quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Vereda da Poesia = 191


Trova de
SELMA PATTI SPINELLI 
São Paulo/SP

Com tanta delicadeza,
um regato a serra desce...
E eu tenho quase certeza
que a própria serra agradece!
= = = = = =

Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Um salgueiro que espiava sobre o rio
Mario Quintana in "A rua dos Cataventos", p. 50

Um salgueiro que espiava sobre o rio
Viu passar meu barquinho de papel
De lágrimas tão cheio, mas de mel
E de sonhos seguia tão vazio.

Sentiu nesse momento um arrepio
Vendo que a dor ao leme do batel
Tinha traçado rugas a cinzel
No rosto refletido no baixio.

Fiquei parado à beira do destino
E vi que a brincadeira de menino
Não poderia mais ser repetida.

Mata-me o que de mim já me roubou
A vida que ao passar me transformou
Na barca que nas águas vai perdida.
= = = = = = = = =  

Trova de
JUNQUILHO LOURIVAL 
Natal/RN (1895 – ????)

Oh perfeita entre as perfeitas,
eu tenho invejas estranhas
da cama em que tu te deitas,
da água com que te banhas!
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Poético abandono

As folhas de hera cobrem tuas paredes,
Portas, janelas e varandas,
Lembrando verdes demãos
de tintas,
Afagos a protegê-la das
intempéries...
A escada com nove degraus, ainda,
Preserva parte do mármore,
A porta principal, já sem a dourada
Maçaneta é aberta com facilidade,

E a cada passo, sinto a solidão -
Um silêncio especial espreita-me
Nos gastos tapetes, no piano
Deixado à própria sorte,
Sonhando com Debussy...
A alma da casa abandonada
Refugia-se em imagens e sons
Do passado -
Continuo minha aventura -
Caminhada, sem pressa, com o olhar
E, curiosa, abro mais uma porta,
Encontrando, janelas sem vidros
Que deixam o canto dos pássaros
Mais próximos, fazenda parte
Da linda, mas esquecida, adega
As garrafas de vinho,
Sem rótulos e rolhas
(Nuas - vazias)
Ocupam prateleiras
Como se livros fossem -
Lunetas encantadas
Intocáveis,
Umas sobre as outras
Cobertas por camadas de poeira
Lembram uma segunda pele
Imagino diálogos entre
As garrafas e as partículas de pó,
E a sonolenta cadeira, sem palhas,
A observá-las...
Ah. esse aconchego da passagem
Do tempo, tatuando objetos e sonhos -
Tempo, que tudo desgasta, esmaece,
(Enferruja)
Leva os sorrisos e, aos poucos
Ávida desaparece...
Choro com ela, sinto
Na casa adormecida
Um poético abandono,
Quem sabe,
Ela despertará
Em uma futura aquarela,
Quem sabe?
= = = = = = 

Trova de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

Aquele que sempre joga
o lixo em qualquer lugar
é o desleixado que roga:
“ – Venha, dengue,  me atacar!”.
= = = = = = 

Poema de
PAULO WALBACH PRESTES
Curitiba/PR, 1945 – 2021

Saudade

"Saudade, palavra triste...”
que tanto inspira a dura dor.
"Saudade não tem idade”,
não tem vaidade e não tem cor. 

Saudade nasce da vida ainda em flor...
A flor murcha e morre,
enquanto, o vento corre,
a ressuscita na mesma cor.

Saudade vive na alma,
que, ainda calma, transforma em dor.
Às vezes ela vem do nada,
do infinito ou de um grande amor. 
= = = = = = = = = 

Trova de
BENEDITO MADEIRA
Porto Alegre/RS

Um fato triste, por certo,
não convém ser relembrado…
Jamais conserve por perto
as tristezas do passado!
= = = = = = 

Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

O Avô

Este, que, desde a sua mocidade,
Penou, suou, sofreu, cavando a terra,
Foi robusto e valente, e, em outra idade,
Servindo à Pátria, conheceu a guerra.

Combateu, viu a morte, e foi ferido;
E, abandonando a carabina e a espada,
Veio, depois do seu dever cumprido,
Tratar das terras, e empunhar a enxada.

Hoje, a custo somente move os passos...
Tem os cabelos brancos; não tem dentes...
Porém remoça, quando tem nos braços
Os dois netos queridos e inocentes.

Conta-lhes os seus anos de alegria,
Os dias de perigos e de glórias,
As bandeiras voando, a artilharia
Retumbando, e as batalhas, e as vitórias...

