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sábado, 29 de março de 2025

Vereda da Poesia = 236


Soneto de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

ARREPENDIMENTOS

Erraste... e quem não erra neste mundo,
repleto de sofismas e ciladas?!
Basta-nos, para errar, um vil segundo,
que o demônio nos tece, às gargalhadas!

A vida abismos cava... explora a fundo,
as faltas pequeninas, simples nadas;
absolve, purifica um charco imundo,
de linhas retas, faz encruzilhadas!

Vês? A vida é também contraditória!
Não te anule a opressão de um desatino!
Ponto final! E enceta nova história,

repetindo, a evitar outros tormentos;
- Assento os alicerces do destino,
"nos meus fecundos arrependimentos" (*]
= = = = = = = = = = =
(*) Chave de Ouro de Guilherme de Almeida
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Poema de 
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA

JUVÊNCIO

Assim vai Juvêncio
na sua aventura.
Da mata, o silêncio,
suave langor...
- Que motivo tanto
pra tanta bravura?
- Vai atrás do encanto
do seu santo amor.

Um riso escondido
no rosto moreno.
Herói das entranhas
das matas em flor.
No olhar sereno,
uma luz estranha...
Coisas do Cupido,
ciladas do amor!

Vai rasgando as águas
revoltas e turvas,
afogando as mágoas,
sufocando a dor.
Vai dobrando as curvas
do rio e da vida,
esquecendo a lida.
Vai ver seu amor!
      
A noite já avança,
o sol já descansa,
remar, seu ofício,
sua sina, lutar.
A canoa balança,
o remo lhe cansa.
Tanto sacrifício
pelo verbo amar!...

Não sente pavor
de fera ou visagem,
só pensa na imagem
da Rosa a esperar.
Vai pensando nela,
tão meiga, tão bela,
repleta de amor
e beijos pra dar.
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Quem ama não tem vergonha,
faz das tripas coração,
faz que não vê muita coisa,
sofre cada ingratidão!
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Soneto de
VINICIUS DE MORAES
Rio de Janeiro/RJ, 1913 – 1980

SONETO DA SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
= = = = = = = = =  

Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA

CREPÚSCULO SERTANEJO

A tarde morria! Nas águas barrentas
As sombras das margens deitavam-se longas;
Na esguia atalaia das árvores secas
Ouvia-se um triste chorar de arapongas.

A tarde morria! Dos ramos, das lascas,
Das pedras, do líquen, das heras, dos cardos,
As trevas rasteiras com o ventre por terra
Saíam, quais negros, cruéis leopardos.

A tarde morria! Mais funda nas águas
Lavava-se a galha do escuro ingazeiro... 
Ao fresco arrepio dos ventos cortantes
Em músico estalo rangia o coqueiro.

Sussurro profundo! Marulho gigante!
Tal vez um silêncio!... Tal vez uma orquestra... 
Da folha, do cálix, das asas, do inseto ...
Do átomo à estrela... do verme - à floresta!...

As garças metiam o bico vermelho
Por baixo das asas - da brisa ao açoite;
E a terra na vaga de azul do infinito
Cobria a cabeça co'as penas da noite!

Somente por vezes, dos jungles das bordas
Dos golfos enormes daquela paragem,
Erguia a cabeça surpreso, inquieto,
Coberto de limos - um touro selvagem.

Então as marrecas, em torno boiando,
O voo encurvavam medrosas, à toa...
E o tímido bando pedindo outras praias
Passava gritando por sobre a canoa!…
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Poema de
CRIS ANVAGO
Setúbal/ Portugal

Estremeço nas palavras que não digo
Guardo-as numa caixa fechada, meu abrigo
O céu fica nu sem as estrelas
Ficam tristes os olhos que não conseguem vê-las
Sem ondas o mar adormece
A sereia, sem admirador não aparece
O sol não brilha por detrás das nuvens
A estrada é fácil se não existirem curvas
A chuva não cai se a nuvem não chora 
Evapora-se o sorriso se o amor demora...
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Soneto de
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937

Beijos no Ar

No silêncio da noite, alta e deserta,
inebriante, férvido sintoma,
uma fragrância feminina assoma
e tentadoramente me desperta.

