PAULO ROBERTO OLIVEIRA CARUSO
Niterói/RJ
Horas por dia eu passei
no tal mundo virtual,
até que um dia paguei
uma conta bem real!
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Poema de
ELISA ALDERANI
Ribeirão Preto/SP
Casulo da palavra
Palavra fechada no casulo da alma.
Como bicho da seda tecendo fios dourados.
Trabalha sem cessar.
Na noite profunda sonha.
Escondida, aguarda seu tempo.
Na hora certeira amadurece.
Silenciosa e calma.
Com a força do pensamento,
Abre sua provisória morada.
Vagarosa sai informe.
Úmida e gelada,
Na madrugada de um dia qualquer.
Aguarda o sol chegar.
Um raio luzente a aquece,
Revigora sua carne machucada.
Distende as asas lentamente,
Voa para experimentar a vida!
Agora linda e colorida borboleta.
Não é efêmera…
Logo ela volta e docemente pousa
Na perfumada flor branca do papel.
Que acolhedor está à sua espera.
A Indelével Palavra do poeta.
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Trova de
RENATO ALVES
Rio de Janeiro/RJ
No caminho sem atalhos
que leva ao teu coração,
feri meus pés nos cascalhos
que espalhaste pelo chão.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Riscos e rabiscos
Riscos
Na mesa de madeira,
Rabiscos nos tijolos
Do fogão a lenha...
Desenhos no vidro
Nublado da janela,
Linhas curvas e retas
Na cadeira de palha
Marcam presença,
Pincelando ausências,
Enquanto a chuva risca
Mais um fim de tarde...
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
O cara dentro do armário
diz: “Não é o que você pensa”...
“Eu já sei”, responde o otário,
“o gajo é o lá da despensa”.
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Nada de novo é novo, a própria história
(Narciso Alves Pires, in “Para além do adeus”, p.90)
Nada de novo é novo, a própria História
Já se repete em ciclos conhecidos
E o poder e os conflitos já vividos
Renascem das profundas da memória.
Deixou a vida de ser aleatória
E a patina cobrindo os tempos idos
Deixa vê-los, de novo, promovidos
A pepitas que brilham entre a escória.
Se tudo se transforma, diz a lei
Que deixada nos foi por Lavoisier
O mundo ao girar outro mundo deu.
Nesse rodar eu nunca saberei
Se existe uma razão e algum porquê
Que me impeça de eu ser um outro eu.
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Poetrix de
MARDILÊ FRIEDRICH FABRE
São Leopoldo/RS
pas de deux
No jardim,
Borboletas dançam.
Coreografia da paixão.
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
Em uma tarde de outono
Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas
Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.
Outono... Rodopiando, as folhas amarelas
Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...
Por que, belo navio, ao clarão das estrelas,
Visitaste este mar inabitado e morto,
Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,
Se logo, ao ir da luz, abandonaste o porto?
A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos
A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...
- Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!
E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,
E contemplo o lugar por onde te sumiste,
Banhado no clarão nascente do arrebol..
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN
Já quase louco de amor,
envolto num triste enlevo
ponho toda a minha dor
no papel…quando eu escrevo!
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Poema de
JOSÉ CARLOS MOUTINHO
Porto / Portugal
Céu azul
Contemplo o céu, fascinado
Pelo azul imensamente belo;
Deslumbra-me a imensidão do infinito espaço
E me reduz a uma infinita expressão do nada!
As nuvens movimentam-se em bailados
De fantástica coreografia;
Brancas, pombas alvas da paz,
Na quietude do tempo que sorri,
Acariciadas pelo brilho do astro rei!
E é nesta visão, serena, que me acalma,
Ao mesmo tempo que me alerta,
Para as nuvens negras, tenebrosas e ameaçadoras
De tempestades de forças diluvianas...
Mas agora, aqui, neste momento,
Só quero sentir a ilusão do belo eterno
Que me é oferecido,
Neste quadro de singular perfeição,
Onde as cores são distintas
Das inventadas pelos homens;
Aquelas têm um brilho irreal, esotérico,
Que nos atraem e nos elevam espiritualmente,
Para um outro espaço extasiante de emoções.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Quando pergunta o burrinho,
diz a mula envergonhada:
- "Tu nasceste, meu filhinho,
por causa de uma...burrada!..."
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Poema de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS
Saudade
Que me dizias, Augusto Meyer,
naquele tempo que não passa,
na mesa, junto à vidraça,
naquele bar que era um barco?
Por ela passavam mares,
passavam portos e portos,
ali que os ventos ventavam,
dos quatro cantos do mundo!
O que dizíamos? Sei lá!
não falemos em nossas vidas...
nem, por nós, se salvou o mundo...
Mas, Amigo, eu sei que tenho
— naquelas horas perdidas —
o meu ganho mais profundo!
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Trova de
FLÁVIO ROBERTO STEFANI
Porto Alegre/RS
Brinquedos bons eu não tinha,
mas sabia achar maneira,
e com latas de sardinha
eu tinha uma frota inteira.
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Hino de
PRACUÚBA/AP
Eia povo destemido tão querido,
Habitante desta linda natureza,
Vibra um sonho de um futuro radiante
Nesta terra que se torna fortaleza.
A vitória segue aos rios pela pesca,
Por pescadores corajosos habitantes,
Cuja fonte de saúde é majestosa
Se vasculhada nesses rios penetrantes.
Ó brava terra de mãe gentil,
Pracuúba, Amapá, Brasil...
Ó Deus, que abençoe esta terra
Da fauna rica e flora verdejante
Onde o rio que exalta a natureza
Resplandece seu trabalho exuberante.
Encoberto pela própria natureza,
Homenageia uma árvore gigante
Com um povo tão guerreiro e tão humilde
Que demonstra tal bravura radiante.
Que destaca nesta fauna o Tracajá,
O pirarucu e o Tucunaré
A beleza de Pracuúba, vale a pena observar,
É sua flora, a mais rica do lugar.
Ó brava terra de mãe gentil,
Pracuúba, Amapá, Brasil…
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
Intolerância
Todos meus sentimentos embotados
deixam-me quase morta para a vida.
Roubaram minha astúcia e sem guarida,
deixaram os sentimentos desviados.
E com esta tristeza agoniada
não consigo os caminhos desejados.
Busco alento nos dias já passados,
só encontro a decepção continuada.
Não me deixa encontrar justa assertiva,
da falta de ternura que me invade,
ao ver o fingimento na inventiva.
Pensando já ser mestre no que faz,
assume esta postura intolerante,
achando que ninguém mais é capaz.
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Trova Premiada de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP
Julguei sem pensar que um dia
os anos réu me fizessem,
sem defesa à revelia,
nos bancos dos que envelhecem.
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Poema de
CARLOS NEJAR
Porto Alegre/RS
Formoso é o Fogo
Formoso é o fogo e o rosto
da amada junto a ele.
No lume de seu corpo
tudo em redor clareia.
Depois o que era fogo,
é espuma que se alteia.
E o mundo se faz novo
nas curvas da centelha.
Já não existe esboço,
mas desenhos, e teimam
— unos e justapostos.
Já não existe corpo:
são almas que se queimam
no amor de um mesmo sopro.
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Já fui galo, já cantei
já fui dono do terreiro.
Não me importo que outros cantem
onde eu já cantei primeiro.
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