quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Vereda da Poesia = 203


Trova de
ABÍLIO KAC
Rio de Janeiro/RJ

Benditos são os mecenas!
Não deixam a arte morrer!
São os pilares das cenas
na cultura e no saber!
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Poema de
MACHADO DE ASSIS 
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

Spinoza

Gosto de ver-te, grave e solitário,
Sob o fumo de esquálida candeia,
Nas mãos a ferramenta de operário,
E na cabeça a coruscante ideia.

E enquanto o pensamento delineia
Uma filosofia, o pão diário
A tua mão a labutar granjeia
E achas na independência o teu salário.

Soem cá fora agitações e lutas,
Sibile o bafo aspérrimo do inverno,
Tu trabalhas, tu pensas, e executas

Sóbrio, tranquilo, desvelado e terno,
A lei comum, e morres, e transmutas
O suado labor no prêmio eterno.
= = = = = = = = =  

Trova de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

Ao raiar de um novo dia,
quantas razões de viver!
A esperança se irradia
nas brumas do amanhecer!
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Há um encanto na melancolia

E a chuva continua...
Do vidro do carro
Observo a
A paisagem líquida
Que em tons de verde e cinza
Passa depressa...
Há um encanto na melancolia,
Dividindo o cristal da taça
Fazendo-me companhia
Nesta tua ausência,
E, na lembrança dos teus beijos
Com gosto e aroma do chá de morangos
Despedindo-se aos poucos,
Há um encanto na melancolia
Que dilacera a alma,
Repleta de uma saudade,
Das tuas poesias,
E mensagens de amor
Que, ainda navegam  em imagens
De sonhos...
Há um encanto na melancolia
Qual uma tela com pontilhismo,
Pincelando em  meu coração
Um amor tão intenso e impossível,
Repleto de inquietos e alegres
Pontinhos de cores,
Ah, a melancolia encanta-se
Com esse lento passar das horas,
Em que a imobilidade dos sinos de vento
E a ponta quebrada do lápis
Adiam um ponto final
= = = = = = 

Poetrix de
FÁBIO ROCHA
Rio de Janeiro/RJ

presas na boca

as pessoas fingem certezas.
certamente
estão presas
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Eu pintava trezentos arco-íris
(Mário Quintana, in “Rua dos Cataventos”)

Pintaria trezentos arco-íris
No céu de chumbo desse teu futuro
Para que ele não fosse tão escuro
E alegre com a sorte, tu te rires.

É tempo de a tristeza despedires
De veres o que está além do muro
E que o teu sol rebrilhe, grande e puro
Para que à luz te vejas e te admires.

A chuva misturada com o pranto
Vai, da alma, lavar o desencanto
Que em dias já passados tu tiveste.

Enfrenta cada dia sem temer
Que a vida só te paga com prazer
Aquilo que primeiro tu lhe deste.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Na taça de cada dia, 
a transbordar de amargura, 
cai um pingo de alegria, 
e o fel se torna doçura. 
= = = = = = 

Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

A voz do amor

Nessa pupila rútila e molhada,
Refúgio arcano e sacro da Ternura,
A ampla noite do gozo e da loucura
Se desenrola, quente e embalsamada.

E quando a ansiosa vista desvairada
Embebo às vezes nessa noite escura,
Dela rompe uma voz, que, entrecortada
De soluços e cânticos, murmura...

É a voz do Amor, que, em teu olhar falando,
Num concerto de súplicas e gritos
Conta a história de todos os amores;

E vêm por ela, rindo e blasfemando,
Almas serenas, corações aflitos,
Tempestades de lágrimas e flores...
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Com minha alma amargurada, 
envolto em meu sofrimento, 
passo inteira a madrugada 
jogando versos ao vento…
= = = = = = 

