Ah, as salas de espera! Esses pequenos microcosmos onde a paciência é testada e as conversas são tão variadas quanto os tipos de revistas deixadas à disposição. Entrar em uma sala de espera é como abrir um livro de contos, onde cada personagem é uma história esperando para ser contada.
Imagine a cena: você entra, e logo é recebido pelo cheiro característico de desinfetante misturado com café amargo. As cadeiras, dispostas em fileiras, parecem mais um jogo de Tetris mal resolvido. Algumas estão ocupadas por pessoas que, claramente, têm mais histórias do que você pode imaginar. A primeira delas é a senhora de cabelos brancos que traz em sua bolsa tudo o que poderia ser necessário em uma emergência: um lanche, uma garrafinha de água, e, por que não, um livro de receitas! Ela envia um olhar curioso para você, e você se pergunta se deve acenar ou simplesmente focar na sua revista de moda de 1998, que está mais desatualizada que a previsão do tempo para o próximo mês.
À sua direita, um homem de terno, que poderia facilmente ser confundido com um agente secreto, está nervosamente digitando em seu celular. Não se sabe se ele está respondendo a e-mails importantes ou se está apenas tentando achar um meme que explique sua situação atual. O que realmente faz você rir é que, em algum momento, ele ergue os olhos e dá uma rápida olhada ao redor, como se estivesse verificando se alguém o está espionando. O que ele não percebe é que todos ali já se tornaram especialistas em decifrar expressões faciais enquanto aguardam sua vez.
No canto, um grupo de crianças se contorcendo em suas cadeiras, cada uma mostrando sua habilidade inata de fazer barulhos estranhos. Enquanto uma delas tenta imitar o som de um motor de carro, outra começa a cantarolar uma música que você não consegue identificar, mas que, de alguma forma, se encaixa perfeitamente na trilha sonora daquela sala. Os pais, com a expressão de quem está prestes a ganhar o prêmio de "Paciência do Ano", tentam controlar a situação, mas a batalha parece perdida. Afinal, quem pode competir com a energia contagiante de uma criança?
Em um canto mais afastado, um homem idoso está sentado em silêncio, observando tudo. Ele parece um filósofo à espera de uma epifania. Quando você olha para ele, ele ergue uma sobrancelha, como se dissesse: "Essa é a vida, meu jovem. Aceite-a". E você se pergunta se ele está ali esperando uma consulta médica ou se apenas decidiu fazer uma pausa na rotina para refletir sobre o sentido da vida — ou sobre o que vai almoçar depois.
E como esquecer das revistas? Ah, as revistas! Revistas de beleza, saúde, viagens e, claro, aquelas que têm pelo menos cinco anos de defasagem. Você se pega folheando uma que ensina como fazer um penteado da moda, enquanto a única coisa que você consegue pensar é que seu cabelo está preso em um coque improvisado e que você não tem a menor ideia do que está fazendo. É um exercício de autoafirmação: "Sim, eu poderia ser a próxima influenciadora digital, se não fosse por esta sala de espera e por este coque desastroso".
E, claro, há sempre o clássico "sistema de chamadas" que, em algum momento, decide brincar de esconde-esconde. O nome é chamado, mas a pessoa está tão absorta em seus pensamentos ou na tela do celular que, por um breve momento, o mundo para. Você observa o agente secreto, a senhora com a bolsa mágica e as crianças, todos em um estado de suspense coletivo, torcendo para que o chamado não seja seu. Quando finalmente a pessoa se levanta, todos exalam um suspiro coletivo, como se tivessem acabado de assistir a um clímax emocionante de um filme.
A sala de espera, com suas peculiaridades, é um reflexo da vida: cheia de personagens, histórias e momentos de espera que, à primeira vista, podem parecer comuns, mas que, quando observados de perto, se revelam um espetáculo digno de ser apreciado.
E assim, enquanto o tempo se arrasta e o relógio parece ter decidido entrar em modo de férias, você percebe que, apesar da ansiedade da espera, há sempre algo surpreendente ao seu redor.
A sala de espera é, afinal, um lugar onde o cotidiano se transforma em um espetáculo, e o comportamento das pessoas estão sempre à espreita, esperando para serem descobertas.
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* José Feldman nasceu na capital de São Paulo. Foi professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos, sendo enxadrista de 1a. Categoria; como diretor cultural organizou apresentações musicais; trovador da UBT São Paulo e membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Paulo Leminski, Ademar Macedo, Hermoclydes S. Franco, e outros. Casado com a escritora, poetisa e tradutora professora Alba Krishna mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, radicou-se definitivamente em Maringá/PR. Pertence a diversas academias de letras e de trovas, fundador da Confraria Brasileira de Letras, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, com cerca de 20 mil publicações. Atualmente pertence a Campo Mourão/PR. Publicou mais de 500 e-books. Em literatura, organizador de concursos de trovas, gestor cultural, poeta, escritor e trovador. Diversas premiações em trovas e poesias.
Fontes: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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