sábado, 5 de junho de 2021

Versejando 59 (Alba Krishna Topan Feldman)

 


Silmar Böhrer (Croniquinha) 25

As calendas do outono têm sido contumazes incitantes de ideias e idealidades. Numa das andanças pelos caminhos diários, lembrei de uma página dos ANALECTOS, do filósofo Confúcio, onde laconicamente diz assim: " Não se desvie do caminho ".

Tão curta quanto certa é a afirmação - buscar um caminho como meta, seguindo obstinado na missão a que nos propusemos.

Com denodo e perseverança, cultivando pensares, saberes, viveres, fazendo o de que mais gostamos, parece ser o destino ditoso que podemos viver.

E viveremos !

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Versejando 60


 

Carlos Drummond de Andrade (Trem de Contos) 29 e 30


DIÁLOGO FINAL


— É tudo que tem a me dizer? — perguntou ele.

— É — respondeu ela.

— Você disse tão pouco.

— Disse o que tinha para dizer.

— Sempre se pode dizer mais alguma coisa.

— Que coisa?

— Sei lá. Alguma coisa.

— Você queria que eu repetisse?

— Não. Queria outra coisa.

— Que coisa é outra coisa?

— Não sei. Você que devia saber.

— Por que eu devia saber o que você não sabe?

— Qualquer pessoa sabe mais alguma coisa que outro não sabe.

— Eu só sei o que eu sei.

— Então não vai mesmo me dizer mais nada?

— Mais nada.

— Se você quisesse…

— Quisesse o quê?

— Dizer o que você não tem para me dizer. Dizer o que não sabe, o que eu queria ouvir de você. Em amor é o que há de mais importante: o que a gente não sabe.

— Mas tudo acabou entre nós.

— Pois isso é o mais importante de tudo: o que acabou. Você não me
diz mais nada sobre o que acabou? Seria uma forma de continuarmos.
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ENCONTRO

O personagem de Lúcio Cardoso hospedou por algumas semanas o personagem de Cornélio Pena. Nunca se viam, porque um dormia pela madrugada e o outro ao anoitecer. Não se encontravam à mesa, mas ambos diziam “bom dia”, sozinhos, referindo-se ao companheiro.

O personagem de Guimarães Rosa, encontrando aberta a porta da casa, entrou, não viu ninguém, deu tiros para o alto. Um buriti cresceu na sala de jantar, a vereda fluiu suas águas. Os personagens de Lúcio e de Cornélio acudiram ao mesmo tempo, surpresos. Ouviu-se a viola de Miguelão entoar modinhas do Urucuia. Todos beberam muito, e a noite acabou em antologia mineira, com ilustrações de Poty.

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. Publicado em 1981.

Cônego Benedito Vieira Telles (Jardim de Trovas)


1
A esperança também gera
o mal que a saudade tem,
quando a gente vive à espera
do sonho que nunca vem.
2
Amigo, qual tenra planta,
tem de ser bem cultivado.
Se outro valor se levanta,
você pode ser trocado...
3
A neve nos pinheirais,
nestas paragens do Sul,
forma brincos de cristais
na terra da gralha azul.
4
À sua mesa haja o pão,
partilhe-o com quem não tem.
Reparta-o com o irmão,
que não o falte a ninguém.
5
Às vezes, no entardecer,
prateia a lua as ramagens.
Velha árvore a fenecer...
Com ela, as frescas aragens!
6
A trova, menor poesia,
síntese da inspiração.
São sete pés de maestria,
que medram no coração!
7
A trova não envelhece,
assim é toda a poesia.
É perene como a prece,
imortal a cada dia!
8
A vida é dura, renhida,
porém tem muita poesia.
Faço parte da torcida
da esperança a cada dia.
9
Cidade do coração,
tens meio milhão de amores,
tu és a ‘Cidade Canção’,
Maringá, urbe das flores!
10
Coração de mãe é grande,
infinito como o amor.
Sua ternura se expande
como o perfume da flor!
11
Em vez de bombas, canhões,
fome, miséria, orfandade,
que se unam os corações
na paz da fraternidade!
12
Frondosa árvore, bendita,
que antepassados plantaram.
Árvore alegre, bonita,
de ti saudades ficaram!
13
Há festa no céu, na Terra,
foi a maior deste Mundo,
nos mares, rios e serras...
Natal, mistério profundo!
14
O domingo é do Senhor,
dia pascal do cristão.
Vamos ao altar do Amor
enriquecer-nos do irmão.
15
O homem foi feito perfeito,
à semelhança de Deus;
às vezes, fico sem jeito
de não ser igual aos meus.
16
Ontem falara às estrelas,
e sussurros seus ouvia.
Foi difícil entendê-las!...
Novo dia em cantoria.
17
Ouvir e ver as estrelas,
sonhara, enfim, o profeta.
Se Bilac falou com elas,
vale a pena ser poeta!
18
O vento farfalha a copa,
da árvore, folhas e flores,
e a ave o ninho envelopa
para abrigar seus amores.
19
Pode entrar. A casa é sua,
sempre me traz alegria.
Ao sair, esta é a rua...
se puder, volte. Bom dia!
20
Por que não curtir saudade,
que é parte do nosso ser?
– Saudade não tem idade,
fica em nosso entardecer.
21
Pra que possa haver perdão,
estenda a mão o ofensor
ao ofendido – e do irmão
cure a dor com muito amor.
22
Quanto mais a idade avança,
no longo tempo a correr,
eu tenho mais esperança
e mais prazer em viver...
23
Quisera ter coisas novas
escritas, mas tudo em vão.
Só encontrei algumas trovas
no escrínio do coração.
24
Quisera ter tantas vidas
pra levar a Paz e o Bem.
Lancei sementes nas lidas...
agradeço a Deus. Amém!
25
Receba, de coração,
o que posso repartir:
à mesa, um pouco de pão,
e a alegria de sorrir.
26
Rústico curral bovino,
maternidade do Amor.
– No corpo de um Deus-Menino,
nasceu-nos o Salvador.
27
Sai o hábil semeador
e lança a boa semente.
Chamado pelo Senhor,
planta-a na alma da gente.
28
Senhor, neste amanhecer,
louvo a tua criação:
da aurora ao entardecer,
eu te encontro em meu irmão.
29
Sigo minha trajetória
pelos caminhos, cantando.
No coração, trago a história
desde que O segui, sonhando.
30
Traz-me a árvore lembrança
dos verdes anos, agora.
Como foi bom ser criança,
com meus sonhos desde a aurora.
31
Tudo o que é criado passa,
porque tudo é contingente.
Deus sempre, com sua graça,
renova a vida da gente.
32
Uma prece eleve a Deus,
com fé peça hoje a cura
para alguém junto dos seus
e cure essa criatura.
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Cônego Benedito Vieira Telles nasceu no Distrito de Campo Místico, hoje, cidade e comarca de Bueno Brandão/ MG, em 1928. Filho de pais católicos praticantes, Luiz Vieira Telles e Maria da Conceição Telles. Eram doze irmãos. Aos domingos, íam à Missa na Matriz de São Bom Jesus da Pedra Fria, igreja em que foi batizado, crismado, fez Primeira Comunhão. Nesta matriz rezou a Primeira Missa solene, em 1960, em Ação de Graças pelo chamado ao sacerdócio.
 
