.

Me ajudaste em paixões, exibindo tuas companheiras estrelas, para que eu as contasse quando estivesse nos braços de alguém.

Sou-lhe grato também pelas inúmeras vezes, que para conter meus excessos, tu me indicavas estar indo embora, e que a intensa luz do dia não mais encobriria minha conduta.

Tu, recatada, por vezes se escondia atrás das nuvens para não presenciar minha desvairada boemia. Fostes testemunha e cúmplice de minhas aventuras em amores proibidos.

Ocultaste-me em tuas sombras quando eu corria perigo em minhas descuidadas andanças.

Certa vez, talvez para exibir-me perante os companheiros de copo, ousei afirmar que tu não passavas de matéria que se deslocara da Terra após o choque com o planeta Theia.

Ao sair, olhei para o céu, e tu, tristonha, estavas minguante. Voltei então à mesa e desdisse tudo o que antes afirmara de ti. Ao sair novamente, tu estavas crescente a sorrir para mim. 

Foi o sinal para nossa eterna cumplicidade.

Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Mensagem na Garrafa = 136 =

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA 
Vila Velha/ES

O Tempo corre, passa e não retrocede

O TEMPO, SEMPRE O TEMPO! Esse senhor misterioso que nos rodeia a cada dia, que passa, e avança. Ele não para. Vai em frente, segue emparelhado e sorrateiro, grudado em cada um de nós à tiracolo. O tempo, sempre o tempo! Essa criatura carrega consigo uma certeza inabalável. Cada segundo que se esvai é como uma gota de água que escorrega entre os nossos dedos. Portanto, impossível de ser recuperada. Desde o primeiro respirar, até o último, somos marionetes de suas cordinhas escondidas, como se fossem outros fantoches ocultados dançando ao som de uma melodia que nunca estanca.

Às vezes, paramos para refletir. Nesses intervalos de quietude, percebemos como as memórias se acumulam iguais folhas caindo no outono. Cada uma delas traz fragmentos de nós, tipo uma experiência que nos moldou e que embora distante, ainda ecoa em nosso “eu” encoberto. Mas o tempo inexorável não espera por ninguém. Não dá trégua, nem é adepto de um possível armistício. Não dorme, não come, não dá uma folga. Ele se move incessantemente, indiferente ao nosso anseio de reverter o relógio. Aliás, o relógio também não estanca para alicerçar um descanso quando todos os ponteiros se cruzam no mesmo ponto nevrálgico. 

Apenas se cumprimentam, trocam mensagens ocultas e seguem perambulando sem dizer coisa alguma. No entanto, se prestarmos a devida atenção, se não estivermos grudados na tela de um celular assistindo vídeos imbecilizados, notaremos que há uma beleza rara nessa transitoriedade. O tempo, entre tantas facetas que não percebemos, seja por descuido ou negligência, muitas vezes não atinamos por puro descaso. Apesar dos pesares, ele nos ensina a valorizar o agora, a saborear cada instante do hoje, como se fosse o nosso “já,” ou faz bailar aquele antigo jargão piegas, do “ei, cara, pega, agarra e não larga.” Certamente nos deslumbraríamos com um vivenciar edificante e magistral. 

É na urgência açodada de um minuto e outro que descobrimos que o viver que encontramos é exatamente onde se faz presente a verdadeira essência da vida. Cada riso, cada lágrima, cada amor e desilusão compõem uma tapeçaria rica e complexa que, mesmo a gente sabendo que não poderá ser desfeita, num perímetro ainda que fugaz, essa alfombra colocará uma chama de perspectiva em nosso descaso. Nesse tom, ao invés de temê-lo, talvez devêssemos abraçar o tempo com gratidão. Ele nos empurra para frente, nos desafia a evoluir, a deixar nossas marcas no ontem do mundo. O tempo corre, passa faminto de amanhã e não retrocede em busca de migalhas. 

