CÉLIA MARTINS
Bauru/SP
Querendo o mundo alegrar,
Deus juntou perfumes, cores,
e, para o poeta sonhar,
sorrindo criou as flores…
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Poema de
CRIS ANVAGO
Lisboa/ Portugal
A música faz sonhar
Lembrar, sorrir
Ficar sentada
Fluir no oceano
Que nos acolhe
E escolhe o que merecemos
E queremos tudo de bom
Porque queremos
Ser como somos
Ser nós!
Com os abraços amigos
Sem estarmos sós
Queremos o som
E, na madrugada
Saborear fruto bom
Antes de irmos para a estrada
Somos quem somos
E, não temos de ser mais nada!
Chegamos, partimos
Andamos a deambular pela estrada
Sempre pensamos em quem nos ama
Sempre somos acarinhados pelos amigos
Somos nós
Com todas as imperfeições
e. se não estivermos sós
somos bons nas nossas relações
de amizade, da amor e carinho
assim vamos caminhando
nesta estrada dura do destino!
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Cara cheia... Perna bamba,
ele mesmo se conforta,
olha a rua e diz: - "Caramba!"
Nunca vi rua mais torta!...
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Soneto de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Foi dele a sorte
Genoveva, uma negra solteirona,
quase banguela e bem desengonçada,
apesar de feiosa e cinquentona...
de repente a notícia: Está casada!
E o noivo?! Um ruivascão bem apanhado,
uns vinte anos mais moço, com certeza...
Fato esquisito e tão disparatado
causa na vila uma enorme estranheza.
Diz à negra um compadre malicioso:
“Poxa, Nha Véva, que eu já tô curioso;
mecê achou um rapagão tão alinhado...”
E ela, vaidosa, arreganhando um dente:
“Pois é... tinha um montão de pretendente,
mas a sorte foi dele... tá premiado!”
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Trova de
MARTINHO DE ABREU CARVALHO
Bauru/SP (1913 – 1989)
Saudade! Guardo-a num lenço
que um dia orvalhei de pranto...
Tem o perfume do incenso:
– misto de amargo e de santo!
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Poema de
DANTE MILANO
Rio de Janeiro/RJ (1899 -1991) Petrópolis/RJ
CANÇÃO BÊBADA
Estou bêbado de tristeza,
De doçura, de incerteza,
Estou bêbado de ilusão,
Estou bêbado, estou bêbado,
Bêbado de cair no chão.
Os que me virem caído
Pensarão que estou ferido.
Alguém dirá: "Foi suicídio!"
"É um bêbado!" outros dirão.
E ficarei estirado,
Bêbado, desfigurado.
Talvez eu seja arrastado
Pelas ruas, empurrado,
Jogado numa prisão.
Ninguém perdoa o meu sonho,
Riem da minha tristeza,
Bêbado, bêbado, bêbado,
Em mim, humilhada a glória,
Escarnecida a poesia,
Rasgado o sonho, a ilusão
Sumindo, a emoção doendo.
E ficarei atirado,
Bêbado, desfigurado.
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Trova Popular
Se mil corações tivesse
com eles eu te amaria;
mil vidas que Deus me desse
em ti as empregaria.
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Dobradinha poética (trova e soneto) de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Bandeirantes/PR
Seu retrato
Com seu retrato eu falava,
queixando-me de um desgosto
e a lágrima, que brotava
foi descendo no seu rosto…
Você se foi e além desta saudade,
a solidão me impôs mais um castigo…
Sem ter você eu vi que, na verdade,
nem um retrato seu tinha comigo.
Passado o tempo, nova realidade,
minha lembrança exposta ao desabrigo,
pois a aparência da adiantada idade
não corresponde ao jovem rosto, antigo.
Conscientizada de inegável fato,
num livro eu vi seu quase atual retrato,
fui logo ampliá-lo para mais vantagem…
E analisei o seu semblante, nele,
mas percebi que não preciso dele:
– gravada em mim já estava a mesma imagem!…
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Trova de
IRMA RANGEL MARTINS
Bauru/SP
Nossa vida é dom divino,
cabe-nos cuidá-la bem
com amor e muito tino;
vivenciá-la também...
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal
Há tanto amor
Na beleza de uma fotografia
Nos momentos registados em partilha e sintonia
Como poemas protegidos numa gaveta de afetos
Há tanto amor
Em momento que suspira pela companhia
Pela palavra que serena, que só acrescenta
Que afasta julgamentos nas noites em que o sono não vence
Há tanto amor
No repetir da palavra bendita
No gesto simples que se torna intimidade
Verdade de amar em descompassado palpitar.