Em 1945, entrou no Seminário dos padres da Congregação Salesiana, em Lorena – SP. Concluídos os estudos de Filosofia e Teologia no Seminário Maior São José, Rio de Janeiro – DF, foi ordenado sacerdote por dom Jaime Luiz Coelho, em 1960, na primeira catedral de madeira, cujo bispo de Maringá ordenava-lhe o primeiro padre da diocese.

Foi nomeado vigário coadjutor da catedral, Secretário do Bispado, Chanceler da Cúria Diocesana. Implantou pastorais na catedral: catequese paroquial e nas escolas, Obras das Vocações Sacerdotais, cujas vocações floriram. Ia mensalmente às capelas dos distritos de Maringá, zonas rurais, para dar-lhes assistência espiritual. Fundou o Movimento Familiar Cristão e outros. Foi nomeado Cura da Catedral de Maringá. Pároco por quase nove anos. Foi transferido para a paróquia de Inajá. Depois, pároco em Guairaçá, Atalaia, comunidades desta arquidiocese. Exerceu o magistério de Direito na Universidade Estadual de Maringá até a aposentadoria e Unicesumar.

Colaborou na Folha do Norte do Paraná, imprensa diocesana e outras obras, que constam em Livros Tombos das paroquiais que administrou.


Fontes:
Trovas obtidas nos Boletins de Trovas "Trovia", de A. A. de Assis.
Biografia adaptada obtida da Arquidiocese de Maringá, em 2016.
http://arquidiocesedemaringa.org.br/noticias/695/60-anos-da-arquidiocese-de-maringa-conheca-a-historia-do-conego-benedito-vieira-telles

Marcelo Spalding (Abrir e fechar os olhos)

Insistem para que eu abra os olhos. Pegam na minha mão, acariciam meu rosto, tentam uma graça, um incentivo. Esperam, rezam, se revezam. Sai o Otávio, que fala baixo e suspira alto, sai de cabeça baixa, sem cumprimentar a irmã, entra a pequena, de sorrisos medidos, gestos ensaiados, olhar atento. Tem sido assim nos últimos quarenta e três dias, vivemos a mesma vida em mundos paralelos, eu preso à cama e eles acorrentados a mim.

Não sei precisar de onde veio o golpe, se do revólver de um vagabundo, da fúria de um vizinho, da violência de um motorista ou do capricho de um deus. Não sei compreender os motivos, as culpas, os remorsos, tampouco as ausências e os desejos que ficaram pra trás. Não sei aplacar a ânsia das pernas, acalmar a urgência dos pulmões, amenizar a dor da pele, iludir os sentidos. Mas enquanto permanecer nesse mundo poderei ver e ouvir os seres deste e do outro mundo, estar aqui e em todos os lugares, nesse e em todos os tempos.

A pequena traz uma cartolina enrolada, com alguma dificuldade vai revelando o papel e nele há fotografias, muitas, tantas quanto possível para uma vida pacata. Ela pede licença para colar o presente na parede, quer que seja minha primeira visão no dia em que eu abrir os olhos. Com cuidado prende as pontas, ajeita os recortes, observa o resultado. No fundo não acredita que eu esteja ouvindo, mas fala alto, fala para si, não sabe ainda que eu não apenas vejo cada imagem como também me transporto para o dia em que foi tirada, visito cada casa, abraço cada amigo. Reparo, depois de uma reveladora e cansativa volta no tempo, que em algumas sorrio, em muitas não, em algumas estou sentado, em outra de pé, em algumas estou sem camisa, em outros de terno e gravata, em algumas olho para a câmera, em outras para um ponto qualquer, mas em nenhuma, absolutamente em nenhuma delas estou sozinho, como em nenhum momento dessa viagem me senti sozinho, nem no dia da morte da filha bebê nem no dia da certeza que ela não voltaria aos meus braços nem na derradeira manhã do golpe. Nunca.

