ARI SANTOS CAMPOS
Balneário Camboriú/ SC
Hoje o sol nasceu tão lindo,
tão lindo, e eu me confundo:
- Será que Deus está rindo
ou rindo está o nosso mundo?
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Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Em cada rosa o espinho que encontrei
Manuel Cardoso in "Antologia Poética, Tertúlia Hélice, 10." Aniversário", p. 53
Em cada rosa o espinho que encontrei
É renúncia a que a vida me obrigou
Pão da alma que às vezes me faltou
Trono vazio onde eu quis ser um rei.
Maldigo esse contrato que assinei
Em que a fortuna tanto me lesou
E não cumpriu comigo o que acordou
Em troca do futuro que eu lhe dei.
Deponho contra ela em tanta queixa
Que eu não entendo por que não me deixa
Entregue a mim, perdido no caminho.
Prefiro a viuvez da fresca fonte
Ou sozinho viver num alto monte
E a gemer, sempre ao vento, ser moinho.
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Trova de
JESSÉ FERNANDES DO NASCIMENTO
Angra dos Reis/ RJ
Bola no chão, pés descalços,
o futebol contagia;
menino pobre... percalços...
sonho de ser craque um dia.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Doce magenta & textura
Entre as páginas do livro -
A poesia entreaberta
Recebe o bailar da Luz e sombra -
Diáfana por do sol...
Cores, recantos, da Holanda,
Das telas de Monet,
Saudades dos moinhos -
Ninhos de ventos
Pétalas dobradas...
Doce Magenta
Em silêncio, abraçando
As palavras, os versos,
E as anotações ao pé da página -
Inclinadas pétalas
De origem tão distante
Atemporais tintas -
Esmaecidas tulipas...
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Trova de
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Miguel Couto/ RJ
Mesmo no aperto, o sobrado
do velho não foi vendido.
Pelo prédio estar tombado
é que o velho está "caído"!
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Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR
De repente
De repente
Um quê de fada,
De anjo, de estrela,
Brilhou diferente entre os cachos de flores.
Borboletas...
Pequenas e ligeiras
Almas com asas,
Tingidas com pó de arco-íris
Rasgam o vento tão leve
Tal como o sono inocente.
Sonha em mim,
Coração em pétalas
No suave pousar das borboletas.
Em silêncio falam aos meus olhos
De um mundo de paz,
Amor e poesia.
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Trova de
BRUNO P. TORRES
Niterói/RJ
Não tem mais papo no lar,
ninguém mais nota ninguém.
– Cada qual num celular,
teclando sei lá pra quem...
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Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
A avenida das lágrimas
(A um Poeta morto)
Quando a primeira vez a harmonia secreta
De uma lira acordou, gemendo, a terra inteira,
- Dentro do coração do primeiro poeta
Desabrochou a flor da lágrima primeira.
E o poeta sentiu os olhos rasos de água;
Subiu-lhe à boca, ansioso, o primeiro queixume:
Tinha nascido a flor da Paixão e da Mágoa,
Que possui, como a rosa, espinhos e perfume.
E na terra, por onde o sonhador passava,
Ia a roxa corola espalhando as sementes:
De modo que, a brilhar, pelo solo ficava
Uma vegetação de lágrimas ardentes.
Foi assim que se fez a Via Dolorosa,
A avenida ensombrada e triste da Saudade,
Onde se arrasta, à noite, a procissão chorosa
Dos órgãos do carinho e da felicidade.
Recalcando no peito os gritos e os soluços,
Tu conheceste bem essa longa avenida,
- Tu que, chorando em vão, te esfalfaste, de bruços,
Para, infeliz, galgar o Calvário da Vida.
Teu pé também deixou um sinal neste solo;
Também por este solo arrastaste o teu manto...
E, ó Musa, a harpa infeliz que sustinhas ao colo,
Passou para outras mãos, molhou-se de outro pranto.
Mas tua alma ficou, livre da desventura,
Docemente sonhando, às delícias da lua:
Entre as flores, agora, uma outra flor fulgura,
Guardando na corola uma lembrança tua...
O aroma dessa flor, que o teu martírio encerra,
Se imortalizará, pelas almas disperso:
- Porque purificou a torpeza da terra
Quem deixou sobre a terra uma lágrima e um verso.
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN
Fiz a “pergunta ao espelho”
que para não me ofender:
disfarçou, ficou vermelho
e não quis me responder!
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Poema de
JOSÉ FARIA NUNES
Caçu/GO
O sonho de um povo
Um dia um povo sonhou com a liberdade
e esse povo acreditou no sonho e lutou por ele.
Houve até quem por ele morresse.
O sonho deste povo foi objeto do sonho
de tantos outros.
Mas o sonho deste povo foi um sonho
diferente dos outros sonhos.
Enquanto o sonho de além-mar
era um sonho de ambição e dominação
o sonho deste povo era de libertação.
O sonho deste povo era sonho de amor à terra;
terra já irrigada pelo suor
até de sangue de filhos deste povo.
O sonho deste povo foi um sonho de amor
e no ato de amar até parceiros de além-mar
a este sonho vieram se somar.
E no somar dos sonhos eis que ecoou o grito
de independência deste povo. E aquele grito
do sonho deste povo ainda ecoa no ar.