Há tanto amor
No sentimento que não deve julgar
Na grandeza de um todo insuficiente
Num libertar que vai além da compreensão.
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
Ao ver que estava em perigo
fechou, a Jane, a matraca...
É que o Tarzã, sempre amigo,
hoje "tava com a macaca"!
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Soneto de
BERNARDO TRANCOSO
Vitória/ES
Uma poesia sobre nós
Nada vai separar, existem laços;
Nem vai desenlaçar, nem nos espaços
Entre os passos que juntos damos, sós;
Nem antes dos abraços, nem após.
Nada vai desatar tantos amassos;
Nem vai desamassar, nem nos escassos
Truques, traços, herdados dos avós,
Nossos braços, cruzados como nós.
Todo o meu corpo, todo o teu, também,
São bobinas trançadas de um motor,
Bouganvilles depois do sol se pôr,
A liberar calor como ninguém.
São nossos corações, que vão e vêm,
Pontas de um grande laço, que é o amor.
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Trova de
JOSÉ TAVARES DE LIMA
Juiz de Fora/MG
Pode o amor ser complicado...
Mas, seja lá como for,
adoro ser enredado
nos labirintos do amor...
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Poema de
LEONILDA YVONNETI SPINA
Londrina/PR
Vem...
Vem...
Mas não tragas o pó de outras andanças.
Não me despertes mortas esperanças.
Vem desarmado, solto, livre
como pássaro, romântico trovador.
Traze-me tua voz, teu canto, teu calor.
Vem fatigado, descansar em novos prados.
Vem faminto, desprotegido, em busca de afeto.
Mas traze em tua mochila punhados de sonhos,
nos lábios o mel que me adoçará o riso,
nos braços a quentura de muitos sóis,
nos olhos a chama de mil velas.
Vem...
E me olha, me toca, me abraça.
Ansioso me enlaça, faze-me estremecer.
Vem...
E te entrega por inteiro, no fluir das horas.
Não te inquietes, não te preocupes em ir embora.
Vive o agora, o momento que breve passa...
Ou então... Não venhas!
Que não te quero parte, metade.
Não te quero migalha...
Quero um amor... de verdade!
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Trova Funerária Cigana
As saudades que te trago
foram da terra arrancadas,
mas as que tenho por ti
estão n'alma enraizadas.
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Soneto de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR
A meu filho
Vejo a criança de ontem em você
que embalei nos meus braços ternamente,
Sinto inundar-me de emoção porque
eu vi botão a flor hoje imponente.
Ao pressentir o homem que, latente,
eu já descubro e quase já se vê,
tenho almejado que haja tão somente
o bem, no mundo que se lhe antevê.
Não saber-lhe o porvir faz-se tortura
que na alma-mãe me paira e assim perdura
na ânsia vã de pautar-lhe a jornada.
Uma lágrima oculta, na costura
enxugo. E rogo a Deus que faça pura
e perfumosa a flor por mim plantada.
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Trova de
CLÁUDIO DERLI SILVEIRA
Porto Alegre/RS
Eis a vida! Eis os caminhos...
Na missão de precursores,
o sábio evita os espinhos
e o tolo... pisa nas flores!...
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Poema de
OLIVER FRIGGIERI
Floriana/Malta
Somos água viva
Nossa história deve terminar algum dia
Como água do manancial que ao remanso chega
Ou pedra que rola até deter-se,
Como um pêndulo de relógio que ao fim se imobiliza.
Cada dia ao anoitecer, em nossas casas
Quando nossos filhos perguntam o que está passando
Trocamos de tema ao não ter resposta
E cantamos o estranho hino de nossa idade:
“Somos água viva e nada a bebe
Porque nas ondas se encontra o sal da destruição.
Somos pedras eliminadas dos altares
De Deuses enfermos que iam mortos desesperados
Em uma luta contra eles mesmos. Pêndulo somos
Que está a ponto de gastar o seu vigor.”
(Tradução: José Feldman)
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Ah, meu rio, de repente,
o que foi feito de nós?
Ficou tão longe a nascente...
vemos tão próxima a foz!
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Soneto do
Príncipe dos Poetas Piracicabanos
LINO VITTI
Piracicaba/SP, 1920 – 2016
Florindo Corações
Veja o belo jardim como anda florescido
tanta roseira em flor sonhando com perfumes!