A cartolina fica na parede. Com o passar dos dias me acostumo com a presença dos pequenos e aprecio a persistência da pequena, que depois das fotos trouxe um radinho, um bibelô da casa, meu travesseiro. E cada vez que exibia o presente, insistia para que eu abrisse os olhos, uma insistência classificada por médicos e enfermeiros como comovedora, ingênua e triste. Mas ela se aproximava, beijava meu rosto como nunca dantes, baixava a cabeça para rezar e dizia: eu espero, pai, eu espero o tempo que tu precisar.

Para ela foram meses, para mim apenas um instante, pois o tempo não é igual em todos os mundos. Um dia ela chegou sem esconder uma alegria transcendente, alegria maior que os primeiros traços de preocupação já cravados na face, maior que o permitido pelo fio desesperado de esperança no meu retorno, e me pediu para abrir os olhos e ver o milagre da vida. Pegou na minha mão e a pousou com cuidado no seu ventre, com a mão já posta falou que o bebê teria o meu nome e não em memória, mas como homenagem a alguém que escolheria viver, e nesse dia lembrei do meu primeiro bebê, do anjo que partira cedo, e finalmente cedi ao desejo de todos.

Devo ter aberto um olho só e com grande dificuldade, pois demorei para ter uma visão clara do rosto delicado da pequena, do rosto de traços tão semelhantes ao da minha juventude, e quando consegui ela chorava sem soluçar, as lágrimas escorrendo e caindo na minha mão morta sobre o ventre vivo. Abri um olho, depois outro, ou parte dele, abri-os e meu olhar não deve ter transmitido dor, nem medo, nem revolta, nem tristeza. Em pouco tempo todos meus filhos estavam ali e a pequena segurava a cartolina que me trouxera de volta para o mundo dela. Um por um se aproximaram e beijaram minha face, como nunca antes.

Não voltei a fechar os olhos, observava tudo com a intensidade de quem já conhecera outro mundo. E não voltaria a fechar os olhos jamais não fosse a pergunta muito grave da pequena: a gente te quer por perto seja como for, pai, mas precisamos saber se tu também quer. Tu quer, pai? Responde pra nós, dá um sinal. Tu quer ficar com a gente? Eu jamais voltaria a fechar os olhos, mas precisei fechá-los e abri-los com calma para que entendessem meu sim. Sim.

Daquele dia em diante, abrir e fechar os olhos deixou de ser um gesto involuntário, singelo, automático. Foi com um abrir e fechar de olhos que concordei com o nome do bebê, com um abrir e fechar de olhos que agradeci à pequena, com um abrir e fechar de olhos que aprovei a cartolina com fotos e, mais tarde, com um abrir e fechar de olhos que escolhi cama, quarto, médicos. Foi com um abrir e fechar de olhos que escolhi viver.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

Adega de Versos 26: Olivaldo Júnior

 

Humberto de Campos (A Vingança)

O caboclo Saturnino, agricultor em Jacarepaguá, era, por natureza um homem morigerado (*bem-educado). Criando os seus porcos, as suas cabras, os seus perus, as suas galinhas, fazia o possível para que a bicharada não saltasse a cerca, indo devastar as plantações dos vizinhos. Se ele se indignava até à inconveniência quando um bode alheio lhe penetrava o roçado, era natural que os outros se revoltassem, também, quando vítimas de idênticas depredações.

Não obstante os cuidados de todo o dia, tapando, endireitando, recompondo os menores buracos do cercado, foi o Saturnino surpreendido, uma tarde, pela falta de uma das galinhas mais gordas do terreiro. Experiente como era, saiu o caboclo pelo fundo do quintal, e ao olhar para a cozinha do seu compadre Teodoro Maniva, descobriu lá a sua galinha, que estava sendo depenada pela dona da casa. Saturnino rodeou o cercado, bateu à porta da frente e queixou-se do que lhe haviam feito. Positivamente, aquilo não era sério, nem digno de um homem de bem... Teodoro sorriu, e desculpou-se:

- Ora, compadre, para que brigar? Vamos entrar num acordo. A galinha já está na panela; venha jantar hoje, comigo...

Inimigo de questões, Saturnino aceitou o convite, esperou a hora, jantou, despediu-se, e dirigiu-se para casa, de cabeça baixa, imaginando o meio de tomar desforra do seu compadre Teodoro.

Esta não foi difícil. A Brígida, mulher do Teodoro, era uma cabocla forte, rochonchuda, atarracada, cujos olhos faiscavam toda a vez que divisavam, na vila ou nas estradas, o vulto do Saturnino. O caboclo recordou-se disso e, com o propósito da represália, resolveu explorar essa fraqueza da comadre. E tanto fez, tanto virou, tanto mexeu, que, um dia, ao voltar do roçado, o Teodoro não encontrou mais a mulher. Desconfiado, rumou para a casa do Saturnino, e bateu.

- Quem é? - perguntaram de dentro.

- Sou eu! - trovejou o Teodoro.

Saturnino apareceu na soleira do casebre e o outro indagou, feroz:

- A Brígida não está aqui?

O caboclo sorriu, batendo-lhe no ombro:

- Está aí, compadre. Ela está aí dentro.

E tomando-o pelo braço, puxando-o para a cabana:

- Entre, compadre. Fique para dormir com a gente...

Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. 1925.

A Árvore em Versos - 2


Giuseppe Artidoro Ghiaroni
(Paraíba do Sul/RJ, 1919 – 2008, Rio de Janeiro/RJ)


AS ÁRVORES CORTADAS

Deceparam as árvores da rua!
Sem troncos hirtos na calçada fria,
a rua fica inexpressiva e nua;
fica uma rua sem fisionomia.

0 sol, com sua rústica bondade,
aquece até ferir, até matar.
E a rua, a rir sem personalidade,
não dá mais sombras aos que não têm lar.

As árvores, ao vento desgrenhadas,
não lastimam a peia das raízes:
Olvidam suas dores, concentradas
no sofrimento de outros infelizes.