Entrou-me, em ondas, a janela aberta,
como se se quebrara uma redoma,
da qual fugira o delirante aroma,
que o mistério do amor assim me oferta.

De que dama-da-noite ou jasmineiro,
de que magnólia em flor, em fevereiro,
se exala esse cálido desejo?

Ela sonha comigo: esse perfume
vem da sua saudade, que presume,
embora em sonho, ter-me dado um beijo!
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Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Longe dos meus campos,
das outonais primaveras,
não há pirilampos! 
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Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

SINTO O SANGUE GELAR-SE-ME NAS VEIAS
(Verso de José Barreto)

Sinto o sangue gelar-se-me nas veias
Quando no peito morre uma esperança
Ou se solta um cabelo de uma trança
Onde o ouro brilhava sem ter peias;

E quando a luz que havia nas ideias
Se extingue sem deixar qualquer herança
Que no futuro seja uma lembrança
Dos povos que cantaram epopeias.

E o meu corpo minado pelo frio
Ganha a dureza gélida de um rio
A que os polos dão alma de glaciar.

Sou branca massa de água deslizando
Que sobre um mar de mágoa abominando
Onde eu não sou capaz de me afogar.
= = = = = = = = = 

Soneto de
MACHADO DE ASSIS 
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

SPINOZA

Gosto de ver-te, grave e solitário,
Sob o fumo de esquálida candeia,
Nas mãos a ferramenta de operário,
E na cabeça a coruscante ideia.

E enquanto o pensamento delineia
Uma filosofia, o pão diário
A tua mão a labutar granjeia
E achas na independência o teu salário.

Soem cá fora agitações e lutas,
Sibile o bafo aspérrimo do inverno,
Tu trabalhas, tu pensas, e executas

Sóbrio, tranquilo, desvelado e terno,
A lei comum, e morres, e transmutas
O suado labor no prêmio eterno.
= = = = = = 

Poemeto de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

Nas folhas do tempo
ouço o som do vento.
Às vezes lamento,
outras, só fragmento.
As folhas farfalham,
no vento gargalham.
Pedaços se espalham
no tempo, embaralham.
As folhas se agitam
no tempo, levitam
os restos, hesitam.
Os ventos, excitam. 
= = = = = = = = =  

Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

MINHA CASA

Em frente à minha casa há um jardim
onde os pássaros cantam saltitantes.
Lá dentro há café, beiju e aipim
e a mesa é farta para os visitantes.

A grama verde, as flores e o jasmim
acolhem beija-flores cintilantes.
Quatro palmeiras firmes dizem sim
e fazem sombra aos corações amantes.

Em minha casa tenho alguns armários,
e os livros - meus amigos necessários
que me ensinam a crer num sonho bom.

Creio no amor e em dias fulgurantes
enquanto os versos brotam abundantes,
vou escrevendo e assino Filemon.
= = = = = = = = =  

Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal

FALTA DE MIM

Não me sinto há muito,
desapareci,
voei.

Levei de bagagem de mão
o meu coração
e não prometi regressar.

Chorei,
gritei
e até à dor me dei,
sem me conseguir resignar.
O que sinto só eu sei,
não me quero enganar.

Por isso fui
e não voltei…
= = = = = = = = =  

Poema de
SILMAR BOHRER
Caçador/SC

AS NEBULOSAS

Ôba! o solzinho trigueiro
arrebentou as nebulosas,
aquelas nuvens grandiosas
que escondiam o dia inteiro.

Pequenas nesgas de céu
na vastidão das alturas
dão conta que iluminuras
vem chegando pra "dedéu".

Igualmente em nossas vidas
vivemos pedindo guaridas
com raios de esperança,

Átimos, faíscas, lampejos,
consolidando nossos desejos
de dias com mais bonança.
= = = = = = = = =  

Poeminha de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Vaga
o vaga-lume.
Vaga luz
num vago mundo
procurando
vaga.
= = = = = = = = =  

Soneto de
JÉRSON BRITO
Porto Velho/ RO

DOCES SONHOS

Sem ti, percorro gélidas paragens
No olhar, nem mesmo há tímida flamância,
Tornou a vida vápida* a distância,
Mas sonho e vejo lúbricas imagens.

