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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

7a. Semana do Escritor de Sorocaba, realizada em agosto de 2011.


7ª Semana do Escritor, que começa hoje e se estende até sábado na sede da Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba (Fundec), à rua Brigadeiro Tobias, Centro, é experiência que merece ser acompanhada com interesse, especialmente no que se refere à fórmula desenvolvida por seus realizadores para manter o evento ativo e permitir que ele retorne todos os anos - ao menos, enquanto houver interesse dos escritores locais em possuir esse canal para divulgação de seus trabalhos.

Sorocaba perdeu, nas últimas décadas, excelentes projetos nas áreas de vídeo, teatro e música - alguns patrocinados pela Prefeitura, outros por sindicatos e entidades empresariais -, simplesmente porque os patrocinadores decidiram fechar as torneiras de recursos ou canalizar seus investimentos para outro setor. Por fatores que nunca ficaram muito claros, mas que certamente passam pelo aspecto financeiro e, provavelmente, tiveram a ver com trocas de chefias e mudanças de prioridades, colocaram-se pedras em cima de projetos bem-aceitos pelo público e que já haviam cumprido as etapas mais difíceis de popularização e conceituação, interrompendo-se processos importantes de formação artística e cultural.

Essa realidade, somada à inconstância das leis de incentivo, que financiam projetos pontuais e ações com prazo de validade – mas, por suas próprias características, não oferecem uma resposta satisfatória para atividades de longo prazo -, impõe aos artistas e produtores culturais a necessidade de planejar seu trabalho tendo em vista a sustentabilidade, sob o risco de despenderem grande energia para tornar uma ideia bem-sucedida e vê-la abortada sem muitas explicações, conforme o humor de quem os financia.

É nesse caminho pouco ortodoxo, por assim dizer, que a Semana do Escritor tem procurado encontrar seu espaço, aberta a parcerias indispensáveis (como a da própria Fundec, que desde a primeira edição, em 2005, cede o saguão do belíssimo Palácio Brigadeiro Tobias para o evento), porém sem depender de verbas, sejam elas públicas ou privadas, para cobrir suas despesas. E isso porque o financiamento do evento vem dos próprios escritores participantes, que contribuem com uma quantia de R$ 100 cada um, como numa cooperativa, e juntos proporcionam um orçamento diminuto porém suficiente para que o evento possa ser realizado.

A Semana do Escritor não rivaliza com grandes eventos de grandes orçamentos, não tem shows de artistas famosos nacionalmente nem a presença de figurões da literatura brasileira, mas cumpre sua proposta de divulgar a literatura regional de forma aberta e democrática, com exposição de livros e uma extensa agenda de eventos que inclui palestras, lançamentos e apresentações artísticas.

É importante valorizar essa forma de fazer as coisas, que certamente exige uma dose de sacrifício maior dos organizadores, porém assegura tanto a permanência quanto a independência dos eventos, mantendo– os livres de interferências externas, de cortes orçamentários e mesmo de questões políticas. Sem descartar patrocínios privados e das leis de incentivo - mas sem estabelecer uma relação de dependência exclusiva em relação a essas fontes de recursos -, o autofinanciamento é uma saída para eventos coletivos, e mais ainda quando estes oferecem a possibilidade de uma receita, mesmo pequena, proveniente de vendas de livros ou de ingressos, com a qual o investimento inicial de cada participante possa ser compensado.

Com seu formato ímpar, a Semana do Escritor é uma fonte de aprendizado para quem trabalha no setor cultural, na medida em que reúne todas as condições básicas para que seus financiadores individuais a melhorem e aperfeiçoem ano a ano, com a certeza de que ninguém, a não ser eles próprios, poderá decretar seu fim.

José Carlos Fineis
Consultor Editorial
Jornal Cruzeiro do Sul/Fundação Ubaldino do Amaral
Fones: (15) 9789-0793 - 2102-5057


Fonte:
Jornal O Cruzeiro do Sul. Sorocaba, 23 de agosto de 2011. Folha A3. Enviado por Douglas Lara.