domingo, 31 de agosto de 2025

Aparecido Raimundo de Souza (Nosso Adeus ao Mestre do Humor Luiz Fernando Veríssimo)


MEUS CARÍSSIMOS e amados leitores, ontem, 30 de agosto, o Brasil perdeu um dos maiores cronistas e escritores de sua história: Luiz Fernando Veríssimo, que faleceu aos 88 anos em Porto Alegre, vítima de complicações de uma pneumonia. 

Com a sua partida, se encerra uma era de inteligência afiada, humor refinado e crítica social embalada em ironia elegante — marcas que fizeram de Luiz Fernando Veríssimo uma referência imprescindível da literatura brasileira.

Uma Vida Entre Letras, Jazz e Ironia

Nascido em 26 de setembro de 1936, em Porto Alegre, Veríssimo era filho do renomado escritor Érico Veríssimo, e cresceu cercado por livros e discussões intelectuais. Passou parte da infância e adolescência nos Estados Unidos, onde estudou em San Francisco, Los Angeles e Washington, e desenvolveu uma paixão duradoura pelo jazz, chegando a tocar saxofone em bandas como o grupo “Renato e seu Sexteto”.

Casou-se em 1963 com Lúcia Helena Massa, com quem teve três filhos: Fernanda, jornalista; Mariana, escritora e Pedro, músico. 

A vida familiar sempre esteve presente em suas crônicas, muitas vezes retratando com humor os dilemas cotidianos da classe média brasileira.

Veríssimo começou sua carreira como revisor no jornal Zero Hora, em 1967, e logo passou a assinar colunas em veículos da imprensa como O Estado de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Seu primeiro livro, “O Popular”, foi publicado em 1973. A partir daí, a sua produção literária se tornou prolífica - mais de 70 livros publicados e 5,6 milhões de exemplares vendidos.

Personagens criados que entraram para a História:

“Ed Mort”: Um detetive atrapalhado e sarcástico, inspirado no cinema noir, que virou símbolo da crítica bem-humorada à vida urbana.

“O Analista de Bagé”: Um psicanalista gaúcho que mistura Freud com bombacha e “joelhaços terapêuticos”.

“A Velhinha de Taubaté”: A última brasileira que ainda acreditava no governo, uma sátira mordaz à ingenuidade política.

“Família Brasil”: Uma série de crônicas que retratam os conflitos e absurdos da vida doméstica.

“Comédias da Vida Privada", uma de suas obras mais populares, foi adaptada para a televisão pela TV Globo, alcançando milhões de espectadores e consolidando Veríssimo como um dos autores mais lidos e queridos do país.

Últimos anos e legado

Nos últimos anos, Luiz Fernando Veríssimo (internado na UTI do Hospital Moinhos de Ventos desde 11 de agosto), enfrentou problemas de saúde, incluindo O Mal de Parkinson, doenças cardíacas e um AVC em 2021, que afetou sua mobilidade e comunicação. 

Mesmo afastado da vida pública, sua obra continuou a ser celebrada por leitores de todas as idades.

Luiz Fernando Veríssimo foi mais do que um escritor, foi um intérprete sagaz da sociedade brasileira, capaz de transformar o cotidiano em literatura com humor, ternura e crítica. 

Sua morte inesperada deixa um vazio difícil de preencher, mas seu legado permanece vivo — nas páginas que escreveu, nas risadas que provocou e nas reflexões que inspirou.

Que a sua literatura continue sendo a principal porta de entrada para novos leitores e inspiração para quem acredita que o humor é uma forma poderosa de resistência.

Luiz Fernando Veríssimo era mestre em transformar o cotidiano em literatura com humor, inteligência e sensibilidade. Tomei a liberdade de enumerar alguns trechos curtos e marcantes de suas crônicas, que mostram bem seu estilo inconfundível:

Sobre fé e pudim
“O pudim de laranja é a única prova convincente da existência de Deus. Além da Patrícia Pillar, claro.” (“Veríssimas”).

Sobre política e ingenuidade
“A Velhinha de Taubaté’ era a última brasileira que ainda acreditava no governo.” (“A Velhinha de Taubaté”), personagem recorrente em suas crônicas.

Sobre o cotidiano e o absurdo
“Digamos que eu fique preso num elevador com a Luana Piovani. Depois de dez, quinze minutos, ela diz ‘Calor, né?’, e desabotoa a blusa…” (“A Cláusula do Elevador”) – crônica sobre acordos conjugais e tentações.

Sobre futebol e paixão
“E fiquei pensando que, quando for a nossa vez de novo, teremos certamente a torcida mais dedicada, fiel, convicta e feliz do Brasil. Porque será a torcida dos que resistiram.” (“Não me acordem”), crônica sobre o título mundial do Internacional em 2006.

Sobre o espelho da vida
“O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos.” (Frase citada pelo governador do Rio Grande do Sul,  Eduardo Leite em homenagem ao autor).

Esses trechos, meus caros leitores são somente uma pequena amostra do talento de Luiz Fernando Veríssimo para provocar sorrisos e reflexões com poucas palavras.

O velório de Luiz Fernando Veríssimo teve início as 14h e aconteceu no Salão Júlio de Castilhos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, localizado no centro de Porto Alegre. A cerimônia se estendeu até as 16h45. 

Indubitavelmente vimos uma despedida marcada por homenagens emocionadas de familiares, amigos, artistas e admiradores da obra do escritor, que faleceu (repetindo o que mencionei acima), aos 88 anos em decorrência de complicações de uma pneumonia. 

O sepultamento ocorreu no Cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre.

Fonte:
Texto enviado pelo autor. 
Imagem de LF Veríssimo da CNN Brasil

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