Na velha praça, Arlindo e Eulália estavam novamente em seu banco, prontos para mais uma discussão acalorada. O assunto do dia era a nova moda dos carros elétricos.
— Olha só, Eulália! — começou Arlindo, com um brilho cínico nos olhos. — Agora todo mundo fala de carros elétricos como se fossem a oitava maravilha do mundo! Você já viu um desses? Parecem mais brinquedo de criança!
— Brinquedo? — Eulália riu, balançando a cabeça. — Você está tão preso no passado que não consegue enxergar o futuro! Os carros elétricos são silenciosos, eficientes e ainda ajudam o meio ambiente!
— Silenciosos? — Arlindo exclamou, com uma expressão de desdém. — Prefiro ouvir o barulho de um motor potente! Isso sim é música para os meus ouvidos! Um carro sem ronco não é carro, é um... robô!
— Robô? Você está exagerando! — Eulália respondeu, cruzando os braços. — E quem precisa de barulho? No meu tempo, a gente sonhava com carros que não poluíssem! Agora, você só quer saber de roncos!
— Olha, eu não sou contra a ideia de carros que não poluam. — Arlindo disse, levantando as mãos. — Mas e a emoção de dirigir? Você já dirigiu um carro elétrico? É como andar em um sofá sobre rodas!
— Um sofá? Você realmente sabe como ofender! — Eulália respondeu, rindo. — E você se esqueceu que os carros a gasolina e álcool estão acabando? A gasolina vai virar coisa do passado!
— Coisa do passado? — Arlindo rebatou. — E o que você vai fazer quando ficar sem combustível? Pedir carona de um vizinho com um carro elétrico? Eu prefiro meu carro barulhento, que me leva a qualquer lugar!
— E eu prefiro saber que meus netos vão herdar um planeta saudável! — Eulália disse, com firmeza. — Você só pensa no presente, Arlindo! E o futuro? Vai ficar preso na nostalgia dos motores barulhentos!
— Nostalgia é uma coisa boa! — Arlindo insistiu. — E quem disse que os carros elétricos são a solução? E se a bateria acabar no meio do nada? Você vai ter que esperar uma eternidade por um carregador!
— E você, se ficar sem gasolina, vai ter que empurrar seu carro até o posto! — Eulália retrucou, com um sorriso travesso. — E não venha me dizer que isso é emocionante!
— Olha, eu não empurro carro nenhum! — Arlindo defendeu-se, rindo. — Se eu ficar sem gasolina, vou dar um jeito de arranjar um galão e encher o tanque. Não sou desses que ficam esperando um milagre!
— E quem precisa de milagre quando se tem tecnologia? — Eulália disse, fazendo uma pausa dramática. — Os carros elétricos estão mudando o mundo, Arlindo! Você deveria se atualizar!
— Atualizar? Eu não sou um computador! — Arlindo respondeu, balançando a cabeça. — E já viu o preço de um carro elétrico? Com o que custa um, eu compro três carros a gasolina e ainda sobra para uma viagem!
— Ah, claro! E depois você vai reclamar que os carros antigos estão se desintegrando! — Eulália riu. — Você só quer economizar e não se preocupa com o planeta!
Arlindo arqueou as sobrancelhas. — Economizar é uma virtude! E quem vai querer um carro que não faz barulho? Vou sair na rua e parecer um fantasma!
— Fantasma? Você já se olhou no espelho? — Eulália provocou, rindo. — Você já é um fantasma do passado, Arlindo! Aceite isso!
— Aceitar? Estou aqui, vivo e a cores! — Arlindo exclamou, gesticulando. — E se eu quiser um carro que marque presença, eu vou ter! Não quero sair dirigindo um “silencioso”, como se estivesse fugindo de algo!
— Você só está com medo do novo! — Eulália disse, com um sorriso. — Um dia, você vai ver que os carros elétricos são o futuro! E quem sabe você não acaba comprando um?
— Eu? Comprar um carro elétrico? — Arlindo riu, balançando a cabeça. — Só se você me prometer que vai me ensinar a usar um carregador!
— Oh, não se preocupe! — Eulália respondeu, piscando. — Eu vou te ensinar a usar, e você vai ver que é mais fácil do que empurrar um carro!
— Empurrar? Nunca mais! — Arlindo disse, levantando-se do banco. — Vamos tomar um café e deixar essas discussões de lado! Afinal, o que importa não são os carros!
— Concordo! — Eulália sorriu, levantando-se também. — E quem sabe, enquanto tomamos café, você não se convence de que um carro elétrico não é tão ruim assim?
Os dois velhos rabugentos se afastaram, rindo e discutindo, prontos para mais uma tarde de amizade e boas risadas, longe das preocupações sobre carros e tecnologia.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, Ubiratã/PR, Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); e “Canteiro de trovas”.. No prelo: “Pérgola de textos” (crônicas e contos) e “Asas da poesia”
Fontes:
José Feldman. Pérgola de Textos. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Adobe Firefly
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