Ivaí / PR
Pedro e a Pedra
Neste caminho de cruzes ele nasceu. Franzino e triste pesava mais de dois quilos de aflição. Chegou com as defesas em punho e a coragem à mostra. Lutou com o peito seco da mãe e o abandono do pai. Aos sete anos se viu sozinho no mundo de Deus.
Perambulou pela rodoviária, avenidas e ruas. Desfilou em frente às vitrines e restaurantes. Encontrou e desencontrou amigos. Dormiu namorando as estrelas e teve como cobertor o frio e a garoa. Em algumas ocasiões correu, correu e correu. Completou dezoito anos e começou a labutar. Engraxava, lustrava e o troco guardava. Mas foi naquele dia que tudo mudou.
Na amarga desventura numa pedra tropeçou. Ele, o sobrevivente, agarrou com fé as últimas moedas. Olhou o cartão, marcou e apostou. Não deu outra...
Hoje Pedro mora em Petrolina. Colhe frutas nos vastos pomares. Continua a namorar o céu na noite de São João. Nunca esqueceu o frio que transpassava a alma e a fome que corroía as entranhas. Sempre repete:
– Jamais negue um copo d'água, pão e cobertor, pois na vida você pode tropeçar em uma pedra. A minha guardo até hoje no bolso. Não desgrudo não! A sorte é para todos... Não é, senhor?
(2. lugar na modalidade conto, Estadual, no IV Concurso Literário Foed Castro Chamma, 2023)
Fonte: Luiza Nelma Fillus e Flávio José Dalazona (org.). IV Concurso Literário Foed Castro Chamma 2023. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2023.
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