Ao amor em vão fugir
Procurei, pois tu
Breve me fizeste ouvir
Tua voz mentirosa, deliciosa...
E, hoje, é meu ideal
Um abismo de rosas
Onde, a sonhar, eu devo,
Enfim, sofrer e amar!
Mas, hoje, que importa
Se tu'alma é fria?
Meu coração se conforta
Na tua própria ironia!
Se há no meu rosto
Um rir de ventura,
Que importa o mudo desgosto
De minha dor, assim,
Sem fim?
Se minha esperança
O que não se alcança
Sonhou buscar,
Deve calar
Hoje o meu sofrer
E jamais dele te dizer.
O amor que é puro
Suporta obscuro,
Quase a sorrir,
A dor de ver
A mais linda ilusão morrer.
Humilde, bem vês que vou
A teus pés levar
Meu coração, que jurou
Sempre ser amigo e dedicado.
Tenha embora que viver
Neste sonho enganado,
Jamais direi
Que assim vivi
Porque te amei!
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O Abismo de Rosas: Amor, Dor e Ilusão
O grande violonista Canhoto tinha apenas 16 anos quando compôs "Abismo de Rosas", em 1905. A composição era um desabafo a uma decepção amorosa, pois o autor acabara de ser abandonado pela namorada, filha de um escravo. Canhoto realizou três gravações desta valsa: a primeira, com o nome de "Acordes do Violão", lançada no disco Odeon número 121249, em meados de 1916; a segunda, já como "Abismo de Rosas", no disco Odeon 122932, em 1925; e, finalmente, a terceira no disco Odeon 10021- a que fazia parte do suplemento de agosto de 1927, um dos primeiros da era da gravação elétrica no Brasil.
Ressalta nesta terceira gravação seu vibrato característico e inigualável, que ele tirava de um violão de corpo mais fino com braço não muito rígido. Peça obrigatória no repertório de nossos violonistas - de Dilermando Reis a Baden Powell -, "Abismo de Rosas" é considerada o hino nacional do violão brasileiro pelo professor Ronoel Simões, uma autoridade no assunto.
A música "Abismo de Rosas" é uma obra que explora a complexidade do amor não correspondido e a dor que ele pode causar. A letra começa com o eu lírico tentando fugir do amor, mas sendo inevitavelmente atraído pela voz mentirosa e deliciosa da pessoa amada. Essa contradição inicial já estabelece o tom de sofrimento e idealização que permeia toda a canção. O abismo de rosas é uma metáfora poderosa que representa um lugar de beleza e dor, onde o eu lírico se vê preso entre o sonho e a realidade, entre o sofrimento e o amor.
A segunda parte da letra revela a resignação do eu lírico diante da frieza da alma da pessoa amada. Mesmo sabendo que seu amor não é correspondido, ele encontra conforto na ironia dessa situação. A dor é constante, mas é mascarada por um sorriso de ventura, uma fachada que esconde o desgosto mudo e profundo. A esperança de alcançar o inalcançável é uma ilusão que o eu lírico decide calar, preferindo sofrer em silêncio a revelar sua dor à pessoa amada.
Na última parte da canção, o eu lírico expressa a pureza de seu amor, que suporta a dor quase a sorrir. Ele se humilha ao levar seu coração aos pés da pessoa amada, jurando amizade e dedicação, mesmo sabendo que vive em um sonho enganado. A humildade e a resignação são evidentes, e o eu lírico decide nunca revelar que viveu assim por amor. A música, portanto, é uma reflexão profunda sobre a natureza do amor não correspondido, a dor silenciosa e a ilusão que muitas vezes o acompanha.
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