sábado, 28 de setembro de 2024

José Feldman (A Luz)

para Maya
[São Paulo/SP 1997 – Maringá/PR 2013]

Foste uma amiga, uma irmã,
foste uma luz, o calor.
No despertar da manhã,
foste… simplesmente amor.

Em uma pequena cidade, havia um homem chamado Giuseppe, que viveu a maior parte de sua vida imerso na solidão. Mas, tudo mudou quando ele encontrou uma cadela abandonada na rua. Ela era uma mistura de raças, com olhos brilhantes e um jeito brincalhão que derreteu seu coração. Giuseppe a chamou de Maya, e desde aquele dia, eles se tornaram inseparáveis.

Maya trouxe alegria para a vida dele. Juntos, exploravam parques, faziam longas caminhadas e compartilhavam momentos simples, como assistir ao pôr do sol no quintal. Com o passar dos anos, Maya se tornou mais do que uma companheira; ela era sua melhor amiga, sua luz em dias sombrios.

Os anos passaram rapidamente e, ao completar 16 anos, Maya começou a apresentar sinais de fraqueza. A energia que antes brilhava em seus olhos agora era apenas um lampejo. Giuseppe, preocupado, levou-a ao veterinário, onde recebeu a notícia que temia: Ela estava envelhecendo e seu tempo estava se esgotando.

Nos dias que se seguiram, Giuseppe fez tudo o que pôde para tornar os últimos momentos de Maya especiais. Ele a levou a todos os lugares que ela amava, preparou suas comidas favoritas e passou horas acariciando seu pelo macio. Mas, apesar de seus esforços, o estado dela continuava a piorar.

Uma noite, enquanto a lua iluminava o céu, Maya deitou-se ao lado de Giuseppe. Ele a abraçou, sentindo seu coração bater lentamente. Com lágrimas nos olhos, ele sussurrou palavras de amor e gratidão, lembrando-se de todos os momentos que viveram juntos. Maya olhou para ele, como se entendesse cada palavra, e então fechou os olhos pela última vez.

A dor da perda foi avassaladora. A casa, que antes era preenchida com os risos e as brincadeiras de Maya, agora parecia vazia e silenciosa. Giuseppe caminhava pelos lugares onde costumavam brincar, sentindo a falta da alegria que a cadela trouxera para sua vida. Cada canto lembrava-o dela: o sofá onde ela costumava se aninhar, o parque onde corriam juntos, e até mesmo o quintal onde tantas vezes observaram o sol se pôr.

Os dias se tornaram semanas, e a tristeza de Giuseppe parecia não ter fim. Ele se perguntava como poderia viver sem sua fiel amiga. A vida, que antes parecia cheia de significado, agora era uma sombra do que era.

Mas, em meio à dor, Giuseppe começou a lembrar das lições que Maya lhe ensinou sobre amor e amizade. Ele decidiu que, embora ela não estivesse mais fisicamente ao seu lado, seu espírito e as memórias que compartilharam sempre viveriam em seu coração. Com isso, ele se dedicou a ajudar animais abandonados, fazendo o que pôde para dar a outros cães a mesma felicidade que Maya trouxe para sua vida.

A tristeza nunca desapareceu completamente, mas Giuseppe encontrou consolo na ideia de que Maya havia deixado um legado de amor. E, assim, em meio à dor, ele começou a reencontrar sua luz.

Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Ia Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.

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