sexta-feira, 26 de julho de 2024

Mensagem na Garrafa = 128 =


APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Traumas 

AS INCISURAS invisíveis da alma –, ou aqueles talhos sangrentos que não dimensionamos à olhos nus, são como terremotos internos que abalam as estruturas mais profundas do nosso ser. Elas não escolhem hora nem lugar, tampouco avisam que estão coladas em nossa pele. Sempre deixam cancelas profundas e marcantes que nem o tempo é capaz de apagar, pelo menos de uma maneira que acreditamos completa e sem melindres para reclames posteriores.                                                                               
 
Cada pessoa carrega dentro de si seus medos e aflições, assombros e espantos de maneira única, tipo assim, como se fosse uma ferida questionando a maneira de como vemos o mundo e interagimos com ele. São memórias dolorosas alojadas em cantos e desvãos esquecidos dentro da mente e, para o nosso desespero, emergem do corriqueiro nosso de cada dia, notadamente quando menos esperamos. 

As repugnâncias e as decepções, podem nascer de momentos de grandes dissabores, seja por perda ou por simples melancolia. Podem vir, em paralelo, tipo uma infância difícil, uma quadra de relações debilitadas sem motivos aparentes, ou seja, de palavras vazias que somente têm por objetivo ficarem mais profundamente visíveis que qualquer outro corte físico. Elas nos ensinam, apesar dos pesares, a sermos moderados, cautelosos e prudentes. 

Nós, brasileiros, de um modo geral, não somos, nem levamos a coisa à sério. Vivemos dispersos, voando em sonhos sem futuro lógico. Se estivéssemos ligados e atentos, unidos e agregados em um objetivo (vinte e quatro horas por dia), construiríamos muros altos ao redor do nosso coração e de suas fragilidades. Desse modo, olharíamos com mais atenção e carinho para o horizonte e, sobretudo, encararíamos o futuro com uma forte dose de esperança. Existe, por conta de tal imprevisto, pequenos outros entraves. Quais seriam?! As escoriações e os traumas. Referidas figuras também podem ser empecilhos, e sempre afloram com algo embutido no mesmo pacote. 

Outras situações rigorosas surgem a todo instante, nos ensinando lições valiosas sobre superação. Aprendemos a nos levantar após cada queda, a curar e tratar as feridas com compaixão e a transformar a dor em força.  A jornada de cura dos traumas é pessoal e muitas vezes solitária. Requer coragem para enfrentar de peito aberto e cabeça erguida, os fantasmas do passado. Atrelado a esses espectros, feito unha e carne, devemos alimentar a vontade férrea de buscar ajuda urgente quando ela se fizer necessária. 

Nessas horas, uma terapia ou o apoio de amigos e familiares são fundamentais no decorrer desse processo. É importante lembrarmos que, embora os percalços façam parte ativa do que somos, eles não nos definem. Tais imposições, nos ensinam apenas que somos muito mais poderosos que as nossas experiências, notadamente as doridas e amargas. Com o tempo, cultivando a paciência e o trabalho, poderemos aprender a conviver com os nossos piores pesadelos, sem permitirmos que eles destruam as nossas vidas ou a de nossas famílias. 

No final, os traumas, ou as crises, são apenas partes indistintas da complexa tapeçaria que nada mais é que a experiência humana disfarçada em outra roupagem. Eles, os traumas, nos ensinam, mais, ou melhor, nos mostram, nos orientam e nos falam abertamente sobre a vulnerabilidade e a força. Do mesmo modo, nos capacitam sobre a teoria do “se quebrar e se reconstruir.” Talvez, paralelamente, nos tornem mais empáticos e compreensíveis com as lutas e pelejas dos outros, todos, obviamente sem distinção de raça ou credo. 

O fato é que, de repente, sem que esperemos por algum resultado benéfico, poderemos ter diante de nosso cotidiano, as nossas batalhas internas, e, de roldão, as guerras particulares refreadas, saradas e apaziguadas, ou mesmo resultado, qualquer outro traumatismo que nos tente levar para o buraco da perdição, ainda que infâmias que no dia a dia, minuto a minuto pelejam arduamente para nos tirar o foco, ou a paz e o sossego da verdadeira jornada que intencionamos seguir trilhando... se faz mister termos os olhos abertos. A mente em alerta, o corpo todo em estado de vigilância total. Dessa forma, simples e corriqueira, conseguiremos a condução da tão sonhada, desejada e querida FELICIDADE.

(Texto enviado pelo autor)

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