domingo, 29 de setembro de 2024

Recordando Velhas Canções (Asa branca)


(toada, 1947) 

Compositor: Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga

Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu: Ai
Por que tamanha judiação?

Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d'água, perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por falta d'água, perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Entonce eu disse: Adeus, Rosinha
Guarda contigo meu coração
Entonce eu disse: Adeus, Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão

Quando o verde dos teus óios
Se espalhá na prantação
Eu te asseguro, não chore não, viu?
Que eu voltarei, viu, meu coração?
Eu te asseguro, não chore não, viu?
Que eu voltarei, viu, meu coração?
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Asa Branca: Um Hino de Esperança e Saudade do Sertão
A música 'Asa Branca', composta por Luiz Gonzaga, o 'Rei do Baião', e seu parceiro Humberto Teixeira, é uma das mais emblemáticas canções da música brasileira, retratando a dura realidade do sertanejo diante da seca no Nordeste. A letra descreve a terra ardente, comparada a uma fogueira de São João, uma festa tradicional nordestina, e questiona a razão de tanto sofrimento. A imagem da terra queimada e a perda do gado e do alazão, por falta de água, são representações poderosas da devastação causada pela seca.

A 'asa branca' mencionada no título é uma referência à ave que migra quando o sertão se torna inóspito, simbolizando o próprio sertanejo que se vê forçado a deixar sua terra natal em busca de melhores condições de vida. A despedida de Rosinha, que pode ser interpretada como uma pessoa amada ou a própria terra, carrega um tom de promessa e esperança de retorno. A solidão do migrante é palpável, e a espera pela chuva é a espera pelo momento de voltar ao lar.

A canção transcende a narrativa de uma pessoa específica e se torna um símbolo da resiliência do povo nordestino. A esperança de dias melhores, quando o verde voltará a cobrir o sertão e os olhos de quem espera não precisarão mais chorar, é um tema universal de perseverança e fé no futuro. 'Asa Branca' é mais do que uma música, é um hino que expressa a saudade de casa e a força de um povo que não desiste diante das adversidades.

Um tema folclórico muito antigo é a origem da toada "Asa Branca" (espécie de pomba brava que foge do sertão ao pressentir sinais de seca). Luiz Gonzaga o conhecia desde a infância, através da sanfona do pai, mas achava-o simples demais para transformá-lo numa canção.

Assim, foi só para atender ao pedido de uma comadre que se dispôs a gravá-lo, levando-o antes para Humberto Teixeira dar-lhe uma "ajeitada" na letra. Então, Teixeira ajeitou-lhe também a melodia, acrescentou-lhe versos inspirados ("Quando o verde dos teus óios se espaiá na prantação") e tornou "Asa Branca" uma obra-prima.

Reconhecida e gravada internacionalmente, a canção inspirou nos anos setenta a retomada da música nordestina, em geral, e o culto a Luiz Gonzaga, em particular, por iniciativa dos baianos Caetano e Gil. Sua construção, possibilitando boas oportunidades de explorações harmônicas, tem-lhe proporcionado o aproveitamento como peça de concerto.

Fontes: 
https://www.letras.mus.br/luiz-gonzaga/47081/
– Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. Vol. 1. Editora 34, 1997.

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