segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Vereda da Poesia = 112


Trova de 
BARRETO COUTINHO
Limoeiro/PE (1893 – 1975) Curitiba/PR

Destino é força que esmaga.
Credor austero, tremendo,
manda a conta e a gente paga 
sem saber que está devendo…
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Quadrão à Beira-Mar de
FRANCY FREIRE
Assaré/CE

Meu amor vai na garoa
Remando em sua canoa
Cantando uma rima boa
Pra solidão espantar.
E eu fico aqui tão sozinha,
Levando a mesma vidinha,
Da sala para a cozinha
No quadrão a beira-mar.
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”
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Trova de
SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo/RJ

Na aurora, à luz do arrebol,
quando o céu mais cores ganha,
Deus ergue a hóstia do Sol
por sobre o altar da montanha!
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Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

Máquina do tempo

Vou inventar a máquina do tempo.
Vou voltar e fazer tudo outra vez.
Quero ter certeza de que meus erros e acertos
Foram os alicerces da minha lucidez.

Não repudio um só minuto vivido.
Não tenho dúvidas de que tenho muito a caminhar,
Mas cada pedra, que lapidei com tropeços,
Foram as mesmas que pisei pra escalar.

A montanha é íngreme. Eu bem sei,
Que chegarei lá no topo, nunca duvidei!
Cicatrizes nos punhos e pés vão ficar.

Mas se os rumos que tomei foram incertos,
Se, troquei águas claras por oásis no deserto,
Faria tudo de novo, se tivesse que recomeçar. 
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Trova Humorística de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS (1932 – 2013) São Paulo/SP

Minha sogra está doente
e o diabo, apavorado:
- se ela morre de repente,
ele está desempregado!...
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Poema de
ELISA ALDERANI
Ribeirão Preto/SP

Mulher

Não importa a cor dos seus cabelos,
Loira, morena ou ruiva.
Não importa seu nome:
Leila, Maria, Iara, Lúcia, ou Sofia.
De qualquer nacionalidade ou raça.
É mulher!
Pelos poetas românticos é cantada,
Em prosa em versos idolatrada.
É mulher amada.
Você pode ser traída ou traidora,
Solteira, viúva, amante ou esposa.
Você pode ser poderosa.
É mulher!
Ser fada bonita, ou piloto, tanto faz.
Mulher corajosa, anjo do lar,
Companheira amorosa e prestimosa,
Sensível e audaciosa,
Sensual e conquistadora.
É mulher!
Homem nenhum pode viver, sem você,
Ele precisa de mulher para ser forte.
Quando fraco vai ficar na sorte.
Sem você mulher ele não avança,
Precisa do seu amor, como alavanca.
É mulher!
Mãe faz-se partilha, e o amor sempre cresce,
A vida floresce.
Briga, chora e canta, trabalha no lar e fora.
Mulher inteligente,
Sempre consegue conciliar amor e sentimento.
Um dia, os filhos tomam o rumo da vida,
Muitas vezes sozinha ela fica.
Embala sonhos, brinca com netos torna-se criança.
E a vida segue serena a sua dança!
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Trova Popular

Quem inventou a partida         
não sabia o que era amar;      
quem parte sem vida,             
quem fica, fica a chorar.
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Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN

Lágrimas

Eu não sei o que tenho... Essa tristeza
Que um sorriso de amor nem mesmo aclara,
Parece vir de alguma fonte amara
Ou de um rio de dor na correnteza.

Minh' alma triste na agonia presa,
Não compreende esta ventura clara,
Essa harmonia maviosa e rara
Que ouve cantar além, pela devesa.

Eu não sei o que tenho... Esse martírio,
Essa saudade roxa como um lírio,
Pranto sem fim que dos meus olhos corre,

Ai, deve ser o trágico tormento,
O estertor prolongado, lento, lento,
Do último adeus de um coração que morre...
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Trova Humorística de
IDEL BECKER
Porto Casares/ Argentina (1910 – 1994) São Paulo/SP

Todo sujeito sensato
sabe a verdade de cor:
A mulher bela, de fato,
sem fato fica melhor.
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Poema de 
HILDEMAR CARDOSO MOREIRA
São Mateus do Sul/PR, 1926  – 2021, Contenda/PR

Saudade imensa
                                       (À Neusa)

