DOMITILLA BORGES BELTRAME
Araxá/MG, 1932 – 2025, São Paulo/SP
Numa página, a saudade;
no verso – não tem escolha –
quase sempre a mocidade
faz parte da mesma folha!…
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Poema de
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR
Apelo da Poesia
Meus versos são ecos que soam,
que tangem quais vozes de um sino;
vêm d'alma desejos que entoam
compassos sagrados de um hino.
É a voz que o deserto sacode,
o orvalho que rega a aridez,
a mão carinhosa que acode,
o braço que dá altivez.
Poema que canta a esperança
e clama com fé pelo amor,
suplica que reine pujança
ao fraco, infeliz sofredor.
Meus versos agora são gritos
que amainam humildes plebeus;
quer paz, quer bonança aos aflitos,
— poesia é apelo de Deus.
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Trova de
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Miguel Couto/RJ
A despedida foi breve
e o nosso adeus sem afrontas...
Mas a saudade se atreve
a vir cobrar velhas contas!
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Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009
Olhar
As grades que me prendem são teus olhos,
aquática prisão, cela telúrica,
liana que me enrosca e me desfolha
no tronco tosco dessa árvore lúbrica.
No sol de Gláucia apenas me recolho
e, sendo assim, o sido se faz público
num pelourinho aberto com seus folhos
zurzindo seu chicote em gestos lúdicos.
Perau de feras, circo de centelha
regendo as águas tépidas de escamas
no fogo da (a)ventura da parelha.
Tudo em suor e sal o amor proclama:
No mar do teu olhar a onda se espelha
na chama que me queima e que te inflama.
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Trova de
ARLINDO BRITO
Felgueiras/Portugal
És rainha. És soberana.
Porque só, por teu anelo,
a nossa humilde choupana
tem nobreza dum castelo.
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Poema de
SILVIAH CARVALHO
Manaus/AM
Noite e Dia…
Existe uma passividade que de forma alguma é indolência
A calma viva que nasce da confiança na Força
que existe em nós, que nos torna capazes de vencer
ou nos adaptarmos as circunstâncias
A vida não está sob seu controle
mas se não administrá-la, ela será seu algoz
Tensão quieta não é confiança
consciência exausta não é o exercício da fé
Em tempo de incerteza, espera.
Não se subestime você é capaz
Há corações como raras flores,
que só se abrem nas sombras da vida
Não se precipite o tempo de cantar há de vir
Você terá paz
A fé põe sua carta no correio
a desconfiança a segura
E questiona, porque a resposta não veio?
Se ainda carregas o seu fardo
seu esforço foi em vão, e suas cartas
não terão finalidades se não saírem de suas mãos
Seu valor é mais alto do que supunha seus adversários
Quem dera pudesse ver!
Diamantes são embrulhados em pacotes grosseiros
para que ninguém saiba do valor que está ali dentro
na verdade há tesouros escondidos em você
Não se habilite em começar sem acabar
assim será hábil em fracassar.
Bens preciosos são os adquiridos com esforço,
lágrimas e dor, ainda que com o tempo eles pereçam
deixarão em nós lembranças como cicatrizes de valor
Qualquer situação pode ser mudada
se tiverdes equilíbrio e paciência
Então, suporta os açoites
espere pelo Dia,
Mas antes, enfrente e vença sua Noite.
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Trova de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
Quando a vida se distrai
ou dá tudo ou tudo nega;
Rico, pega o carro e sai...
pobre sai – e o carro pega!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Sinto o sangue gelar-se-me nas veias
(José Barreto, in "Cânticos de Paixão e Outras Cores", p, 24)
Sinto o sangue gelar-se-me nas veias
Quando no peito morre uma esperança
Ou se solta um cabelo de uma trança
Onde o ouro brilhava sem ter peias;
E quando a luz que havia nas ideias
Se extingue sem deixar qualquer herança
Que no futuro seja uma lembrança
Dos povos que cantaram epopeias.
E o meu corpo minado pelo frio
Ganha a dureza gélida de um rio
A que os polos dão alma de glaciar.
Sou branca massa de água deslizando
Que sobe um mar de mágoa abominando
Onde eu não sou capaz de me afogar.
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Trova de
SÔNIA MARIA DITZEL MARTELO
Ponta Grossa/PR, 1943 – 2016
Nos mistérios deste outono,
as folhas caindo ao chão,
tecem colchas de abandono
que envolvem minha ilusão!
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Poema de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP
Cubatão
Minha terra não passa de uma estrada,
um bambual que rumoreja ao vento;
sol de fogo em areia prateada,
deslumbramento e mais deslumbramento.
O chafariz em forma de carranca,
confidente das moças do arrabalde,
despeja a sua gargalhada branca
no bojo de latão de um velho balde,
Nas portas, parasitas cor de sangue,
um mastro esguio em cada casinhola;
gente tostada que desfolha o mangue,
crianças pálidas que vêm da escola.