Eu penso, quando à frente dos casais
vem sentar-se um mendigo meio-morto,
que uma fronde se inclina um pouco mais,
para lhe dar mais sombra e mais conforto.

Sem elas, fica a triste perspectiva
de uns muros esfolados, muito antigos,
que se unem na distância inexpressiva
como se unem dois trôpegos mendigos.

Quando vier com o seu farnel de lona,
arrimar-se à sua árvore querida,
o ceguinho de gaita e de sanfona
será capaz de maldizer a vida.

E aquela magra e trêmula viúva
que anda a esmolar com filhos seminus,
quando o tempo mudar, chegando a chuva,
dirá que dela se esqueceu Jesus!...

Meu Deus, seja qual for o meu destino,
mesmo que a dor meu coração destrua,
não me faças traidor, nem assassino,
nem cortador de árvores da rua!
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José de Alencar
(Fortaleza/CE, 1829 – 1877, Rio de Janeiro/RJ)


ÁRVORE SIMBÓLICA

– Que fazes tu, em meio do caminho,
Loureiros ideais amontoando?
Olha... com astros já formei teu ninho:
Vem dormir... inda há dia, e estás suando. –

Falou-lhe a morte assim com tal carinho,
Que ele dormiu, a obra abandonando:
E quando o mundo o procurou, foi quando
Viu que um sol cabe num caixão de pinho.

Devia ser-lhe marco à cabeceira
Uma águia, abrindo as asas remontada...
Não tem... plantemos tropical palmeira.

O tronco esbelto, a coma derramada
Dará ideia duma vida inteira
Sempre a subir... sempre a subir coroada...
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Joyce Kilmer
(EUA, 1886 – 1918, França)

ÁRVORES


Sei que nunca verei um poema mais belo e ardente,
do que uma árvore; uma árvore que encerra
uma boca faminta, aberta eternamente
ao hálito sutil e flutuante da Terra.

Voltada para Deus todo o dia, ela esquece
os braços a pender de folhas, numa prece.
Uma árvore, que ao vir do estio morno, esconde
Um ninho de sabiás nos cabelos da fronde.

A neve põe sobre ela o seu níveo diadema
e a chuva vive na mais doce intimidade
do tronco, a se embalar nos galhos seus;
Qualquer néscio como eu sabe fazer um poema.
Mas quem pode fazer uma árvore? – Só Deus.
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Maurice Rollinat
(França, 1846 – 1903)


A TRISTEZA DAS ÁRVORES

Oh! grandes vegetais! oh! mártires do estio!
Liras das virações – os músicos dos ares –
Quer verdes estejais, quer vos despoje o frio,
O poeta vos adora e vos sente os pesares!

Quando o olhar do pintor procura o pitoresco
É em vós que sacia a sôfrega avidez,
Porque vós sois o imenso e formidável fresco
Com que a terra sem fim cobre a sua nudez.

Quando estala o trovão, e o granizo peneira,
É a floresta um mar de encapeladas águas,
E tudo – a tília enorme ou a frágil roseira –
Solta nos penetrais lamentações de mágoas.

E vós, que muita vez, silentes como os mármores,
Adormeceis tal como as almas sem receio,
Então rugis, torcendo os braços, pobres árvores,
Sob as patas brutais de elementos sem freio!

Quando a ave os olhos fecha ao verão que a quebranta
Dos vossos ramos vai dormir ao brando afago;
Eles servem de abrigo à pedra e à débil planta
E casam sua sombra à fresquidão do lago.

Só nas noites de Maio, aos clarões estrelares,
Aos aromas sutis que as caçoulas exalam,
É que esquecer podeis as dores seculares,
Dormindo um sono bom que os zéfiros embalam.

O sol vos cresta e morde; o aquilão vos vergasta;
– Vivos embora – o inverno, frígida mortalha,
Vos cinge; e como enfim tanto sofrer não basta,
A rir o lenhador vossas carnes retalha.

Na cidade, no campo ou nas ínvias devesas,
Onde quer que vivais, olmos, faias, carvalhos,
Eu fraternizo com as enormes tristezas
Que derramam pelo ar vossos sombrios galhos...
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Pedro Tamen
(Lisboa/Portugal)

ÁRVORE

Cresce e vem do fundo da terra
ou do fundo do tempo.
Sobe para um céu
que afinal não conhecemos.
No intervalo há vida
– e também ela cresce:
nela se encerra
o que somos e temos;
e se desvela o véu.
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William Vicente Borges
Rio de Janeiro/RJ


A ÁRVORE E O MENINO LEVADO

Uma mangueira, nenhuma manga.
Um menino levado, nenhum juízo.
E por que não pular de galho em galho?
Afinal árvore e menino levado
Formam um par bem adequado.

Só que o menino levado não sabia
Que nem toda árvore está de brincadeira
E que nem todo galho só enverga.
E bem do alto da mangueira então,
Feliz da vida caiu o menino ao chão.

Todo arranhando saiu o menino
Com o galho ainda sob si,
Todos os amiguinhos atônitos
Não se atreveram a na árvore subir.
Mas a lição aprendida pôs todos a rir...

A mangueira ficou lá meio esquecida
Mas muitas frutas vieram a nascer
E lá foi o menino levado –
Só que desta vez não subiu nos galhos –
Com vara de bambu foi alto colher.

O menino levado cresceu e virou moço
E sempre que pode vai a árvore visitar
E na sombra dela ri do acontecido.
Menino levado e árvore combinam, sim.
O que não combina é não ser precavido.

Fonte:
Sammis Reachers (org.). Árvore: uma antologia poética. São Gonçalo/RJ, 2018. E-book.

