sábado, 8 de outubro de 2011

Wagner Marques Lopes (Trova Ecológica 28)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 358)


Uma Trova Nacional

Meu avô é um garanhão!
Um segredo, assim, o torna:
é um tremendo comilão
de um tal ovo de codorna...
–ROBERTO TCHEPELENTYKY/SP–

Uma Trova Potiguar

Bateu na porta da frente
e correu para a de trás.
Desta forma inteligente,
pegou dez “sócios” ou mais!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Bandeirantes/PR
Tema: VISITA - M/H.


Sobre o colo da visita
pula logo a cadelinha
e a visita, mesmo aflita,
tem que dizer: - Que gracinha!...
–MARINA BRUNA/SP–

Uma Trova de Ademar

Fui num forró outro dia,
“bebum” que só um caçote;
tinha um pote de água fria...
Fiz xixi dentro do pote!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Vendo colírio e receio
que o patrão, por ser de lua,
queira pingar-me no meio
do próprio “olho da rua”...
APRYGIO NOGUEIRA/MG–

Simplesmente Poesia

MOTE:
Feijoada sem tempero,
Pra mim não é feijoada..


GLOSA:
Pensei que fosse exagero
da cozinheira nervosa,
quero ver ficar gostosa
Feijoada sem tempero.
Nem pega gosto e nem cheiro,
não vai ter gosto de nada;
outra mulher convidada
também deu sua versão:
agua suja de feijão,
Pra mim não é feijoada...
–AUGUSTO MACEDO/RN–

Estrofe do Dia


Admiro muito o milho
pela sua utilidade,
dá xerém, dá mungunzá
pra se comer a vontade,
e ainda sobra o sabugo
pra outra necessidade...
–JOÃO IZIDRO/PE–

Soneto do Dia

Soneto Oitocentista
–GLAUCO MATTOSO/SP–


Nosso Segundo Império teve estilo
como nenhum país americano.
Deploro Deodoro e Floriano,
pois junto aos monarquistas me perfilo.

Com parlamentarismo a distingui-lo,
Dom Pedro foi tranqüilo soberano.
Temperamento oposto ao do tirano,
jamais diria: "Fi-lo porque qui-lo!".

O toque mais charmoso, além do bonde,
é o grau, de que a república me priva:
barão, duque, marquês, visconde, conde.

Mas eis que, agraciado pelo Piva,
recebo o que melhor me corresponde:
Já sou Conde Mattoso! Salve! Viva!
--
Fonte:
Textos e imagem enviados pelo Autor

Hermoclydes S. Franco (Proposições a um Vocabulário em Trovas) Letras “Q” ao “Z”


LETRA “Q”

QUADRA: É uma praça de esporte;
Em quatro versos é uma trova.
“Quase a quina” quando a sorte
submete-nos a uma prova...

QUADRADO: Tem quatro lados
Iguais, em ângulos retos:
Os cidadãos antiquados,
Como dizem nossos netos

LETRA “R”

RABANADA: É refinada
Iguaria de Natal;
E perigosa pancada
Da cauda de um animal!

REALEJO: Quanta emoção,
Guardo desde a minha infância:
- Acordes no coração!
- Sons perdidos na distância!

LETRA “S”

SABÃO: O sal de potássio;
Cara metido a sabido;
Censura feita a pascácio
Por pecado cometido...

SABIÁ: Sendo macho, canta.
A fêmea nem mesmo pia.
Se o fato a ninguém espanta,
Chico Buarque não sabia...

SÃO LOURENÇO: Parque d’águas,
De festivais gastronômicos,
Onde se esquecem as mágoas,
Por preços não astronômicos.

SELVA: Floresta fechada;
Residência do Tarzã.
SELVAGEM: Onça pintada
Que se esconde de manhã.

SETEMBRO: É o mês das flores,
Após o inverno da espera:
Com muita luz, muitas cores
E a festa da Primavera!...

SILVIO CALDAS: Seresteiro,
Com alma de passarinho,
Tem, pelo Brasil inteiro,
A alcunha de “Caboclinho”...

LETRA “T”

TIRO: Efeito do atirar;
Disparo de arma de fogo;
Nas corridas é ganhar
Com roubalheira no jogo!

TOMBO: Queda desastrada
(do cavalo o que dói mais);
TOMBOS: Cidade encantada,
Escondida nas Gerais...

TROVA: É poema pequeno.
TROVADOR: Quem o constrói.
TROVOADA: Com tempo ameno,
Sempre ocorre em Niterói...

LETRA “U”

URBANO: Civilizado
(que raridade, entre nós);
No rádio, há pouco passado
Brilhou tanto o URBANO LÓES.

LETRA “V”

VERANÓPOLIS: Jardim,
É um novo éden, melhorado:
Quem come maçãs, enfim,
Já não comete pecado...

VIÚVA: Se rica, é cercada
De jovens atrás do dote.
VIUVEZ: De moça assanhada,
É mel que entorna do pote...

LETRA “W”

WATTIMETRO: É um aparelh o
Que determina a potência
Da energia (e não espelho
Para fases da existência...).

WAGNER: Músico alemão,
Fez “Tanhauser”, “Lohengrin”...
Alma feita de emoção
E sentimentos sem fim...

WASHINGTON: A capital
Do país da liberdade;
Nome do pai, sem igual,
Que me traz tanta saudade!

LETRA “X”

XAVECO: Barco da China;
Na gíria é o próprio logro.
XAXADO: p’rá nordestina,
Umbigada sem malogro...

XAXIM: Vaso para plantas;
Samambaia avantajada.
XENOFILIA: Te encantas
Pela mulher importada?...

LETRA “Y”

“Y”: Uma coordenada,
segunda, cartesiana...
Tem grafia ultrapassada
Que meu prenome ainda emana...

LETRA “Z”

ZABANEIRA: Escandalosa;
Mulher que nos causa horror
Por ser, sempre, perigosa;
ZABUMBA: Bombo; Tambor.

ZANZIBAR: Terra africana.
ZARABATANA: É mortal.
ZEBRA: Dá, toda semana,
Na “loteca” nacional...

ZEPELIM: Quanta lembrança
Da aeronave “Dirigível”
Que, aos meus olhos de criança.
Era espetáculo incrível...

ZOOLOGIA: A Biologia
A estuda os animais.
ZOOLÓGICO: Nostalgia
Que a nossa infância nos traz...
---
Fonte:
Trovas enviadas pelo autor
Imagem = montagem por José Feldman

Machado de Assis (A Inglesinha Barcelos)


Eram trintonas. Cândida era casada, Joaninha solteira. Antes deste dia de março de 1886, viram-se pela primeira vez em 1874, em casa de uma professora de piano. Quase iguais de feições, que eram miúdas, meãs de estatura, ambas claras, ambas alegres, havia entre elas a diferença dos olhos; os de Cândida eram pretos, os de Joaninha azuis.

Esta cor era o encanto da mãe de Joaninha, viúva do capitão Barcelos, que lhe chamava por isso “. — Como vai a sua inglesa? perguntavam-lhe as pessoas que a queriam lisonjear. E a boa senhora ria-se d’água, Joaninha não viu morte física nem moral; não achou meio de fugir a este mundo, e contentou-se com ele. Da crise, porém, nasceu uma situação moral nova. Joaninha conformou-se com o celibato, abriu mão de esperanças inúteis, compreendeu que estragara a vida por suas próprias mãos.

— Acabou-se a inglesinha Barcelos, disse consigo, resoluta.

E de fato, a transformação foi completa. Joaninha recolheu-se a si mesma e não quis saber de namoros. Tal foi a mudança que a própria mãe deu por ela, ao cabo de alguns meses. Supôs que ninguém já aparecia; mas em breve reparou que ela própria não saía à porta do castelo para ver se vinha alguém. Ficou triste, o desejo de vê-la casada não chegaria a cumprir-se. Não viu remédio próximo nem remoto; era viver e morrer, e deixá-la neste mundo, entregue aos lances da fortuna.

Ninguém mais falou na inglesinha Barcelos. A namoradeira passou de moda. Alguns rapazes ainda lhe deitavam os olhos; a figura da moça não perdera a graça dos dezessete anos, mas nem passava disso, nem ela os animava a mais. Joaninha fez-se devota. Começou a ir à igreja mais vezes que dantes; à missa ou só orar. A mãe não lhe negava nada.

— Talvez pense em pegar-se com Deus, dizia ela consigo; há de ser alguma promessa.

Foi por esse tempo que lhe apareceu um namorado, o único que verdadeiramente a amou, e queria desposá-la; mas tal foi a sorte da moça, ou o seu desazo, que não chegou a falar-lhe nunca. Era um guarda-livros, Arsênio Caldas, que a encontrou uma vez na igreja de S. Francisco de Paula, onde fora ouvir uma missa de sétimo dia. Joaninha estava apenas orando. Caldas viu-a ir de altar em altar, ajoelhando-se diante de cada um, e achou-lhe um ar de tristeza que lhe entrou na alma. Os guarda-livros, geralmente, não são romanescos, mas este Caldas era-o, tinha até composto, entre dezesseis e vinte anos, quando era simples ajudante de escrita, alguns versos tristes e lacrimosos, e um breve poema sobre a origem da lua. A lua era uma concha, que perdera a pérola, e todos os meses abria-se toda para receber a pérola; mas a pérola não vinha, porque Deus, que a achara linda, tinha feito dela uma lágrima. Que lágrima? A que ela verteu um dia, por não vê-lo a ele. Que ele e que ela? Ninguém; uma dessas paixões vagas, que atravessam a adolescência, como ensaios de outras mais fixas e concretas. A concepção, entretanto, dava idéia da alma do rapaz, e a imaginação, se não extraordinária, mal se podia crer que viçasse entre o diário e a razão.

Com efeito, este Caldas era sentimental. Não era bonito, nem feio, não tinha expressão.

Sem relações, tímido, vivia com os livros durante o dia, e à noite ia ao teatro ou a algum bilhar ou botequim. Via passar mulheres; no teatro, não deixava de as esperar no saguão; depois ia tomar chá, dormia e sonhava com elas. Às vezes, tentava algum soneto, celebrando os braços de uma, os olhos de outra, chamando-lhes nomes bonitos, deusas, rainhas, anjos, santas, mas ficava nisso.