Todavia, deixa em seus calcanhares, um legado: somos todos, sem tirar nem pôr, parte integrante de uma história que continuará a ser escrita, onde cada capítulo nos mostrará uma nova oportunidade de transformação. Lá adiante, no final da caminhada, quando olharmos para o “de onde viemos”, nos será dada a chance, talvez a derradeira, para que possamos fazer tudo o que não fizemos e agradecer com um sorriso de retribuição no rosto, e o melhor de tudo, cientes de que cada instante vivido foi, de fato, precioso. O tempo não retrocede porque a sua natureza é linear e irreversível. Essa característica é intrínseca à forma como percebemos e medimos o tempo do nosso momento presente. 

Cada lance se sucede de maneira contínua. Essa linearidade é refletida em tudo que nos cerca: as estações mudam, as fases da vida se sucedem e as experiências se acumulam. Cada ação e escolha nos molda e deixa marcas que não podem ser apagadas. Essa irreversibilidade nos mostra, nos faz ver, nos ensina a importância de valorizar o presente, a agir com consciência e a aprender com o que deixamos na poeira do passado. Além disso, o tempo também é uma força que impulsiona o crescimento e a transformação. Ele nos dá a oportunidade de prosperar, de superar desafios e de redescobrir a nós mesmos a cada novo dia, toda vez que acordamos. 

Se pudéssemos retroceder, uau!... se pudéssemos descontinuar... talvez não apreciaríamos a beleza ímpar do agora, a riqueza maviosa desse vai e vem incansável e a opulência das lições aprendidas ao longo da estrada que nos trouxe até onde estamos. Por isso o tempo nos sucede, avança, e, nesse eclodir, nos convida a seguir em frente, a correr como ele e a construir uma sequência de coisas novas que não podem ser desfeitas. Em retribuição, nos oferece uma gama incalculável de aprendizado e crescimento. Assim, ao invés de temê-lo, talvez devêssemos abraçar o tempo, esse nosso tempo com o mais glorioso reconhecimento. 

Ele nos empurra com toda força para a frente, nos desafia a evoluir, a deixar nossas marcas no ontem do mundo. O tempo corre, repito, passa e não retrocede, mas deixa em seus passos, melhor dito -, acumula em nossas pegadas, um legado excepcional, qual seja, o de entendermos que somos todos, sem tirar nem acrescentar, parte integrante de uma história que continuará a ser escrita e onde em cada capítulo se consubstanciará em uma nova “porta-oportunidade” de transformação. Lá adiante, no final da caminhada, esperando, sempre que ela seja bem longa, oxalá, quando olharmos para os lugares onde passamos e vivenciamos coisas (todas as coisas) nos seja dada a chance para que possamos sentar à sombra de uma árvore de aconchego caridoso e agradecer com um sorriso vindo não do rosto, mas do mais profundo das nossas entranhas. 

E o melhor de tudo: cientes de que cada instante se fez excepcional, peregrino e privilegiado, ainda que especial e incontroverso. Pois bem! Enquanto o tempo avança e desbrava, e nos leva aos cuidados da dona morte, ele também nos convida a refletir sobre o que realmente importa. O que fazemos com os momentos que temos agora, as conexões que formamos e as experiências que adquirimos. Essas pequenas coisas formam “o todo,” ou alimentam tudo aquilo que dá significado à passagem pelo tempo. Em última análise, levando em conta que mencionamos a morte, falemos um tiquinho apenas dela. A morte pode ser vista não como um fim, como uma parte do ciclo da vida. 

O tempo, sempre o tempo, apesar disso, ele não "supera" a morte, bem entendido, não desbasta, ou não se nivela no sentido de reverter o processo. Contudo, nos incita a encontrar significado e beleza mesmo no inesperado da existência. Essa capacidade de renovar ou desfigurar foi, de fato (se pararmos para pensar e analisar friamente, chegaremos) à conclusão de que tudo o que vivemos e vivenciamos, se fez inesquecível e indubitavelmente precioso. Pense, pois, reflita friamente o que você tem feito com o seu tempo? Olhe em volta, ou melhor, espie para dentro do seu âmago e procure achar a reposta. Faça isso agora. Amanhã?! O amanhã... pode ser tarde demais.

Fonte: Texto enviado pelo autor