domingo, 7 de dezembro de 2025

Asas da Poesia * 140 *



Haicai de
A. A. DE ASSIS 
Maringá/PR

Sopra o vento as pétalas. 
Narinas correndo atrás 
do perfume delas.
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Poema de
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR

Carnaval 

São ricas as fantasias
dos meses de fevereiro.
Carnavais - que ironias!
- motivam o ano inteiro.

Arlequim faz palhaçadas
aos olhos das colombinas.
Dançam drogas nas calçadas
— oh, vis armas assassinas!

Tantos pierrôs delinquentes
nestes tempos tão carnais!
Assanham impertinentes
as colombinas sensuais.

Consequência indesejada
por imprudente cegueira,
a aids vem por um nada
e condena a vida inteira.

São lindas alegorias
que se vê passar ali.
Ficam, porém, agonias
no chão da Sapucaí.

Carnaval! Quanta ilusão
de um bloco de tanta asneira!
Eis o vazio coração
numa vida feiticeira!
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Poema de
NÉLIO CHIMENTO
Rio de Janeiro/RJ

Quem ampara os animais
É gente que faz
O mundo parecer melhor
Gente que não para na dó
Faz do amor, verbo de ação
Tira as amarras do coração 
Diante de um corpo desnutrido
Com um olhar perdido
A suplicar por atenção
Um pedaço de pão
Um gesto de carinho
Apenas um tempinho
Longe do desamparo e da solidão
Quem ama, protege, acode
Não se sacode
Desvia e vai embora
Sem demora
Cuidar do que mais importa
Sem entreabrir uma porta
Para a visita da compaixão
Com todos os seres da criação
Quem respeita os animais
Não estará só jamais
Tem a alma bafejada pelos canais
Que abençoam a boa vontade
Dos que deixam rastos de caridade
Por onde passam nesse mundão
Gente que anda pela rua
Iluminada pelo sol ou pela lua
A receber o balsamo merecido
Na pureza de um olhar agradecido
De um cãozinho amparado e protegido

Quem ama de verdade os animais
Acorda feliz e dorme na paz
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Quadras de
ANTÓNIO FLORÊNCIO FERREIRA
Lisboa/ Portugal, 1848 – 1914

XVI

Meu Amor, estás dormindo,
Não te quero despertar...
Há de ser devagarinho
Que trovas te vou soltar.

De musgo, lírios e rosas
Uma cama irei fazer;
De jasmins e de saudades
O travesseiro há de ser.

Quero que vejas nos sonhos,
Lindos, belos, perfumados,
Os meus olhos, da vigília,
Tristes, lânguidos, magoados...
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Haicai de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

Aromas florais
libertam a poesia—
sinto a primavera.
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Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

Para o amor 
Não desbotar,
Palavras diárias de carinho 
São como lápis de cor
Que dão vida
Aos espaços vazios.
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Trova Popular

Pobre louco apaixonado,
ai de mim! Que não mais via,
que seu amor, pouco a pouco,
esfriava dia a dia.
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Poema de
DIVANI MEDEIROS
Natal/RN

Setembro 

Primavera, mês do florescer, 
Flores desabrocham no alvorecer. 
Muitas adormecem com a chegada da lua, 
Outras acordam para enfeitar a rua. 
Despertam  sorrindo com o sol aquecendo 
Ornamentam jardins e residências.
Com cores variadas,  deixam pétalas nas calçadas, 
Adornam os dias e causam admiração. 
Inspiram  contos,  cordéis, músicas e poesias, 
Presenteando a diversidade  todos os dias...
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Poema de
ATÍLIO ANDRADE
Curitiba/PR

O viaduto 

O viaduto serve de ponte
Para transpor, atravessar 
Para o outro lado 
Mas, também  há  um monte
Embaixo dele a morar
Sem nenhum cuidado
Quando a noite chega
A disputa  acelera
Há  cochichos e gritos da galera
Tornando  a vida um pega
Enquanto  ao redor 
Ninguém  nada vê 
Não  sente a dor
Que sente  você
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Poema de
SONIA CARDOSO
Curitiba/PR

Como já não durmo 
Também não sonho 
O que me inspira 
É o respirar 
Dos pirilampos, em 
Seu efêmero vórtice 
Na espiral de luz.
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Poema de
DANIEL RODAS
Campina Grande/PB