Contava trinta e um anos, quando sucedeu ver a inglesinha Barcelos na igreja de S. Francisco. Talvez não fizesse nada, se não fosse a circunstância já dita de vê-la rezar a todos os altares. Imaginou logo, não devoção nem promessa, mas uma alma desesperada e solitária. A situação moral, se tal era, parecia-se com a dele; não foi preciso mais para que se inclinasse à moça, e a acompanhasse até Catumbi. A visão tornou com ele, sentou-se à escrivaninha, aninhou-se entre o deve e o há de haver, como uma rosa caída em moita de ervas bravias. Não é minha esta comparação; é do próprio Caldas, que nessa mesma noite tentou um soneto. A inspiração não acudiu ao chamado, mas a imagem da moça de Catumbi dormiu com ele e acordou com ele.

Daí em diante, o pobre Caldas freqüentou o bairro. Ia e vinha, passava muitas vezes, espreitava a hora em que pudesse ver Joaninha, às tardes. Joaninha aparecia à janela; mas, além de não ser já tão assídua como antes, era voluntariamente alheia à menor sombra de homem. Não fitava nenhum; não dava sequer um desses olhares que não custam nada e não deixam nada. Fizera-se uma espécie de freira leiga.

— Creio que ela hoje me viu, pensava consigo o guarda-livros, uma tarde, em que ele, como de uso, passara por baixo das janelas, levantando muito a cabeça.

A verdade é que ela tinha os olhos na erva que crescia à beira da calçada, e o Caldas, que ia passando, naturalmente entrou no campo da visão da moça; mas tão depressa ela o viu, levantou os olhos e estendeu-os à chaminé da casa fronteira. Caldas, porém, edificou sobre essa probabilidade um mundo de esperanças. Casariam talvez naquele mesmo ano. Não, ainda não; faltavam-lhe meios. Um ano depois. Até lá dar-lhe-iam interesse na casa. A casa era boa e próspera. Vieram cálculos de lucro. A contabilidade deu o braço à imaginação, e disseram muitas coisas bonitas uma à outra; algarismos e suspiros trabalharam em comum, tais como se fossem do mesmo oficio.

Mas o olhar não se repetiu naqueles dias próximos, e o desespero entrou na alma do guarda-livros.

A situação moral deste agravou-se. Os versos entraram a cair entre as contas, e os dinheiros entrados nos livros da casa mais pareciam sonetos que dinheiro. Não é que o guarda-livros os escriturasse em verso; mas alternava as inspirações com os lançamentos, e o patrão, um dia, foi achar entre duas páginas de um livro um soneto imitado de Bocage. O patrão não conhecia esse poeta nem outro, mas conhecia versos e sabia muito bem que não havia entre os seus devedores nenhum Lírio do céu, lírio caído em terra.

Perdoou o caso, mas entrou a observar o empregado. Este, por sua desgraça, ia de mal a pior. Um dia, quando menos esperava, disse-lhe o patrão que procurasse outra casa. Não lhe deu razões; o pobre-diabo, aliás tímido, tinha certo orgulho que lhe não permitiu ficar mais tempo e saiu logo.

Não há mau poeta, nem guarda-livros relaxado que não possa amar deveras; nem ruins versos tiraram jamais a sinceridade de um sentimento ou o fizeram menos forte. A paixão deste pobre moço desculpará os seus desazos comerciais e poéticos. Ela o levou por descaminhos inesperados; fê-lo passar crises tristíssimas. Tarde achou um mau emprego.

A necessidade fê-lo menos assíduo em Catumbi. Os empréstimos eram poucos e escassos; por muito que ele cortasse a comida (morava com um amigo, por favor), não lhe davam sempre para os colarinhos imaculados, nem as calças são eternas. Mas essas ausências longas não tiveram o condão de abafar ou atenuar um sentimento que, por outro lado, não era alimentado pela moça; novo emprego melhorou um tanto a situação do namorado. Voltou a ir lá mais vezes. Era fim do verão, as tardes tendiam a diminuir, e pouco tempo lhe restaria delas para dar um pulo a Catumbi. Com o inverno cessaram os passeios; Caldas desforrava-se aos domingos.

Não me pergunteis se tentou escrever a Joaninha; tentou, mas as cartas ficavam-lhe na algibeira; eram depois reduzidas a verso, para suprir as lacunas da inspiração. Recorreu aos bilhetes misteriosos, nos jornais, com alusões à moça de Catumbi, marcando dia e hora em que ela o veria passar. Joaninha parece que não lia jornais, ou não dava com os bilhetes. Um dia, por acaso, sucedeu achá-la à janela. Sucedeu também que ela sustentasse o olhar dele. Eram velhos costumes, jeitos de outro tempo, que os olhos não haviam perdido; a verdade é que ela não o viu. A ilusão, porém, foi imensa, e o pobre Caldas achou naquele movimento inconsciente da moça uma adesão, um convite, um perdão, quando menos, e do perdão à cumplicidade bem podia não ir mais que um passo.

Assim correram dias e dias, semanas e semanas. No fim do ano, Caldas achou a porta fechada. Cuidou que ela se houvesse mudado e indagou pela vizinhança. Soube que não; uma pessoa de amizade ou ainda parenta, levara a família para um sítio no interior.

— Por muito tempo? — Foram passar o verão.

Caldas esperou que o verão acabasse. O verão não andou mais depressa que de costume; quando começou o outono, Caldas foi um dia ao bairro e achou a porta aberta.

Não viu a moça, e achou esquisito que não regressava de lá, como antes, comido de desespero. Pôde ir ao teatro, pôde ir cear. Entrando em casa, recapitulou os longos meses de paixão não correspondida, pensou nas fomes passadas para poder atar uma gravata nova, chegou a recordar alguma coisa parecida com lágrimas. Foram porventura os seus melhores versos. Vexou-se desses, como já se vexara dos outros. Quis voltar a Catumbi, no domingo próximo, mas a história não guardou a causa que impediu esse projeto. Só guardou que ele tornou a ir ao teatro e a cear.

Um mês depois, como passasse pela Rua da Quitanda, viu paradas duas senhoras, diante de uma loja de fazendas. Era a inglesinha Barcelos e a mãe. Caldas chegou a parar um pouco adiante; não sentiu o alvoroço antigo, mas gostou de vê-la. Joaninha e a mãe entraram na loja; ele passou pela porta, olhou sem parar e foi adiante. Tinha de estar na praça às duas horas e faltavam cinco minutos. Joaninha não suspeitou sequer que ali passara o único homem a quem não correspondeu, e o único que verdadeiramente a amou.

Fonte:
http://www.dominiopublico.gov.br

Casimiro de Abreu (As Primaveras) Parte 1


A***

Falo a ti - doce virgem dos meus sonhos,
Visão dourada dum cismar tão puro,
Que sorrias por noite de vigília
Entre as rosas gentis do meu futuro.
Tu m’inspiraste, oh musa do silêncio,
Mimosa flor de lânguida saudade!
Por ti correu meu estro ardente e louco
Nos verdores febris da mocidade.
Tu vinhas pelas horas das tristezas
Sobre o meu ombro debruçar-te a medo.
A dizer-me baixinho mil cantigas,
Como vozes sutis dalgum segredo !
Por ti eu me embarquei, cantando e rindo,
- Marinheiro de amor - no batel curvo,
Rasgando afouto em hinos d’esperança
As ondas verde-azuis dum mar que é turvo.
Por ti corri sedento atrás da glória;
Por ti queimei-me cedo em seus fulgores;
Queria de harmonia encher-te a vida,
Palmas na fronte - no regaço flores !
Tu, que foste a vestal dos sonhos d’ouro,

O anjo-tutelar dos meus anelos,
Estende sobre mim as asas brancas...
Desenrola os anéis dos teus cabelos !
Muito gelo, meu Deus, crestou-me as galas !
Muito vento do sul varreu-me as flores !
Ai de mim - se o relento de teus risos
Não molhasse o jardim dos meus amores !
Não te esqueças de mim ! Eu tenho o peito
De santas ilusões, de crenças cheio !
- Guarda os cantos do louco sertanejo
No leito virginal que tens no seio !
Podes ler o meu livro: - adoro a infância,
Deixo a esmola na enxerga do mendigo,
Creio em Deus, amo a pátria, e em noites lindas
Minh’alma - aberta em flor - sonha contigo.
Se entre as rosas das minhas - Primaveras -
Houver rosas gentis, de espinhos nuas;
Se o futuro atirar-me algumas palmas,
As palmas do cantor - são todas tuas !
Agosto 20 - 1859.

A CANÇÃO DO EXÍLIO

Eu nasci além dos mares:
Os meus lares,
Meus amores ficam lá !
Onde canta nos retiros
Seus suspiros,
Suspiros o sabiá !
Oh ! que céu, que terra aquela,
Rica e bela
Como o céu de claro anil !
Que selva, que luz, que galas,
Não exalas,
Não exalas, meu Brasil !
Oh ! que saudades tamanhas
Das montanhas,
Daqueles campos natais !
Daquele céu de safira
Que se mira,
Que se mira nos cristais !
Não amo a terra do exílio,
Sou bom filho,
Quero a pátria, o meu país,
Quero a terra das mangueiras
E as palmeiras,
E as palmeiras tão gentis !
Como a ave dos palmares
Pelos ares
Fugindo do caçador;
Eu vivo longe do ninho,
Sem carinho,
Sem carinho e sem amor !
Debalde eu olho e procuro...
Tudo escuro
Só vejo em roda de mim !
Falta a luz do lar paterno
Doce e terno,
Doce e terno para mim !
Distante do solo amado
- Desterrado -
A vida não é feliz.
Nessa eterna primavera
Quem me dera,
Quem me dera o meu país !
Lisboa - 1855

MINHA TERRA

Todos cantam sua terra,
Também vou cantar a minha,
Nas débeis cordas da lira
Hei de faze-la rainha;
- Hei de dar-lhe a realeza
Nesse trono de beleza
Em que a mão da natureza
Esmerou-se enquanto tinha.
Correi pr’as bandas do sul:
Debaixo de um céu de anil
Encontrareis o gigante
Santa Cruz, hoje Brasil;
- É uma terra de amores
Alcatifada de flores
Onde a brisa fala amores
Nas belas tardes de abril.
Tem tantas belezas, tantas,
A minha terra natal.
Que nem as sonha um poeta
E nem as canta um mortal !
- É uma terra encantada
- Mimoso jardim de fada -
Do mundo todo invejada
Que o mundo não tem igual.
Não, não tem, que Deus fadou-a:
Dentre todas - a primeira:
Deu-lhe esses campos bordados,
Deu-lhe os leques da palmeira.
E a borboleta que adeja
Sobre as flores que ela beija,
Quando o vento rumoreja
Nas folhagens da mangueira.
É um país majestoso
Essa terra de Tupã,
Desde o Amazonas ao Prata,
Do Rio Grande ao Pará !
- Tem serranias gigantes
E tem bosques verdejantes
Que repetem incessantes
Os cantos do sabiá.
Ao lado da cachoeira,
Que se despenha fremente,
Dos galhos da sapucaia
Nas horas do sol ardente,
Sobre um solo d’açucenas,
Suspensa a rede de penas,
Ali nas tardes amenas
Se embala o índio indolente.

