JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN
Nada mais belo, decerto,
no cenário da esperança,
que a imagem de um livro aberto
sob o olhar de uma criança!
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Poema de
MACHADO DE ASSIS
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908
Alencar
Hão de os anos volver, — não como as neves
De alheios climas, de geladas cores;
Hão de os anos volver, mas como as flores,
Sobre o teu nome, vívidos e leves...
Tu, cearense musa, que os amores
Meigos e tristes, rústicos e breves,
Da indiana escreveste, — ora os escreves
No volume dos pátrios esplendores.
E ao tornar este sol, que te há levado,
Já não acha a tristeza. Extinto é o dia
Da nossa dor, do nosso amargo espanto.
Porque o tempo implacável e pausado,
Que o homem consumiu na terra fria,
Não consumiu o engenho, a flor, o encanto...
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Trova de
CAROLINA RAMOS
Santos/ SP
Quando a noite se desata
e o véu de sombras descerra,
a lua derrama prata
sobre as misérias da terra.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Prelúdio do anoitecer
Esmaece o fim de tarde
Quase, posso tocar
As nuvens, em degrade
Ah, esse silêncio encantado
Do outono em gotas
À beira do lago beijando as folhas,
Sussurrando às flores
Um poema de amor,
Enquanto embala
A despedida do dia
Na cadeira de balanço
E nesse amenizar da respiração
Da saudade tão intensa,
Mas calada - disfarçada - lágrima
Deixo as lembranças
De cada detalhe
Do teu corpo junto ao meu
Mesclarem-se, unificando-nos
Nesse terno e apaixonante
Prelúdio do anoitecer...
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Haicai de
ÁLVARO POSSELT
Curitiba/PR
Faz eco na rua –
O grito dos quero-queros
sob o nevoeiro
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Sobre a margem tranquila de um açude
(Mário Quintana, in “Rua dos Cataventos”)
Sobre a margem tranquila de um fresco açude
Fez uma pausa longa o Tempo, a acalmar
Exausto de correr sempre a vindimar
Risos, vontades, crenças e juventude.
Também eu me detive nessa atitude
De conceder a mim mesmo esse vagar
Vergando-me ante mim, não sendo eu altar
Num gesto de humildade que me desnude.
Temos andado os dois sempre de mãos dadas
Desperdiçando as horas, que são sagradas
Em correrias loucas e sem sentido.
Vejo agora que me expus ao grave risco
De fazer desta vida um pequeno cisco
E chegar ao fim sem nunca ter vivido.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Bem outro seria o clima
se em tantos gritos cruzados,
fosse ouvida, lá de cima,
a prece dos desgraçados!
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
Maldição
Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
- Hoje, velha e cansada da amargura,
Minh’alma se abrirá como um vulcão.
E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...
Maldita sejas pelo Ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!
Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!...
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
É nos momentos tristonhos
que eu peço à minha lembrança
que traga de volta os sonhos,
no aconchego da esperança…
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Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN+
À memória de uma ave
Quando morre uma criança,
Diz-se que o pálido anjinho
Voou como uma esperança,
Foi para o Céu direitinho.
Mas nossa mente se cansa
A voar de ninho em ninho,
Interrogando a lembrança,
Quando morre um passarinho.
Só eu, se alguém diz que a vida
De uma avezinha querida
Se extingue como um clarão,
Ponho-me a rir, pois, divina,
Ouço cantar, em surdina,
Tu' alma em meu coração.
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Haicai de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP
Interior
Havia uma rosa
no vaso. Veio do ocaso
a hora silenciosa.
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Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS
Imemorial
À noite pervaguei pelo Beco do Império
que há cinquenta anos não existe mais
e as horríveis mulheres, nos portais,
estavam belas de eu sonhar com elas.
Um bêbado me olhava, muito sério.
"Ó meu velho Condessa, como vais?"
Porém, agora — eu é que era o velho
e ele nem me conhecia mais...
Tolice!... Ele, afinal, disse o meu nome!
Ah, sempre que se sonha alguma coisa
tem-se a idade do tempo em que as sonhamos:
Me esqueci do futuro... e lá nos fomos
e a luz da Lua — eterna, intemporal —
juntava numa as duas sombras gêmeas.
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Trova de
ALZIRA DAL’AGNOLL
Itapema/SC
Nestas ondas espumantes,
onde pesquei meu sonhar,
eu sou pescador de instantes,
nos encantos que encontrar.
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Hino de
ITABUNA/ BA
I
Lá na mata, o ouro fruto,
O seu brilho atraiu
Homens bravos, corajosos,
A natureza... O desafio!
Com o machado, o homem na mata
Ressoa o grito voraz da vitória!
Tabocas! Tabocas! Tabocas...
Itabuna tu és agora!
Refrão:
Na madeira, o machado taboca!
E a vila de Ferradas vem surgindo!
O fruto ouro nos olhos, na alma!
Do Cachoeira, a cidade se expandindo!
Amada cidade grapiúna,
Sua glória; sua história
São orgulhos ao coração!
II
Com muralhas, em seu rio,
Grande espelho se formou!
Pedra preta refletindo
Sua gente, seu progresso, seu valor!
Nas praças, seus contos na memória!
Os compêndios enaltecem sua história!
Amada cidade grapiúna:
Itabuna tu és agora!
III
Hoje és linda, hoje és forte!
Sua fauna é conhecida!
Há riquezas nessa terra!
Nessa flora mãe amiga!
No comércio, na indústria... Sua força!
Esse aroma de cacau no coração
São braços fortes, que acolhem o seu povo.
Outra terra não há igual!
Obs : Repetir no final do último coro:
Itabuna, sua glória, sua história
São orgulhos ao coração!
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
Teu retrato
Em frente ao teu retrato jovem, belo,
Chegado há pouco tempo nesta terra,
Cheio de sonhos bons, encontra a guerra
Pela sobrevivência, e busca um elo.
O sorriso confiante nela encerra
Uma esperança no porvir, no anelo,
buscavas inquietante, sem libelo,
o apoio certo, então sobes a serra.
Desiludido já não ris, na foto
Da carteira social, anos depois.
Sério, parece preocupado e noto,
Que não foi tão feliz a decisão
De deixares a amada terra, pois,
Choravas de saudade à volição.
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Trova de
DERCY DE FREITAS
Amparo/SP
Ah! tantas vezes suponho
quando a noite, enfim, se aquieta
que existe um reino de sonho
na inspiração do poeta!
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Uma Lengalenga de Portugal
MENINA BONITA
Menina bonita
Não sobe à janela
Porque o bicho mau
Carrega com ela.
Se quer alvos ovos
Arroz com canela
Menina bonita
Não sobe à janela.
Não sobe à janela
Não sobe à varanda
Porque lá está posta
Uma fita de ganga.
E dentro da panela
Uma fita amarela
E dentro do poço
A casca de tremoço
E lá no telhado
Um gato molhado
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Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Se eu pensara quem tu eras,
quem tu havias de ser,
não dava meu coração
para tão cedo sofrer.
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Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR
Palavra é ave
Às vezes suave
Às vezes arredia
Entre um pouso e outro
Escolhe um coração
Como ancoradouro
Pra nele fazer
O seu seguro ninho.
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