Um verdadeiro céu de estelíferos lumes
estilhaçado em chão de vidro derretido.
Em flores transformou-se a montanha de estrumes
dado vida ao odor tristonho e ressequido.
Convidados da noite a um banquete subido
são insetos que vêm e luzem vagalumes.
Veja as rosas que estão clamando por olhares,
por sorrisos de quem bem perto delas passa,
por beijos de manhãs e céus crepusculares.
Deixemos repousar a vista generosa
nesse encanto floral da roseira que é graça
fundindo em coração cada botão de rosa.
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Trova de
ANTONIO CARLOS TEIXEIRA
Brasília/DF
É de dor a sensação:
meu Pai… arrastando os passos;
e eu… puxando pela mão
quem já me levou nos braços!
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Hino de
São Luís/MA
Louvação a São Luís
Ó minha cidade
Deixa-me viver
que eu quero aprender
tua poesia
sol e maresia
lendas e mistérios
luar das serestas
e o azul de teus dias
Quero ouvir à noite
tambores do Congo
gemendo e cantando
dores e saudades
A evocar martírios
lágrimas, açoites
que floriram claros
sóis da liberdade
Quero ler nas ruas
fontes, cantarias
torres e mirantes
igrejas, sobrados
nas lentas ladeiras
que sobem angústias
sonhos do futuro
glórias do passado
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Trova Humorística de
ALBA HELENA CORRÊA
Niterói/RJ
Na sopa havia um cabelo
e o garçom sai da sinuca:
- Por esse preço, ó Campelo,
querias uma peruca?!..
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Poema de
VINICIUS DE MORAES
Rio de Janeiro/RJ (1913 – 1980)
Desalento
Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu chorei
Que eu morri
De arrependimento
Que o meu desalento
Já não tem mais fim
Vai e diz
Diz assim
Como sou
Infeliz
No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim
Diz que eu estive por pouco
Diz a ela que estou louco
Pra perdoar
Que seja lá como for
Por amor
Por favor
É pra ela voltar
Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ela
Que eu entrego os pontos
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Trova de
DIVENEI BOSELI
São Paulo/SP
Essa idade que escondemos,
que, entre risos, desmentimos,
é sempre aquela que temos,
mas nem sempre a que sentimos.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França
O avarento e o compadre
Juntara tantas libras um sovina,
Que não sabia já onde encaixá-las.
A avareza, que é tola e nada ensina,
Punha-o em sérias talas
Sobre quem lhe as tivesse em bom depósito.
Queria por força alguém; e eis a razão:
«Dinheiro em casa expõe-me à tentação,
O monte minguará: e, de propósito,
Eu próprio dos meus bens serei ladrão.»
Ladrão! Essa é que é boa, meu amigo!
Pois é roubar a si gastar consigo
Cada um do que tem?
Pensar assim julgo eu tolice crassa.
Pois fica-me sabendo. Os bens são bem,
Se os souberes gastar: se não, desgraça.
Para que guardas tu esse tesouro
Para a idade avançada,
Em que ele te não sirva para nada?
Perde o valor o ouro
Com as fadigas enormes de ganhá-lo
E as penas de guardá-lo.
Podia o nosso avaro encontrar gente,
A qual com segurança
Das ânsias o livrasse facilmente.
Preferiu ter na terra confiança.
Com a ajuda de um compadre, determina
O soterrar o farto capital.
Passados alguns tempos, o sovina
Foi ver o seu dinheiro... porém, qual!
Tudo abalara: só restava a cova,
De libras... nem sinal!
Suspeitou logo, mesmo sem ter prova,
Do seu compadre e amigo.
Foi procurá-lo com fingido empenho,
E disse-lhe: «Compadre, a vir comigo
Prepare-se. Alguns cobres ainda tenho,
Que ao tesouro escondido vou juntar.»
O espertalhão compadre, afadigado,
Vai pôr no seu lugar
O dinheiro roubado,
Com a manha já fisgada de apanhar
Tudo, sem faltar nada.
Mas, desta vez, o avaro despicou-se.
Meteu em casa a chelpa, destinada
Doravante a tornar-lhe a vida doce,
E jurou nunca mais juntar dinheiro,
Nem deixá-lo enterrado.
Quanto ao ladrão matreiro,
Esse ficou banzado,
Sem encontrar dinheiro ao seu dispor.
Não é caso intrincado
Burlar um burlador.
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