Foi ali que noutro tempo
À sombra do cajazeiro
Soltava seus doces carmes
O Petrarca brasileiro;
E a bela que o escutava
Um sorriso deslizava
Para o bardo que pulsava
Seu alaúde fagueiro.
Quando Dirceu e Marília
Em terníssimos enleios
Se beijavam com ternura
Em celestes devaneios;
Da selva o vate inspirado,
O sabiá namorado,
Na laranjeira pousado
Soltava ternos gorjeios.
Foi ali, foi no Ipiranga,
Que com toda majestade
Rompeu de lábios augustos
O brado da liberdade;
Aquela voz soberana
Voou na plaga indiana
Desde o palácio à choupana,
Desde a floresta à cidade !
Um povo ergueu-se cantando
- Mancebos e anciãos -
E, filhos da mesma terra,
Alegres deram-se as mãos:
Foi belo ver esse povo
Em suas glórias tão novo,
Bradando cheio de fogo:
Portugal ! somos irmãos !
Quando nasci, esse brado
Já não soava na serra
Nem os ecos da montanha
Ao longe diziam - guerra !
Mas não sei o que sentia
Quando, a sós, eu repetia
Cheio de nobre ousadia
O nome da minha terra !
Se brasileiro eu nasci
Brasileiro hei de morrer,
Que um filho daquelas matas
Ama o céu que o viu nascer;
Chora, sim, porque tem prantos,
E são sentidos e santos
Se chora pelos encantos
Que nunca mais há de ver.
Chora, sim, como suspiro

Por esses campos que eu amo,
Pelas mangueiras copadas
E o canto do gaturamo;
Pelo rio caudaloso,
Pelo prado tão relvoso,
E pelo tiê formoso
Da goiabeira no ramo !
Quis cantar a minha terra,
Mas não pode mais a lira;
Que outro filho das montanhas
O mesmo canto desfira,
Que o proscrito, o desterrado,
De ternos prantos banhados,
De saudades torturado,
Em vez de cantar - suspira !
Tem tantas belezas, tantas,
A minha terra natal,
Que nem as sonha um poeta
E nem as canta um mortal !
- É uma terra de amores
Alcatifada de flores
Onde a brisa em seus rumores
Murmura: - não tem rival !
Lisboa - 1856

SAUDADES

Nas horas mortas da noite
Como é doce o meditar
Quando as estrelas cintilam
Nas ondas quietas do mar;
Quando a lua majestosa
Surgindo linda e formosa,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar !
Nessas horas de silêncio,
De tristezas e de amor,
Eu gosto de ouvir ao longe,

Cheio de mágoa e de dor,
O sino do campanário
Que fala tão solitário
Com esse som mortuário
Que nos enche de pavor.
Então - proscrito e sozinho -
Eu solto os ecos da serra
Suspiros dessa saudade
Que no meu peito se encerra
Esses prantos de amargores
São prantos cheios de dores:
- Saudades - dos meus amores,
- Saudades da minha terra !

ROSA MURCHA

Esta rosa desbotada
Já tantas vezes beijada,
Pálido emblema de amor;
É uma folha caída
Do livro da minha vida,
Um canto imenso de dor !
Há que tempos ! Bem me lembro...
Foi um dia de Novembro:
Deixava a terra natal,
A minha pátria tão cara,
O meu lindo Guanabara,
Em busca de Portugal.
Na hora da despedida
Tão cruel e tão sentida
P’ra quem sai do lar fagueiro;
Duma lágrima orvalhada,
Esta rosa foi-me dada
Ao som dum beijo primeiro.
Deixava a pátria, é verdade,
Ia morrer de saudade
Noutros climas, noutras plagas;
Mas tinha orações ferventes
Duns lábios inda inocentes
Enquanto cortasse as vagas.
E hoje, e hoje, meu Deus?!
- Hei de ir junto aos mausoléus
No fundo dos cemitérios,
E ao baço clarão da lua
Da campa na pedra nua
Interrogar os mistérios !
Carpir o lírio pendido
Pelo vento desabrido...

Da divindade os arcanos
Dobrando a fronte saudosa,
Chorar a virgem formosa
Morta na flor dos anos !
Era um anjo! Foi p’ro céu
Envolta em místico véu
Nas asas dum querubim;
Já dorme o sono profundo,
E despediu-se do mundo
Pensando talvez em mim !
Oh ! esta flor desbotada,
Já tantas vezes beijada,
Que de mistérios não tem!
Em troca do seu perfume
Quanta saudade resume
E quantos prantos também !
Lisboa - 1855

JURITI

Na minha terra, no bulir do mato,
A juriti suspira;
E como o arrulo dos gentis amores,
São os meus cantos de secretas dores
No chorar da lira.
De tarde a pomba vem gemer sentida
À beira do caminho;
- Talvez perdida na floresta ingente -
A triste geme nessa voz plangente
Saudades do seu ninho.
Sou como a pomba e como as vozes dela
É triste o meu cantar;
- Flor dos trópicos - cá na Europa fria
Eu definho, chorando noite e dia
Saudades do meu lar.
A juriti suspira sobre as folhas secas
Seu canto de saudade;
Hino de angústia, férvido lamento,
Um poema de amor e sentimento,

Um grito d’orfandade !
Depois...o caçador chega cantando
À pomba faz o tiro...
A bala acerta e ela cai de bruços,
E a voz lhe morre nos gentis soluços,
No final suspiro.
E como o caçador, a morte em breve
Levar-me-á consigo;
E descuidado, no sorrir da vida,
irei sozinho, a voz desfalecida,
Dormir no meu jazigo.
E - morta - a pomba nunca mais suspira
À beira do caminho;
E como a juriti - longe dos lares -
Nunca mais chorarei nos meus cantares
Saudades do meu ninho !
Lisboa - 1857

MEUS OITO ANOS

Oh ! que saudades que tenho
Da aurora de minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Como são belos os dias
Do despontar da existência !
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu é - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d’amor !
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !

Oh! dias da minha infância !
Oh! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar !
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
- Que amor, que sonhos, que flores.
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Lisboa - 1857
----
Fonte:
ABREU, Casimiro de. As Primaveras. São Paulo: Livraria Editora Martins S/A co-edição Instituto Nacional do Livro, 1972. Texto-base digitalizado por Raquel Sallaberry Brião.

Casimiro de Abreu (1839-1860)


Casimiro de Abreu (Casimiro José Marques de Abreu), poeta, nasceu em Barra de São João, RJ, em 4 de janeiro de 1839, e faleceu em Nova Friburgo, RJ, em 18 de outubro de 1860. É o patrono da Cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador Teixeira de Melo.

Era filho natural do abastado comerciante e fazendeiro português José Joaquim Marques Abreu e de Luísa Joaquina das Neves. O pai nunca residiu com a mãe de modo permanente, acentuando assim o caráter ilegal de uma origem que pode ter causado bastante humilhação ao poeta. Passou a infância sobretudo na propriedade materna, Fazenda da Prata, em Correntezas. Recebeu apenas instrução primária, estudando dos 11 aos 13 anos no Instituto Freeze, em Nova Friburgo (1849-1852), onde foi colega de Pedro Luís, seu grande amigo para o resto da vida. Em 52 foi para o Rio de Janeiro praticar o comércio, atividade que lhe desagradava, e a que se submeteu por vontade do pai, com o qual viajou para Portugal no ano seguinte. Em Lisboa iniciou a atividade literária, publicando um conto e escrevendo a maior parte de suas poesias, exaltando as belezas do Brasil e cantando, com inocente ternura e sensibilidade quase infantil, suas saudades do país. Lá compôs também o drama Camões e o Jau, representado no teatro D. Fernando (1856). Ele só tinha dezessete anos, e já colaborava na imprensa portuguesa, ao lado de Alexandre Herculano, Rebelo da Silva e outros. Não escrevia apenas versos. No mesmo ano de 1856, o jornal O Progresso imprimiu o folhetim Carolina, e na revista Ilustração Luso-Brasileira saíram os primeiros capítulos de Camila, recriação ficcional de uma visita ao Minho, terra de seu pai.

Em 1857, voltou ao Rio, onde continuou residindo a pretexto de continuar os estudos comerciais. Animava-se em festas carnavalescas e bailes e freqüentava as rodas literárias, nas quais era bem relacionado. Colaborou em A Marmota, O Espelho, Revista Popular e no jornal Correio Mercantil, de Francisco Otaviano. Nesse jornal, trabalhavam dois moços igualmente brilhantes: o jornalista Manuel Antônio de Almeida e o revisor Machado de Assis, seus companheiros em rodas literárias. Publicou As primaveras em 1859. Em 60, morreu o pai, que sempre o amparou e custeou de bom grado as despesas da sua vida literária, apesar das queixas românticas feitas contra a imposição da carreira. A paixão absorvente que consagrou à poesia justifica a reação contra a visão limitada com que o velho Abreu procurava encaminhá-lo na vida prática.

Doente de tuberculose, buscou alívio no clima de Nova Friburgo. Sem obter melhora, recolhe-se à fazenda de Indaiaçu, em São João, onde veio a falecer, seis meses depois do pai, faltando três meses para completar vinte e dois anos.

Em As primaveras acham-se os temas prediletos do poeta e que o identificam como lírico-romântico: a nostalgia da infância, a saudade da terra natal, o gosto da natureza, a religiosidade ingênua, o pressentimento da morte, a exaltação da juventude, a devoção pela pátria e a idealização da mulher amada. A sua visão do mundo externo está condicionada estreitamente pelo universo do burguês brasileiro da época imperial, das chácaras e jardins. Trata de uma natureza onde se caça passarinho quando criança, onde se arma a rede para o devaneio ou se vai namorar quando rapaz.

