Em uma noite silenciosa e estrelada, uma biblioteca antiga repousava no coração da cidade, envolta em mistério e sabedoria. As prateleiras, repletas de volumes empoeirados, guardavam histórias que transcenderam o tempo. Enquanto o relógio soava a meia-noite, um fenômeno extraordinário começou a ocorrer.
Das páginas de um livro específico sobre escritores, três figuras icônicas começaram a emergir. Primeiro, Ernest Hemingway, de chapéu panamá e um olhar penetrante, apareceu com um copo de rum em uma mão. Logo depois, Jack London, robusto e cheio de energia, saiu do volume com um brilho nos olhos, seguido por Mark Twain, com seu característico paletó branco e um sorriso travesso.
Ernest Hemingway observou os dois escritores e, com um gesto de saudação, disse:
— Boa noite, amigos. Parece que a literatura nos trouxe a este lugar mágico.
Jack London, sempre entusiasmado, respondeu:
— É uma honra estar aqui. Acredito que estamos em uma biblioteca que guarda não apenas livros, mas também almas de escritores.
Mark Twain, com seu humor característico, completou:
— E que lugar melhor para um debate literário? Afinal, temos um velho marinheiro de Hemingway, um lobo do mar de London, e a sagacidade do Mississippi em mim.
Hemingway, percebendo a centelha de provocação no ar, sorriu e comentou:
— Falo de um velho que luta contra um mar indomável. “O Velho e o Mar” é a minha reflexão sobre a resistência humana. O que vocês acham?
London, cruzando os braços, respondeu:
— A luta é nobre, mas o que se pode aprender do velho? Ele é um símbolo, sem dúvida, mas a natureza é mais forte. Em “O Chamado Selvagem”, mostro que a sobrevivência não é apenas uma questão de resistência, mas de adaptação.
Twain, divertindo-se com a discussão, interveio:
— Ah, mas não podemos esquecer que o velho representa todos nós. Ele é o arquétipo do homem em busca de significado. A luta é interna e externa, uma dança com o destino!
Hemingway franziu a testa:
— Concordo, mas a simplicidade da história é o que a torna poderosa. O mar é uma metáfora da vida, e o velho é um lutador solitário. O que há de errado em ser um herói em sua própria narrativa?
London, com seu espírito indomável, argumentou:
— O heroísmo é importante, mas e os que não têm a mesma sorte? Em minhas histórias, os personagens enfrentam a brutalidade da vida, e isso é tão verdadeiro quanto a luta do velho. A natureza não se importa com a coragem, e isso me fascina.
Twain, sempre o mediador, observou:
— Ambos têm razão. A luta do velho é uma batalha pessoal, mas não podemos ignorar o contexto. Todos nós somos moldados pelo nosso ambiente — seja o mar revolto ou a floresta implacável.
Hemingway, agora mais relaxado, começou a entender a perspectiva de seus novos amigos. Ele disse:
— Então, talvez a beleza da literatura esteja em como interpretamos a luta. Cada um de nós traz suas experiências para a narrativa. O velho, o lobo, o rio… todos são símbolos de algo maior.
Os três escritores, então, sentaram-se em uma mesa de madeira antiga, cercados por pilhas de livros. A conversa fluiu livremente, e as diferenças começaram a se dissolver sob a luz suave da biblioteca.
Twain concluiu:
— O que importa é que cada história ecoa em nós de maneiras diferentes. O velho e o mar falam de perseverança, enquanto o lobo e a floresta falam de instinto. As duas narrativas são igualmente válidas.
London assentiu, admirando a profundidade do pensamento de Twain:
— Exato! E no final, somos todos parte da mesma narrativa humana, lutando contra nossos mares pessoais.
Hemingway sorriu, levantando seu copo em um brinde:
— À literatura, que nos une mesmo após a morte. Que possamos sempre encontrar força nas palavras.