Ecoa aos ouvidos de geração a geração
que ainda insiste em sonhar.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Lá na casa da Maria
é muito estranha a porteira ...
Não faz barulho de dia,
bate e range a noite inteira …
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Poema de
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS
Quando Murchar a Primavera
Quando murcharem as flores dos caminhos
e o peito calar-me indiferente
como a serena mudez dos passarinhos
em noite senil e permanente…
Órfão de afetos, insaciado de carinhos
caminharei tristonho de dolente,
buscando outras sensações em novos ninhos
como a cura ao meu amor fervente.
E nada há de curar a viva chaga
que deixaste a sangrar em meu desejo
ao provar a doçura do teu beijo
naquela tardinha rubra e vaga
e onde estiveres chorarás baixinho
a mágoa de deixar-me tão sozinho.
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Trova de
CAROLINA RAMOS
Santos/ SP
Ser livre é também saber
que a liberdade alcançada
faz parte do próprio ser
e não se troca por nada!
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Hino de
SOBRADINHO/BA
Dos reclames do progresso,
à fundação da usina
quanto sonho convergia!
No cráton do São Francisco
Fez-se, pras águas, um aprisco:
Sobradinho assim nascia!
Sobre o espelho do lago
o gavião, a planar,
é testemunha ocular
da base de tua história;
tal qual as tuas xerófilas
enfrentando as intempéries,
os teus homens e mulheres
celebram cada vitória!
Pode vir sem cerimônia,
porque Sobradinho está
com seus braços sempre abertos
a quem vem lhe visitar!
Na depressão sertaneja,
onde te ergues, altaneira,
és amostra do milagre
da pura fé brasileira;
no cenário nordestino
vais cumprindo teu destino
de cidade alvissareira!
Despontando para o mundo
se espargindo em poesia,
és orgulho da Bahia.
Sobradinho, doce lar,
até mesmo o "Velho Chico"
modificando seu traço,
descansa no teu regaço,
antes de seguir pro mar!
Quem parte de Sobradinho
mesmo que pela vontade,
não demora, está voltando,
ferido pela saudade!
Entre tuas cordilheiras
recheados de cristais
surgem inscrições rupestres
com indivisíveis sinais;
no teu solo as avoantes
as musas itinerantes
vêm construir seus pombais!
Pelas asas dos alísios
teus mistérios, tuas lendas,
ficaram para as calendas,
como moquim nem sonhava...
Ó Juacema! O Opará
refugou ante barreira,
refreando a corredeira
onde você se banhava!
Do refluxo de teus filhos,
Sobradinho, vem teus brios
pelas águas generosas
desse caudaloso rio!...
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Trova de
AUGUSTO GASPARINI FILHO
Salto/SP
A vida solta e bem leve,
nas asas do pensamento...
Frases de amor e... até breve,
perdidas na voz do vento!
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Poema de
RAIMUNDO NONATO DA SILVA
Sousa/PB
Os Passarinhos
Quem engaiola um canário
Um Graúna ou um vem-vem
Dê liberdade pro pássaro
Olhe escute e veja bem
Não faça do pássaro um réu
Ele não ofende ninguém
Eu tenho pena demais
Quando vejo um passarinho
No viveiro ou na gaiola
Sem liberdade e sozinho
Deus lhe fez para voar
Pra cantar e ter um ninho
A lua clareia a noite
De dia o sal é aceso
Mas quem prende um passarinho
Na consciência tem peso
Quem Deus fez para ser livre
Não era para estar preso
O passarinho parece
Um cantador de viola
O pássaro enfeita a floresta
Com a sua cantarola
Deus não gosta de quem prende
O pássaro numa gaiola
Se lembre que a floresta
Tem o ar mais belo e puro
Quem polui a natureza
Espere que no futuro
Deus vai cobrar sua conta
Com correção e com juro
Se a mata fosse minha
O rio, o lago e a fonte.
Talvez existisse hoje
Verde colorindo o monte
E todo mundo sonhava
Com um bonito horizonte
Se a mata fosse minha
Eu zelava até de mais
Mandava varrer a cama
Onde dorme os animais
Porque os brutos precisam
Dormir na cama da paz.
Se a mata fosse minha
Eu mandava alguém cercar
Com uma grande muralha
E mandava eletrificar
As paredes pra dar choque
Em quem quer lhe devastar
Não mate um sabiá
E nem outro passarinho
O cantador da floresta
Só quer amor e carinho
Não faz o mal pra ninguém
Mas alguém destrói seu ninho
Se a mata fosse minha
Lá tinha alegria e festa
Os animais tinham paz
Pássaro fazia seresta
E o homem sem coração
Não devastava a floresta
Se a mata fosse minha
E se eu mandasse nela
Se alguém pegasse um machado
Pra cortar uma árvore bela
Eu cortava os pés de quem
Quer cortar a raiz dela
Se a mata fosse minha
Não seria devastada
Ninguém destruía as árvores
Não existia queimada
Como a mata não é minha
Eu não posso fazer nada
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Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP
Na minha fé hoje intensa
repasso o tempo que avança.
Foi recompondo essa crença
que ainda tenho esperança.
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