À simplicidade da matéria poética corresponde amaneiramento paralelo da forma. Casimiro de Abreu desdenha o verso branco e o soneto, prefere a estrofe regular, que melhor transmite a cadência da inspiração “doce e meiga” e o ritmo mais cantante. Colocado entre os poetas da segunda geração romântica, expressa, através de um estilo espontâneo, emoções simples e ingênuas. Estão ausentes na sua poesia a surda paixão carnal de Junqueira Freire, ou os desejos irritados, macerados, do insone Álvares de Azevedo. Ele pôde sublimar em lânguida ternura a sensualidade robusta, embora quase sempre bem disfarçada, dos seus poemas essencialmente diurnos, nos quais não se sente a tensão das vigílias. No poema “Violeta” configura a teoria do amor romântico, segundo a qual devem ficar subentendidos os aspectos sensuais mais diretos, devendo, ao contrário, ser manifestado com o maior brilho e delicadeza possível o que for idealização de conduta. O meu livro negro, em toda a sua obra, é o único momento de amargura violenta e rebeldia mais acentuada; noutros o drama apenas se infiltra, menos compacto. Em sua poesia, talvez exagerada no sentimentalismo e repleta de amor pela natureza, pela mãe e pela irmã, as emoções se sucedem sem violência, envolvidas num misto de saudade e de tristeza.

Escreveu as seguintes obras: Camões e o Jau, teatro (1856); Carolina, romance (1856); Camila, romance inacabado (1856); A virgem loura Páginas do coração, prosa poética (1857); As primaveras (1859). Foram reunidas na Obras de Casimiro de Abreu, edição comemorativa do centenário do poeta; organização, apuração do texto, escorço biográfico e notas por Sousa da Silveira.

Fonte:
virtualbooks.terra.com.br

Teófilo Braga (O Aprendiz de Mago)


Um homem de grandes artes tinha na sua companhia um sobrinho, que lhe guardava a casa quando precisava sair. De uma vez deu-lhe duas chaves, e disse:

– Estas chaves são daquelas duas portas; não mas abras por cousa nenhuma do mundo, senão morres.

O rapaz, assim que se viu só, não se lembrou mais da ameaça e abriu uma das portas. Apenas viu um campo escuro e um lobo que vinha correndo para arremeter contra ele. Fechou a porta a toda a pressa passado de medo. Daí a pouco chegou o Mago:

– Desgraçado! para que me abriste aquela porta, tendo-te avisado que perderias a vida?

O rapaz tais choros fez que o Mago lhe perdoou. De outra vez saiu o tio e fez-lhe a mesma recomendação. Não ia muito longe, quando o sobrinho deu volta à chave da outra porta, e apenas viu uma campina com um cavalo branco a pastar. Nisto lembrou-se da ameaça do tio e já o sentindo subir pela escada, começou a gritar:

– Ai que agora é que estou perdido!

O cavalo branco falou-lhe:

– Apanha desse chão um ramo, uma pedra e um punhado de areia, e monta já quanto antes em mim.

Palavras não eram ditas, o Mago abriu a porta da casa: o rapaz salta para cima do cavalo branco e grita:

– Foge! que aí chega o meu tio para me matar.

O cavalo branco correu pelos ares fora; mas indo lá muito longe, o rapaz torna a gritar:

– Corre! que meu tio já me apanha para me matar.

O cavalo branco correu mais, e quando o Mago estava quase a apanhá-los, disse para o rapaz:

– Deita fora o ramo.

Fez-se logo ali uma floresta muito fechada, e, enquanto o Mago abria caminho por ela, puseram-se muito longe. Ainda o rapaz tornou outra vez a gritar:

– Corre! que já aí está meu tio, que me vai matar.

Disse o cavalo branco:

– Bota fora a pedra.

Logo ali se levantou uma grande serra cheia de penedias, que o Mago teve de subir, enquanto eles avançavam caminho. Mais adiante, grita o rapaz:

– Corre, que meu tio agarra-nos.

– Pois atira ao vento o punhado de areia, disse-lhe o cavalo branco.

Apareceu logo ali um mar sem fim, que o Mago não pôde atravessar. Foram dar a uma terra onde se estavam fazendo muitos prantos. O cavalo branco ali largou o rapaz e disse-lhe que quando se visse em grandes trabalhos por ele chamasse mas que nunca dissesse como viera ter ali. O rapaz foi andando e perguntou por quem eram aqueles grandes prantos.

– É porque a filha do rei foi roubada por um gigante que vive em uma ilha aonde ninguém pode chegar.

– Pois eu sou capaz de ir lá.

Foram dizê-lo ao rei; o rei obrigou-o com pena de morte a cumprir o que dissera. O rapaz valeu-se do cavalo branco, e conseguiu ir à ilha trazendo de lá a princesa, porque apanhara o gigante dormindo.

A princesa assim que chegou ao palácio não parava de chorar. Perguntou-lhe o rei:

– Porque choras tanto, minha filha?

– Choro porque perdi o meu anel que me tinha dado a fada minha madrinha e, enquanto o não tornar a achar, estou sujeita a ser roubada outra vez ou ficar para sempre encantada.

O rei mandou lançar o pregão em como dava a mão da princesa a quem achasse o anel que ela tinha perdido. O rapaz chamou o cavalo branco, que lhe trouxe do fundo do mar o anel, mas o rei não lhe queria já dar a mão da princesa; porém ela é que declarou que casaria com o jovem para que dissessem sempre: Palavra de rei não torna atrás.

Fonte:
Alfarrabio

Ialmar Pio Schneider (Homenagens em Soneto VIII)


Soneto em Homenagem Póstuma a Catullo da Paixão Cearense
Data de nascimento do poeta: 8.10.1863
In Memoriam


Faz-me lembrar o tempo de menino,
no lar paterno, lá na velha aldeia,
com minha mãe, irmãos e irmãs, na ceia,
de noitezinha, ao bimbalhar do sino...

Depois, eu contemplava a lua cheia
e perguntava aos céus: qual meu destino,
neste mundo que roda e cambaleia,
com momentos de luz e desatino?!...

E ouvia a minha voz na voz do vento,
dizendo que eu tivesse paciência,
estudasse, aprendesse e na paixão

de adquirir maior conhecimento,
ingressasse no reino da sapiência...
Que lindo era o Luar do meu Sertão !...

Soneto ao Dia do Compositor (7 de Outubro)

É quem compõe as músicas que a gente
escuta com prazer horas a fio;
tanto no inverno gélido e sombrio,
e também no verão, alegremente...

Quantas vezes ouvindo estou contente,
embora seja um dia triste e frio,
mas, em outras, meu coração sentiu
esplêndido calor de um sol ardente.

Presto homenagem ao compositor,
que com tanta dedicação e amor
nos entrega sua alma nas criações

musicais; pois sem ele nossa Terra
não manteria a paz que evita a guerra
e nem seria palco de emoções!...

Soneto a Edgar Allan Poe
Falecimento do escritor em 7.10.1849


À meia-noite o visitou alguém,
enquanto refletia nessa hora,
lendo doutrinas em manuais de quem
pudesse distraí-lo, sem demora...

Curiosidade neste mundo têm
todos os seres em que a dor vigora,
e ao vate parecia que do Além
surgia a voz saudosa de Lenora.

Pensou, então, que fosse algum amigo,
que tinha vindo lhe pedir abrigo
p´ra mitigar as dores infernais...

Abre a janela a olhar, e num tumulto
enxerga esvoaçar sinistro vulto;
era o Corvo que disse: “Nunca mais!”
--
Fonte:
Sonetos enviados pelo autor

Fábio Lucas Pierini (Mirna Pinsky e o Conto Fantástico para Crianças)


O conto fantástico, grosso modo, é uma narrativa ficcional de ambientação realista, contrariada pela irrupção de um elemento de ordem sobrenatural durante seu desenvolvimento, definição a que cheguei após a leitura de obras como Introdução à literatura fantástica (Todorov, 1969), La séduction de l’ètrange (Louis Vax, 1965) e La littérature fantastique: la poétique de l’incertain (Irène Bessière, 1974), para não citar mais outras obras menos esclarecedoras.

Ao contrário do que muitos pais e professores podem pensar, uma criança é um ser capaz de tratar sobre todo e qualquer assunto, desde questões consideradas verdadeiros tabus da humanidade como as relações sexuais e a morte, como também conseguem perfeitamente distinguir onde fica a fronteira entre o real e o imaginário, de acordo com a experiência e o trabalho do psicólogo Bruno Bettelheim. Isso quer dizer que uma criança sabe muito bem separar o que é o enredo de uma novela ou filme das atrocidades narradas por repórteres nos telejornais – o que deveria descartar muitas das questões levantadas acerca da violência nos desenhos animados e nos jogos de videogame , e tranqüilizar aqueles que vêem seus filhos rirem das pancadarias ficcionais e se comoverem ou sentirem revolta diante do sofrimento das crianças nordestinas ou africanas.

Porém, o que acontece – e essa é a proposta deste trabalho – quando uma criança entra em contato com uma literatura que não apenas mostra as duas faces dessa moeda (real/sobrenatural) como também incedssantemente joga cara-ou-coroa com o juízo do leitor sem nunca revelar qual é a face que fica voltada para cima após cada lance? Voltarei ao assunto mais tarde, após ter apresentado o conto “A zanga da princesa”, conto de abertura do livro Assombramentos, de Mirna Pinsky.

O livro Assombramentos comporta cinco contos fantásticos dirigidos ao público infantil, pois os protagonistas de cada contos são crianças de mais ou menos dez anos e têm, em rápidas canetadas, seu cotidiano descrito – vão à escola, fazem tarefa, têm reclamações à fazer sobre suas relações com os irmãos mais velhos ou mais novos, demonstram a força da relação que têm com os pais, sua visão de mundo, etc. – o que proporciona uma maior identificação com leitores de uma faixa etária que vai dos nove aos doze anos. Ainda que o leitor seja desatento ao detalhe da composição dos personagens, cada conto é dedicado a uma criança conhecida pela autora, mas desconheço os laços entre ela e as crianças a quem os dedica. Assim, o nome de cada protagonista tem alguma relação com o nome do homenageado, o que é o caso do conto que analiso a seguir: “prá Luciana, este desacerto”; Luciana, ou Lu, é a protagonista do conto A zanga da princesa.