Ao fundo, a Serra. Pinceladas frouxas,
de ouro e tristeza, em fundo azul. Aquelas
manchas que são jacatirões — as roxas,
e aleluias — as manchas amarelas.
A minha terra, quando a vejo, escampa,
cheia de sol e de visões amigas,
lembra-me o cromo que enfeitava a tampa
de uma caixa de goma, das antigas…
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Trova de
SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo/RJ
Celular eu não tolero
desde um pré-pago que eu tinha,
que tocou “Mamãe eu quero...”
no velório da vizinha!
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Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
Predestinado
Passo a passo, vivendo solitário,
– predestinado para o sofrimento,
vou subindo o meu íngreme calvário
sob o peso da mágoa e do tormento.
R como um sonhador, no mundo vário,
procuro paz, amor, contentamento,
mas no meu tortuoso itinerário
só encontro amargura e fingimento.
E a esperança da vida vai passando,
e eu descrente de tudo vou ficando,
na solidão que o mundo me ofertou;
mas a poesia, doce companheira,
está sempre comigo a vida inteira,
dando-me a paz que a sorte me negou!
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Haicai de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Ora é torcicolo,
ora é coluna, é pressão...
Ah, os novent'anos.
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Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN+
Mistério
(à memória do pequeno Alberto)
Sei que tu' alma carinhosa e mansa
Voou, sorrindo, para o Azul celeste;
Sei que teu corpo virginal descansa
Aqui da terra n'um cantinho agreste
Tudo isto sei: mas tu não me disseste
Se lá no Céu, na pátria da Esperança,
Ou aqui no mundo, à sombra do cipreste,
Deixaste o coração, loura criança!
Desceu acaso com o corpo à terra
Ele tão puro e que só luz encerra?
Não creio nisso e ninguém crê de certo...
Enquanto, eu cismo que, num vale ameno,
Talvez o seio de um jasmim pequeno
Sirva de berço ao coração de Alberto.
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Trova de
ÉLBEA PRISCILA DE SOUZA E SILVA
Piquete/SP, 1942 – 2023, Caçapava/SP
Fracasso não me intimida,
bom ator, sou pertinaz,
repiso o palco da vida
com novo sonho em cartaz…
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Hino de
BELA VISTA DO PARAÍSO/ PR
Bela Vista do Paraíso,
O Paraná te viu nascer,
Terra vermelha, povo valente cheio de vida.
Predestinada a crescer e vencer.
Acolhedora é a tua tradição
Fertilidade é tua vocação
Bela namorada eterna bela é
Vista de beleza infinita
Paraíso dos nossos sonhos
Porto seguro da nossa vida
Dos desbravadores, uma profecia,
Serás princesa, serás rainha.
Serás orgulho, serás amada.
Serás eternamente alegria.
És a filha preferida da natureza,
Teu nome é fartura,
Teu sobrenome é beleza.
Bela Vista do Paraíso.
Nossa homenagem é nosso louvor
Nossa gratidão é o nosso amor!
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Trova de
VASCO DE CASTRO LIMA
Rio de Janeiro/RJ, 1905-2004
Embora vivas cantando,
canário, tens vida triste:
- já vi lágrimas pingando
nessa vasilha de alpiste!
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
Dissipando o Silêncio
O silêncio do inverno se dissipa
ao brotarem as flores do jardim,
e o gorjeio do pássaro antecipa
as lembranças do cheiro de alecrim.
Deixemos as saudades nos levar
pelas trilhas de outrora, mas voltemos
a contemplar as flores a brotar,
alegrando o ambiente onde vivemos.
O repicar dos sinos na alegria
de ter uma família que nos ama...
Na falta dela pense... o que seria!
Essa melancolia que ora brota,
são apenas momentos de uma dama
cheia de sonhos lindos, ninguém nota.
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Trova de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Quando a penumbra descia,
a nossa emoção vibrava,
sonhando o que não dizia,
dizendo o que nem sonhava!…
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Lengalenga de Portugal
Pia, Pia, Pia
Pia, pia, pia,
O mocho
Que pertencia
A um coxo.
Zangou-se o coxo,
Um dia,
E meteu o mocho
Na pia, pia, pia…
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Quadra Popular
Tal desgraça não se evita,
até parece uma lenda:
meu amor faz tanta fita
e compra fita na venda.
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Poema de
Vanice Zimerman
Curitiba/PR
Colar de Pérolas...
Com as pérolas do colar
Desenhei um coração
E num piscar de olhos
Senti teu coração bater
Juntinho a mim…
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Trova de
GERSON CESAR SOUZA
São Leopoldo/RS
Num show que bem poucos olham,
no palco das noites calmas,
chuvas de estrelas não molham,
mas lavam as nossas almas…
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