Paulo Mendes Campos (O homem que odiava ilhas)

- Não tem um escritor americano que só queria levar para uma ilha deserta um manual do perfeito construtor de barcos?

- Chesterton. Não é americano, é inglês.

- Pois é. Também eu tenho horror às ilhas. Estávamos num barco de pesca em Cabo Frio. O senhor atlético, já meio grisalho, ao qual eu fora apresentado pouco antes, continuou a falar:

- Não dou para Robinson. Até sinto saudade do meu apartamentinho da Rua 49, bem no meio da confusão, morei lá oito anos. Estava só há um mês em Nova York - trabalhando para uma firma, sou engenheiro - quando me chamaram para topar uma pescaria no Maine. Fomos de trem, num fim de semana, seis rapazes e seis moças. Convidei para ir comigo uma garota que trabalhava no escritório, um amor de alemãzinha, chamada Graziela. O nome é italiano mas era filha de alemães. Fazia parte do grupo um rapaz, forte pra burro, que eu não conhecia antes, um tal Aiken, que resolveu dar em cima da minha pequena. Veja o meu azar.

Não sei se por eu ser sul-americano, moreno assim, o sujeito de vez em quando empurrava uma piadinha para o meu lado, a turma se esbaldava; eu também ria, fazendo aquilo que eles chamam de fair-play*. No domingo, um dia maravilhoso, muito azul, estávamos pescando na praia, quando resolvemos tomar duas lanchas de aluguel para ir até umas ilhas que a gente avistava dali. Logo na primeira ilha, dei sorte e peguei três peixes; mas os outros resolveram tentar a outra, a um quilômetro, ficando de me apanhar depois. Graziela seguiu com a turma. Ali pelas quatro horas, comecei a achar que eles estavam demorando a voltar. Uma fome horrível. Mas você sabe como é esse negócio de pescaria; se o peixe está dando, ninguém se lembra do tempo. Não liguei muito. A ilha não tinha nada, era um pouco parecida com a das Palmas. Aquilo mesmo, umas árvores magras e pedra. O tempo foi passando, o sol esfriou, eu fui ficando desconfiado. Quando anoiteceu, confesso que não gostei. Uma ilhazinha de nada no mar, tudo escuro, num país estrangeiro; e umas aves desagradáveis guinchando em cima de minha cabeça. O frio era de rachar, e eu de calção e blusa. Ajuntei uns gravetos e acendi uma fogueira, a duras penas; para aquecer-me e com a esperança de que algum barco me visse. O fogo não durou nada, madeira úmida. Começou a bater um vento gelado, meu velho, de dar calafrio. Quando achei que eles não voltariam mesmo me deu um ódio de morte. Precisei de berrar todos os palavrões que sabia para me acalmar um pouco. Sabe o que tinha acontecido? Quando as duas lanchas foram buscar o pessoal na outra ilha, Aiken disse para o motorista da segunda, e para Graziela que dera ordem para o primeiro barco ir me buscar.

Em terra, convenceu a turma de que eu, furioso por ter esperado tanto tempo, havia tomado o trem sozinho. Mas só soube disso depois. De qualquer forma, aquilo só podia ser coisa do tal Aiken. Já se imaginou na minha situação?! Ser passado assim pra trás! Me deu tanta raiva que chorei. Consegui arrancar uns galhos de uns arbustos e me cobri mais ou menos com eles, disposto a esperar a madrugada. Mas não aguentei. Ainda por cima, o cigarro acabou. E aqueles pássaros piando e esvoaçando na copa das árvores me punham nervoso. Sem que medisse bem as consequências do que ia fazendo, caminhei até uma rocha, resolvido a sair dali de qualquer jeito. Queria ajustar contas com Aiken o mais depressa possível. Calculei que da ilha à praia devia ser coisa de uns quatro quilômetros. Eu via lá na costa uma luzinha acesa provavelmente do bar onde trocáramos de roupa. Larguei na ilha o caniço e o molinete - uma beleza de molinete -, caí n'água, e fui nadando na direção da luz.

Nado bem mas o mar estava bastante grosso e, pior de tudo, frio feito gelo. Se me desse uma cãibra, adeus brasilzinho. Fui nadando. A luz do bar me guiava. Às vezes, uma onda mal-intencionada me cobria; a luz sumia. Depois a luz acabou sumindo mesmo. Cúmulo do azar: tinham apagado a lâmpada. A cãibra queria chegar, eu boiava um pouco, não tinha estrelas quase, só a Lua, Lua Nova. Mas, boiando, o meu sentido de direção piorava. Outras vezes, achava que nadava para dentro do mar, e não para a praia. Isso era pavoroso. Essa impressão acabou tão forte, que decidi nadar na direção contrária. Uma felicidade louca: exatamente quando ia virar, vi a luz de um carro passando pela costa. Nadei como um cão. Não sei quanto tempo, umas quatro horas. A costa era quase toda de rochedos, só em um pequeno trecho era de seixos. Tive uma sorte tremenda, dei no lugar dos seixos. Cheguei morto, tremendo e batendo queixo como uma caveira. Bati no bar, não apareceu ninguém.

Esmurrei a porta. Apareceu um rapazinho, o vigia, os proprietários já haviam ido embora, ele não tinha a chave; que eu viesse buscar as minhas roupas no dia seguinte.

Tiritando de frio, andei até a estrada e comecei a pedir carona. Um caminhão parou. Quando o chofer me viu, de calção, todo molhado, perguntou: "Where did you come from?" De onde você veio? Dali, respondi, apontando para a ilha. Ah, o sujeito ficou besta, deu-me um aperto de mão. No caminho da cidadezinha, contei-lhe a história toda. O cara ficou no maior entusiasmo, e me levou a um boteco, onde chamou os amigos para dizer tudo que se passara comigo. Gente simples, da melhor qualidade.