O enredo desse conto é muito simples, pois Lu, de posse da máquina de escrever da mãe, pretende escrever uma história para servir de exemplo à idéia de que ninguém precisa ser bonito para ser amado. Um conto de fadas pode muito bem ter esse propósito, o de ilustrar uma idéia, bem como uma fábula. Contudo, veja o que Lu compõe em seu primeiro parágrafo:

“Era uma vez um menino muito rico, uma menina muito pobre e uma princesa. O menino muito rico se chamava Renato, a menina muito pobre se chamava Maria e a princesa se chamava princesa mesmo. Maria era muito feia, mas muito boazinha, ao contrário da princesa que era bonita, mas muito chata” (Pinsky, 1986, p. 06).

Ao iniciar sua narrativa, Lu destrói completamente a lógica dos contos de fadas, pois dá ao personagem de bom caráter a má aparência e ao de boa aparência, o mau caráter. Mas isso é pouco. Lu constrói toda uma situação moderna dentro desse pretenso conto de fadas, pois Maria tem uma mãe que envelheceu e adoeceu de tanto trabalhar para criar sozinha a filha após a morte do marido, num acidente de trânsito. Por ser muito boazinha, Maria vai trabalhar na casa do menino rico, Renato, para que a mãe possa ficar em casa descansando. Isso quer dizer que, para a criança Lu, a autora da história, uma situação de pobreza e outras dificuldades sociais como as descritas pelos contos de fadas tradicionais, não têm mais como consistir em verdadeiras dificuldades para o seu mundo e o seu tempo, e portanto é preciso escolher uma nova série de problemas a viver serem vividos pelo personagem.

Vejamos agora o lado da princesa, antagonista de Maria:

“A princesa morava no maior castelo do mundo. Por fora era todo de cristal, com torres de marfim. Por dentro tinha paredes de ouro cravejadas de brilhantes. O rei, pai dela, vivia sentado num trono de cinco metros de altura, todo de prata. Na cabeça usava uma coroa tão valiosa, mas tão valiosa, que sempre que tirava a coroa do cofre pra botar na cabeça, a guarda real pegava metralhadoras e granadas para protegê-lo” (Pinsky, 1986, p. 08).

Tudo anda conforma o velho roteiro dos contos de fadas, pois a ostentação dos metais preciosos e outros objetos valiosos é a mesma, exceto pela vigilância dos guardas: eles usam armas ultramodernas como metralhadoras e granadas. Outro dado que demonstra essa mescla de elementos modernos do cotidiano de Lu e do conto de fadas tradicional é a figura do mágico, que morava no fun do do castelo, dentro de um fogão: “O mágico fazia mágicas para o rei. Se o rei queria viajar para outro planeta, o mágico fazia ‘plim’ com sua varinha mágica e log aparecia um foguete para levar o rei” (Pinsky, 1986, p. 12). Ora, se ele é mágico, por que não faz “plim” e teleporta logo o rei para outro planeta, ao invés de fazer aparecer um meio de transporte para isso? Simples: porque uma criança moderna como Lu não conhece outro meio de viajar para outro planeta senão o foguete!

O elemento sobrenatural que faz dessa uma narrativa fantástica não é outro senão a própria zanga da princesa: sentindo-se prejudicada pela autora, a princesa sai da história e rouba sucessivamente três vogais da (o, e, i) da máquina de escrever e faz uma chantagem com Lu, pois se ela não der um jeito de o Renato se tornar namorado dela (e não da Maria, pois essa é a intenção de Lu, para demonstrar sua tese), ela nunca mais devolveria os tipos da máquina de escrever e ainda levaria as folhas já datilografadas consigo. Porém, a princesa nunca “dá as caras” no mundo real, manifesta-se apenas por meio de bilhetes, fato que leva Lu a pensar que poderia ser brincadeira de alguém, como seus irmãos, mas que no entanto, não estão em casa e não podem ser responsabilizados; nem a mãe, pois “ela não é dessas coisas”.

Lu não se deixa abater e continua a escrever a sua história completando à mão o que a máquina não bate. Por fim escreve as ultimas linhas completamente à mão.Sua insistência é exemplar, mesmo em se tratando de combater um fenômeno sobrenatural, pois não é sempre que um personagem vem ao autor reclamar da sua função numa narrativa, muito menos fazer chantagem. A princesa desaparece com a história de Lu e após uma movimentadíssima troca de bilhetes, as folhas reaparecem amassadas e reescritas acompanhadas de um bilhete da pincesa:

“Corrigi aquela história boba que você inventou. Agora ficou legal. Mas para você aprender a não ser desaforada com as princesas, vou levar de lembrança as vogais que tirei da máquina. Só quero ver a bronca que você vai levar! Bem feito, vê se aprende a escrever histórias que prestem. Adeus. assinado: a princesa” (Pinsky, 1986, p. 19).

Lu relê a história “corrigida” pela princesa e nota uma série de rabiscos e descobre que ela foi totalmente mudada. Furiosa, a pequena autora decide retomar seus trabalhos no dia seguinte e decide mudar radicalmente o final: “além de perder Renato, a princesa perderia também seus joguinhos eletrônicos, afogados na torrente de lágrimas que ela choraria por causa do casamento dos dois. E a própria princesa se afogaria depois. Ponto final” (Pinsky, 1986, p. 20).

As ilustrações de Helena Alexandrino corroboram para a realização dessa irrupção do sobrenatural e tornar o conto realmente fantástico, pois dado seu estilo sugestivo, que não liga necessariamente o texto à ilustração, a artista desenha em muitas passagens do texto (na verdade, texto e imagem se misturam na diagramação do livro) a princesa em posição e expressão de reflexão e maquinação, e sempre olhando as palavras impressas, principalmente na primeira vez em que os tipos são roubados. Trata-se talvez do ponto mais distante que possa ser alcançado pela relação entre imagem e texto: a princesa ilustrada observa as palavras que compõem a realidade de seu universo, para mais tarde tentar alterá-lo, ou seja, sair da história e intervir na realidade do autor.

Feitas as considerações acerca do conto fantástico e como a autora, Mirna Pinsky, o traz para os leitores infantis, somadas a uma breve análise da relação texto/imagem e uma criação de personagens que soscitem a identificação com o publico infantil, volto à questão do efeito e também da necessidade de narrativas que ponham real e sobrenatural em conflito para os leitores das primeiras idades.

Segundo o psicólogo francês René Diatkine, vivenciar uma situação por meio da ficção é uma forma de realizá-la num plano que não é o real, ou seja, por meio da ficção ou outros jogos e bincadeiras de fantasia, as crianças podem dispersar e dispensar suas vontades de matar, roubar, destruir impunemente e sem culpa!

No caso do conto fantástico para crianças, Mirna Pinsky trabalha com situações absurdas, situações que estão além da compreensão humana, mas que apesar disso permeiam o cotidiano não só infantil como também adulto, pois essas situações absurdas são a base da ficção de Franz Kafka e de outros autores do século XX, buscando denunciar que o maltrato do homem pelo próprio homem não tem sentido algum, mas ainda assim, o homem se deixa maltratar por um sistema rígido, autoritário e de fundamentos absurdos.

Muito ao contrário dos personagens kafkianos, que por não reagirem imediata e energicamente a essse sistemasão completamente destruídos, os de Mirna Pinsky não se deixam abater quando querem provar suas convicções, mesmoquando se trata de uma princesa zangada que, de alguma maneira sobrenatural, abandona seu lugar no mundo ficcional.

Bibliografia
BESSIÈRE, Irène. La littérature fantastique: la poétique de l’incertain. Paris: Larousse, 1974
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980
DIATKINE, René. Histórias sem fim. Entrevista. Rio de Janeiro: Revista Veja, 1993, pp. 03-07
GUELFI, Maria Lúcia Fernandes. Literatura infantil – fantasia que constrói realidades. In: Educação e filosofia, 10 (20). pp. 131-154. Jul/Dez 1996.
PINSKY, Mirna. A zanga da princesa. In: Assombramentos. São Paulo: Edições Paulinas, 1986.
TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 1975.
VOLOBUEF, Karin. Um estudo do conto de fadas. In: Revista de Letras. São Paulo, 1993.


Fonte:
http://www.literaturafantastica.hpg.ig.com.br/pinsky1.htm

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 357)


Uma Trova Nacional

Quando o passado me embala
e o sono, aos poucos, se evade,
até o relógio da sala
vem acordar a saudade!
–RODOLPHO ABBUD/RJ–

Uma Trova Potiguar


A palavra mais bonita
que busquei com tanto ardor,
em meu peito estava escrita:
era simplesmente amor!
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Curitiba/PR
Tema: IMAGEM - M/E


Meu coração, “paparazzo”,
guardou imagens tão belas,
que mesmo as sombras do ocaso
são manhãs, ao lado delas.
–WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Uma Trova de Ademar

Ter medo é não querer ir
subir um alto lajedo.
Ter coragem, é subir,
mesmo morrendo de medo!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Só senti a luz da vida,
com mais calor e mais brilho,
quando tu deste, querida,
a luz da vida a meu filho.
–ANIS MURAD/RJ–

Simplesmente Poesia

Os Degraus
–MARIO QUINTANA/RS–


Não desças os degraus do sonho
para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos – onde
os deuses, por trás das suas máscaras,
ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo…

Estrofe do Dia

Canta, POETA! o teu canto,
alvissareiro e fecundo,
que alegra e humaniza o mundo
enchendo a vida de encanto!
é lenço que enxuga o pranto
dos olhos dos infelizes,
planta que finca raízes
no coração da criança,
revigorando a esperança,
removendo cicatrizes.
–JURACI SIQUEIRA/PA–

Soneto do Dia

Melancolia
–MIGUEL RUSSOWSKY/SC–


De novo a solidão... Não me acostumo
viver assim. Tomara encontre alguém
que queira conversar... Estou sem rumo.
O “nada” é uma prisão da qual eu sou refém.

O meu “depois” é nódoa exposta ao fumo
e o meu “agora” é nódoa eril também.
Os sonhos meus estão fora de prumo
e meus anseios moram no desdém.

Minha desdita exibe a compostura
de quem se acomodou neste domingo,
em achar que seu mal não tem mais cura.

