NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE
A espreguiçadeira fala
para a rede: - Que injustiça!
- Ninguém mais em ti se embala,
e em mim, ninguém se espreguiça!
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Soneto de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
Entardecer
A paz do entardecer...Fascinação...
Com mil beijos de cor sobre o universo!
Eu sinto, bem no fundo, o coração
querer cantar essa beleza em verso.
Fazendo, dessa paz, sublimação,
inundando-se no belo, submerso,
vivendo, assim, total transmutação,
esquecendo que o mundo é tão perverso.
Vai sonhando mil sonhos coloridos,
cantando mil canções, só de alegria,
e esquece a solidão dos tempos idos.
Realizando assim sua utopia,
de posse, então, de sétimos sentidos,
contempla o pôr-do-sol em poesia!
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Trova de
ALCY RIBEIRO SOUTO MAIOR
Rio de Janeiro/RJ (1920 – 2006)
Janela fechando e abrindo,
batendo a todo momento,
parece estar aplaudindo
a dança infernal do vento!
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Poema de
ARNALDO SANTOS
Luanda/ Angola
A Vigília do Pescador
Na praia o vulto do pescador
É mais denso que a noite...
E enquanto espera
A sua ânsia solidifica em concha
E sonoriza os ventos livres do mar.
E enquanto espera
A sua ânsia descobre
os passos da maré na praia
e o sono do borco das canoas.
É manhã
e o pescador
ainda espera
e enquanto o mar
Não lhe devolve o seu corpo de sonhos
Num lençol branco de escamas
Um torpor de baixa-mar
Denuncia algas nos seus ombros.
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Trova de
EDGAR BARCELOS CERQUEIRA
Rio de Janeiro/RJ, 1913 - ????
De verde, toda vestida,
de esperança, tu povoas
o vácuo de minha vida
somente de coisas boas.
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Soneto de
VINICIUS DE MORAES
Rio de Janeiro/RJ, 1913 – 1980
Poética II
Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo:
(Um templo sem Deus.)
Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
– Entrai, irmãos meus!
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Cascata, teu pranto triste,
parece que não tem fim!...
Comparo ao pranto que existe
doendo dentro de mim!
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Poema de
MANUEL BANDEIRA
Recife/PE (1886 – 1968) Rio de Janeiro/RJ
Cantiga
Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.
Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela d’alva
Rainha do mar.
Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.
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Trova de
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
Envolta em brilhos e cores,
a natureza se esmera
para, em delírio de flores,
eclodir na primavera.
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Poema de
ROLF JACOBSEN
Kristiania (atual Oslo)/Noruega, 1907 - 1994
Quando Dormem
Todas as pessoas são crianças quando dormem.
Nenhuma guerra as assola então.
Abrem as mãos e respiram
naquele ritmo sossegado que o paraíso lhes concedeu.
Vincam os lábios como pequenas crianças
e abrem ligeiramente as mãos,
soldados e estadistas, senhores e escravos.
As estrelas ficam de guarda
e uma neblina cobre o céu,
breves horas em que ninguém fará mal a ninguém.
Se ao menos pudéssemos falar uns com os outros então,
quando os nossos corações são flores semiabertas.
As palavras seriam espalhadas
pelo vento como pólen.
- Deus, ensina-me a linguagem do sono.
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
O sol fura a telha vã
e em dança que me seduz,
faz no chão, toda manhã,
um baile de sombra e luz!
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Hino de
PAULO FRONTIN/PR
Uma serra chamada Esperança
Fez da mata uma oferta de paz
E acolheu este povo de longe
Que chegou sem olhar para trás
Com o tronco viçoso do pinho
Altaneiro sobre os cereais
Foi subindo uma prece a Sant'Ana
Pela força de um braço capaz.
Estribilho:
Lá no alto a bandeira se inflama
Alcançando o horizonte sem fim
De um herói exaltando a fama
É a cidade de Paulo Frontin.
O Iguaçu que divide fronteiras
Também une num mesmo ideal
As visões de um engenheiro valente
Com a fonte que verte cristal
O perfil ondulante borbulha
A riqueza latente no chão
Garantindo progresso e fartura
Ao que saiba dar seu coração.
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Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Num cenário à luz de vela,
papai repassando a lida
deixou-me a lição mais bela
encenando a própria vida.
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Poema de
KHALIL GIBRAN
Bsharri/ Líbano 1883 – 1931
Divina Música!
Filha da Alma e do Amor.
Cálice da amargura
e do Amor.
Sonho do coração humano,
fruto da tristeza.
Flor da alegria, fragrância
e desabrochar dos sentimentos.
Linguagem dos amantes,
confidenciadora de segredos.
Mãe das lágrimas do amor oculto.
Inspiradora de poetas, de compositores
e dos grandes realizadores.
Unidade de pensamento dentro dos fragmentos
das palavras.
Criadora do amor que se origina da beleza.
Vinho do coração
que exulta num mundo de sonhos.
Encorajadora dos guerreiros,
fortalecedora das almas.
Oceano de perdão e mar de ternura.
Ó música.
Em tuas profundezas
depositamos nossos corações e almas.
Tu nos ensinaste a ver com os ouvidos
e a ouvir com os corações.