De relva e folhas

acordo cada célula 
de espanto

quando me ponho 
sozinho
na grama sob as estrelas

e meu olhar se
funde
difuso junto aos galhos

como o fluir da
vida
sobre a ferida das horas
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Cantiga de Infantil de Roda

Oh! Sindô le-lê

Oh! Sindô lê-lê
Oh! Sindô lá-lá
Oh! Sindô lê-lê
Não sou eu que caio lá

Oh! Maria quer ser freira.
Não, senhor, quero casar;
Tenho o dia pro trabalho
E a noite pra descansar

Oh! Sindô lê-lê
Oh! Sindô lá-lá
Oh! Sindô lê-lê
Não sou eu que caio lá

Menina da saia curta,
Do cabelo de retrós;
Bota a chaleira no fogo,
Vai fazer café pra nós.

Oh! Sindô lê-lê
Oh! Sindô lá-lá
Oh! Sindô lê-lê
Não sou eu que caio lá

Menina da saia verde,
Não pise neste lameiro;
Não se importe, meu senhor,
Não custou o seu dinheiro.

Oh! Sindô lê-lê
Oh! Sindô lá-lá
Oh! Sindô lê-lê
Não sou eu que caio lá

Eu subi naquele morro,
De sapato de algodão;
O sapato pegou fogo
E eu voltei de pé no chão.

Oh! Sindô lê-lê
Oh! Sindô lá-lá
Oh! Sindô lê-lê
Não sou eu que caio lá
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Hino de 
Gramado/RS

No alto da Serra Gaúcha
Num verde planalto ondulado
Vislumbram-se em meio aos outeiros
O velho e benquisto “Gramado”.

Cantemos num brado festivo
Com calma de ardor juvenil
O amor que nos liga a “Gramado”
Parcela do vasto Brasil.

Descendo as alturas do centro
Por vales, peraus e escarpadas,
Dos homens do campo, as lavouras
Desdobram-se ao longo espalhadas.

Indústria, comércio e colônias,
Num único esforço aplicado,
Retratam o ardor progressista
Que anima o porvir de Gramado.

Riquezas da mãe natureza
Que Deus semeou nesta terra
Ofertam aos muitos turistas
Saúde nos ares da Serra.
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

Sacode as mágoas das vestes
Arranca os espinhos do peito
Nesse peito que se insufla rarefeito 
Desesperando por alento
Quando tudo parece desabar

És um viajante na estrada
Carregas nas costas a coragem
Dos que sabem trilhar seu caminho
Um guerreiro a iluminar
Os que em ti se sabem abraçar

Ama-te em sentimento primeiro
Sorri à imagem que de ti reflete
És capitão do teu destino
Esse é o maior tesouro
O segredo que terás que desvendar

Ama-te inteiro e em verdade 
Nada menos que isso
Não te conformes com a metade
Verás toda a força que em ti transportas
Guerreiro de luz predestinado a amar.
(do livro Na pele do sentir)
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

Os dois galos

Dois galos se meteram em peleja
A fim de se saber qual deles seja
O capataz de um bando de galinhas:
Unhadas e picadas tão daninhas
Levou um, que se deu por convencido,
E andava envergonhado e escondido.

O vencedor se encheu de tanta glória,
Que para fazer pública a vitória,
Pôs-se de alto, voou sobre umas casas;
Ali cantava, ali batia as asas.

Andando nestas danças e cantares,
Veio uma águia, levou-o pelos ares;
E saindo o que estava envergonhado,
Gozou do seu ofício descansado.

Quem contemplasse bem quão pouco dura
Neste mundo qualquer prosperidade,
Livre estava de inchar por vaidade
Com um leve sucesso de ventura.
O que tem a alegria por segura,
É doente, e o seu mal fatuidade;
Que ela passa com muita brevidade,
E vem logo a tristeza, e muito atura.

De mudanças o mundo está tão cheio.
Que hoje rio, amanhã estou sentindo
Uma grande desgraça que me veio:
Delira quem dos tristes anda rindo;
Que é absurdo gostar do mal alheio,
Quando o próprio a instantes está vindo.
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