E o tempo de vazios se transborda...
E os minutos sucumbem, pingo a pingo,
na face do relógio hostil sem corda.
--
Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Monteiro Lobato (O Presidente Negro) XII – A Simbiose Desmascarada


— Mais felina, sim, e muito mais pitoresca, prosseguiu miss Jane. Não imagina o senhor Ayrton como o cérebro da mulher é rico de estratagemas, e com que ardor conduzem elas uma campanha politica. Vinha daí que o proximo pleito se desenhava renhidíssimo. Ia a republica dos Estados Unidos eleger dentro de poucos dias o seu 88.° presidente, proporcionando assim a um mundo perturbado por sucessivas mudanças de forma politica um exemplo de fixidez na forma inicial só comparável ao passado monárquico da Inglaterra. Os velhos partidos Democrático e Republicano haviam-se fundido num forte bloco sob a denominação de Partido Masculino. Mesmo assim não se via seguro da vitoria, porque o partido contrario, o Feminino, dispunha de maior numero de vozes. Estava pois em jogo o prestigio político do homem, batido pelo da mulher em todos os campos de atividade e a defender agora o seu ultimo reduto — a presidência da republica. Até então nenhuma mulher conseguira alcançar ao posto supremo, embora no pleito anterior miss Evelyn Astor houvesse perdido por insignificante minoria.

– Quem era essa bicha? Alguma chefa do partido feminino?

– Sim, uma chefa que insistia na sua candidatura, e agora com mais probabilidade de vitoria, visto como era possível que o grande líder negro se deixasse levar pela sedução dos seus argumentos e desse apoio ao Partido Feminino.
Do outro lado o senhor Kerlog, presidente em exercício e candidato á reeleição, só via possibilidade de êxito se obtivesse o concurso de Jim, como sucedera no pleito anterior.
As melhores estatísticas davam ao Partido Masculino 51 milhões de vozes, ao Partido Feminino 51 e meio e á Associação Negra, contados os votantes de ambos os sexos, 54 milhões. A próxima eleição dependeria pois exclusivamente da atitude do grande negro.

– Miss Evelyn Astor! exclamei. Lindo nome. Já me estou simpatizando por essa criatura, que talvez esteja no meu próprio calcanhar. Havia de ser linda, não?

– De fato, nessa criatura habilíssima, rica de todos os dotes da inteligência, da cultura e da maquiavélica sagacidade feminina, se juntava um elemento perturbador, novo no jogo político presidencial: a sua rara beleza fisica.

Embora, graças á vitoria da eugenia, fosse regra a beleza, em vez de exceção como hoje, mesmo assim a formosura de miss Evelyn Astor se destacava de modo obsedante. Ninguém a defrontava sem sentir-se envolvido por uma aura de harmonia transfeita em força de dominação.

Em todas as épocas as mulheres dotadas de beleza sempre dominaram, atrás dos tronos como favoritas, na sociedade como cortesãs, no lar como boas deusas humanas, mas sempre por intermédio do homem — o déspota, o amante, o marido, detentores em sua qualidade de machos de todas as prerrogativas sociais. No futuro a dominação da beleza feminina não se fará mais por intermédio do macho. Era da Harmonia, a beleza se tornará uma força pura, como pura expressão que é da harmonia.

Nesse ano de 2228 já a mulher vencera o seu estágio de inferioridade política e cultural, consequência menos duma pretensa inferioridade do cérebro, como dizia miss Elvin…

– Miss Elvin?

– Espere. Menos de uma pretensa inferioridade de cérebro do que de uma organização cerebral diversa da do homem e, portanto, inapta a produzir o mesmo rendimento quando submetida ao mesmo regime de educação. Miss Elvin... Como está assanhado o senhor Ayrton! Não se contentou com a mulher futura que já lhe dei, miss Astor, e quer outra?

Que ilusão a de miss Jane! Eu queria apenas, de todas as mulheres passadas, presentes e futuras, uma só — a que me falava naquele momento, tão alheia ás emoções borbulhantes em meu coração...

— Miss Elvin era a autoria de Simbiose Desmascarada, um livro que graças á alegria do estilo e ao fulgor dos argumentos vinha causando verdadeira reviravolta no publico. A ideia central de miss Elvin cifrava-se em que a mulher não constituía a fêmea natural do
homem, como a leoa o é do leão, a galinha do galo, a delfina do delfim. A fêmea natural do homem ele a repudiara em época recuadissima — e tudo levava a crer na extinção desse pobre animal. Repudiara-a e tomara para si, como os antigos romanos fizeram ás sabinas, a fêmea de um outro mamífero de vagas semelhanças
anatômicas com o Homo. Supunha miss Elvin que seriam anfíbios esses "sabinos" pre-historicos, assim romanamente despojados das suas fêmeas. E recreando a imaginação com um pouco de fantasia, chegou a descrever num segundo livro de igual sucesso o "mas
sacre dos sabinos" quando, do seio das ondas acudiram ás praias em defesa das raptadas metades. Vinha daí o caráter ondeante da mulher. "She was false as water", já o dissera Shakespeare.

— Que topete! exclamei. Pelo que vejo as mulheres do futuro não beneficiaram grandemente os miolos com o remédio da eugenia...

— O senhor Ayrton está um pouco passadista e corre muito depressa no Ford das suas conclusões, respondeu miss Jane com doce ironia. Nada há mais fecundo do que a ventilação das ideias aceitas, do que o abalo violento em certas bases mentais. Põe-nas á prova e
revelam-lhes alguma racha ou lacuna, se as há. Com o seu exagero, miss Glória Elvin não ressuscitou o sabino — mas quantas consequências indiretas não brotaram da sua revolta!

– Retiro o topete, miss Jane; continue.

– Pois o Homo suplantou o mamífero adverso e de posse da fêmea alheia veio através das idades tentando um equilíbrio sexual impossível. A falsa fêmea, o ser estranho ligado a ele por simbiose, sempre resistiu ao seu domínio, apesar de um processo de domesticação multi-milenar. Todas as formas de vida em comum, todos os modos de associação sexual existentes na natureza foram tentados sem sucesso. O harém muçulmano, a poligamia, a monogamia, a bigamia, a poliandria, o hetairismo, nada produzia bons resultados; e a mulher, por voz unânime dos poetas e pensadores, se viu classificada como um ser incompreensível.

Miss Elvin desvendou o mistério. Não era um ser incompreensível. Era apenas diferente.

Mais fraca em força física e, portanto, escravizavel, a sabina defendeu-se da tirania do raptor com o manejo de uma arma perigosíssima, a dissimulação — reflexo ainda do caráter ondeante do seu elemento primitivo, o mar. Quando no mundo surgiu o feminismo, toda a gente supôs que a solução do problema da mulher estava em nivela-la ao homem pela cultura e igualdade de direitos. Erro cascudo, demonstrou miss Elvin. A cultura como a criara o homem não se adaptava ao cérebro da mulher, de funcionamento especialíssimo e sempre influenciado por certas glândulas misteriosas. Falhou por isso o feminismo. De toda a sua agitação só veio a resultar uma coisa; a feminista, a odiosa mulher-homem, que pensava com ideais de homem, usava colarinhos de homem, conseguindo com isso apenas…

– ...não ser homem nem mulher, conclui eu, lembrando-me duma sufragista do meu conhecimento.

– Perfeitamente. Os estudos de miss Elvin modificaram por completo os termos de equação sexual. Basta de simbiose, dizia ela; basta de vida em comum em troca de serviços recíprocos. A mulher passa doravante a viver vida autônoma; e se ainda permanece ao lado do "gorila" no antigo status-quo sexual, será a titulo provisório apenas e em vista unicamente dos interesses proliferantes das especies respectivas. Porque miss Elvin não perdia a esperança de promover o descobrimento e a ressurreição do sabino pre-historico…

– Irra! exclamei com uma pontinha de despeito. Está aí: a coisa única que o homem jamais previu: o surto de uma espécie rival!

– De fato. Os arrojos de miss Elvin punham calafrios na espinha do Homo. Ela tirava todas as consequências lógicas da sua teoria, chegando ao extremo de pregar guerra de morte contra o "insolente raptor".

Miss Astor era elvinista e, pois, a sua candidatura á presidência inquietava de modo duplo o Partido Masculino. Sua vitoria coroaria o movimento feminino com a única sanção que lhe faltava, a do poder; seria, se não o crepúsculo do domínio dos homens (já de bases corroídas pelas vitorias parciais da mulher), pelo menos uma humilhante diminuição.

O problema americano se complicava assim da mais imprevista maneira. Alem do aspecto étnico — o inevitável choque da raça branca com a negra, — surgira o aspecto, como direi? especial, isto é, o conflito das duas especies de mamíferos — Homo e Sabinas — cuja simbiose fôra denunciada.

O lider masculino, o Presidente Kerlog, tinha esperanças de um acordo com Jim Roy. Jim era homem e havia de inclinar-se para a facção do seu sexo. Com miss Evelyn Astor é que não enxergava possibilidades de entendimento. Tivera com a formosa antagonista uma conferência, mas a sua impressão, resumida em poucas palavras na presença do ministerio, fôra inquietante.

– "Não nos entendemos, declarou ele. As palavras que nós homens usamos têm na boca de miss Astor um sentido diverso. Em certo ponto tive a sensação de que estávamos eu a falar inglês e ela a responder-me em hebraico, lingua que positivamente desconheço. Estou quasi convencido de que nasceu nas mulheres alguma glândula nova...”

– "Ou perderam alguma glândula velha", rosnou da sua poltrona Berald Shaw, o pachorrento ministro da Equidade.
---------------
continua… XIII – Política de 2228

Fonte:
Monteiro Lobato. O Presidente Negro. Editora Brasiliense, 1979.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Wagner Marques Lopes (Trova Ecológica 27)

Hermoclydes S. Franco (Proposições a um Vocabulário em Trovas) Letras “M”, “N”, “O” e"P"


LETRA “M”

MACAMBÚZIO: Carrancudo;
Muito triste; Embezerrado.
MACHADO: Derruba tudo;
Na ecologia é odiado...

MAIO: Mês das mães. Todo o ano
Traz lembranças da Princesa..,
MAIÔ: traje; menos pano,
Mais “saúde” e “natureza”...

MALMEQUER: Flor pequenina
Destinada a adivinhar,
Como fada, se a menina
Vai, ou não, ser nosso par...

MANCHETE: Televisão;
Rádio; Revista; Notícia
Que é dada com sensação
Quando o caso é de polícia!

MANGARATIBA: É recanto
Entre o mar e a serrania,
Qual jardim feito de encanto,
Por Deus, no primeiro dia...

