sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Vereda da Poesia = 192


Trova de
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

Nos quatro dias de momo
ante tanta bebedeira,
eu estarei, não sei como,
quando chegar quarta-feira!
= = = = = =

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Assim em suas mãos nos troca a vida
(Sophia de Mello Breyner Andresen in "Mar novo")

Assim, em suas mãos nos troca a vida
As sendas que escolhemos percorrer
Só porque ela quer, pode e tem prazer
Em ver a nossa sorte confundida.

Não vale a pena a um sonho dar guarida
Por no peito um desejo de viver
Que a vida tem o modo e o poder
De nos abrir na alma uma ferida.

Impotentes ficamos para dar
Outros rumos ao nosso caminhar
Sujeitos aos caprichos do destino.

Aos ombros carregando cruz tão má
Indo o Homem, por onde quer que vá
Será sempre um eterno peregrino.
= = = = = = = = =  

Trova de
MAURÍCIO FERNANDES LEONARDO
Ibiporã/PR

O pobre muito detesta
se o rico diz por chalaça:
“Arruaça de rico é festa, ...
festa de pobre é arruaça”!
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Prenúncios

Sensível, o olhar
Pousa na fonte
Repleta,
De falhas do plátano,
Sinto a poesia
E solidão do cântaro...

Distancia-se o pensamento,
O venta sussurra teu nome...
E, nas esmaecidas e diáfanas cores
De mais um por do sol -
Prenúncios de Saudade...
= = = = = = 

Trova de
AUROLINA ARAÚJO DE CASTRO
Manaus/AM (1933 – 2004)

Ao reler o livro antigo,
grande emoção me tomou:
deu-me a impressão de um amigo
que de repente voltou.
= = = = = = 

Poema de
CARLOS FERNANDO BONDOSO
Alcochete/ Portugal

Canto à flor

germinam sementes
e outras secam por incúria

nascem trepadeiras e uma flor 
que guardo no espaço
e no tempo
é o cheiro do mundo 
num momento de silêncio

é a flor da buganvília
que cresce sempre primeiro
histórias escritas
e rasuradas
contadas como contos verdadeiros

pinceladas
aquarelas
tintas trabalhadas
com cheiros de verdade

é a flor
que se solta no tempo
com a fúria do temporal
mas que não se quebra
nas asas do vento

é a tristeza e a dor
num canto simples e triste
que se funde na alma
onde só os sonhos podem morar

é este o meu canto à flor 
aqui nesta folha de papel
= = = = = = = = = 

Trova de
CAMPOS SALES
Lucélia/SP, 1940 – 2017, São Paulo/SP

Não gostou de ser cobrado,
no velório o Zé pirou,
foi tapa pra todo lado,
até o defunto apanhou.
= = = = = = 

Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Campo-Santo

Os anos matam e dizimam tanto
Como as inundações e como as pestes...
A alma de cada velho é um Campo-Santo
Que a velhice cobriu de cruzes e ciprestes
Orvalhados de pranto.

Mas as almas não morrem como as flores,
Como os homens, os pássaros e as feras:
Rotas, despedaçadas pelas dores,
Renascem para o sol de novas primaveras
E de novos amores.

Assim, às vezes, na amplidão silente,
No sono fundo, na terrível calma
Do Campo-Santo, ouve-se um grito ardente:
É a Saudade! é a Saudade!... E o cemitério da alma
Acorda de repente.

Uivam os ventos funerais medonhos...
Brilha o luar... As lápides se agitam...
E, sob a rama dos chorões tristonhos,
Sonhos mortos de amor despertam e palpitam,
Cadáveres de sonhos...
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Inimigo do trabalho,
é meu primo, o “Paraíba;” 
seu emprego é no baralho: 
buraco, truco e biriba.
= = = = = = 

