Era um dia uma criança tão inquieta e travessa, tão amiga dos brinquedos e da ociosidade, que não tinha paciência de estar por muito tempo ajoelhada na igreja, aspirando o perfume do incenso, sob a luz dos altares.
Quando chegava o domingo, à hora de ir fazer suas orações, achava sempre um pretexto para correr até ao campo, à procura das borboletas e de ovos de passarinhos.
Disse-lhe a mãe um dia:
— O sino chama-te, meu filho, o sino toca, o sino fala-te, o sino prescreve-te os deveres da religião e obriga-te a assistir às missas, e se continuares a fugir para o campo, um dia o sino há de descer da altura em que está e correr atrás de ti.
Mas a criança pensou:
"O sino está tão alto, badalando lá em cima, preso nas paredes da torre!..."
E seguiu adiante, correndo pelos atalhos e devesas (matos), ávido de ar e de liberdade.
Mas que medo, meu Deus! Que terror lhe arrepia os cabelos e lhe empalidece o rosto. Numa curva do caminho o sino aparece, andando como se tivesse pernas, a ralhar como se tivesse boca. A pobre criança, desesperada, corre de um lado para outro, tropeçando nas pedras, rasgando-se nos espinhos.
E o sino cai. O pobrezinho corre, corre sempre, toma a direção da igreja e entra, mal acordado do susto.
Desde esse dia, quando chega o domingo, ou algum dia de festa, ele é o primeiro a ir à igreja, obedecendo ao primeiro toque do sino, sem ser preciso que ninguém o convide.
Fonte> Francisca Júlia. Livro da infância. 1899. Disponível em Domínio Público
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