MARÇO: Mês da fundação
Deste Rio de Janeiro;
Da triste revolução
Que enganou o brasileiro...

MORATÓRIA: Vil “pendura”;
Calote internacional;
Toda nação que este “dura”
Guarda este trunfo final...

LETRA “N”

NÁDEGA: Parte carnosa
Que sempre existiu oculta;
E, agora, a moça charmosa,
Num biquini, “desoculta””.

NAMORAR: É cortejar.
NÃO: Advérbio; Negação;
Para quem quer namorar,
É triste escutar um “NÃO”!...

Nuvem: Vapor condensado,
De formas maravilhosas.
Ao por-do-sol, encarnado,
Lembra um canteiro de rosas...

LETRA “O”

ODALISCA: Fantasia
Que se vê nos carnavais...
Bela mulher que servia
Aos sultões orientais!

OBRA: Efeito do trabalho,
É o que diz o dicionário;
E fruto de muito “malho”
Foi este vocabulário!

OUTUBRO: Mês das crianças
- as vozes da primavera -
Neste mundo de esperanças
Ser criança – ah! Quem me dera...

LETRA "P"

PALAVRA: Som; Expressão.
PALCO: Proscênio de teatro.
PALHAÇO: Arma a confusão,
Do circo, no anfiteatro...

PASSADO: É aquela espiral
Que, ao girar, traz ao presente
A memória emocional
Das profundezas da mente...

PENUMBRA: Sombra inconpleta;
Paraíso dos casais...
PENÚRIA: Falta completa
Do que os ricos têm demais...

PÉROLA: Glóbulo duro
Que a ostra custa a formar.
O homem gasta o ouro puro
No presente de um colar...

PICANÇO: Plástico artista;
Médico, poeta e pintor;
Em tudo perfeccionista,
Tem trabalho de valor...

PRIMAVERA: A terra canta,
No cantar dos passarinhos.
O sol nasce... Tudo encanta...
(E eu sonho com teus carinhos)...
---
Fontes:
Trovas enviadas pelo autor
Imagem = montagem por José Feldman

A. A. de Assis (Mircocrônicas) Parte final


51
Rua das Palmeiras. Magras, altas, belas,
quais moças nas passarelas.

52
Na foto antiga, a saudade vestida
de azul e branco. Normalistas, lembra-se?

53.
Asinha quebrada, cata a pombinha
na grama a sobrevivência.

54.
Na agitada esquina o guarda priprila o apito.
Bem-te-vi responde.

55
O tempo soprou e eu de mim em mim sumi.
Ficou-me o não eu.

56
Um cisco no chão. Mas não era
um cisco não, era uma esperança.

57
Levantar cedinho. Mens sana
in corpore sano. Ouvir passarinho.

58
Que coisa gostosa o abraço
quando com saudade é dado...

59
Quem foi que tantas matas
neste mundo derrubou? O pica-pau?...

60
E agora, vovô? – Agora, nas mãos
dos netos, sou que nem ioiô.

61
Rosna a motosserra pondo o verde
ao chão. Planeta morrente.

62
Súbita rajada. Um vento espalhafatoso
alvoroça as saias.

63
Abre e fecha, qual se um livro fosse.
Uma borboleta.

64
Matuto, matuto... chego à sábia
conclusão: que matuto eu sou...

65
Chuva, chuva, chuva. Dá tristeza
quando falta; quando farta, assusta.

66
Nós e os nossos rios, cada qual segue
o seu curso. Reencontro na foz.

67
Morantes na Lua: São Jorge
e o fiel cavalo, mais a solidão.

68
Manhêêê – diz o piá –, trouxe uma flor
pra você. Troco por um beijo.

69
Tinha um pé de pinha no quintal vizinho.
Tinha. Nem quintal tem mais.

70
Na fila de idosos, troca-troca
de sintomas. Quem não tem inventa.

71
Era um frango assado, e além de assado
era assim. Teve à mesa um fim.

72
Luar no sertão. Que falta nos faz Catulo
com seu violão.

73
Goleiro do Galo distrai-se olhando
a perua. Come um baita frango.

74
Tudo bem, poeta. Minha terra
tem Palmeiras, mas sou são-paulino.

75
Falta de aviso não foi. Brincamos
de serra-serra, e o clima endoidou.
76
“Por que não te calas?”, diz a arara
ao papagaio. – Se calo, me peias.

77
Vão-se os amigos... Cada um que a gente
chora deixa mais sozinho a gente.

78
Pai é pai. Para ver Adão contente,
deu-lhe o máximo: a mulher!

79
Infinda é a esperança. Os galos
cantam ainda na aurora de cada dia.

80
Bem-aventurados os que sonham.
Chama-os Deus poetas.
--
Fonte:
Textos enviados pelo Autor

AdemarMacedo (Mensagens Poéticas n. 356)


Uma Trova Nacional

Não me importo se demoras,
quando a tristeza me invade.
Para que contar as horas,
se já não sinto saudade?...
–CLENIR NEVES RIBEIRO/RJ–

Uma Trova Potiguar

Seu olhar de sinceridade,
crava paz nesse meu peito.
Nosso laço de amizade
tem as fitas do respeito!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Curitiba/PR
Tema: IMAGEM - Venc.


É tão vazia a paisagem,
e nem um vulto se vê...
Mas, sem ver qualquer imagem,
consigo enxergar você!
–VANDA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Uma Trova de Ademar

Pedro, que a Cristo negou,
chorou p’ra Deus perdoar;
enquanto, em Judas faltou
coragem para chorar.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Quando tu passas, menina,
num jeito próprio da idade,
tens uma graça felina
que envolve toda a cidade.
–ALYDIO C. SILVA /MG–

Simplesmente Poesia

Vazio
–CLEVANE PESSOA/RN–


Andar sem amor ou ideal
é ter um vazio no peito, na alma,
no sonho, na palma
que pode ser abismal
ou mesmo ameno:
- um suspiro que não se sabe
de onde nos vem
mas por certo escapa
porque no coração não cabe...
um peso advindo de invisível capa...
às vezes é carência parcial,
às vezes é vazio pleno...

Estrofe do Dia

Uma estrofe, um poema, uma canção,
um soneto, uma trova, uma sextilha,
um galope, um rojão, uma quadrilha,
um Brasil de caboclo ou um mourão,
um quadrão beira-mar, oito a quadrão,
um famoso martelo agalopado,
seja escrito ou então improvisado
não altera os valores do autor,
tudo quanto produz o cantador
deveria ser lido e divulgado.
–DAUDETH BANDEIRA/PB–

Soneto do Dia

Verdade
–PEDRO MELLO/SP–


Heróico e quixotesco cavaleiro,
exemplo de moral e de virtude,
audaz enfrento a Vida o tempo inteiro,
mesmo que o tempo, às vezes, seja rude...

Mas, na verdade, eu sou um Prisioneiro
de mim... e, sem chegar à Plenitude,
amargo a dor e as pedras de um roteiro,
em que eu, "herói", renego a Solitude...

E a minha Angústia (agindo de má-fé)
senta comigo e bebe o meu café...
(É noite...) Minhas mágoas me consomem...

Entediado já não sou herói:
- À noite eu sinto o quanto a vida dói...
e descubro... que sou apenas homem...
--
Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Ivan Carlo (Manual de Redação Jornalística) Parte 3


Jornalismo é o mesmo que propaganda?

Não. Para começar, há a diferença de objetivos. A propaganda tem como objetivo vender uma idéia, ou um produto. O jornalismo tem o objetivo de informar. Além disso, há outras diferenças que analisaremos a partir dos
exemplos abaixo.

EXEMPLO DE PROPAGANDA

Observe que no exemplo a função mais utilizada é a função conativa. Ou seja, ela é centrada no receptor. O texto tem por objetivo modificar o comportamento do receptor e levá-lo a assinar o uol. O verbo no imperativo demonstra isso: Assine. Um texto publicitário pode até repassar informações, mas isso é algo secundário. O objetivo maior é convencer o consumidor a comprar.

CAPÍTULO 2
O CONTEÚDO DA MATÉRIA JORNALÍSTICA


O conteúdo no texto jornalístico pode ser resumido em 6 aspectos: o que, quem, quando, onde, como, por que.

O que está acontecendo?
Quem está participando dessa notícia? Quais são os personagens?
Quando aconteceu ou quando acontecerá?
Onde aconteceu?
Como aconteceu?
Por que aconteceu? Quais são as razões que levaram esses fatos a acontecerem.


Vamos dizer que estejamos lendo uma matéria sobre um homem que matou a esposa no bairro do Zerão no Sábado, às 19 horas, com uma facada. Veja como as perguntas são respondidas:

O que? Um homem matou a esposa.

Quem? Os personagens principais dessa história são o homem e sua esposa.

Quando? No Sábado, dia 6, às 19 horas.

Onde? No bairro do Zerão.

Como? Ele matou a esposa com uma facada.

Por quê? Ciúme.

Toda matéria jornalística deve responder a 6 perguntas: O que? Quem? Quando? Onde? Como? Quando? Por quê?

Tente responder às seis perguntas no texto abaixo.

China liberta milhares de vítimas de tráfico de mulheres

Em um pouco mais de um mês, as autoridades chinesas resgataram mais de dez mil mulheres e crianças que eram vítimas do tráfico, segundo anunciou o jornal oficial "China Daily» nesta quarta-feira. A reportagem disse que desde abril o Ministério da Segurança Pública e a Federação de Mulheres Chinesas identificaram os criminosos que praticavam o comércio de mulheres e crianças nas áreas rurais do país.

O governo chinês tem intensificado sua luta contra o tráfico de pessoas, sendo a prioridade das polícias das Províncias neste ano. De acordo com a imprensa estatal, as mulheres eram recrutadas em zonas rurais empobrecidas, para serem utilizadas como escravas sexuais em regiões costeiras mais prósperas. Algumas tornavam-se esposas de homens que viviam em comunidades onde existe um menor número de mulheres.

Os meninos são freqüentemente vendidos a famílias que possuem apenas uma menina ou a casais que não conseguem ter filhos. Esse problema esbarra em questões culturais e tradicionais da China, que persistem até hoje.

O "China Daily» afirmou em uma série de matérias que os efeitos do tráfico de mulheres e crianças tornou-se o maior problema social do país, porque compromete a recuperação psicológica das vítimas. No mês passado, o governo executou quatro fazendeiros e condenou 18 pessoas à prisão perpétua por crimes de rapto e tráfico de crianças e pessoas do sexo feminino.

