quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Vereda da Poesia = 202


Trova de
GÉRSON CESAR SOUZA
São Leopoldo/RS

Nas mãos de Deus tudo entrego
fazendo um pedido assim:
que estes sonhos que carrego
não morram antes de mim!
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Poema de
MACHADO DE ASSIS 
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

Lindóia

Vem, vem das águas, mísera Moema,
Senta-te aqui. As vozes lastimosas
Troca pelas cantigas deleitosas,
Ao pé da doce e pálida Coema.

Vós, sombras de Iguaçu e de Iracema,
Trazei nas mãos, trazei no colo as rosas
Que amor desabrochou e fez viçosas
Nas laudas de um poema e outro poema.

Chegai, folgai, cantai. É esta, é esta
De Lindóia, que a voz suave e forte
Do vate celebrou, a alegre festa.

Além do amável, gracioso porte,
Vede o mimo, a ternura que lhe resta.
"Tanto inda é bela no seu rosto a morte!"
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Trova de
GERALDO DE MAIA CAMPOS
Ribeirão Preto/SP

Não pode dar bom resultado
sendo tu verde e eu maduro;
Eu tenho apenas  passado
e tu, meu bem, tens futuro!
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Gélidos caminhos

Apaixona-se o tempo
Ao olhar os veios do mármore
Gélidos caminhos...

Apaixona-se o vento
Ao desenhar círculos no lago,
Movendo a breve bolha de sabão-

Apaixonam-se os ramos
De camomila à caneca de ágata
Ao sentirem a água desaguando,

Contidos no tempo, no vento
E no aroma de camomila
Momentos de amor –
Sincronicidade,

Poemas ao alcance
Das pontas dos dedos...
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Poetrix de
THOMAZ RAMALHO 
Angola

melancolia

Os cotovelos no parapeito da sacada
e o pensamento apoiado
na linha do horizonte…
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Estão paradas como nos vitrais
(Mário Quintana, in “Rua dos Cataventos”)

Estão paradas como nos vitrais
Essas horas de risos e de folguedos
Éramos pardais violando os arvoredos
E que, em bandos, comiam pelos trigais.

A correr, não parávamos nos sinais
Chilrando como indomáveis passaredos
Rijos, iguais ao mais forte dos rochedos
Sem conhecer as urgências de hospitais.

Foi-se o tempo que em nós pôs uns pares de anos
E deixou tantos males e tantos danos
Quebrando a força dos juvenis assomos,

Asas frouxas de penas desalinhadas
Já não largamos mais nessas debandadas;
Somos só a saudade do que já fomos.
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Trova de
GRAZIELLA LYDIA MONTEIRO
Belo Horizonte/MG

Solteirona, a infeliz
viu sua casa assaltada;
ladrão levou o que quis,
menos a pobre coitada!
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Tédio

Sobre minh’alma, como sobre um trono,
Senhor brutal, pesa o aborrecimento.
Como tardes em vir, último outono,
Lançar-me a folhas últimas ao vento!

Oh! dormir no silêncio e no abandono,
Só, sem um sonho, sem um pensamento,
E, no letargo do aniquilamento,
Ter, ó pedra, a quietude do teu sono!

Oh! deixar de sonhar o que não vejo!
Ter o sangue gelado, e a carne fria!
E, de uma luz crepuscular velada,

Deixar a alma dormir sem um desejo,
Ampla, fúnebre, vazia
Como uma catedral abandonada!...
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Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Após causar desencantos 
e nos fazer peregrinos, 
a seca fez chover prantos 
nos olhos dos nordestinos!
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Poema de
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE
São Francisco de Itapaoana/RJ

Favela

Favela
Aquarela
Vida Amarela
No Morro ou na Periferia
Ora é alegria
Ora e tristeza,
Fome, pobreza...
Ora é realeza!

Gente que com esperteza
Dribla a sorte
Escapa da Morte
Tem que ser forte
Faz carnaval!
Favela
Festival...
De sonhos e esperança
Mesmo quando não alcança
Vencer o carnaval.