Poema de
JAQUELINE MACHADO
Cachoeira do Sul/RS

A beleza de ser

A beleza de ser,
está na magia de saber sentir...
É no mundo real das coisas não vistas,
mas sentidas, que as belezas ou riquezas são manifestadas.
Amor, caridade, riso, arte, prece,
são manifestações capazes de enaltecer
o encanto desta raça chamada “gente”.
Ou seja, beleza é algo que nasce de dentro para fora.
E não de fora para dentro.
Embora isso também possa acontecer.
Autenticidade é algo raro. E caro.
Tão caro que não tem preço.
Não se importe com o que os outros falam
sobre atitudes sentimentais.
Sinta amor...
Seja belo sendo sentimento.
E não razão.
= = = = = = 

Haicai de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Mocidade

Do beiral da casa
(telhas novas, vermelhas!)
vai-se embora uma asa.
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Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Este quarto... 
(para Guilhermino César)

Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...

que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.

Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.

A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim...
= = = = = = 

Trova de
JOSÉ RAUL VINCI
Pindamonhangaba/SP

Nossa fauna e nossa flora
são por vezes dizimadas
por um louco que ignora
o perigo das queimadas.
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Hino de 
ANTONINA/ PR

Salve terra formosa e querida 
Que se estende na costa a sorrir 
Terra calma onde achamos à vida 
Sob a qual esperamos dormir 

Salve terra de brisas ciciantes, 
Doce gleba que nos viu nascer
Não te esqueças teus filhos distantes, 
Esquecer-te é mais fácil morrer.

Estribilho

Antonina, Antonina, 
Deitada a beira do mar 
Sob a tutela divina 
Da Senhora do Pilar 

Antonina, cidade das flores, 
De suave e finíssimo olor
Tens o brilho de mil esplendores 
Para nós que te damos amor 

Salve gleba, fecunda cidade 
Mais augusta por certo acharás 
Deus te encha de felicidade 
Para a glória do meu Paraná 

Antonina, Antonina,
Deitada a beira do mar 
Sob a tutela divina 
Da Senhora do Pilar
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Festas vespertinas

Nas vespertinas festas, nos domingos,
Quando eu queria muito o teu amor,
Dancei gostoso rock, joguei bingos,
Te esperando namoro me propor.

Dançávamos bolero, ou mesmo tango,
E ao som daquele rock fui dançando...
Para o salão sozinha, e então eu mango
Do teu jeito sem graça rebolando.

Até que um dia escuto teu lamento,
Porque não poderias nem me ver
Assim, me divertindo em tal evento.

Eu era adolescente e bem feliz,
Nas vespertinas festas pude ter
A tua companhia enquanto quis.
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Trova de
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/ SP, 1945 – 2021, Santos/ SP

Sou poeta e trovador, 
a inspiração me transporta 
às nuvens e, com amor, 
nas nuvens minha alma aporta.
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Uma Lengalenga de Portugal
BICHO DA CONTA
 
Estas lengalengas dirigidas a insetos, eram ensinadas ás crianças para elas dizerem quando encontravam um deles nos campos. Era uma maneira de as ensinar a ter respeito pela natureza.
 
Debaixo da pedra
 Mora um bichinho
 De corpo cinzento
Muito redondinho
 
Tem medo do sol
Tem medo de andar
Bichinho de conta
Não sabe contar
 
Muito redondinho
Rebola, no chão
Rebola, na erva
E na minha mão
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
Serro/ MG

O vento bateu na porta
eu pensei que era a Sinhana,
tive pena de mim mesmo!
Até o vento me engana.
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Soneto de
AFONSO FELIX DE SOUSA
Jaraguá/GO, 1925– 2002, Rio de Janeiro/RJ

Sonetos Elementares XV

E Deus chamou à luz dia; e às trevas
chamou noite: o primeiro dia, feito
de elementos de mortos dias, dia
de madrugadas feito – assim nascera.

Embora com o corpo a debater-se
na sombra anterior, perdi-me ao canto
das aves primitivas, e boiei
entre espumas e o espírito de Deus.

Flores mortas brotaram e eram belas.
A terra toda se transfigurara
nessas ilhas de que só nós sabemos.

Cego sem céu e mar que de repente
recupera as paisagens, segui leve
como um louco cantando entre anjos.
= = = = = = = = =  

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