Também em abril, a polícia chinesa disse que desmantelou uma quadrilha que forçava à prostituição de pelo menos 105 mulheres e crianças. Na época, os policiais prenderam 77 pessoas envolvidas no crime, que começou em 1998. Em 19 de abril, a agência de notícias Xinhua revelou que a polícia quebrou o cativeiro de 84 mulheres e crianças, que eram obrigadas a prestar serviços sexuais no sudeste da província de Fujian.

Responda agora as seis perguntas, retirando as informações do texto:
O que?
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
Por quê?

CAPÍTULO 3

A FORMA DO TEXTO JORNALÍSTICO


A forma é a maneira como a matéria deve ser escrita. O jornalismo tem as suas próprias regras de redação, assim como a língua portuguesa. Você deve seguir essas regras, assim como segue as regras da língua portuguesa. Você deve aprender essas regras para poder escrever um texto jornalístico.

O que é mais informativo vem primeiro

O objetivo do jornalismo é repassar informações e isso se reflete na maneira como se escreve o texto. Para isso existe o lide. O lide é o primeiro parágrafo do texto jornalístico. Ele resume as informações da matéria ou expõe as informações mais relevantes, aquilo que a notícia tem de diferente de curioso, de fora do normal. Lembra-se das seis perguntas? Pelos menos quatro delas precisam ser respondidas pelo lide: O que, quem, onde e quando.

O lide é o primeiro parágrafo do texto. Ele resume as informações principais da matéria.

Faça um exercício. Releia as matérias jornalísticas que foram usadas no exercícios anteriores e tente descobrir o lide delas.

Agora vamos ver um exemplo de lide.

Exemplo de lide

O destino e o tratamento final do lixo gerado no ano passado no Estado apresentou melhoras pelo terceiro ano consecutivo. Segundo o Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares, apresentado ontem pelo Secretário do Meio Ambiente, Ricardo Tripoli, e produzido pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), de 1998 para 1999 houve uma redução de 6% nos 645 municípios do Estado com disposição inadequada do lixo gerado. Também foi constatado um aumento de 10% das cidades que guardam seus resíduos domésticos de forma adequada.

Leia o lide com atenção. Perceba que ele repassa as informações principais sobre o assunto. Através dele, é possível saber sobre o que é a matéria. Você é informado que a matéria trata da questão do lixo, que essa questão está começando a ser solucionada no Estado de São Paulo. Há um personagem (Ricardo Tripoli), há um fato (aumento do número de cidades que guarda o lixo adequadamente), um onde (O Estado de São Paulo). Há também um quando (1998 a 1999). Observe também que essas informações estão devidamente organizadas. São 7 linhas com três frases. Cada frase repassa uma informação. As frases, portanto, são simples, para facilitar a compreensão e organizar as informações. Falaremos disso mais tarde, mas, por enquanto, fica o recado:

O jornalismo trabalha com frases simples para ajudar a organizar as informações e facilitar a compreensão

Fonte:
Virtualbooks

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Nemésio Prata (Trova Ecológica 26)


Montagem da trova sobre foto de Sofia Cordeiro

Hermoclydes S. Franco (Proposições a um Vocabulário em Trovas) Letras “J”, “K” e “L”


LETRA “J”

JACI: Em tupi é lua
Que clareia em tempo seco...
Ilumina até a rua
Do bardo JACY PACHECO...

JANEIRO: Mês dos Reis-Magos;
Do grande São Sebastião;
Traz, entre risos e afagos,
As belezas do verão.

JEITOSO: Hábil; Airoso.
JEREBA: Desajeitado
JERICO: Burro teimoso.
JEROPIGA: “Fermentado”.

JIBÓIA: Grande serpente
Que ensinou a “jiboiar”;
Comer o quanto se agüente
Para, depois, descansar...

JILÓ: É fruto amargoso.
JIRÁU: Estrado de varas;
É, também, bar luxuoso
Onde vão as “avis-raras”.

JOÁ: É planta espinhosa
De lindos frutos, até.
JOANETE: Forma curiosa
Do grande dedo do pé.

JOANINHA: Fusca da “cana”,
É o terror dos marginais...
JOANINO: De João ou Joana;
Festejos tradicionais...

JULHO: Guarda uma lembrança
Da revolução paulista
Que revelou a pujança
Da gente nacionalista.

JUNHO: Das noites mais frias,
Dos balões, dos namorados...
É o mês dos mais lindos dias,
Dos “arraiais” enfeitados...

LETRA “k”

“K” – Consoante velar, surda;
Em grego, seu nome é Kapa:
Tornou-se uma letra absurd
(e foi riscada do mapa!)

KU-KLUX-KAN: Que o Tennessee,
Ocultamente, criou...
Sociedade cruel, em si,
Que todo um povo manchou...

KAISER: Foi imperador
Na Alemanha ultrapassada...
Hoje, em dias de calor,
É cerveja (...bem gelada!)

LETRA “L”

LÁGRIMA: É qual curso d’água,
Da emoção, na geografia:
Ora a nascente é na mágoa,
Outras vezes, na alegria...

LAMPEJO: Aquele momento
Do “achado”, da grande trova!
LAMÚRIA: Queixa; Lamento,
Se o “achado” nada inova...

LANÇA-PERFUME: Bisnaga
Cheia de éter perfumado.
Quando aspirado, embriaga...
... e dá um “bode” danado!

LANCE: Perigo; Aventura;
No jogo, aquele que arrisca:
Se perder, vem a fatura;
Se ganhar, então, petisca!

LANTERNA: Foco de luz;
Para os trens, é furta-fogo;
No futebol, uma cruz,
Se o “lanterna” é o Botafogo...

LATOUR: A torre (na França)
Que nos lembra uma palmeira;
Também nos traz à lembrança
O amigo LATOUR ARUEIRA...

LEÃO: Rei dos animais;
Constelação zodiacal;
Na “Seleção”, entre os tais,
Ainda pode ser “o tal”...

LENÇOL: É peça de pano
Usada nos dormitórios.
LENDA: Conto; E até engano
De mentirosos notórios...
---
Fonte:
Trovas enviadas pelo autor
Imagem = montagem por José Feldman

A. A. de Assis (Microcrônicas) Parte 1


1
Cedinho saudou-me
na janela um bem-te-vi. “Igualmente”, eu disse.

2
Balé de andorinhas em volta
da catedral. As aves Marias.

3
Zelosa vizinha serve água fresca
à roseira. Regá-la é um regalo.

4
Sujaram meu rio. Ele, que lavava as gentes,
não lavou as mentes.

5
Na folha de amora nutre-se
o bicho-da-seda. A quem vestirá?

6
Chocados os ovos, há o choque
dos seres novos. E a vida prossegue.

7
Meninos de rua. Vem de madrugada
lhes dar colo a lua.

8
Um quase milagre. Há quem de graça
diga ainda: “Amo você”.

9
Bolsa de valores. Nem só de ações morre
o homem, mas também de infarto.

10
Gato faz barulho. No telhado ao lado,
ao som do arrulho, pombo e pomba amam.

11
Passa o avião logo atrás do gavião.
Discípulo e mestre.

12
Um homem ao relento no gelado chão.
Passantes passamos.

13
Semente na mão, lavrador de sol a sol
engravida o chão.

14
Pinheiro em pedaços para a fábrica
é levado. Será livro um dia?

15
Poema na praça. Menininha
joga um beijo à flor.

16
Balança o palanque. O peso
na consciência do nobre orador.

17
Já não posso vê-la. Some a gaivota
no azul. Foi virar estrela.

18
Cocô da andorinha cai justo
em cima da rosa. Lesa-majestade.

19
Dá-me aí, poeta, uma rima para míssil.
– Difícil, difícil.

20
Nasci na montanha. Supunha coubesse
a Terra toda em meu olhar.

21
Aguinha da bica. Pousa o melro,
beberica. Louva a vida. Canta.

22
O amor sempre tem razão.
Mesmo quando, às vezes, erra.

23
Quem nada... tem tudo. Somente os peixes
puderam dispensar a Arca.

24
Banho de rio, bola de gude,
bola de meia. Terra natal.

25
Pião da saudade. Roda e pousa
numa era em que era bela a vida.

26
Sofrida goteira, gota a gota a noite inteira.
Chorará por quem?

27
Cantam parabéns. Sopro mais
uma velinha... Mais velhinho estou.

28
Um ato de fé. Lavrador, olhando o céu,
abana o café.

29
Amar é bom à beça. Bastante
e sem pressa. De preferência ao luar.

30
Iça... iça... iça... Devagar vai indo
ao longe o bicho-preguiça.

31
Tá podendo o joão-de-barro. Só ele,
entre a passarada, vive em mansão.

32
Deixa o beija-flor um "selinho"
em cada rosa. E elas gostam... ahhhh.

33
Cada mês que passa vai passando
a ser passado. Nós também, que pena...

34
Um vaso de avenca. Minimíssima floresta.
Mas é verde, é festa.

35
Vai dormir o Sol. Na cabeça da montanha
pendura a coroa.

36
Minhoca e minhoco. Será como
que eles fazem quando estão no choco?

37
Um impasse e tanto: se trabalho,
o canto atrapalho. Nesse caso, canto.

38
Ante o Pão-de-Açúcar, dá as costas
a Lua ao mar. A lei do mais doce.

39
Bem-te-vi faz um rasante, fere ao peito
o gavião. Davi um, Golias zero.

40
Veja a parasita: parece gente
que a gente acha até bonita...
41
Teste de audição. Canta ao longe
um sabiá... e eu posso escutar.

42
Caminhão de lixo. O derradeiro passeio
da gula e do luxo.

43
Tímida peroba. Dá-lhe a orquídea
um leve toque de namoradeira.

44
Passam tartarugas.
Passo... a passo... a passo...

45
Tomara que caia. Ante a malta
salta sobre a poça a moça.

46
Lua nova e meia. Tão crescente,
logo casa, vira lua cheia.

47
Um gato no muro. Vacila entre o gordo rato
e a gatinha enxuta.

48
Um par de rolinhas horas a fio
no fio. Namoro ou fofoca?

49
Chovem meteoritos. Enxame de pirilampos
de noite na roça.

50
De pernas pro ar... Domingo pé de cachimbo
ou pede um sofá?
–––––––––-
continua…

Fonte:
Microcrônicas enviadas pelo autor