Que saudade, meu Deus, mas que saudade
Eu sinto de você minha querida.
Palmilhamos nossa estrada nos amando,
Éramos então vivendo enamorados
Como dois pombos enfrentando a vida.
Jamais pensando vivermos separados.
Mas você teve sua missão cumprida
E Deus veio buscar-lhe faz um ano.
E eu não pude lhe beijar na despedida,
Selei um beijo já em seu rosto inerte,
Molhando com lágrimas sua face linda.
Hoje não sinto seu calor humano,
Mas lhe sinto presente em toda a vida
E mesmo sem lhe ver é mais querida.
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Trova de
ANTONIO CABRAL FILHO
Jacarepaguá/RJ

Eu e você, nossos sonhos,
nos divertindo na praia,
felizes e tão risonhos,
correndo, livres, sem raia.
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Soneto de
BASTOS TIGRE
Recife/PE, 1882-1957, Rio de Janeiro/RJ

Saudade

Infeliz de quem vive sem saudade,
Do agridoce pungir alheio às penas,
Sem lembranças de amor e de amizade,
Hoje vivendo o dia de hoje, apenas.

Triste de ti, ancião, que te condenas
A mole insipidez da ancianidade
E não revives na memória as cenas

De prazer e de dor da mocidade!
Ter saudade é viver passadas vidas,
Percorrendo paragens preferidas,
Ouvindo vozes que se têm de cor.

Sonha-se... E em sonho, como por encanto,
A dor que nos doeu já não dói tanto,
Gozo que foi é gozo inda maior.
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Trova de 
DILVA MORAES
Nova Friburgo/RJ

Olhares insinuantes
que o cupido  registrou,
flecharam  os dois amantes
que a vida não separou!
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Poema de
AUGUSTO GIL
Lordelo do Ouro/Portugal (1873 – 1929) Guarda/Portugal 

Balada da neve 

Batem leve, levemente, 
como quem chama por mim. 
Será chuva? Será gente? 
Gente não é, certamente 
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania: 
mas há pouco, há pouquinho, 
nem uma agulha bulia 
na quieta melancolia 
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente, 
com tão estranha leveza, 
que mal se ouve, mal se sente? 
Não é chuva, nem é gente, 
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía 
do azul cinzento do céu, 
branca e leve, branca e fria... 
- Há quanto tempo a não via! 
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça. 
Pôs tudo da cor do linho. 
Passa gente e, quando passa, 
os passos imprime e traça 
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais 
da pobre gente que avança, 
e noto, por entre os mais, 
os traços miniaturais 
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos... 
a neve deixa inda vê-los, 
primeiro, bem definidos, 
depois, em sulcos compridos, 
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador 
sofra tormentos, enfim! 
Mas as crianças, Senhor, 
porque lhes dais tanta dor?!... 
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza, 
uma funda turbação 
entra em mim, fica em mim presa. 
Cai neve na Natureza 
- e cai no meu coração.
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Trova de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

A dor parece incontida?...
Lave o rosto e não se abale:
a esperança é sol da vida
vencendo as sombras do vale.
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Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895– 1926

Decadência

Afinal, é o costume de viver
Que nos faz ir vivendo para a frente;
Nenhuma outra intenção, mas simplesmente
O hábito melancólico de ser...

Vai-se vivendo... é o vício de viver...
E se esse vício dá qualquer prazer à gente,
Como todo prazer vicioso é triste e doente,
Porque o Vício é a doença do Prazer...

Vai-se vivendo... vive-se demais,
E um dia chega em que tudo que somos
É apenas a saudade do que fomos...

Vai-se vivendo... e muitas vezes nem sentimos
Que somos sombras, que já não somos mais nada
Do que os sobreviventes de nós mesmos!...
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Trova de
JORGE MURAD 
Guanabara/RJ (1910 – 1998)

Só porque falo sozinho
chamam-me louco, - maldade! 
é que eu converso baixinho
quando falo com a saudade...
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Poema de 
DYLAN THOMAS 
Swansea/País de Gales (1914 - 1953) Nova Iorque/EUA

Vem uma mudança no tempo do coração

Vem uma mudança no tempo do coração
secar a sua seiva, e um brilho que nos fere
vibra no interior glacial do túmulo.
Transforma-se na cidade das veias
a noite em dia, e movem-se ali os vermes
sob o reflexo solar do próprio sangue.

Vem uma mudança ocultar nos olhos
os ossos da cegueira, e então o ventre
mergulha na morte como o aparecimento da vida.

