quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Aparecido Raimundo de Souza (Cardápio difícil)

NA LANCHONETE a garota pede a lista com a relação das guloseimas disponíveis para serem oferecidas aos clientes. A garçonete imediatamente a atende com um sorriso largo no rosto de princesa:

— Boa noite. Seja bem-vinda. — O que vai ser?

— Antes, me responda algumas perguntas. 

— Pois não. 

— O que vem no hambúrguer simples?

— A garçonete mostra o cardápio sobre a mesa. 

— Veja aqui. Leia junto comigo. No hambúrguer simples: pão, duas carnes, alface, tomate, batata palha e molho... 

— Legal. E no cachorro quente na chapa?

— Pão, salsicha, queijo, milho, batata palha e molho...

— Sério?

A garota não parece satisfeita. Insiste:

— E na porção de batatas fritas vem alguma coisa?

— Sim.

— E no filé mignon? 

— Nesse filé mignon vem cebola, pimentão, farofa e se a senhorita quiser podemos acrescentar tomates.

— Cá entre nós. É filé mignon mesmo?

— Pode ter certeza. Fazemos com todo gosto e carinho.

— Tem certeza de que não é carne de segunda?

— De forma alguma.

— Nem de lombo de cavalo?

— Senhorita, nossa lanchonete é honesta e séria.

— Acredito.

— Então, o que vai ser?

— Sem querer ser desagradável. E a omelete de frango?

— O que tem minha jovem?

— É de frango mesmo?

— Claro.

— E o frango é novo ou velho?

A garçonete ri, embora por dentro esteja com vontade de explodir e mandar a cliente para o raio que a parta: 

— Novo. Nossos frangos são de primeira. Saem direto da granja do meu patrão. Então, posso fazer o pedido?

— Pode.

— E o que vai ser?

— Me traga um copo vazio e um palito...

— Fala sério, moça. Tenho outros clientes para atender...

— Ok. Me prepara um cachorro quente simples, com duas salsichas.

Vinte minutos depois o lanche chega no capricho. 

— Aqui, senhorita. Bebe alguma coisa?

— Sim. 

— E o que você tem geladinho?

— Todos os refrigerantes que imaginar. 

— Você tem Coca ou guaraná? 

— Sim. 

— Tem aquela coca sem açúcar?

— Claro. Posso lhe trazer uma?

— Tem cerveja? 

— Da marca que escolher.

— Não, agradeço. Eu não bebo. 

— E o que vai querer para acompanhar seu cachorro quente?

— Como você me atendeu bem, deixo a seu critério. 

— Iria sugerir um guaraná.

— Não.

— Suco. Temos suco.

— De quê? 

— Manga, uva, laranja, abacate, melancia, limão...

—Tem de graviola?

—Também... posso mandar vir o de graviola?

— Calma. Estou pensando... 

A pior parte foi terrível.  Final de alguns minutos, a inoportuna, no maior deboche, se abre numa cara de poucos amigos e manda bala:

— Olha, minha fofa. Me traga urgente um copo de água natural sem açúcar. Água natural, em garrafa. Por favor, não é da torneira. E com muito gelo. Estou faminta e seca de sede.
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Aparecido Raimundo de Souza, natural de Andirá/PR, 1953. Aos doze anos, deu vida ao livro “O menino de Andirá,” onde contava a sua vida desde os primórdios de seu nascimento, o qual nunca chegou a ser publicado. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal “Municípios em Marcha” (hoje “Diário de Osasco”). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras.  Hoje, é free lancer da Revista ”QUEM” (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas.  Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal “O Dia, no Rio de Janeiro.” Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Reside atualmente em Vila Velha/ES.

Fontes:
Texto enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

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