domingo, 5 de janeiro de 2025

Vereda da Poesia = 193


Trova de
ARI SANTOS CAMPOS
Balneário Camboriú/ SC

Não se vá, não, por favor, 
não me faça essa maldade! 
Se de fato você for, 
eu vou morrer de saudade.
= = = = = =

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Buscando a luz da madrugada pura
(Sophia de Mello Breyner Andresen in "Mar novo")

Buscando a luz da madrugada pura
Vou perseguindo o rasto desta aurora
Do sol, o raio primo não demora
A dividir em duas a planura.

O sol, quebrando a noturna clausura
Nos montes crava a ardente e rubra espora
E queima o céu e traz a fúlvida hora
Em que a anemia desce à sepultura.

Pleno, sento-me à beira do crepúsculo
Saboreando o dom de ser minúsculo
Mas peça deste mundo singular.

Desponta a branca lua, como gesso
E eu cerro os olhos lassos e adormeço
À espera já de um novo despertar. 
= = = = = = = = =  

Poetrix de
RAFAEL NORIS 
Pedreira/SP

Arritmia

o músico bêbado
leva à noite
emoções violadas
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Três sílabas

Noite outonal -
Estava a três passos
De reencontra-lo,
Antigo piano -
Debussy...
Durante as aulas
Ficava com meu caderno
Próximo de ti
Tínhamos
Conversas
(Segredos) -
E, em silêncio
Nos olhávamos...
Não tivemos
Tempo de despedidas,
Estava a três passos
De ti, mas há
Um mundo de distância
Entre nós -
Solidão,
Apenas, três sílabas
Contidas em um universo
De saudade...
= = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

- Ai, doutor, não acredito...
Picada por um "barbeiro"?
Veja só, pois o maldito
me disse que era engenheiro!
= = = = = = 

Poema de
ANGELA TOGEIRO
Belo Horizonte/MG

Mulher

    Sou mulher,
    sou todas as mulheres:
    sou Afrodite, Amélia, Angela, Eva, Diana, Joana,
    Madalena, Maria, Raquel, Rita, Sara,
    Salomé, Tereza, Vênus, Zênite...
    Tenho na genética
    a herança dos tempos,
    que me dá todos os nomes,
    que me tira todos os nomes,
    quando me desdobro em outra mulher.
    Nasci em todas as raças,
    tenho todas as cores puras e miscigenadas.
    Pratico todos os credos.
    Nasci em todos os cantos deste planeta.
    Vivi em todas as eras.
    Registrei meus gritos em todos os rincões,
    mesmo se expulsos da alma
    no mais profundo silêncio.
    Vim de todos os lugares,
    nasci em berço de ouro, em choupana,
    na rua, nas matas, hospitais, templos...
    Fui vestida, fui enrolada,
    despida, jogada.
    Gerada num útero que me amou,
    ou num que me recusou.
    Pouco importa, se rica ou pobre,
    se esculpida no Belo ou no Feio,
    preciso cumprir meu destino,
    meu destino de Mulher.
= = = = = = = = = 

Trova de
GERSON CÉSAR SOUZA
São Leopoldo/RS

Num show que bem poucos olham,
no palco das noites calmas,
chuvas de estrelas não molham,
mas lavam as nossas almas...
= = = = = = 

Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Desterro

Já me não amas? Basta! Irei, triste, e exilado
Do meu primeiro amor para outro amor, sozinho...
Adeus, carne cheirosa! Adeus, primeiro ninho
Do meu delírio! Adeus, belo corpo adorado!

Em ti, como num vale, adormeci deitado,
No meu sonho de amor, em meio do caminho...
Beijo-te inda uma vez, num último carinho,
Como quem vai sair da pátria desterrado...

Adeus, corpo gentil, pátria do meu desejo!
Berço em que se emplumou o meu primeiro idílio,
Terra em que floresceu o meu primeiro beijo!

Adeus! Esse outro amor há de amargar-me tanto
Como o pão que se come entre estranhos, no exílio,
Amassado com fel e embebido de pranto...
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Chega a causar agonia,
uma visita sacana,
que vem pra passar um dia,
passa mais de uma semana!
= = = = = = 

Poema de 
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ ES

Eterno motivo

A tua vida,
na minha vida,
foi um tempo lindo.
Havia esperança,
na minha ilusão,
e em teu querer,
um gostar infindo... 

Mas, de repente,
sem que alguém pedisse,
tu foste embora
para sempre
e eu fiquei triste...
E ainda hoje, 
aqui estou.

Depois 
de todo 
tempo 
que passou,
aqui estou 
ainda, a esperar 
tua volta.

Compreendo, 
o amor 
acabou,
meu coração 
não se conformou,
e a tua ausência 
não suporta.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Cara cheia...Perna bamba,
ele mesmo se conforta,
olha a rua e diz: - "Caramba!"
Nunca vi rua mais torta!...
= = = = = = 

Soneto de
LUCIANO DÍDIMO
Fortaleza/CE

A luz

A luz da Estrela Azul, que é tão brilhante
Adoça a roxa fé como um licor,
Abrindo os nossos olhos para a cor
Que apaga o tempo cinza já distante:

Do tão avermelhado Sol do Amor,
Do verde da esperança ali adiante.
A luz que resplandece radiante
Nos mostra um novo mundo e seu primor.

As águas cor de prata descem rio,
Varrendo a negra cor da noite escura
E dissipando a dor com cortesia.

A luz clareia tudo o que é sombrio,
Fazendo a paz mostrar sua brancura
E rebrilhar o ouro da poesia!
= = = = = = 

Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Larga a tristeza e acalanta
teus sonhos, por onde fores.
Nada no mundo suplanta
teus lindos sonhos de amores!
= = = = = = 

Hino de
IÚNA/ ES

Na minha terra, tem lindos campos
Cidade cheia de tradições
Na minha terra, tem lindos pássaros
Que cantam ao ar livre, lindas canções

Minha Iúna,
Você me viu nascer
Minha Iúna
Sou filho de você

Eu gosto muito, muito do meu lugar
Dos meus amigos que vivem lá
A minha Iúna, terra querida
Onde eu nasci, onde aprendi amar

Minha Iúna,
Você me viu nascer
Minha Iúna
Sou filho de você

A minha escola, no fim da rua
A minha casa, frente ao jardim
A minha Iúna, fica bem perto
Das cachoeiras do Itapemirim

Minha Iúna,
Você me viu nascer
Minha Iúna
Sou filho de você
= = = = = = = = =  

Dobradinha Poética (trova e soneto) de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Bandeirantes/PR

Fruta da Semente

Não meças nela o trabalho,
pois colheita é contingente,
mas quanto, de orvalho a orvalho,
tu já plantaste… em “semente”…

De sol a sol, firmando as mãos no arado,
suor pingando, ao solo se entregava…
– Hoje, um trabalho rude e ultrapassado
do lavrador, que a terra cultivava.

Com grande afinco e sempre atarefado,
fazia os sulcos, com as mãos semeava
e, esperançoso a capinar, cansado,
o agricultor, temente a Deus, rezava…

Pedia chuva para aquela empreita,
o pensamento firme na colheita,
depois que via germinando o grão…

E desejava, então, ardentemente,
ver pão na mesa, fruto da semente,
que enverdecera todo aquele chão!
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Abro a porta, enxugo o pranto
e fico a esperar teus braços,
mas para o meu desencanto
os passos não são teus passos.
= = = = = = = = = 

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