Por teres essa mélica fragrância
São belas as oníricas viagens.
Contigo erijo mágicas paisagens,
Deleito-me na fúlgida elegância.

Da seiva desses únicos instantes
Encerras nos teus ósculos vertentes.
Encontro em ti recôndito o alimento.

Nós dois, tal como indômitos amantes
Trocando afagos sôfregos e ardentes,
Assim, construo o tórrido momento.
= = = = = = = = =  = = = = =  
* vápida = insípida.
= = = = = = = = =  

Poetrix de
ROSA CLEMENT
Manaus/AM

BORBOLETA

centro da cidade
a mariposa entra no ônibus
e passa pela borboleta
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Poema de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/SP

ESPERA

É na tua ausência que desfolho tristezas
e  acaricio lembranças.
É nas horas de solidão
que  ganho asas, te bebo e te navego.
Nos meus sonhos te encontro rarefeito,
envolto  na volátil  presença da noite que te engole.
O sonho passa, mas meu corpo refeito
é  um profundo oceano à espera das tuas redes.
= = = = = = = = =  

Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

EN-CANTO

Mesmo sem voar, o passarinho
canta... que mistério há nesse encanto?
... posso vê-lo rir, sentindo o pranto
que acaricia o seu carinho. 

Neste mundo há tanto desencanto...
mas quem é feliz sendo sozinho,
sabe que é na solidão do ninho
que o cantar se torna um acalanto.

Lindo!... alguém dirá... Como ele canta!
...sua solidão,  embora tanta,
é  a mais sincera companhia,

pois, no canto escuro da gaiola,
o cantar mais triste que o consola,
faz se canto, um toque de...poesia.
= = = = = = = = =  

Poema de
J. G. DE ARAÚJO JORGE
Tarauacá/AC (1914 – 1987) Rio de Janeiro/RJ

A DOR MAIOR

Não quis julgar-te fútil nem banal
e chamei-te de criança tão-somente,
- reconheço, no entanto, infelizmente,
que, porque te quis bem, julguei-te mal.

Pensei até, ( e o fiz ingenuamente...)
ter encontrado a companheira ideal...
Quis julgar-te das outras diferente,
e és como as outras todas afinal...

Hoje, uma dor estranha me consome
e um sentimento a que não sei dar nome
faz-me sofrer, se lembro o amor perdido...

A dor maior... A maior dor, no entanto,
vem de pensar de Ter-te amado tanto
sem que ao menos tivesses merecido!...
= = = = = = = = =  

Soneto de
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP

FOI TEU ABRAÇO!

Foi teu abraço que, um dia,
Dos outros todos tirou
Qualquer graça que eu sentia
Doutros que o tempo levou.

Foi teu beijo que depois
Me afastou de quem beijei.
Ficaram só pra nós dois
Os demais beijos que eu dei.

À minh'alma, finalmente,
A alma gêmea apareceu.
E o amor se fez presente
A teu coração e ao meu!

Foi teu calor que acoplou
A meus carinhos os teus.
Foi nosso amor que alcançou
Beneplácito de Deus.

Este é o encontro atual,
Prescrito em nossos pretéritos;
Dos céus, chegam, afinal,
Dádivas por nossos méritos.
= = = = = = = = =

Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

EU CREIO

Eu sei que existe um mundo diferente
e Alguém que monitora e nos assiste
o tempo inteiro e minuciosamente.
Eu não sei onde, mas eu sei que existe!

Eu sei que existe um Deus Onipotente...
talvez não seja alguém com dedo em riste,
aspérrimo e que vai punir a gente,
franzindo o cenho a qualquer simples chiste.

Desconstruindo a história divinal,
não resta mais que um ciclo material...
princípio e fim da natureza humana.

Alguém criou o espaço, o firmamento;
controla este universo em movimento
e a criação... de forma soberana!
= = = = = = = = =  

Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro RJ, 1901-1964

ACEITAÇÃO

É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens
e sentir passar as estrelas
do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos.