À medida que a primeira luz da manhã filtrava-se através das janelas da biblioteca, Hemingway, London e Twain se acomodaram, prontos para dar prosseguimento à sua conversa. O ar estava carregado de uma mistura de reflexão e expectativa.
Mark Twain, com um sorriso brincalhão, lançou:
— Já que falamos sobre luta e resistência, que tal discutirmos o papel da ironia na literatura? É um elemento que permeia muitas das minhas histórias. O que vocês acham?
Ernest Hemingway, ligeiramente intrigado, respondeu:
— A ironia pode ser uma faca de dois gumes. Em minha obra, eu prefiro a sinceridade bruta. Há uma beleza na simplicidade, na verdade nua, que não precisa de adornos.
Jack London, animado, interveio:
— Mas a ironia é uma ferramenta poderosa! Ela revela a hipocrisia da sociedade e a complexidade do ser humano. Em “O Lobo do Mar”, a ironia da luta pela sobrevivência em um mundo tão cruel é palpável. É um reflexo da realidade.
Twain, acenando com a cabeça, concordou:
— Exato! A ironia nos permite rir das desgraças e nos faz refletir. É um espelho distorcido da vida que pode nos ensinar muito. Afinal, quem não ri de sua própria tragédia?
Hemingway ponderou sobre o que seus amigos estavam dizendo:
— Entendo o que vocês querem dizer. Mas não podemos esquecer que a ironia pode desviar o foco da luta real. Às vezes, o que precisamos é de uma narrativa direta, que inspire ação e coragem, como a jornada do velho.
London, com seu olhar penetrante, respondeu:
— Mas não é também uma forma de coragem enfrentar a realidade com ironia? Reconhecer as falhas do mundo e, ainda assim, seguir em frente? É uma forma de resistência em si.
Twain, agora mais sério, acrescentou:
— E a ironia permite que os leitores se conectem de uma maneira mais profunda. Eles veem a vida não apenas como um campo de batalha, mas como uma tapeçaria rica em nuances. Cada história é uma lição disfarçada.
Hemingway, refletindo sobre o que ouviu, finalmente disse:
— Então, talvez a ironia e a sinceridade não sejam opostas, mas complementares. Uma pode realçar a outra. Afinal, a vida é cheia de momentos em que rimos e choramos ao mesmo tempo.
London sorriu, satisfeito com a nova direção da conversa:
— Concordo! Cada um de nós traz suas próprias experiências à mesa, e isso enriquece nossas narrativas. A ironia é apenas uma das muitas formas de ver a luta humana.
Twain, com seu espírito provocador, finalizou:
— E no final, seja com ironia ou sinceridade, o que importa é que nossas histórias ressoem no coração das pessoas. Que elas inspirem, desafiem e, acima de tudo, façam refletir.
Os três escritores assentiram, sentindo a profundidade da conversa. A biblioteca, testemunha daquela troca rica em sabedoria, parecia vibrar com a energia criativa que emanava deles.
E assim, naquela biblioteca mágica, três titãs da literatura se uniram em um diálogo atemporal, celebrando a diversidade das narrativas e a beleza das lutas humanas.
Quando o sol começou a raiar, eles lentamente retornaram às páginas de seus livros, deixando para trás um eco de sabedoria que perduraria através das gerações.
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José Feldman nasceu na capital de São Paulo. Formado técnico de patologia clínica, não conseguiu concluir o curso superior de psicologia. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; trovador da UBT São Paulo e membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, Hermoclydes S. Franco, e outros. Casado com a escritora, poetisa e tradutora professora Alba Krishna mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, radicou-se definitivamente em Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores de universidades do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras e de trovas, fundador da Confraria Brasileira de Letras e Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, com cerca de 20 mil publicações. Atualmente assina seus escritos por Campo Mourão/PR. Publicou mais de 500 e-books. Em literatura, organizador de concursos de trovas, gestor cultural, poeta, escritor e trovador. Dezenas de premiações em trovas e poesias.
Fontes
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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