Me pagaram uísque, sanduíches, até roupa me arranjaram, e me emprestaram dinheiro para a passagem de volta. Mandei um cheque depois em nome do dono do bar.

- E o tal de Aiken?

- No dia seguinte, Graziela me deu o telefone dele. Marcamos um encontro num lugar ermo. O cabra era bom no boxe. Mas naquela época eu jogava capoeira e, modéstia à parte, era também uma parada amarga. Foi uma das melhores brigas da história dos Estados Unidos, isso eu posso lhe garantir que foi. Não sei quem venceu; de minha parte, fiquei satisfeito. Agora, se eu lhe disser uma coisa, você não vai acreditar. Dessas que só acontecem nos Estados Unidos, Aiken se tornou o meu melhor amigo. Ainda outro dia me escreveu participando o nascimento de seu terceiro filho. Sou até padrinho do primeiro, o Kenneth.

- E a alemãzinha?

- Graziela? É a mulher dele, mãe dos garotos.
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**Fair-play: em inglês significa "jogo limpo, justo, honesto; que segue as regras estabelecidas.

Fonte:
Paulo Mendes Campos. O cego de Ipanema. RJ: Editora do Autor, 1960.

Aprenda a usar a vírgula com 4 regras simples

A vírgula é um dos elementos que causam mais confusão na língua portuguesa. Pouca gente sabe ao certo onde deve e onde não deve usá-la.

O motivo disso é simples: sempre nos ensinaram de forma errada!

Você já deve ter ouvido dizer coisas como "a vírgula é usada para indicar pausa", ou "prestem atenção em como vocês falam, quando tiver pausa, usem vírgula". Isto é asneira, pois cada um de nós fala de maneira diferente, usa pausas diferentes e, basicamente, decide como quer falar.

Mas não podemos, simplesmente, decidir onde tem e onde não tem vírgula.

Ela tem poder demais para ser arbitrária. Quer ver o enorme poder da Vírgula? Pois bem, existem algumas regras para o uso da vírgula, e elas são baseadas na gramática. Calma, não se assuste! O meu objetivo aqui é "mastigar" a gramática para que não estrague os seus dentes:

1. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR ELEMENTOS QUE VOCÊ PODERIA LISTAR

Veja esta frase:

João Maria Ricardo Pedro e Augusto foram almoçar.

Note que os nomes das pessoas poderiam ser separados numa lista:

Foram almoçar:
• João
• Maria
• Ricardo
• Pedro
• Augusto

Isso significa que devem ser separados por vírgula na frase original:
João, Maria, Ricardo, Pedro e Augusto foram almoçar.

Note que antes de “e Augusto” não tem vírgula.

Regra geral, não se usa vírgula antes de “e”. Há um caso específico que explico mais à frente.

Um outro exemplo:

A sua fronte, a sua boca, o seu riso, as suas lágrimas, enchem-lhe a voz de formas e de cores… (Teixeira de Pascoaes)

2. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR EXPLICAÇÕES QUE ESTÃO NO MEIO DA FRASE

Explicações que interrompem a frase são mudanças de pensamento e devem ser separadas por vírgula. Exemplos:

Mário, o jovem que traz o pão, não veio hoje.

Dá-se uma explicação sobre quem é Mário.

Eu e tu, que somos amigos, não devemos guerrear.

O trecho destacado explica algo sobre "eu e tu", portanto deve estar entre vírgulas. A classificação do trecho seria oração adjetiva explicativa.

3. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR O LUGAR, O TEMPO OU O MODO QUE VIER NO INÍCIO DA FRASE

Quando um tipo específico de expressão — aquela que indica tempo, lugar, modo e outros — iniciar a frase, usa-se vírgula. Noutras palavras, separa-se o adjunto adverbial antecipado. Exemplos:

Lá fora, o sol está de rachar!

“Lá fora” é uma expressão que indica “lugar”. Um adjunto adverbial de lugar.

Na semana passada, todos vieram jantar aqui em casa.

“Na semana passada” indica tempo. Adjunto adverbial de tempo.

De um modo geral, não gostamos de pessoas estranhas.


“De um modo geral” é sinônimo de “geralmente”, adjunto adverbial de modo, por isso tem vírgula.

4. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR ORAÇÕES INDEPENDENTES

Orações independentes são aquelas que têm sentido, mesmo estando fora do texto. Já vimos um tipo dessas, que são as orações coordenadas assindéticas, mas também há outros casos. Vamos ver os exemplos:

Acendeu um cigarro, cruzou as pernas, estalou as unhas, demorou o olhar em Mana Maria.

Neste exemplo, cada vírgula separa uma oração independente. Elas são coordenadas assindéticas.

Eu gosto muito de chocolate, mas não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, porém não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, contudo não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, no entanto não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, entretanto não posso comer para não engordar.


Eu gosto muito de chocolate, todavia não posso comer para não engordar.

Entendeu? Antes de todas essas palavras, chamadas de conjunções adversativas, têm vírgula.

Agora só faltam mais duas coisinhas:

Quando se usa vírgula antes de “e”?


Vimos em cima que, regra geral, não se usa vírgula antes de “e”. Há só um caso em que se usa vírgula, que é quando a frase depois do “e” fala de uma pessoa, coisa, ou objeto (sujeito) diferente da que vem antes dele. Assim:

O sol já ia fraco, e a tarde era amena.

Note que a primeira frase fala do sol, enquanto a segunda fala da tarde. Os sujeitos são diferentes. Portanto, usamos vírgula.

Outro exemplo:

A mulher morreu, e cada um dos filhos procurou o seu destino.

O mesmo caso, a primeira oração diz respeito à mulher, a segunda aos filhos.

