Eu não tenho escrito nada de interessante ultimamente. Nada tem acontecido de uns tempos para cá. As páginas em branco se sucedem em um ritmo diário impressionante, uma atrás da outra e dia após dia. Eu chego até a não me reconhecer mais, uma tragédia, íntima e pessoal, um fato lamentável!
Nem mesmo as pequenas tragédias do cotidiano, já não me inspiram mais. E meu jardim outrora florido, agora não passa de um deserto árido e sem vida. No céu as nuvens brancas, as estrelas, os astros e a lua parecem umas com as outras. As pessoas parecem umas com as outras. Já não reconheço mais minha pena, outrora cheia de mágoas, ressentimentos e iras.
A minha verve, agora parece conformada com as coisas, burocratizou-se e já não sonha mais com os impossíveis da vida. Já não tem aquela velha sanha avassaladora de quem vai mudar o mundo para melhor. Minha pena preferiu esconder-se no cotidiano e o meu íntimo diz: ‘’— Hoje vou escrever qualquer coisa, porque qualquer coisa está verve, qualquer coisa está bom!’’
Como se vida não fosse um desenrolar de fatos novos. Fatos curiosos a serem vistos em ângulos diferentes, de várias formas. E em cada letra, a cada palavra uma descoberta, uma releitura da realidade. De como cada um vê e vive a vida à sua maneira, mas hoje as coisas estão assim mortas. Um arremedo de fatos novos que cheiram ao passado. Em suma muda-se o título, recompõe-se o texto e nada, nada acontece. Mas o que importa mesmo? Mesmo porque eu não tenho o ofício de escrever. Muito menos tenho o hábito de escrever bons textos!
(Fragmento do livro “Uma flor chamada margarida”, de Samuel da Costa)
Fonte: Texto enviado pelo autor.
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