Autoritário e orgulhoso, o Sol não tinha amigos nem se importava em querê-los e, naquele dia, se aliou em parceria com o prepotente Vento. Reuniram-se, gabaram-se, esparramaram-se em contar vantagens, tramaram.
Quando Sol e Vento se reúnem, sabe-se que coisa boa não vem. Pacto feito, acertaram que a vítima seria a Manhã, a princesa dos campos, matas e rios. E o fizeram por inveja de sua leveza, desenvoltura e graciosidade.
- Não gosto dela - disse o raivoso Sol. - Quem pensa que é?
- Detesto-a - confirmou o Vento. - É ingênua, insegura e fraca!
Resolveram que, por ser bela, leve, desenvolta, graciosa, ingênua e insegura, merecia um bom castigo, desses que os maus gostam de conceber.
Tomados por superioridade e audácia, nem se deram conta do porquê de agirem assim, se há, entre coisas disponíveis, também as boas a serem feitas.
Eles preferiam as piores.
- Eu a aquecerei tanto e você a soprará com tanta força que nós, unidos, a faremos se sentir a mais infeliz dos seres! Quero vê-la se queimando num calor abrasador... he, he, he... - ordenou o Sol.
- Combinado! - exclamou o Vento. - Soprarei tanto que ela nem saberá o que fazer.
A Noite, que passara sonolenta pelas horas, não ouviu a conversa deles e, quando foi entregar ao Sol o relógio do tempo, recebeu dele um sorriso enviesado e um comentário:
- Você não viu e não verá o que vai acontecer! Você é notívaga... não sabe o que acontece durante o dia...
Intrigada, a Noite respondeu:
- Partindo de você com a sua prepotência, coisa boa não há de ser...
O Sol deu de ombros e chamou o Vento:
- Chegou a hora. Vai, sopra bem forte! Quero ver essa princesa se estragar.
E o Vento, ventando, soprou tanto, mas tanto, que levantou a saia da Manhã que, pega desprevenida, se agarrou nas barras do Horizonte, mas era tarde.
Havia mostrado tudo!
E aí uma grande surpresa aos olhos de todos: milhões de gotículas de orvalho brilharam nas pétalas, nos capins, nos campos e nas matas, refletindo, vejam só, a majestade da beleza do Criador.
Mostrou ao Sol e ao Vento o esplendor que é o amanhecer.
A Noite, que se escondera, sorriu com a decepção dos malvados. Como ela nunca foi orgulhosa, antes que o sol acordasse, colocou uma a uma daquelas gotículas no Sereno e mandou que ele espalhasse por tudo.
Envergonhados, o Sol se avermelhou e o Vento saiu de fininho, prometendo que daí por diante, pelas Manhãs, um seria ameno, e o outro, uma gostosa brisa.
Comporiam nessa parceria a beleza que temos no Alvorecer.
(Premiada no Femup 2021, Paranavaí, PR)
Renato Benvindo Frata. Fragmentos. SP: Scortecci, 2022. Enviado pelo autor
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