quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Vereda da Poesia = 212


Trova de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/ SP

Nos trilhos da solidão,
o retorno da saudade
ecoa em cada estação,
súplicas de liberdade.
= = = = = = = = =  

Poema de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

MALA COM ALÇA

É da lama essa mala que retiro
para subir a encosta (como a pedra
que Sísifo ainda empurra todo dia)
numa viagem cheia de sequelas.

Não há como negar tantos espinhos
na travessia turva de mistérios
que vão-se descobrindo nos caminhos:
a mão negada, a fome, o vitupério,

o rito solidário que esquecemos
em troca a vaidade transitória.
Somos do barro e ao barro voltaremos.

A verdade do Homem e de sua Hora
vem com mala e alça, disto sabemos,
mais o peso do corpo e sua história.
= = = = = = = = =  

Trova de
ISTELA MARINA GOTELIPE 
Bandeirantes/ PR

O tempo passa inclemente,
sem nos pedir permissão,
e o espelho fiel não mente:
- o tempo não passa em vão!
= = = = = = 

Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR

Ai, quase esqueci
dos nomes das famílias
Da rua onde cresci.
Mas na cortina do tempo
ainda há rabiscos de memória
E a rua calada me olha
Como a se lembrar de mim. 
= = = = = = = = =  

Trova de
MAURÍCIO NORBERTO FRIEDRICH
Porto União/SC, 1945 – 2020, Curitiba/PR

Que se rompam os grilhões
do ódio e do preconceito;
vamos forjar, aos milhões,
elos de amor e respeito.
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

VIVIAM-SE MUITOS ANOS NUM SÓ DIA
(Alberto Pereira in "Textos de Amor", p. 21)

Viviam-se muitos anos num só dia
Quando esse teu sorriso em mim entrava
E aos teus beijos, inteiro, eu me entregava
Isento da noção do que ocorria.

O carinho encurtava a travessia
Do terno abraço ao fogo que avançava
Numa fogueira ardente que gastava
Os corpos que a paixão enlouquecia.

Como tochas ardendo em noite escura
Libertos do pudor e da censura
Lembramos dois faróis rasgando as trevas.

Somos partes de um todo indivisível
Mas tu roubas de mim o impossível
E a minha alma, em ti viva, tu a levas.
= = = = = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Vendo, em mudo sofrimento,
a vida me desertar,
entendo, enfim, porque o vento
se recusa a silenciar.
= = = = = = 

Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

TERCETOS  II

E, já manhã, quando ela me pedia
Que de seu claro corpo me afastasse,
Eu, com os olhos em lágrimas , dizia:

“Não pode ser! não vês que o dia nasce?
A aurora, em fogo e sangue, as nuvens corta...
Que diria de ti quem me encontrasse?

Ah! nem me digas que isso pouco importa!...
Que pensariam, vendo-me, apressado,
Tão cedo assim, saindo a tua porta,

Vendo-me exausto, pálido, cansado,
E todo pelo aroma de teu beijo
Escandalosamente perfumado?

O amor, querida, não exclui o pejo...
Espera! até que o sol desapareça,
Beija-me a boca! mata-me o desejo!

Sobre o teu colo deixa-me a cabeça
Repousar, como há pouco repousava!
Espera um pouco! deixa que anoiteça!”

- E ela abria-me os braços. E eu ficava.
= = = = = = 

Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Meu conflito e meu fracasso 
é que as trovas que componho 
têm sempre os versos que eu faço, 
e nunca os versos que eu sonho…
= = = = = = 

Poema de
CARMO VASCONCELLOS
Lisboa/Portugal

Flores e citrinos

Uma aquarela anil de flores e citrinos
lembrou-me a vida ajardinada de azedumes...
É sábio o Cosmos... e a nós, meros peregrinos,
não nos é dado a Lei mudar nem seus costumes.

Por aqui vamos a provar fel e doçuras,
aproveitando da jornada os seus sabores
que, se num dia nos mostra apenas amarguras,
noutro, mergulha-nos num rio de mel e amores.

Porque se tudo sabe a doce o enjoo é fatal,
e se a amargura não voltasse em seu momento,  
jamais se tinha o contraponto desse sal,
a temperar nossa existência em crescimento.

Como negar o dedo sábio da alternância,
quando do caos surgem arroubos de alegria?...
Vede que igual a natureza, em inconstância,
sempre engravida a noite escura d’alvo dia.

