Embora se ouçam vários chavões, como “A beleza não é fundamental”, “O que vale é a beleza interior”, ela abre caminho e muitas pessoas já tiveram sua oportunidade em função da beleza. Como candidata a uma vaga, mesmo que o cargo não seja de modelo, a mais bonita, com certeza, já sai com vantagem. Não se pode negar que, alguma vez, já demos um “empurrãozinho” ou até intercedemos em favor de alguma beldade só para receber um sorriso.
O motivo do convite para um jantar feito àquela linda vendedora, não obstante eu acreditar que tinha como meta principal o negócio e secundário a sua beleza, não poderia ser contestado com firmeza, se essa ordem fosse invertida.
Mas, a beleza também tem as suas desvantagens. Uma mulher bonita é mais observada, mais vigiada, conquista fácil inimizade de outras mulheres e fica muito exposta a comentários maldosos, em sua maioria, sem fundamentos. Se entrar em um lugar acompanhado de uma, não só ela, mas você também é objeto de avaliação. Mulheres torcem o nariz e vigiam os olhares de seus pares. Algumas chegam a chutar por debaixo da mesa, outras, mais declaradas, brigam mesmo. Já vi muitos casais se retirarem de restaurantes, apressadamente, quando uma mulher muito bonita instala-se em uma mesa próxima a deles.
Homens o olham e você sente a pergunta em seus olhos: por que está acompanhado de uma mulher daquelas? Aproveite, porque não é sempre que se é invejado. As mulheres bonitas carregam uma tendência muito maior de ser vigiadas (inclusive o seu olhar) pelo parceiro que, de forma egoísta, quer monopolizar a beleza.
Uma linda amiga já sofreu muito com cenas de ciúme doentio do seu marido. No trânsito, foi ameaçada de morte diversas vezes, só por olhar para o carro ao lado. Eu mesmo já presenciei e, sinceramente, pedi a Deus que não atendesse aos seus pedidos de se tornar feia e ser feliz. Várias vezes, ouvi as lamúrias do meu amigo, dizendo sentir que era traído. Em suas bebedeiras, chorava e afirmava que não merecia mulher tão bela, com o que eu sempre concordava.
Homem bonito (existem muitos) é problema também. Principalmente para a mulher que está em sua companhia. É muito mais observada pelas mulheres do que quando ocorre o contrário. Se ele é daquele tipo convicto de sua beleza e que gosta de esnobar, então, coitada dela! O Máximo era assim. Lindo até no nome. A coitada da mulher rastejava e se humilhava suplicando por um simples olhar, o que ele fazia com ar de superioridade. Nas brigas, quase sempre por ciúmes, ela perguntava: “Casou comigo, por quê?” Sinceramente, nem ele sabia responder.
Um dia, ao chegar em casa, encontrou o bilhete sobre a mesa. Aliás, parecia mais um telegrama: “Hoje, tenho quem me faz feliz. Esqueça-me.” Procurou, bisbilhotou, até que descobriu que a mulher fugira com o Feio. Foi alvo de conversas e gozações. Recordou-se de que o tal estava sempre por perto e sorria, quando ele, o Máximo, gozava de sua feiura. Não acreditava que ele, no esplendor de sua beleza, fosse traído logo pelo Feio. Ficou por uns dias a pensar na fuga da mulher, até que endoidou. Pirou de vez o cara. Juro! Você ainda vai cruzar com o tal lindo por aí dizendo: “Com o Feio, não, com o Feio não...”
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Laé de Souza é cronista, poeta, articulista, dramaturgo, palestrante, produtor cultural e autor de vários projetos de incentivo à leitura. Bacharel em Direito e Administração de Empresas, Laé de Souza, 55 anos, unifica sua vivência em direito, literatura e teatro (como ator, diretor e dramaturgo) para desenvolver seus textos utilizando uma narrativa envolvente, bem-humorada e crítica. Nos campos da poesia e crônica iniciou sua carreira em 1971, tendo escrito para "O Labor"(Jequié, BA), "A Cidade" (Olímpia, SP), "O Tatuapé" (São Paulo, SP), "Nossa Terra" (Itapetininga, SP); como colaborador no "Diário de Sorocaba", O "Avaré" (Avaré, SP) e o "Periscópio" (Itu, SP). Obras de sua autoria: Acontece, Acredite se Quiser!, Coisas de Homem & Coisas de Mulher, Espiando o Mundo pela Fechadura, Nos Bastidores do Cotidiano (impressão regular e em braille) e o infantil Quinho e o seu cãozinho - Um cãozinho especial. Projetos: "Encontro com o Escritor", "Ler É Bom, Experimente!", "Lendo na Escola", "Minha Escola Lê", "Viajando na Leitura", "Leitura no Parque", "Dose de Leitura", "Caravana da Leitura”, “Livro na Cesta”, "Minha Cidade Lê", "Dia do Livro" e "Leitura não tem idade". Ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil, cujo foco é o incentivo à leitura. "A importância da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano", dirigida a estudantes e "Como formar leitores", voltada para professores são alguns dos temas abordados nessas palestras. Com estilo cômico e mantendo a leveza em temas fortes, escreveu as peças "Noite de Variedades" (1972), "Casa dos Conflitos" (1974/75) e "Minha Linda Ró" (1976). Iniciou no teatro aos 17 anos, participou de festivais de teatro amador e filiou-se à Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Criou o jornal "O Casca" e grupos de teatro no Colégio Tuiuti e na Universidade Camilo Castelo Branco.
Fontes:
Laé de Souza. Coisas de Homem & Coisas de Mulher. SP: Ecoarte, 2018.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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