Existem casos em que a vírgula é opcional?

Existe um caso. Lembra-se do item 3, em cima? Se a expressão de tempo, modo, lugar etc. não for uma expressão, mas sim uma palavra só, então a vírgula é facultativa. Vai depender do sentido, do ritmo, da velocidade que você quer dar para a frase.

Exemplos:

Depois vamos sair para jantar.

Depois, vamos sair para jantar.

Geralmente gosto de almoçar no 'shopping'.

Geralmente, gosto de almoçar no 'shopping'.

Na semana passada, todos vieram jantar aqui em casa.

Na semana passada todos vieram jantar aqui em casa.

Note que este último é o mesmo exemplo do item 3. Vê como sem a vírgula a frase também fica correta? Mesmo não sendo apenas uma palavra, dificilmente algum professor dará errado se você omitir a vírgula.

Não se usa a vírgula!

Com as regras acima, pode ter a certeza de que vai acertar 99% dos casos em que precisará da vírgula. Um erro muito comum que vejo é gente separando sujeito e predicado com vírgula. Isso é errado!

Forma errada:

João, gosta de comer batatas.

Alice, Maria e Luísa, querem ir para a escola amanhã.

Forma certa:

João gosta de comer batatas.

Alice, Maria e Luísa querem ir para a escola amanhã.

Exercício sobre vírgula e pontuação

O sr. Alfredo estava já no fim da vida e escreveu o seu testamento.

Infelizmente, esqueceu-se da pontuação, e o texto ficou assim:

Deixo minha fortuna ao meu sobrinho não à minha irmã jamais pagarei a conta do alfaiate nada aos pobres.

Reescreva o testamento 4 vezes. Em cada uma delas você deve dar a herança para alguém diferente. Pode usar qualquer sinal de pontuação, mas não pode mudar as palavras.

É um exercício interessante e tem várias formas de ser resolvido.

Fonte:
Artigo de Prof. André Gazola, disponível em Lino Mendes (coordenador). Boletim em linha Montargil Acção Cultural. N. 95. Abril de 2021.
Boletim enviado por Lino Mendes.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Projeto Apparere: Coletânea Preconceito - Julgamentos e Generalizações (Prazo: 14 de Junho)


Temática sugerida por: Cláudio Carvalho Fernandes, Nuno Lima, Tarique Layon e Thiago Leal Lemes

Para esta Coletânea buscamos textos que abordem e reflitam sobre todo e qualquer tipo de preconceito, sejam eles por raça, cor, deficiências, gênero, personalidade, tudo que é “fora do padrão”. A vida dessas pessoas, vítimas do preconceito, muitas vezes acabam estando em risco, por terceiros e até mesmo por elas próprias. Precisamos falar cada vez mais sobre isso...

Os textos poderão ser de qualquer gênero (Poesia, Cordel, Trova, Haikai, Conto, Crônica, Roteiro, etc.), pois o objetivo é termos uma obra “monotemática e multiestilo”.

Objetivo:
Estimular a produção literária brasileira, valorizar novos talentos e dar visibilidade aos Escritores, Poetas, Contistas, Cronistas e etc.

Considerando que a participação é Gratuita, objetivamos ter uma grande quantidade de inscrições de modo a podermos fazer uma seleção de obras com altíssima qualidade.

Inscrições:

- As inscrições deverão ser feitas única e exclusivamente através do preenchimento do formulário, no link http://www.apparere.com.br/regulamento-coletanea-preconceito.php
 
- Veja no Cronograma abaixo a data limite para as inscrições.

Regulamento de Participação (quem e como participar):

- Poderão participar Escritores, Poetas, Contistas e Cronistas maiores de 18 anos de qualquer nacionalidade, residentes no Brasil ou no exterior com documentação brasileira, e seus trabalhos deverão ser obrigatoriamente escritos em língua portuguesa (o que não impede o uso de termos estrangeiros no texto).

- Os participantes farão seus cadastrados no formulário de inscrição no link http://www.apparere.com.br/regulamento-coletanea-preconceito.php

- O Autor deverá usar seu nome legítimo (verdadeiro) no cadastro, entretanto, se desejar, poderá utilizar seu nome artístico ou pseudônimo na publicação da Coletânea, para isso deverá colocá-lo junto ao texto enviado.

- Cada participante poderá inscrever uma única Obra por Coletânea, podendo participar de outras Coletâneas.

- A temática da Obras deverá estar em linha com o tema da Coletânea com o objetivo acima definido, sendo que a criatividade e imaginação do escritor darão o toque e estilo ao trabalho.

- Não há exigência de que a Obra (poesia, conto, crônica, etc.) seja inédita, podendo já ter sido publicada, exceto em outra Coletânea do Projeto Apparere.

- É de inteira responsabilidade do Autor a correção ortográfica/revisão do texto ou textos enviados para esta Coletânea, sendo este inclusive um dos critérios de seleção. Desta forma não será feita nova revisão do texto.

- As Obras (poesia, conto, crônica, etc.) deverão conter título, sendo que a não observância dessa exigência excluirá a Obra da avaliação.

- As obras inscritas serão analisadas e selecionadas mediante avaliação de profissionais nomeados pelo Projeto Apparere, cujas decisões serão soberanas e irrecorríveis.

- O envio do texto será feito única e exclusivamente através desta página, através do formulário abaixo.

- A obra deverá estar em arquivo Word(.doc ou .docx) fonte Times New Roman ou Arial, tamanho 12, com espaçamento simples e ter no máximo 5 (cinco) páginas padrão do Word (A4).

Custos de Participação:

- A participação nesta Coletânea não ensejará em nenhum custo aos participantes, portanto será Gratuita.