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Trova de
SONIA MARIA DITZEL MARTELO
Ponta Grossa/PR, 1943 – 2016
Entre todos os recantos
é aqui que me sinto bem:
- o meu lar tem tais encantos
que outros lugares não têm!
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Soneto de
EMÍLIO DE MENESES
Curitiba/PR, 1866 – 1918, Rio de Janeiro/RJ
Um crítico cítrico
É, sem tirar nem pôr, um grande jornalista.
Quando erra ou quer errar, erra com matemática.
Faz uma escaramuça e o jogo salta à vista
Mas não há quem resista à formidável tática.
Torce algebricamente a verdade e conquista
O aplauso até de quem tenha traquejo e prática.
Sei-o mesmo por mim que, apesar de trocista,
Nunca deixo de o ler (restrições à gramática).
Mas, em arte, Jesus! Nem se aproveita a cinza.
Como crítico é igual aos outros. Deixa o suco
E, fibra a fibra, toda a bagaceira espinza.
Todo o crítico é assim, mais ou menos, caduco.
Sendo em arte incapaz, na obra alheia é ranzinza.
— O crítico, em geral, é uma espécie de eunuco.
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Trova de
DELCY CANALLES
Porto Alegre/RS
Esperança, este meu ego,
está sempre a te esperar!
Volta depressa, pois cego,
não sei se vai te encontrar!
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Poema de
FLÁVIO SILVEIRA STEFAN
São Sebastião do Paraíso/MG
Outono
Passa-se o tempo, passa-se a aurora
O Sol se põe devagar indo embora.
Os ventos sopram como outrora.
Alguns clamam:
será que é agora?!
Outros pelejam:
será que é a hora?
É tempo de recolhimento
de cultivar verdadeiros sentimentos.
Recolhe-te e trabalha-te por dentro!
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN, 1951 – 2013, Natal/RN
Amar… verbo transitivo
que em qualquer conjugação
traz um novo lenitivo
para o nosso coração!
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Soneto de
HILDEMAR CARDOSO MOREIRA
São Mateus do Sul/PR, 1926 – 2021, Contenda/PR
Meu corpo
Quase um século de vida aqui na terra
Tem o corpo que altivo me sustenta,
E a gene de ancestrais nele descerra
Em várias circunstâncias que ele enfrenta.
Exausto, algumas vezes se declina,
Mas retorna para a luta cotidiana,
Porque aquilo que eu sou, lhe determina
Cumprir o que, do Alto então se emana.
E relembrando o tempo já vivido
Esse corpo se sente agradecido
Pela alma que dirige os passos seus.
Porque entende que o corpo necessita
De uma alma que o dirija e que reflita
Nos respeitos que devemos para Deus.
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Trova de
JOSÉ MOREIRA MONTEIRO
Nova Friburgo/RJ
Perguntaram-me: tens caspas
no teu couro cabeludo?
Eu respondi: não... e entre aspas
– Os piolhos comem tudo!
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Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES
Definindo saudade
Saudade, ternura ausente,
que sempre se faz presente
quando nos quer ver sofrer...
Saudade, ternura ingrata
mesmo amando, nos maltrata
Sem nos deixar entender.
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Trova de
LISETE JOHNSON
Butiá/RS, 1950 – 2020, Porto Alegre/RS
Num arco-íris de cores,
fui descendo de mansinho
sem, se quer, pisar nas flores
que plantaste em meu caminho.
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Poema de
LUCIANA SOARES CHAGAS
Rio de Janeiro/RJ
A mulher da moldura
Ela via a moldura como escudo
Escudo como janela
Janela de uma prisão
Prisão com um carcereiro
Que a impedia de se aventurar
Semblante pérfido a lhe vigiar.
Ela sonha em caminhar por uma alameda
Vestida com seda.
A moldura se revela um retrato
Olha o opressor e trama sua fuga de fato
É o fim deste cárcere, afinal
Ele dormirá, ela menciona em tom triunfal.
Atravessa a moldura...
Coração pulsante, olhos atentos
Avista o destino a um passo da porta
Um instante que acolhe e conforta
E a alma que antes sofria,
Dança com liberdade e alegria.
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Trova de
OLYMPIO DA CRUZ SIMÕES COUTINHO
Belo Horizonte/MG
Estrela que me seduz
és a imagem da esperança:
- brilhante, mas não traz luz;
tão linda, mas não se alcança.
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Poema de
JAQUELINE MACHADO
Cachoeira do Sul/RS
Extravagância e elegância
Gosto de extravagância
porque ela rima com fragrância.
Almas perfumadas me interessam...
Gosto de certos exageros!
De sorrisos largos,
pensamentos loucos
e abraços demorados.
Mas acredito que, extravagância
e elegância precisam andar juntas.
Uma tem a energia do “dar”,
e a outra, do “receber”.
A pessoa elegante sabe se vestir
e se portar com as vestes da educação,
da reciprocidade e da
empatia pelo que o outro sente...
Elegância é amor, razão,
estudo, acerto, proteção.
Extravagância é sentimento, paixão,
audácia e liberdade plena.
Gosto de pessoas que possuem
em suas entranhas, essa mistura
de loucura com docilidade.
Elas sempre conquistam o meu coração...
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
Desconfio das vitórias
que neste mundo colhi.
- Se as coisas são ilusórias,
quem garante que eu venci?
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