E fica alegre quando vê que os netos,
Ouvindo-o, e vendo-o, e lhe invejando a sorte,
Batem palmas, extáticos, e inquietos,
Amando a Pátria sem temer a morte!
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Numa caminhada inglória, 
com minha alma enternecida; 
pude ver a minha história 
no retrovisor da vida.
= = = = = = 

Poema de 
CONSUELO TOMAS
Bocas del Toro/Panamá

Eu era uma casa

Eu era uma casa que quase se fechava
Antiga memória de beijos
Carícia no exílio
Mar calmo e já de volta

Então foste tu
abrindo minhas janelas
Colocando os passos da mirada
música da ternura em tua doce mão
espantando o pó do desengano
uma ou outra palavra e o abraço

ilusão imperfeita
um minuto de vida
oportunidade serena
para ensaiar o amor e suas rupturas

Agora tenho que esquecer-te e não sei como
Recuperar o mecanismo da calma, a música do mar
E sua cumplicidade imensa
O perfeito equilíbrio do que foi conquistado

De qualquer forma antes que a noite chegue
Aqui sempre haverá lugar para teu rosto
Um espaço vazio para que teus braços preencham ou a lembrança
Um silêncio estendido para que teu canto voe ao mais elevado
Aqui.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

No seu biquini apertado, 
Maria me deixa mudo, 
pois nunca vi "tanto nada"
cobrindo, tão pouco ..."tudo"...
= = = = = = 

Poema de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Palavras Tristes
 
Quando eu deixar a terra, anjo inocente,
Ó meu formoso lírio perfumado!
Reza por mim, de joelhos, docemente,
Postas as mãos no seio imaculado,
Quando eu deixar a terra, anjo inocente!
 
És a estrela gentil das minhas noites,
Noites que mudas no mais claro dia.
Não tenho medo aos gélidos açoites
Da escuridão se a tua luz me guia,
Ó estrela gentil das minhas noites!
 
Quando eu deixar a terra, dá-me flores
Boiando à tona de um sorriso teu;
Que os risos das crianças são andores
Onde os anjos nos levam para o céu...
Quando eu deixar a terra, quero flores!
 
Flores e risos me tecendo o manto,
Manto celeste feito de esperanças...
Quando eu daqui me for, não quero pranto,
Só quero riso, preces de criança:
Flores e risos me tecendo um manto!
 
Anjo moreno de alma cor de lírio,
Mais branca do que a estrela da Alvorada...
Meu coração na hora do martírio
Pede o consolo de uma prece amada,
Anjo moreno de asas cor do lírio!
 
Quando eu deixar a terra, anjo inocente,
Ó meu formoso lírio perfumado!
Reza por mim, de joelhos, docemente,
Postas as mãos no seio imaculado,
Quando eu deixar a terra, anjo inocente!
= = = = = = 

Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Este amor que em mim fervilha,
quando estamos sempre a sós...
se for bem feita a partilha,
será eterno entre nós!
= = = = = = 

Hino de
SÃO CAETANO/SP

São Caetano pequeno gigante
Sob um céu estrelado e de anil
És cidade, trabalho, és progresso
És infante do nosso Brasil.

Do passado nos resta lembrança
De heróis que souberam te erguer
Para frente, para frente
São Caetano, tu tens que crescer.

Do triângulo, joia rara
Dá exemplo de teu vigor
E tua luta não para
É grande o teu valor. (Bis)

Mais e mais chaminés se levantam
Apitos fazem-se ouvir
Do trabalho é tua glória
De grandeza será teu porvir.

No futuro será monumento.
Brasil saberá te eleger
Para frente, para frente
São Caetano, tu tens que crescer.

Do triângulo, joia rara
Dá exemplo de teu vigor
E tua luta não para
É grande o teu valor. (Bis)
= = = = = = = = =  

Poema de
YEDA PRATES BERNIS
Belo Horizonte/MG

Quando o amor se achega

Quando o amor se achega
e, no outro, não encontra
espaço aberto,
ele, humilde, se aconchega
a si mesmo. E descoberto
se agasalha com pesado manto
do temor, dúvida e espanto.

E a tempo pede
que o acalente,
à desventura
que o sustente
não mais que o prazo certo,
e a um vento
inexistente que o leve
em momento brando e breve.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Mineira com mil louvores, 
Paulista por adoção,
dois estados, dois amores, 
dividindo um coração.
= = = = = = = = = 

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