"A Terra do Velho Chefe" é uma das histórias mais conhecidas de Doris Lessing, publicada em sua coleção "Histórias Africanas" de 1965. A narrativa é uma reflexão sobre a descolonização e a desintegração das estruturas sociais tradicionais na África, vista através dos olhos de uma jovem garota branca que cresce em uma fazenda na Rodésia do Sul (atual Zimbabwe).
Resumo
A história segue a vida de uma menina de 14 anos, filha dos donos de uma fazenda europeia em uma região outrora tribal da África. A narradora descreve suas interações com o velho chefe tribal Mshlanga, que representa a resistência cultural e a tradição em um mundo em rápida mudança. A relação entre a menina e o chefe é marcada por um respeito mútuo, mas também por uma clara divisão cultural e social.
Temas Principais
Desenraizamento e Desintegração Cultural:
A história aborda a desintegração das estruturas sociais tradicionais e a perda de identidade cultural devido à colonização e à modernização. O velho chefe Mshlanga simboliza a resistência à mudança e a preservação das tradições ancestrais.
Racismo e Desigualdade:
Lessing explora as crueldades do racismo e da segregação racial nas fazendas europeias da Rodésia do Sul. A narradora, apesar de ser uma criança branca, começa a questionar as injustiças e desigualdades que observa ao seu redor.
Relação entre Culturas:
A história destaca a complexidade das relações entre as culturas colonizadora e colonizada. A narradora desenvolve um respeito profundo pelo chefe Mshlanga, que lhe ensina sobre a importância da terra e da tradição.
Personagens
A Narradora:
Uma garota de 14 anos que cresce em uma fazenda europeia na Rodésia do Sul. Sua visão da vida muda ao longo da história, à medida que ela começa a questionar as normas sociais e raciais ao seu redor.
Velho Chefe Mshlanga:
Um líder tribal que representa a resistência cultural e a tradição. Sua relação com a narradora é marcada por um respeito mútuo, mas também por uma clara divisão cultural e social.
Estilo e Técnica
Narrativa em Primeira Pessoa:
Lessing utiliza a perspectiva em primeira pessoa para proporcionar uma visão íntima e pessoal das experiências da narradora. Isso permite que o leitor se identifique com a protagonista e compreenda suas mudanças internas.
Descrições Detalhadas:
Emprega descrições ricas e detalhadas para criar uma atmosfera autêntica e envolvente. As paisagens da África e a vida na fazenda são retratadas com precisão e profundidade.
Simbolismo:
O velho chefe Mshlanga e a terra são símbolos poderosos de resistência e tradição. A narrativa utiliza esses símbolos para explorar temas mais amplos de desenraizamento e desintegração cultural.
Impacto e Relevância:
"A Terra do Velho Chefe" é uma obra-prima da literatura pós-colonial que continua a ressoar com os leitores devido à sua exploração profunda dos temas de desenraizamento, desintegração cultural e racismo. A habilidade de Lessing em criar personagens complexos e uma narrativa envolvente faz desta história uma leitura obrigatória para quem deseja entender as complexidades da história e da cultura africana.
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Doris Lessing (1919-2013) foi uma escritora britânica nascida em Kermanshah, Irã, em 22 de outubro de 1919. Seus pais eram britânicos, e a família se mudou para a Rodésia do Sul (atual Zimbabwe) quando ela tinha cinco anos2. Doris cresceu em uma fazenda, onde foi exposta às duras realidades da vida rural e às complexidades das relações raciais.
Ela começou a escrever cedo e publicou seu primeiro romance, "The Grass Is Singing", em 1950. Este livro abordava a relação entre um casal branco e seu servo africano, e já mostrava o interesse de Lessing pelas questões sociais e raciais2.
Lessing é mais conhecida por seu romance "O Carnê Dourado" (1962), que é considerado um marco do feminismo na literatura. A obra explora a vida de uma escritora feminista e suas lutas pessoais e políticas2. Ao longo de sua carreira, ela escreveu mais de 50 livros, incluindo romances, contos, ensaios e até mesmo ficção científica.
Em 2007, Doris Lessing foi agraciada com o Prêmio Nobel de Literatura, tornando-se a pessoa mais idosa a receber o prêmio até então. O comitê do Nobel descreveu sua obra como "uma épica da experiência feminina, que com ceticismo, fogo e poder visionário, submeteu uma civilização dividida a uma análise"1.
Lessing faleceu em 17 de novembro de 2013, em Londres, aos 94 anos. Sua obra continua a ser amplamente lida e estudada, e ela é lembrada como uma das grandes vozes da literatura do século XX.
José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: Copilot. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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