domingo, 29 de dezembro de 2024

José Feldman (A Soleira do Conhecimento)

Nota: A ideia deste texto fictício partiu de uma conversa com um amigo escritor, de Monteiro Lobato/SP, Paulo Vieira Pinheiro (Paulo Vinheiro), daí só foi dar asas à imaginação. 
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Era uma manhã tranquila no sítio de Paulo, um homem de setenta anos que, após uma vida inteira de trabalho duro, finalmente havia encontrado um pouco de paz. O sol começava a despontar no horizonte, pintando o céu com tons de laranja e rosa. Ele se espreguiçou, sentindo a brisa fresca que entrava pela janela do seu quarto. A casa, rodeada por árvores frutíferas e o canto dos pássaros, parecia um santuário.

Sempre fora um homem curioso. Desde jovem, tinha um amor insaciável pelo conhecimento. Passava horas na biblioteca, devorando livros sobre história, ciência e filosofia. Agora, em sua aposentadoria, ele se dedicava ao cultivo da terra e à leitura, mas sempre havia uma inquietação dentro dele, um desejo de descobrir mais sobre o mundo e talvez até sobre si mesmo.

Naquela manhã, enquanto preparava seu café, olhou pela janela dos fundos e viu algo que nunca havia notado antes: uma luz suave emanava de um canto do quintal, perto da velha árvore de figo. Intrigado, ele decidiu investigar. Calçou suas botas e saiu, atravessando o gramado coberto de orvalho.

Ao se aproximar da árvore, a luz se intensificou, e uma sensação estranha começou a envolver Paulo. Era como se a atmosfera estivesse vibrando, pulsando com energia. Ele se agachou para examinar melhor e, de repente, notou uma pequena porta na base da árvore, quase imperceptível. Era uma porta de madeira antiga, com entalhes que pareciam contar histórias de tempos passados.

Com o coração acelerado, sentiu que aquele momento era especial. Ele estendeu a mão e abriu a porta. Ao cruzar a soleira, foi envolvido por uma luz brilhante e, em um instante, se viu em um lugar completamente diferente.

O que antes era o seu quintal agora se transformara em uma floresta mágica, cheia de árvores altíssimas e plantas que nunca havia visto. O céu era de um azul profundo, e nuvens flutuavam com formas curiosas. Sons melodiosos preenchiam o ar, vindos de criaturas que pareciam mais lendárias do que reais.

Paulo ficou atordoado, mas não sentiu medo. Ao contrário, sentiu uma onda de curiosidade percorrendo seu corpo. Ele começou a andar, admirando a beleza ao seu redor. As árvores sussurravam segredos, e o vento parecia guiá-lo. A cada passo, ele se sentia mais conectado a esse novo mundo.

Depois de caminhar por um tempo, encontrou um pequeno grupo de seres que pareciam humanos, mas com características etéreas. Seus olhos brilhavam com sabedoria, e suas vozes eram suaves como a brisa. Eles se apresentaram como os Sábios da Floresta, guardiões do conhecimento e da harmonia.

— Você veio em busca de algo, não é verdade? — perguntou um deles, com um sorriso gentil.

Paulo assentiu, sentindo-se á vontade. Ele explicou seu desejo de aprender, de entender mais sobre a vida e sobre si mesmo. Os Sábios trocaram olhares significativos e, em seguida, começaram a compartilhar com ele os segredos da natureza, da história do mundo e da essência do ser humano.

Os dias passaram como horas, e Paulo mergulhou em um universo de aprendizado. Ele aprendeu sobre as plantas que curam, sobre os ciclos da vida e da morte, e sobre a importância da conexão entre todos os seres. Os Sábios o ensinaram que o conhecimento não é apenas o que se lê em livros, mas também o que se vive, o que se sente.

Uma tarde, enquanto descansavam sob uma árvore centenária, um dos Sábios disse a Paulo:

— O conhecimento é uma jornada, não um destino. Cada experiência, cada amizade, cada dor, é uma peça do quebra-cabeça que compõe quem somos.

Paulo ouviu com atenção. Aquela frase ressoou dentro dele, como um eco de verdades que sempre soubera, mas nunca tivera a coragem de aceitar plenamente.

Após o que pareceu uma eternidade, percebeu que era hora de voltar. Ele havia adquirido sabedoria, mas também sentia saudade de sua vida no sítio, das pequenas coisas que o faziam feliz. 

Os Sábios o acompanharam até a porta da árvore.

— Lembre-se, Paulo — disse uma sábia com olhos brilhantes —, você pode levar o conhecimento consigo. Mas nunca se esqueça de que a verdadeira sabedoria é vivida no dia a dia. Não tema as perguntas, pois elas são o caminho para novas descobertas.

Com um último olhar para aquele mundo mágico, Paulo atravessou a porta e retornou ao seu quintal. O sol ainda brilhava, mas algo havia mudado dentro dele. Ele olhou ao redor, sentindo a familiaridade do lugar, mas agora com uma nova perspectiva.

Nos dias que se seguiram, começou a aplicar o que aprendera. Ele passou a observar mais a natureza ao seu redor, a cuidar das plantas com um carinho renovado. Suas conversas com vizinhos e amigos tornaram-se mais significativas, e ele se interessou em compartilhar suas experiências.

Também começou a escrever um diário, registrando não apenas suas descobertas, mas as reflexões que surgiam de cada dia. Ele percebeu que o conhecimento não era algo que se acumulava em livros, mas uma vivência que se compartilhava.

Aquele homem de setenta anos, que um dia se sentiu perdido em meio às rotinas do dia a dia, agora caminhava com um brilho novo nos olhos. A soleira da árvore, que o levara a uma dimensão desconhecida, também o guiara a uma nova compreensão de si mesmo e do mundo.

Paulo sabia que, embora a vida fosse finita, a busca pelo conhecimento e pela conexão com o outro era eterna. E assim, ele viveu seus dias com a alma leve, coração aberto e mente curiosa, sempre pronto para aprender mais.
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José Feldman nasceu na capital de São Paulo. Formado técnico de patologia clínica, não conseguiu concluir o curso superior de psicologia. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; trovador da UBT São Paulo e membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, Hermoclydes S. Franco, e outros. Casado com a escritora, poetisa e tradutora professora Alba Krishna mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, radicou-se definitivamente em Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores de universidades do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras e de trovas, fundador da Confraria Brasileira de Letras e Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, com cerca de 20 mil publicações. Atualmente assina seus escritos por Campo Mourão/PR. Publicou mais de 500 e-books. Em literatura, organizador de concursos de trovas, gestor cultural, poeta, escritor e trovador. Dezenas de premiações em trovas e poesias.

Fontes 
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

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