A escuridão no tempo dos olhos
encontra-se com a luz; a profundidade do mar
rompe sobre uma terra sem arestas.
A semente, que gera dos flancos um bosque
vem dividir o seu fruto, e cada metade
derrama-se lentamente no vento adormecido.

O tempo ao percorrer a nossa carne e os ossos
fica úmido e seco; o que desperta e o que morre
junto dos olhos são como dois espíritos.

Vem uma mudança no tempo do mundo
transformar um espírito no outro, e cada criança
na sua mãe amolda-se sob uma dupla sombra.
Assim é arrastada a lua em direção ao sol,
da pele são removidas as andrajosas vestes,
e o coração abandona-se à morte.
(tradução: Fernando Guimarães)
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Trova de 
LÓLA PRATA
Bragança Paulista/SP

Entre os dois, o amor é forte,
com risos que exigem palmas;
não é acaso nem sorte,
é identidade de almas!!!
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Poema de
CLEVANE PESSOA
Belo Horizonte/MG

Alegoria das Palavras Soltas

Que as mãos dos poetas
libertem as palavras de conceitos e preconceitos antigos.
Que a voz dos poetas
entoe cantos inusitados -às vezes inaudíveis aos demais.
Mas que sejam sempre palavras oloROSAS
a perfumar os poros dos amados e amigos.
O que vier a mais será benesse, lucro e dividendos:
mais importante que a glória
é a libertação do próprio Menestrel.
Que os versos sejam livres, com "palavras soltas",
a ressignificar todas as im/possíveis metáforas!
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Trova de 
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS

Levo a vida com firmeza,
na derrota ou no sucesso,
pois do rio, a correnteza
vai em frente sem regresso !
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Hino de Natal/ RN

I
Natal, Cidade Sol,
Tu representas tanto para mim!
No início, Forte dos Reis Magos,
Cidade Alta, Ribeira e Alecrim.

Daí, sempre a crescer -
Um cajueiro, galhos a estender,
Brotou nas Rocas, Quintas e Tirol,
Em Igapó, Redinha e Mirassol;
Chegou à Zona Norte,
Em Mãe Luíza se enraíza no farol.

O mar, enamorado,
Colar de praias te presenteou;
E o Potengi amado
Em teu regaço com o porvir sonhou.

Natal - provinciana -
A tua história nos contou Cascudo:
A luta com o batavo,
As procissões, o pastoril, o entrudo.
II
Natal, Cidade Sol,
Tu representas tanto para mim!
No início, Forte dos Reis Magos,
Cidade Alta, Ribeira e Alecrim.

Daí, sempre a crescer -
Um cajueiro, galhos a estender,
Brotou em Morro Branco e Bom Pastor,
Em Candelária, Felipe Camarão;
Do Morro do Careca
Em Ponta Negra, vem rolando até o chão.

O mar, enamorado,
Colar de praias te presenteou;
E o Potengi amado
Em teu regaço com o porvir sonhou.

Natal - espacial -
Ao céu foguete vai levar mensagem
De amor e de esperança
A quem fiel evoca a tua imagem.
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

A idade é, por excelência, 
a grande mestra do amor. 
– É no outono da existência 
que a paixão tem mais calor!
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Soneto de 
VINICIUS DE MORAES
Rio de Janeiro/RJ, 1913 – 1980

Soneto de contrição

Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma...

E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.
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Trova de 
ARI SANTOS DE CAMPOS
Balneário Camboriú/SC

Com um abraço agradeço
as letras do meu saber;
contudo, não desmereço
as que deixei de aprender.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

Os dois amigos e o urso

Um urso acometeu dois passageiros:
Um deles, que os pés tinha mais ligeiros,
Pôs-se em cima duma árvore escondido.
Vendo o outro que tinha mau partido,

Estendendo-se em terra nem bulia
Nem respirava: morto se fazia.
Cheirando-o por orelhas e por cara,
O deixa intacto a fera, e se separa.

Dizem que, se encontrou uma pessoa
Que julga estar já morta, lhe perdoa.
O da árvore já livre do perigo,
Vindo com ar de riso ao seu amigo,
Lhe disse: «Que segredo era o que o horrendo
Urso te estava agora aqui dizendo?

— Disse-me, respondeu ele, que em jornadas
Não leve semelhantes camaradas.»

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