A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
A lua enluara
a reza, a seresta, a ceia.
E os que ainda sonham
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Poema de
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE
Não deixa te levar pela vingança,
pois isto não é coisa de Cristão:
perdoa! Com amor, e sem tardança
vai lá, e abraça, e beija o teu Irmão!
Se um dia alguém te fizer qualquer mal,
não vira-lhe o rosto, imita a Jesus,
o grande perdoador que, no final,
perdoou os que lhe puseram na Cruz!
Se alguma ovelha encontra-se afastada,
procura-a, pois, pra Deus ela é preciosa;
encontra-a, e traze-a de volta, "puxada"
pelas cordas do amor..., esta "teimosa"!
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Soneto de
ANTÔNIO OLIVEIRA PENA
Volta Redonda/RJ
O Caminho
Dize a palavra que te encerre o sonho,
aquela que resuma o teu desejo;
evita aquela de pesar medonho,
aquela de lamento malfazejo.
Dize a palavra que te encerre o sonho
com a mesma intensidade do teu beijo!
Evita o murmurar insano, e põe o
teu pensamento a trabalhar, que vejo
que aquilo que dizemos é que é ouvido,
ainda que o façamos em segredo...
— Não há palavra sem repercussão!...
Na estrada em que o homem vai, tão comovido,
seja de sua pátria, ou do degredo,
antes, por ela, andou seu coração!
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Quadra de
ANTONIO ALEIXO
Vila Real de Santo António/Portugal, 1899 — 1949, Loulé/França
Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das suas promessas
ganhando o pão que tu comes.
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Poema de
DILMA DAMASCENO
Caicó/RN
A Menina de Caicó
Imagino as “madeixas do sertão”,
com tranças enfeitadas de bonina,
realçando a paisagem campesina,
- a confundir-se com a plantação -,
no decorrer da flórida estação!
… E nas águas do Itans azul-turqueza,
- ao sabor indelével da pureza -,
imagino “a menina de Caicó”,
- pintando sonhos e remando só -,
em sintonia com a natureza!
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Trova Popular
Menina dos olhos verdes,
dá-me água pra beber;
não é sede, não é nada,
é vontade de te ver.
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Soneto de
JANSKE NIEMANN SCHLENCKER
Curitiba/PR
Deixa que eu brinque
Deixa que eu brinque por aí, à toa;
as aves brincam, brinca a ventania...
Brincam as flores com a luz do dia
e a borboleta que por elas voa.
Deixa que eu brinque, ainda que me doa
ver escapar-se a límpida alegria
do mesmo olhar, cuja inocência via
em qualquer coisa alguma coisa boa.
Deixa que eu brinque como se, inocente,
eu não soubesse que viver é queixa,
é choro apenas... E eu só peço: deixa...
Deixa que eu brinque levianamente
como se tudo - a nossa vida inteira -
jamais passasse de uma brincadeira...
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Poema de
FLORBELA ESPANCA
(Florbela d'Alma da Conceição Espanca)
Vila Viçosa/Portugal, 1894 — 1930, Matosinhos/Portugal
Poetas
Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
Andam perdidas na vida,
Feitos as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma para sentir
A dos poetas também!
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Soneto de
VINÍCIUS DE MORAES
(Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes)
Rio de Janeiro/RJ (1913 – 1980)
Soneto do Maior Amor
Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer — e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.
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Poema de
HÉLDER PROENÇA
Bolama/Guiné Bissau, 1956 – 2009, Bissau/Guiné Bissau
Não posso adiar a palavra
Quando te propus
um amanhecer diferente
a terra ainda fervia em lavas
e os homens ainda eram bestas ferozes
Quando te propus
a conquista do futuro
vazias eram as mãos
negras como breu o silêncio da resposta
Quando te propus
o acumular de forças
o sangue nômade e igual
coagulava em todos os cárceres
em toda a terra
e em todos os homens
Quando te propus
um amanhecer diferente, amor
a eternidade voraz das nossas dores
era igual a «Deus Pai todo poderoso criador dos céus e da terra»
Quando te propus
olhos secos, pés na terra, e convicção firme
surdos eram os céus e a terra
receptivos as balas e punhais
as amaldiçoavam cada existência nossa
Quando te propus
abraçar a história, amor
tantas foram as esperanças comidas
insondável a fé forjada
no extenso breu de canto e morte
Foi assim que te propus
no circuito de lágrimas e fogo, Povo meu
o hastear eterno do nosso sangue
para um amanhecer diferente!