É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano
e assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas,
que desejar que apareças, criando com teu simples gesto
o sinal de uma eterna esperança.

Não me interessam mais nem as estrelas,
nem as formas do mar, nem tu.
Desenrolei de dentro do tempo a minha canção:
não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.
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sexta-feira, 28 de março de 2025

Vereda da Poesia = 235


Soneto de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

AOS QUE COMEÇAM...

Se escreves, nesse humilde e obscuro anonimato,
a enfrentar, com denodo, os lances audaciosos,
para a glória de um texto ou graça de um relato,
que não te anule o brilho, astral, dos mais famosos!

Sabes bem que o trabalho é teu fiel retrato.
Se és capaz de conter delírios ambiciosos,
no labor hás de ter o perfil mais exato
do ideal que conduz à frente os vitoriosos!

Quem folheia um jornal, pela manhã bem cedo,
desconhece, por certo, a nobre e intensa lida
que envolve o jornalista em seu diurno enredo.

Mas, quanto o valoriza aquele que, enfim, pensa:
- como seria o mundo apático e sem vida,
sem o bravo clamor... das máquinas da imprensa!
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Poema de 
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA

INCÓGNITO

Parti no alvorecer, ainda menino,
à procura do Amor e da Verdade
mas antes de se por o sol a pino
entre pedras perdi a identidade.

Debalde tento agora reencontrá-la
em cada esquina, em cada gesto e olhar...
- Quem sou?  -  pergunto ao céu e ele se cala;
- Que sou? – desesperado indago ao mar.

E sem respostas – pássaro sem ninho –
vou pela vida na indefinição
de quem procura, às cegas, um caminho
para o porto inseguro da ilusão.
= = = = = = = = =  

Soneto de
PAULO R. O. CARUSO
Niterói/RJ

ESPERANÇA ANTE A PRAGA

Tantos se foram, Pai, ante esta maladia 
arrepiante que arrebata tantas vidas!
Toda a alegria viu-se filha da agonia!
Tantas famílias hoje mortas e falidas! 

Valas comuns a gente amada em galhardia!
Pilhas de corpos lado a lado desvalidas!
Um frio intenso pela espinha me aturdia 
até que ouvi sacras palavras perseguidas. 

Tal como a praga pipocara ardentemente,
uma esperança veio a então cristalizar-se
na ponta doce duma agulha que nem arde!

Santa vacina abençoada, um grão presente
como o do trigo a gerar pão, multiplicar-se 
e salvar vidas cedo, agora e mesmo tarde! 
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

A dor que meu peito tem,
meu coração não publica.
Tome amor com quem quiser
que essa mágoa cá me fica.
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Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA

O BAILE NA FLOR

Que belas as margens do rio possante, 
Que ao largo espumante campeia sem par! 
Ali das bromélias nas flores doiradas 
Há silfos e fadas, que fazem seu lar... 

E, em lindos cardumes, 
Sutis vaga-lumes 
Acendem os lumes 
P'ra o baile na flor. 

E então — nas arcadas 
Das pet’las doiradas, 
Os grilos em festa 
Começam na orquesta 
Febris a tocar... 
E as breves Falenas 
Vão leves, 
Serenas, 
Em bando 
Girando, 
Valsando,
Voando no ar! …
= = = = = = = = =  

Poema de
CRIS ANVAGO
Setúbal/ Portugal

TUDO É IMPORTANTE?
NÃO!

Só é importante o que eu quero que seja!
Os teus lábios cor de cereja
O teu sorriso que abraça o meu
O teu corpo mel
E, o meu corpo, extensão do teu…

O teu olhar que me encanta
No rio ou no mar sempre me espanta
A maneira do sorriso do teu olhar

Quando me canso do dia
volto para ti,
tudo é harmonia.
Foram minutos que perdi
que são preciosos todos os dias

Nas madrugadas despertas
Nas horas tão incertas
O sol sempre nasce
mesmo que não apareça

Tu sentes o calor do abraço
Não existe espaço entre nós
O coração bate no mesmo compasso
No mundo que é só nosso!
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Soneto de
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937

BEIJOS MORTOS

Amemos a mulher que não ilude,
e que, ao saber que a temos enganado,
perdoa, por amor e por virtude,
pelo respeito ao menos ao passado.

