Texto construído tendo por base a trova da Magnífica Trovadora Therezinha Dieguez Brisolla (São Paulo/SP)
Se vejo o mundo às escuras,
embarco em meu sonho...e assim,
subo a escada e, nas alturas,
acendo um sol para mim!
Em uma manhã nublada, na pequena cidade de Luzemar, onde o céu parecia sempre um pouco mais cinza do que o desejado, um homem chamado Vicente caminhava pelas ruas, refletindo sobre a vida. Ele sempre fora um sonhador, alguém que via o mundo através de uma lente cheia de cores, mesmo quando tudo ao seu redor parecia desbotado. Vicente acreditava que, por trás das nuvens, havia sempre um sol esperando para brilhar.
Aquela manhã, como muitas outras, começou com uma sensação de opressão no peito. O dia estava triste, e os habitantes da cidade pareciam carregar um peso invisível. As crianças brincavam, mas suas risadas não tinham o mesmo brilho de antes. Os adultos passavam apressados, os rostos fechados e os olhos perdidos em suas preocupações.
Vicente, porém, tinha um talento especial: ele conseguia transformar a escuridão em luz. E foi assim que, ao passar por uma escada que levava ao parque da cidade, decidiu que era hora de acender seu próprio sol.
Ele subiu os degraus com a determinação de quem sabe que há algo maior à sua espera. A escada, antiga e cheia de histórias, parecia resistir ao tempo. Cada passo era como uma pequena vitória contra a melancolia que o cercava.
Chegando ao topo, Vicente olhou ao redor: o parque, mesmo sob o céu nublado, tinha uma beleza particular. As árvores dançavam suavemente ao vento e as flores, apesar da falta de sol, exalavam um perfume doce.
Vicente respirou fundo e fechou os olhos. Ele se lembrou da trova que costumava de sua mãe: “Se vejo o mundo às escuras, embarco em meu sonho... e assim, subo a escada e, nas alturas, acendo um sol para mim!” Essas palavras ressoaram em sua mente, como um mantra que o encorajava a buscar a luz dentro de si.
Decidido a espalhar essa luz, Vicente começou a cantar. A princípio, sua voz era suave, quase como um sussurro. Mas, à medida que se sentia mais à vontade, sua canção se transformou em um hino de alegria.
Ele cantava sobre sonhos, sobre a beleza do mundo e sobre a esperança que sempre renasce, mesmo nas horas mais sombrias. A melodia flutuava pelo ar, como uma brisa leve, e aos poucos, começou a atrair a atenção dos passantes.
As pessoas pararam e começaram a olhar. Um a um, foram se juntando a Vicente. Algumas crianças, curiosas, se aproximaram e começaram a dançar. Os adultos, inicialmente hesitantes, não demoraram a se deixar levar pela música. A atmosfera pesada que envolvia Luzemar começou a dissipar-se. Os rostos, antes fechados, foram se iluminando, e os olhos ganharam um brilho que há muito não se via.
Vicente percebeu que havia acendido algo muito maior do que um simples sol. Ele havia reacendido a chama da comunidade. As pessoas começaram a compartilhar histórias, risadas e até mesmo suas preocupações. O parque, que antes parecia um lugar esquecido, transformou-se em um espaço de união.
Enquanto a tarde avançava, o céu nublado começou a se abrir. Raios de sol começaram a penetrar as nuvens, como se o próprio universo estivesse respondendo àquela explosão de alegria. Vicente, com um sorriso no rosto, olhou para cima e viu que, embora o mundo estivesse às escuras, havia sempre uma luz a ser encontrada, mesmo que fosse dentro de nós mesmos.
O dia que começou triste se transformou em uma celebração da vida. Vicente, com sua voz e seu sonho, acendeu um sol que não só iluminou seu coração, mas também trouxe calor e vida a todos ao seu redor. Naquele momento, ele percebeu que a verdadeira magia não estava em mudar o mundo, mas em inspirar outros a encontrar a luz que já existia dentro deles.
Ao final da tarde, enquanto o sol se punha no horizonte, Vicente desceu a escada com um novo propósito. Ele sabia que as nuvens poderiam voltar, que os dias sombrios fariam parte da vida. Mas, com a experiência daquela tarde, ele também aprendeu que, mesmo nas horas mais difíceis, sempre poderia subir a escada do sonho e acender um sol para si e para os outros.
E assim, entre risos e canções, Luzemar voltou a brilhar, não apenas com a luz do sol físico, mas com a luz da esperança e da união. Vicente, agora mais do que um sonhador, tornou-se um verdadeiro farol para sua comunidade, mostrando que, às vezes, tudo o que precisamos é de coragem para subir as escadas e acender nossos próprios sóis.
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* José Feldman nasceu na capital de São Paulo. Formado técnico de patologia clínica, não conseguiu concluir o curso superior de psicologia devido a situação financeira. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; trovador da UBT São Paulo e membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, Hermoclydes S. Franco, e outros. Casado com a escritora, poetisa e tradutora professora Alba Krishna mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, radicou-se definitivamente em Maringá/PR. Pertence a diversas academias de letras e de trovas, fundador da Confraria Brasileira de Letras e Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, com cerca de 20 mil publicações. Atualmente pertence à UBT Campo Mourão/PR. Publicou mais de 500 e-books. Em literatura, organizador de concursos de trovas, gestor cultural, poeta, escritor e trovador. Dezenas de premiações em trovas e poesias.
Fonte:s
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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