(Esta crônica obteve o 2. lugar no X Prêmio Literário “Gonzaga de Carvalho”, 2025, da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, para acadêmicos correspondentes)
Vivemos em um mundo onde a comunicação é um ritual.
Os telefones de antigamente, com seus cabos emaranhados e o disco giratório, eram uma obra de arte em si. Não havia toque de tela, nem mensagens instantâneas. Para fazer uma ligação, era preciso paciência. Cada número discado era como uma pequena oração, um pedido ao universo para que a conexão se estabelecesse. E quando alguém atendia, era como se um portal se abrisse entre duas realidades.
As máquinas de escrever eram o coração dos escritórios. Cada tecla pressionada ressoava como uma batida, e o som da fita deslizando era música para os ouvidos de muitos. Havia algo quase mágico em ver as palavras surgirem na página. Erros? Ah, os erros eram uma tragédia! A fita corretiva era um recurso precioso, mas muitas vezes deixava marcas indesejadas.
Em contraste, os computadores modernos oferecem uma facilidade sem precedentes. Com um simples clique, podemos editar, apagar e reformular nossos textos. As palavras fluem com a rapidez dos pensamentos. No entanto, essa facilidade também trouxe distrações. Redes sociais e notificações incessantes competem pela nossa atenção, tornando quase impossível se focar no que realmente importa. A escrita, muitas vezes, se perde em meio a um mar de informações.
Quem se lembra dos mimeógrafos? Aqueles aparelhos que exalavam um cheiro característico de tinta fresca e que nos permitiam fazer documentos em série, mas que exigiam cuidado e habilidade. A espera pela secagem do papel era um momento de expectativa. Com a chegada das impressoras a jato de tinta e laser, a produção de documentos tornou-se instantânea. O papel, antes tão precioso, agora é descartado em grandes quantidades, e as preocupações ambientais crescem.
Os carros, ah, os carros. Lembro-me dos carros antigos, com suas chaves de ignição, que exigiam um pouco mais de interação e cuidado. O cheiro da gasolina, o som do motor, a troca de marcha. Faziam nos conectar com o mundo, mas também exigiam nossa atenção constante. Hoje, os carros se tornaram verdadeiros computadores sobre rodas. Com painéis digitais, assistentes de voz e GPS, a condução se tornou mais fácil e segura. No entanto, a dependência da tecnologia traz novos desafios. O ato de dirigir, que antes era um momento de reflexão, agora virou uma experiência passiva, onde o motorista se desliga do que acontece à sua volta.
A era dos smartphones revolucionou a maneira como nos comunicamos. Com um toque, estamos conectados a amigos, familiares e ao mundo. A informação flui a uma velocidade inimaginável. No entanto, essa conexão constante tem seus efeitos colaterais. A ansiedade e a pressão para estar sempre disponível criaram uma cultura de imediatismo que pode ser desgastante. Os momentos de silêncio e introspecção, tão essenciais para a saúde mental, tornaram-se raros.
Enquanto olhamos para trás e admiramos os equipamentos que moldaram nossas vidas, é impossível não reconhecer as melhorias que a tecnologia trouxe. A comunicação, a produtividade e a mobilidade foram ampliadas de um modo que nossos antepassados nunca poderiam imaginar. Contudo, é fundamental encontrar um equilíbrio. A nostalgia pelos tempos passados não deve nos impedir de aproveitar os avanços que temos hoje, mas também deve nos lembrar da importância dos momentos de desconexão e reflexão.
Assim, seguimos adiante, navegando entre o que foi e o que é, buscando sempre uma harmonia entre a inovação e a essência do que significa ser humano.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, Ubiratã/PR, Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); e “Canteiro de trovas”.. No prelo: “Pérgola de textos” (crônicas e contos) e “Asas da poesia”
Fonte:
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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