Muitas vezes, na minha juventude,
evocando o romance de um noivado,
sinto que amei, outrora, quanto pude,
porém mais deveria ter amado.

Choro. O remorso os nervos me sacode.
e, ao relembrar o mal que então fazia,
meu desespero, inconsolado, explode.

E a causa desta horrível agonia,
é ter amado, quanto amar se pode,
sem ter amado, quanto amar devia.
= = = = = = = = =  

Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Folhas pelo chão,
São meus sonhos que se arrastam
cheios de ilusão!
= = = = = = = = =

Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

CAÍRAM, UMA A UMA, PELO CHÃO
(Verso de Glória Merreiros)

Caíram, uma a uma, pelo chão
As perlas que eu chorei e tu choraste
Nessa hora em que, triste, me abraçaste
Fugindo ao mundo vil da solidão.

Tão frágil, a sofrer, teu coração
Batia no teu peito feito haste
Ao vento dessa dor que recusaste
E punha o teu olhar na escuridão.

De amor puxei teu corpo contra o meu
E quando a força usada me doeu
Eu cri que os nossos braços deram nó.

Mais forte do que nunca o nosso abraço
Deixou entre nós dois tão pouco espaço
Que eu soube que no amor somos um só.
= = = = = = = = = 

Soneto de
MACHADO DE ASSIS 
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

LINDÓIA

Vem, vem das águas, mísera Moema,
Senta-te aqui. As vozes lastimosas
Troca pelas cantigas deleitosas,
Ao pé da doce e pálida Coema.

Vós, sombras de Iguaçu e de Iracema,
Trazei nas mãos, trazei no colo as rosas
Que amor desabrochou e fez viçosas
Nas laudas de um poema e outro poema.

Chegai, folgai, cantai. É esta, é esta
De Lindóia, que a voz suave e forte
Do vate celebrou, a alegre festa.

Além do amável, gracioso porte,
Vede o mimo, a ternura que lhe resta.
"Tanto inda é bela no seu rosto a morte!"
= = = = = = 

Poemeto de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

Sou uma leve brisa,
o beijo do dia.
Uma lágrima na noite
fria, solidão sombria.
Sou doce perfume,
suave sangria.
Gargalhada aprisionada
ou veneno, sua alforria.
Sou a rosa do tango,
drama na alegria.
Rodopiando na valsa
sorrio, faço poesia.
= = = = = = = = =  

Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

MEU VERSO

Cheguei aqui para escrever meu verso,
trago papel, caneta e o pensamento.
Quero implorar à musa do Universo
inspiração e amor no meu intento.

Se este mundo se mostra tão perverso,
quero a flor, o perfume e o sentimento,
que o coração, contrito, esteja imerso
neste festim da rima, o meu alento.

Que a natureza, então, em vivas cores
seja mostrada em todos seus valores
e no meu verso não tenha rival.

Minha esperança é ver a natureza
amada, respeitada e com certeza;
- meu soneto seria universal! 
= = = = = = = = =  

Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal

FALA-ME…

Fala-me ao nascer do dia,
no primeiro raio de Sol.
Fala-me com o perfume das flores
e eu pintarei o arco-íris com outras cores.

Fala-me ao entardecer,
quando o céu encontra o mar.
Fala-me com o voar das andorinhas
e eu mandar-te-ei lembranças minhas.

Fala-me no silêncio da noite,
na tranquilidade da cidade.
Fala-me com um simples olhar
e eu deixar-me-ei por lá ficar.

Porque entre nós as palavras são escassas,
são os nossos gestos que falam por si.
= = = = = = = = =  

Poeminha de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Apressados
passos
passam.
Por que
não passeiam?
= = = = = = = = =  

Dobradinha Poética de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

O ORATÓRIO

Ao atender meu apelo
se a vida se faz ingrata,
chego a sentir o desvelo
com que Deus sempre me trata!
* * *

A casa, da fazenda, imensa e bela!...
No quarto, que o lampião iluminava,
um oratório... e, à noite, acesa a vela,
alegre ou triste, minha avó rezava.

