ARI SANTOS CAMPOS
Balneário Camboriú/SC
Meus bons anos se passaram
com a leitura aprendi...
Hoje as letras se apagaram
mas o saber não perdi.
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Poema de
MACHADO DE ASSIS
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908
Gonçalves Crespo
Esta musa da pátria, esta saudosa
Níobe dolorida,
Esquece acaso a vida,
Mas não esquece a morte gloriosa.
E pálida, e chorosa,
Ao Tejo voa, onde no chão caída
Jaz aquela evadida
Lira da nossa América viçosa.
Com ela torna, e, dividindo os ares,
Trépido, mole, doce movimento
Sente nas frouxas cordas singulares.
Não é a asa do vento,
Mas a sombra do filho, no momento
De entrar perpetuamente os pátrios lares.
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Trova de
AUROLINA ARAÚJO DE CASTRO
Manaus/AM, 1933 – 2004, Rio de Janeiro/RJ
A beleza em nossa vida
não vem só dos bons eventos,
mas da luta enriquecida
pelos nobres sentimentos.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Outono em taça
Do ombro de vidro desliza
Sem pressa, uma gota de vinho
E chega envolvente e arrepia
O rótulo com cachos de uva,
Sob, o olhar sedutor da taça vazia-
À espera do aroma encorpado,
Suavemente, adocicado...
Entre a verde garrafa
E transparência do cristal
O silêncio e recato
Da folha de plátano.
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Poetrix de
BETO QUELHAS
São Paulo/SP
arteiro
o vento brinca escondendo
na cortina dos seus cabelos
os seus olhos em venenos
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Foram levando qualquer coisa minha
(Mário Quintana, in “Rua dos Cataventos”)
Foram levando qualquer coisa minha
Os ocasos que eu tanto apreciava
Como se o sol morrendo envolto em lava
Me roubasse o que em minha alma eu tinha.
De cada vez que a luz, régia rainha
Do meu olhar carente se ocultava
Levava o que mais rico em mim achava
Até do meu ser não restar nadinha.
Corpo seco, sou concha de molusco
Solto à beira da praia onde eu busco
A minha alma por quem ando a penar,
E se o destino não me deixar tê-la
No fim de cada tarde eu venho vê-la
À hora em que o sol cá se vem deitar.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
A lua, em passo indeciso,
muda o andante da sonata,
pondo pausas de improviso
no pentagrama de prata.
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
Velhas árvores
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo”! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
"Casamento... - alguém já disse –
é chegar à encruzilhada
onde acaba a criancice
e começa...a criançada..."
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Dobradinha Poética (trova e soneto) de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Bandeirantes/PR
Fruta da Semente
Não meças nela o trabalho,
pois colheita é contingente,
mas quanto, de orvalho a orvalho,
tu já plantaste… em “semente”…
De sol a sol, firmando as mãos no arado,
suor pingando, ao solo se entregava…
– Hoje, um trabalho rude e ultrapassado
do lavrador, que a terra cultivava.
Com grande afinco e sempre atarefado,
fazia os sulcos, com as mãos semeava
e, esperançoso a capinar, cansado,
o agricultor, temente a Deus, rezava…
Pedia chuva para aquela empreita,
o pensamento firme na colheita,
depois que via germinando o grão…
E desejava, então, ardentemente,
ver pão na mesa, fruto da semente,
que enverdecera todo aquele chão!
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Haicai de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP
Vento de Maio
Risco branco e teso
que eu traço a giz, quando passo.
Meu cigarro aceso.
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Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS
Para Telmo Vergara
Era uma rua tão antiga, tão distante
que ainda tinha crepúsculos, a desgraçada...
Acheguei-me a ela com este velho coração palpitante
de quem tornasse a ver uma primeira namorada
em todo o seu feitiço do primeiro instante.
E a noite, sobre a rua, era toda estrelada...
havia, aqui e ali, cadeiras na calçada...
E o quanto me lembrei, então, de um amigo constante,
dos que, na pressa de hoje, nem se usam mais
como essas velhas ruas que parecem irreais
e a gente, ao vê-las, diz: "Meu Deus, mas isto é um sonho!"
Sonhos nossos? Não tanto, ao que suponho...
São os mortos, os nossos pobres mortos que, saudosamente,
estão sonhando o mundo para a gente!
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Trova de
ARTHUR THOMAZ
Campinas/ SP
O passado é intrigante!
Ontem mesmo era presente…
Durou por algum instante
e esvaiu-se de repente.
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Hino de
ILHÉUS/ BA
De todos os amores que eu já tive
Você foi o meu primeiro
Ilhéus, minha cidade, minha terra
Meu orgulho, meu amor
Alguém já contou nossa história
Mostrando São Jorge dos Ilhéus
Com cheiro de cravo e canela
Com o ouro do nosso cacau
E um céu tão azul
Essas praias tão lindas, morenas, não tem nada igual
Nossa gente vai cantar
Pra você esta canção
Vai louvar, vai festejar
A sua renovação
Porque a cada dia que se passa
Vai crescendo essa certeza
De todas as riquezas de Ilhéus, a nossa gente é a maior
Juntos vamos caminhando
Juntos vamos construir
Novas histórias de glória
Pra meu São Jorge dos Ilhéus
Terra de grande passado, que faz no presente um futuro melhor.
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
Domingo de sol (abrindo o baú)
Domingo cheio de sol!
Mar agitado e espumante,
a rugir feito um gigante
invade a areia e o arrebol.
As crianças a brincar
jogando bola na areia.
Vai lá, vem cá e volteia,
plateia a observar.
De repente ouviu-se um grito!
Parecia muito aflito,
veio com as ondas do mar.
O salva-vida aplaudido
saiu da água agradecido
fez uma filha respirar.
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Trova de
CLARINDO BATISTA
Jardim do Piranhas/RN, 1929 – 2010, Natal/RN
O orvalho que cai agora
nos sobejos da queimada,
traduz o pranto que chora
a Natureza arrasada!...
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Uma Lengalenga de Portugal
LENGALENGA DOS ANIMAIS
Tenho um cãozinho
Chamado Totó
Que me varre a casa
E limpa o pó.
Tenho um gatinho
Chamado Fumaça
Que me lê histórias
E come na taça.
Tenho uma vaquinha
Chamada Milu
Que me limpa os móveis
E cuida do peru.
Tenho um periquito
Chamado Piolho
Que me limpa a chaminé
E coze o repolho.
Tenho um peixinho
Chamado Palhaço
Quando vai às compras
Usa sempre um laço.
Tenho uma porquinha
Chamado Joana
Que lava a louça
E me faz a cama.
Um dia escorregou
E caiu no chão
Oinc… oinc… oinc…
Que grande trambolhão!
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Trova Popular de
Ouro Fino/MG
Quando o loureiro der baga
e o loureiro der cortiça,
então te amarei, meu bem,
se não me der a preguiça.
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Soneto de
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS
Soneto a Cora Coralina – In Memoriam
Poesia simples, plena de filosofia,
de gente humilde da cidade e do interior,
que só nos trouxe tanta vida e tanto amor,
colhidos no lutar no afã do dia-a-dia...
Viveu a transmitir sua sabedoria,
na qual não faltaram as pitadas de dor,
mas momentos também de jovem alegria,
em que desenvolveu seu talento de humor...
Foi Cora Coralina, a poetisa exemplar,
cuja existência de noventa e cinco anos,
quase um século de conhecimento audaz...
Seus versos vão viver por longo tempo, a dar
uma bênção sublime aos viventes humanos,
porque ela foi feliz, sempre pregando a paz…
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