Edgard, morador de um tranquilo condomínio em uma cidade do interior, levava uma vida pacata, sendo muito comunicativo com seus vizinhos.
Certa manhã, recebeu em seu WhatsApp uma mensagem que, mesmo sendo cordial, o intrigou profundamente. Era de Pegasus, que solicitava permissão para uma visita.
Concordou imediatamente e foi até o estacionamento aguardar o impressionante ser mitológico.
Após um longo abraço, Pegasus foi logo dizendo que iria conduzi-lo a uma aventura inimaginável, uma peripécia inesquecível.
Edgard aquiesceu, ligeiramente apreensivo com o que poderia advir, e disse:
– Espere, vou avisar Dona Zila, minha esposa.
Voltou com um casaco, orientação dela, para não “pegar friagem”.
– Antes de partirmos, gostaria de saber, por mera curiosidade, quem forneceu meu contato do WhatsApp para você?
– Edgard, um morador do seu condomínio, com quem você conversa diariamente sobre diversos assuntos: livros, astronomia, ecologia, plantas, política, esportes e muitos outros. Ele também me contou que você está escrevendo três livros, sendo que um deles, em especial, atraiu o interesse dos habitantes do Olimpo.
Prosseguiu:
– O “Dicionário da Mitologia”. Zeus até solicitou um exemplar para nossa biblioteca.
– Ah, meu alado amigo, assim que o livro estiver editado, enviarei para vocês.
Pegasus acomodou gentilmente Edgard em sua sela e partiram.
Sobrevoaram lindas regiões, incluindo um voo rasante sobre a cidade de Analândia, onde Edgard pôde matar a saudade de sua querida propriedade, com frondosas árvores frutíferas que plantara com as próprias mãos, motivo de grande orgulho.
Continuando o voo, Edgard percebeu que as imagens alteravam-se, revelando épocas passadas. Questionou Pegasus a respeito e foi informado de que realmente estavam voltando no tempo.
Edgard, como bom historiador, extasiou-se com o fato.
Algum tempo depois, sobrevoaram o que ele identificou ser uma feroz batalha entre guerreiros romanos e um povo bárbaro. Solicitou que Pegasus se aproximasse mais do conflito.
O cavalo, sorrindo, disse:
– Sim, meu caro amigo, isso faz parte da aventura que imaginei para você.
Pegasus colocou uma armadura para protegê-lo e deu-lhe um escudo e uma espada. Lembrou-o de que um homem moderno não conseguiria levantar aquela antiga espada, mas que, no momento da batalha, tudo mudaria e ela se tornaria leve.
Edgard respondeu:
– Confesso não ser dos melhores espadachins, mas já tive algumas aulas de Esgrima. Quando chegar a hora do entrevero, entre os guerreiros e a horda de bárbaros, lutarei bravamente, dentro das minhas forças.
Como não poderia descer no meio da batalha, Pegasus deixou Edgard na retaguarda do exército de bárbaros. Ele começou a desferir golpes e dizimar dezenas de inimigos. Esses, hoje, devem estar no inferno, chamando-o de covarde por atacá-los pelas costas.
– Paciência, não se pode agradar a todos, pensou Edgard.
Vencida a batalha, com apenas alguns arranhões, juntou--se aos guerreiros para bradar os gritos de vitória ao verem a horda bárbara em fuga.
Uma equipe médica cuidou dos ferimentos. Derramaram uma poção sobre os arranhões sofridos por Edgard, que ardeu tanto que o fez sentir saudade dos tempos em que sua mãe passava Merthiolate em seus machucados.
Já estavam comemorando, comendo carne de javali assado, bebendo vinho e outros destilados, quando viram a sombra de Pegasus sobrevoando o local.
Ele pousou em frente aos surpresos soldados. Edgard despediu-se rapidamente, montou e voaram, ouvindo os gritos que os chamavam de “bruxos”.
De volta ao condomínio, despediam-se quando ouviram a voz de Dona Zila:
– Edgard, venha para dentro colocar um Band-aid nesse arranhão. Depois vou costurar sua camisa rasgada.
– Até breve, meu amigo alado. Acho mais prudente eu entrar. Nos veremos na próxima aventura.
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Este conto é uma homenagem ao casal Zila e Edgard, que se mudaram para outro local, deixando em nós muita saudade.
Muito obrigado pela partilha, Zila Bastos e Edgard Alves Bastos.
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ARTHUR THOMAZ é natural de Campinas/SP. Segundo Tenente da Reserva do Exército Brasileiro e médico anestesista, aposentado. Trovador e escritor, publicou os livros: “Rimando Ilusões”, “Leves Contos ao Léu – Volume I, “Leves Contos ao Léu Mirabolantes – Volume II”, “Leves Contos ao Léu – Imponderáveis”, “Leves Aventuras ao Léu: O Mistério da Princesa dos Rios”, “Leves Contos ao Léu – Insondáveis”, “Rimando Sonhos” e “Leves Romances ao Léu: Pedro Centauro”.
Fontes:
Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: Inimagináveis. Santos/SP: Bueno Ed., 2025. Livro enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

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