A casa, na cidade, bem singela!...
No quarto, quando o dia se apagava,
um oratório... e eu lembro a imagem dela,
alegre ou triste, minha mãe orava.

No quarto simples, quando a noite cai,
um oratório... e, a sós, eu clamo ao Pai,
alegre ou triste, muito Lhe agradeço

os dons da paz, saúde, vida e amor
e, de mãos postas, louvo ao meu Senhor,
pois deu-me muito mais do que mereço.
= = = = = = = = =  

Soneto de
JÉRSON BRITO
Porto Velho/ RO

GOSTOSA EMBRIAGUEZ

No teu abraço encontro placidez,
No teu sorriso, singular dulçor,
Na tua boca provo do licor,
Motivo da gostosa embriaguez.

Provoca-me teu corpo sedutor
E, assim, quando passeio em tua tez,
Mergulha o coração em calidez,
São toques revestidos de furor.

Se te entregares, linda, notarás
Meus olhos radiantes a fulgir.
Na busca do prazer sou fera edaz.

Confesso que teu mágico elixir
Maravilhosamente me compraz,
Não posso aos teus encantos resistir.
= = = = = = = = =  

Poetrix de
DALTON LUIZ GANDIN
São José dos Pinhais/PR

ARTE
 
Meu papel foi natura.
Agora,
eu imprimo cultura.
= = = = = = = = =  

Poema de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/SP

DESEJO

Sou feita de atos e pensamentos
corpo e alma das letras em ação.
Mas o que mais me identifica e desenha meu perfil
são  as  palavras.
Eu sou o que escrevo, sou a palavra que me  revela
nas  entrelinhas dos meus poemas.
Queria tocar os corações das pedras,
queria que as pedras me lessem!
= = = = = = = = =  

Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

QUEM HÁ DE...

- Quem há de... - indagaste-me, vaidosa- 
fazer minha razão titubear?
Bailávamos... estavas tão charmosa, 
e eu, perdido inteiro, em teu olhar. 

- Quem há de... - retruquei - que causa às rosas-
inveja, mesmo ao se despetalar? 
e tu sorriste tão... maravilhosa... 
que nem meu coração quis mais pulsar. 

Fazendo, do salão, a alegoria
do enredo de um sonho particular, 
o enlevo conduziu-me à fantasia

e quando  me dei conta, despertei... 
- Quem há de ser feliz sem se deixar
levar por este sonho que eu... sonhei?
= = = = = = = = =  

Soneto de
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP

AMIGOS

Deus proíbe a livre escolha de um irmão,
Consanguíneo ser gerado pelos pais;
Mas as forças dos Céus não negam, jamais,
Um amigo de verdade a nossa opção.

Quando a dúvida me vinha por inteiro
Face a algumas derrocadas frente à vida,
Foram teus braços abertos a acolhida,
À maneira de um confrade verdadeiro.

Pelas mãos firmes do amigo, pus-me em pé...
Teu apoio proporciona-me energia.
Nossa troca de instruções é sinergia
Que nos faz crescer na vida pela fé.

Horizontes amplos, tem nossa amizade!
Aprendi muito com teus ensinamentos
E também já te passei conhecimentos;
São pilares de total fraternidade.

Sobre o próximo, nós temos convergência
Com propósitos cabais de paz e amor...
Num planeta sem conflitos e sem dor,
Com o "ser" vencendo o "ter" na convivência.
= = = = = = = = =

Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

PARCERIA

Como não te sorrir, se vens tão mansa?…
Silente e a passos lentos me acompanhas,
sem nada me exigir, sem artimanhas;
parceira a me seguir desde criança!…

E como não chorar pelas façanhas, 
tornando-se retalhos de lembrança,
se a idade pesa o prato da balança
e não me deixa chances de barganhas?…

Mas sem queixumes vãos… e sem tolice!
Nascemos “um pro outro”, (eu e a velhice),
e se estou vivo e aqui, é o que interessa.

Acato as leis do tempo, de bom grado,
e até feliz em ter-te, do meu lado…
Se assim não for, eu morro mais depressa!
= = = = = = = = =  

Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro RJ, 1901-1964

RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
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