quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Recordando Velhas Canções (A felicidade)


(Samba, 1959) 

Compositores: Tom Jobim e Vinícius de Moraes

Tristeza não tem fim 
(tristeza não tem fim)
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve, mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho, 
pra fazer a fantasia
De rei, ou de pirata, ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim
Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota de orvalho 
numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois, de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor 

Tristeza não tem fim
Tristeza não tem fim
Tristeza não tem fim
Tristeza não tem fim
Tristeza não tem fim
Tristeza não tem fim

A Efemeridade da Alegria em 'A Felicidade'
A música 'A Felicidade', é uma reflexão poética sobre a natureza transitória da felicidade em contraste com a persistência da tristeza. A letra utiliza metáforas para descrever a felicidade como algo leve e passageiro, comparando-a a uma pluma levada pelo vento e a uma gota de orvalho numa pétala de flor, que brilha por um momento antes de cair. Essas imagens evocam a ideia de que a felicidade é um estado delicado e efêmero, que depende de condições externas para existir e é facilmente perturbado.

A canção também aborda a felicidade sob a perspectiva social, mencionando a 'felicidade do pobre' durante o carnaval, um período em que as pessoas podem esquecer temporariamente suas dificuldades e se entregar à celebração. No entanto, essa alegria é descrita como uma 'grande ilusão', pois termina abruptamente com o fim da festa. A música sugere que, para muitos, a felicidade é um escape momentâneo da realidade, não uma condição permanente.

Por fim, a letra fala da felicidade pessoal encontrada nos olhos da namorada do narrador, um amor que traz esperança e alegria. No entanto, mesmo esse sentimento é apresentado com cautela, como algo que deve ser preservado e que pode ser tão passageiro quanto a noite que busca a madrugada. A repetição do verso 'Tristeza não tem fim, felicidade sim' reforça a mensagem de que a tristeza é uma constante, enquanto a felicidade é intermitente e preciosa.

Feita para o filme de Marcel Camus “Orfeu do Carnaval”, “A Felicidade” consagrou internacionalmente Agostinho dos Santos (foto), a voz de Orfeu (cantando) no filme. Lamentando o caráter passageiro da felicidade (“Tristeza não tem fim / felicidade sim”), sua letra ostenta alguns dos mais belo versos da música popular brasileira: “A felicidade é como a gota / de orvalho numa pétala de flor / brilha tranquila / depois de leve oscila / e cai como uma lágrima de amor...”.

E como o poema, a melodia é também de alta qualidade. Estimulada pela expectativa de sucesso do filme — que afinal aconteceu, com a premiação da Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em Hollywood —, nossa indústria do disco lançou em 1959 nada menos do que 25 gravações de “A Felicidade” (uma a mais do que “Eu Sei que Vou te Amar”), incluindo-se nessa leva inicial de intérpretes Maysa, Sylvia Telles, João Gilberto, Agostinho dos Santos (que a gravaria cinco vezes em sua carreira), além de instrumentistas como José Menezes, Chiquinho do Acordeom e Moacir Silva.

Detalhe pitoresco é que “A Felicidade” foi praticamente composta numa sucessão de telefonemas, com Jobim no Rio de Janeiro e Vinicius em Montevidéu, onde servia na embaixada brasileira.

Fontes: 
– Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. Vol. 2. Editora 34, 1997.

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