Poema de 
MÁRIO JSL LOUREIRO
Ourém/ Portugal

Amo-te como quem ama uma trajetória lunar
como quem mata a sede na areia do deserto
Amo-te como à luz do sol que aquece a terra
sempre terno e empenhadamente marítimo 
E como não haveria eu de amar dos teus lábios
a mais eloquente poesia
Dos teus olhos encantados risos 
e os mais coloridos sonhos de amor
Amo-te nua
sem outra decoração que a do teu coração
Sólida sensual como um axioma que é livre
pedra filosofal da alegria ou de uma lágrima
que repousa funda na verdade que nunca foi dita
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

O pai da moça, que é mau, 
chega em casa e acaba o "baile"...
É que o Zé, "cara de pau", 
tava namorando em..."braile"!!!
= = = = = = 

Poema de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Pombos Mensageiros

Transformados em pombos cor de neve,
Entraram-me a cantar pela janela,
A tua carta delicada e leve
E o beijo amigo que envolveste nela.

Ó que alegria para o coração
Onde a Saudade, sempre em flor, renasce!
A carta leve me pousou na mão
E o beijo amigo acarinhou-me a face.

E então, a rir, ó pomba idolatrada!
Eu transformei meu coração em ninho:
Nele repousa a tua carta amada
E canta o beijo a ária do carinho.
= = = = = = 

Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Morre a flor na flor da idade,
padece a planta de dor;
a ausência deixa saudade,
até na morte da flor!
= = = = = = 

Hino de
RONDONÓPOLIS/MT

Quão rebento brotastes radiantes, 
como estrela de raro fulgor
Tão sonhada na força que emana, 
fruto terno de nosso suor
Neste solo de seiva gigante, 
esta linda cidade floriu
Dando brilho as cores que marcam, 
a bandeira do amado Brasil.

Rondonópolis, Rondonópolis
Surgiste oh... brasão imponente
Praza Deus que em ti paire a graça
Que envolve de amor tua gente

Nas belezas das matas e montes, 
nas entranhas de vales e rios
Na nobreza do denso cerrado, 
foi assim que este sonho seguiu
Brasileiros de plagas distantes, 
cá vieram trazer seu labor
E na luta perene e vibrante, 
construímos solene penhor

Rondonópolis, Rondonópolis
Surgiste oh... brasão imponente
Praza Deus que em ti paire a graça
Que envolve de amor tua gente

Rio vermelho e majestoso, 
lenda viva que a todos encanta
Onde a balsa Rosa Bororo, 
navegou transportando esperança
Foi sustento do índio que viu, 
tudo isso gestar e nascer
E o presente nos passa o comando, 
pra fazer essa terra crescer

Rondonópolis, Rondonópolis
Surgiste oh... brasão imponente
Praza Deus que em ti paire a graça
Que envolve de amor tua gente

Todos que precederam essa história, 
salve, salve a nobre missão
Pois sabiam que a nossa vitória, 
era certa na força do chão
E cantamos tuas maravilhas, 
em memória do marechal
Novos passos teu povo palmilha, 
pelas trilhas do seu ideal.

Rondonópolis, Rondonópolis
Surgiste oh... brasão imponente
Praza Deus que em ti paire a graça
Que envolve de amor tua gente
= = = = = = = = =  

Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal

A última vez

Nunca soube
quando seria a última vez
que te beijava,
que te abraçava,
que te tocava.

Nunca soube…
Vivi tudo tão intensamente,
pensando apenas no presente
e nunca num futuro fugidio.
Porque, se soubesse
que seria a última vez,
tudo teria sido diferente.

Mas nunca soube,
nunca me despedi,
levaram-te os ventos,
fiquei sem ti.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Eu juro, mas com loucura, 
minha emoção num relance, 
abre a porta, quebra a jura 
e a ti concede outra chance.
= = = = = = = = = 

Grinalda de Trovas de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

Vive sem paz, meu amigo, 
sem cultivar a harmonia 
sem pressentir o perigo 
quem aos outros calunia. 

Quem aos outros calunia 
sem procurar a verdade, 
tem a vida mais vazia 
por interesse ou maldade. 

Por interesse ou maldade 
é burrice e covardia 
quem age sem humildade 
não pode ter alegria. 

Não pode ter alegria, 
quem vive sem amizade. 
Não há luz, sabedoria, 
nem paz e felicidade.
= = = = = = = = =  

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