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Soneto de
ALMA WELT
Novo Hamburgo/RS, 1972 – 2007, Rosário do Sul/RS
A Câmara Escura
Há momentos em que nos despedaçamos
Contra as arestas do nosso próprio ser,
Então a duras penas nós juntamos
Nossos cacos num mosaico de viver.
Na imagem interior restam fissuras
Como fossem cicatrizes das batalhas
Que travamos não com outras criaturas
Mas conosco mesmo e nossas falhas.
“Mas então, onde é que entra o mundo
Nessa tua síntese autofágica,
Se consideras só teu ser profundo?”
Na câmara da alma é o contrário:
O mundo é o ser na caixa mágica
Como reflexo invertido num armário...
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Poema de
MARCIANO LOPES E SILVA
Porto Alegre/RS (1965 – 2013) Maringá/PR
Na Correnteza do Tempo
Negro impasse:
erguer ruínas
ou contorná-las
em abismo?
Perplexo, vivo à deriva:
caçador de cacos
na correnteza do tempo.
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Indriso de
ISIDRO ITURAT
Villanueva e La Geltrú/Espanha
Cantiga do Viajante sem Sono
Não podem dormir os meus olhos,
não podem dormir,
porque a serrana diz
que quisera ver-me amanhã.
Não podem dormir os meus olhos,
não podem dormir,
porque a verei no prado,
porque a verei amanhã.
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Hino de
Manacapuru/ AM
Salve, Manacapuru
Taba altiva do rio Solimões,
Salve, Manacapuru
Tu plasmaste nossos corações
Salve, Manacapuru
Terra fértil de um povo viril,
Os teus filhos se orgulham de ti,
E engrandecem a todo o Brasil
Eme a má, ene a na, tens maná
Ce a cá, manacá tens tu
Pê u pu, erre uru, formado está
O teu nome Manacapuru
Salve, Manacapuru
Tens nas águas piscosas, fartura,
Salve, Manacapuru
Teus rebanhos a carne assegura
Salve, Manacapuru
Tens, minério, castanha e madeira
A instrução de moral e civismo
De há muito é a tua Bandeira.
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Poema de
HAROLDO DE BRITTO GUIMARÃES
Goiatuba/GO (1928 – 1998) Goiânia/GO
O Disco
Dispa-se de toda angustia
de toda a paixão, de todo o ódio:
- Olhe o disco rodando.
Sinta-o não porque ele traga
Chopin, - um, samba, moda de viola, um valsa,
um tango para os desesperados desta noite.
Sinta todo o encantamento da infância
num disco a girar! coisa estranha é, voz humana
brotando de pedra escura do limbo
que gravou a natureza selvagem da Noite.
Sinta a sua infância ou a sua velhice
observe um disco a girar:
girando no tempo, na face das águas ...
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França
Os peixes e o pastor que toca flauta
Tirso, jovem amante pegureiro,
Que aos sons da flauta o canto acrescentava,
Tocava um dia à borda de um ribeiro
Que com as linfas os prados refrescava.
Tocava Tirso; e a sedutora Aninha
Pescava ao mesmo tempo;
Mas — fatal contratempo! —
Nem um só peixe lhe acudia à linha!
O pastor, que com seu mavioso canto
Atraía inumanas,
Aos tais das barbatanas
Desta sorte cantou: «Deixai o encanto
Da náiade que amais; d’outra mais bela
Não temais a prisão:
Cruel pode ser ela
Com os humanos — com os peixes, não!
Cruel fosse!... a morrer quem não se afoita
Àquelas mãos galantes?»
Os tais peixinhos — moita!...
Não acodem à linha como dantes.
Tirso vê que se cansa
Em vão cantar; na água a rede lança;
E aos pés da pastorinha
Depõe o peixe que fugira à linha.
Reis, que em razões sutis fazeis estudo
Para convencer a estranhos,
Malograis vossos empenhos;
Lançai as redes. O poder faz tudo.
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