Vede a maré alta que sepulta a baixa-mar,
o divinal calor que amansa o rude frio, 
a paz, depois de agre procela se acalmar,
e o mar que faz-se lago, após ondear bravio.

Louvemos essa miscelânea: riso e dor,
façamos nosso aprendizado co'a alternância,
divina Lei do Deus Supremo... que d’amor 
p’la Humanidade, faz constante essa inconstância!
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Trova de
SÔNIA SOBREIRA
Rio de Janeiro/RJ

As gotas caem ao léu
sem ninguém poder detê-las.
Será chuva lá do céu,
ou são lágrimas de estrelas?
= = = = = = 

Poetrix de
ARGEMIRO GARCIA
São Paulo/SP

CAMINHO DO SERTÃO

Levanta-se pó na estrada,
rodando: será saci?
canta longe um bem-te-vi
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Glosa de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

CONFISSÃO DE AMOR

MOTE
Vou confessar-te, querida,
porque tu és minha flor,
por ti eu dou minha vida,
por ti eu morro de amor.

GLOSA
Vou confessar-te, querida,
que não tenho outro desejo,
só quero ver-te esculpida
na moldura do meu beijo.

Quero sentir teu carinho
porque tu és minha flor
perfumando o meu caminho
sem mágoas por onde eu for.

Não sei se és prometida
- nem quero dizer adeus,
por ti eu dou minha vida
olhando nos olhos teus.

Quero viver tão somente
longe da mágoa e da dor,
se a vida for exigente,
por ti eu morro de amor.
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Desta saudade, o vazio
parece até que traduz
um velho teto sombrio
filtrando um raio de luz!
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Hino de 
BOA ESPERANÇA/ PR

Uma estrela brilha em águas formosas
Que seu berço fizeram do chão
Onde o sol doura as plantas viçosas
Cintilando do branco algodão
Num cenário que ao vento balança
Desvendando horizontes de luz
A imponência de Boa Esperança
Meu torrão que me envolve e seduz.

(Estribilho)
Nossa Senhora da Guia, padroeira.
Com seu manto abençoado
Protege esta terra alvissareira
E o seu povo predestinado
Que aqui haja sempre bonança
Salve, salve, oh Boa Esperança.

Num cenário de rara beleza
Irrigando estes vales em flor
Fluem as águas de alva pureza
Do barreiro em seu esplendor
Boa Esperança, cidade querida.
És a joia mais linda que há
Tudo em ti é amor, luz e vida.
Filha altiva do meu Paraná!
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

OS SONS DA LAPA

O batuque animado lá da Lapa
Alcança no meu quarto meus ouvidos,
Que despertam meus sonhos tão queridos
E me fazem lembrar a velha etapa.

Aqueles meus encontros preferidos
Fizesse sol ou chuva, eu à socapa,
Correndo na ladeira o pé derrapa
E os pensamentos todos são perdidos.

Tal qual ímã que atrai o vil metal
Também os sons da Lapa repetidos
Trazem-me de tão longe um carnaval...

Aquele que num corso te encontrava
E rebolando em trajes coloridos
Ao cruzar teu olhar me fiz escrava.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
DJALMA MOTA
Caicó/RN

Inútil, desagradável,
tornar alguém diferente,
para que seja ajustável
aos interesses da gente.
= = = = = = = = = 

Uma Lengalenga de Portugal
PIQUE PIQUE

Pique pique
Eu piquei,
Grão de milho
Eu achei,
Fui levá-lo
Ao moinho,
O moinho
Não moeu,
Foram lá os ladrões
Que me levaram os calções.
= = = = = = = = =  

Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Batatinha quando nasce,
põe a rama pelo chão;
Sinhazinha quando deita
põe a mão no coração.
= = = = = = = = =  

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

PÉTALAS DOURADAS

O toque suave
E intenso das tuas mãos,
Desenha poemas,
Pincelando sonhos
E tingindo de dourado
As pétalas de rosas,
Do meu jardim...
O toque suave
E intenso das tuas mãos
Envolve meus dias,
E a noite aconchega-se
Às minhas lembranças,
E aquece-me com tuas carícias.
= = = = = = 

Trova de
ANTÔNIO DE OLIVEIRA
Rio Claro/SP

Prato de vidro, vazio,
feito um espelho, em teu fundo
refletes o olhar sombrio
das injustiças do mundo!
= = = = = = = = =  

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