Favela...
Do bem e do mal
Onde se faz poesia
Da pobreza e da tristeza
Transformando em alegria
A triste realidade
Com tanta verdade

Que aonde ninguém queria viver
E vive sem querer
Precisa viver
Pra vida vencer
E não deixar morrer
Os sonhos, a esperança,
E como tal
O Carnaval.
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Haicai de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Histórias de Algumas Vidas

Noite. Um silvo no ar.
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar.
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Poema de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Canção do Amor Imprevisto

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E minha poesia é um vicio triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com tua boca fresca de madrugada,
Com teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...
A súbita alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!
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Trova de
GABRIEL VANDONI DE BARROS
Corumbá/MS (1907 – 1988) Rio de Janeiro/RJ

Esse olhar, quase de pena,
que me atiras num segundo,
é esmola muito pequena
para um amor tão profundo!
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Hino de
ÂNGULO/ PR

No planalto majestoso, imponente. 
Que ornamenta esta linda região 
Braços fortes e o brio desta gente 
Fizeram um gigante do antigo rincão. 

Nosso preito de eterno louvor 
À Maria Caçadeira e demais pioneiros 
Seu exemplo de audácia e valor 
Espelha a fibra de heróis verdadeiros.

Estribilho
Tens ó Ângulo a santa proteção 
E o amparo do glorioso São João 
És a joia mais linda que há 
Ornamentando o querido Paraná .

Pirapó irrigando este chão 
Num cenário de rara beleza 
Onde o milho, a soja, o algodão,
Simbolizam a nossa riqueza. 

Eu que sou filho deste recanto 
Com orgulho hei de sempre dizer 
És ó Ângulo, colmeia de encanto, 
Onde sempre eu hei de viver.

Tens ó Ângulo a santa proteção 
E o amparo do glorioso São João 
És a joia mais linda que há 
Ornamentando o querido Paraná.
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Gestos de anjo

A tarde vai chegando docemente,
e nós dois a falar de amor eterno,
e tudo que sonhamos neste inverno,
é aquecer com nosso amor o ambiente.

E ao som desse trinado tão moderno,
que veio no relógio de presente,
teremos uma orquestra diferente
a embalar-me os anseios sem governo.

A noite vai chegando e eu nem percebo,
com todo esse carinho que recebo,
envolvida em teus braços amorosos.

E através da vidraça e o céu brilhando,
vejo esta lua cheia observando,
estes teus gestos de anjo poderosos.
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Trova de
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/ SP, 1945 – 2021, Santos/ SP

O delegado Pereira…
Êta Pereira bacana,
- É de pouca brincadeira,
não dá pera, só dá “cana”!…
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Uma Lengalenga de Portugal
LENGALENGAS DOS DEDOS
  
(Várias versões)
  
Estas lengalengas são ditas segurando a mão de alguém, apontado para os dedos, à vez, enquanto é dita.
 
  Pequenino (o dedo mindinho)
  Seu vizinho (o anelar)
 Pai de todos (o dedo médio)
 Fura bolos (o indicador)
 E mata piolhos. (o polegar)
  ***
 
 Este diz: quero pão
 Este diz: que não há
 Este diz: que Deus dará
 Este diz: que furtará
 E este diz: alto lá

***
 
 O dedo mindinho quer pão
 O vizinho diz que não
 O pai diz que dará
 Este o furtará
 E o polegar: «Alto lá!»
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Quadra Humorística de
IDEL BECKER
Porto Casares/ Argentina, 1910 – 1994, São Paulo/SP

Eu já fui à sua casa
e já sei o que ela é.
A fartura que vi nela
foi pulga e bicho de pé.
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Soneto de
MARIA JOSÉ FRAQUEZA
Fuseta/Algarve/Portugal

Há poesia no céu

O Céu abriu as portas par em par…
Florbela, recebeu-te com Amor…
A Poesia cantada num altar…
Cada poema é benção do Criador

Florbela e Marilena, vou louvar,
Que o meu poema seja como flor…
Meus olhos já cansados de chorar
Por andar a carpir a minha dor!

A dor, esta saudade tão sentida…
Com a mágoa dolorosa da partida,
Que se sofre,  num elo de Amizade!

Vosso corpo desceu à terra fria,
Mas na Terra ficou a Poesia…
Que falará por Vós Eternamente

(Marilena Gomes Ribeiro foi Presidente da Associação de Escritores de Niterói)
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