- Também não há nenhuma obrigatoriedade de aquisição nem de exemplares e nem de serviços oferecidos pela Apparere e/ou pela PerSe.

Divulgação e Lançamento da Coletânea:

- O Lançamento da Coletânea será Online, com uma data para início das vendas dos livros.

- Antes do Lançamento será feita campanha de divulgação, contendo:
 
   . E-mail Marketing para a Base de clientes da Apparere e da PerSe.
    . Banners e nosso site.
    . Divulgação através de nossas Redes Sociais.
    . Assessoria de Imprensa.
    . Envio de Material de Divulgação aos Participantes para que esses divulguem em suas Redes Sociais e através de e-mail aos conhecidos.

Direitos Autorais:

- Não haverá cessão de Direitos Autorais, ou seja, os trabalhos continuarão pertencendo a seus autores, entretanto os Escritores/Autores/Poetas autorizam a comercialização de sua obra através da Coletânea, abdicando de qualquer remuneração sobre sua obra.

- Os Escritores/Autores/Poetas participantes responderão legalmente e individualmente sobre plágio, publicação não autorizada, calúnia, difamação e não autoria, isentando a PerSe e o Projeto Apparere de qualquer responsabilidade sobre o conteúdo enviado para a Coletânea.

- É de total responsabilidade dos participantes a veracidade dos dados fornecidos à organização.

- Todos os participantes de antemão ficam cientes e dão permissão e autorização para a publicação e comercialização de sua Obra (poesia, conto, crônica, etc.), e a veiculação na mídia de seus nomes, imagens e textos, em sites, pela PerSe e pela Apparere, desde que dentro do contexto das Coletâneas do Projeto Apparere e para benefício da maior visibilidade da obra e seu alcance junto ao leitor.

Sobre as Características e as Vendas dos Livros:

- A Coletânea será composta dos textos selecionados e de minibiografia dos participantes.

- Para a Capa da Coletânea faremos um concurso com designers que desejarem participar, e quem escolherá a capa da Coletânea serão os Autores que estiverem participando.

- Esta será impressa em Livro com as seguintes características: Brochura Formato 14x21; Miolo em Papel Polen 80g, impresso em uma cor; Capa Cartão 250g com orelhas impressa a 4 cores e laminação brilho/fosco.

- A Comercialização do livro impresso da Coletânea se dará através da Loja Online da Perse.

- Os participantes poderão adquirir os livros impressos por valor sempre inferior ao Preço de Venda da Loja Online, desde que em volume mínimo de 10 exemplares. Para isso deverá solicitar orçamento, através do e-mail do Projeto.

- Os participantes poderão adquirir os livros impressos por valor sempre inferior ao Preço de Venda da Loja Online, desde que em volume mínimo de 10 exemplares. Para isso deverá solicitar orçamento, através do e-mail do Projeto.

- Os participantes poderão adquirir os livros impressos por valor sempre inferior ao Preço de Venda da Loja Online posteriormente divulgado.

- A Comercialização da Coletânea também será feita no formato eBook (PDF e ePub) através da Loja OnLine da PerSe e também através da Plataforma de Terceiros parceiros da PerSe

- O livro impresso da Coletânea poderá ser colocado em comercialização nas Feiras e Bienais, em estande da própria PerSe, quando esta vier a participar.

- O livro terá registro no ISBN.

Cronograma Geral da Coletânea:

- Final das inscrições: 14/06/2021
- Divulgação aos selecionados: 01/07/2021
- Data de Lançamento e Início das Vendas: 16/07/2021

Observações Gerais:


- Dúvidas relacionadas a esta Coletânea e seu regulamento poderão ser enviados para o e-mail: apparere@perse.com.br

- Todos os contatos entre o Projeto Apparere e os Participantes serão realizados através de e-mail. Portanto os participantes devem ficar atentos.

- Todas as dúvidas e casos omissos neste regulamento serão analisados por uma equipe da PerSe e do Projeto Apparere, e sua decisão será irrecorrível.

- O Projeto Apparere, reserva-se o direito de alterar qualquer item desta Coletânea, bem como interrompê-la, se necessário for, fazendo a comunicação expressa para os participantes.

- Não é permitida a participação nas Coletâneas de funcionários da PerSe e do Projeto Apparere.

- A participação nesta Coletânea implica na aceitação total e irrestrita de todos os itens deste regulamento.

- As obras não selecionadas para a Coletânea serão destruídas e apagadas das bases de dados do Projeto Apparere, para fins de segurança.

Fonte:
Email enviado pela editora

Editora Alternativa: LITERATURA Sentimentos & Razões volume 5 (Prazo: 25 de Julho)



A Editora Alternativa, após o sucesso e reconhecimento das quatro primeiras edições, vislumbra a edificação de uma obra literária histórica. A trajetória de um modelo cooperativo de expressão da literatura independente, como se caracteriza os volumes da LITERATURA: Sentimentos & Razões, conquista seu ápice ao homenagear uma escritora de texto poético marcante, amplamente reconhecida, e que coorganizou as primeiras quatro edições das coletâneas: Adélia Einsfeldt.

Adélia, poeta de Porto Alegre / RS por nascimento e moradia, é admirada no universo literário brasileiro pela sua qualidade lírica, tendo publicado os livros Impacto, Animais se divertem, Pétalas e Asas da madrugada, além de ter coorganizado as quatro edições das coletâneas LITERATURA: Sentimentos & Razões, volumes 1, 2, 3 e 4. Já está no prelo, pela Editora Alternativa, a mais recente publicação da escritora: sua autobiografia.

Adélia, no esteio de seu prestígio, participa de 16 academias literárias e associações culturais, sendo a vice-presidente da seccional gaúcha da Academia de Letras do Brasil – ALB/RS. Em 2017, foi a Patrona da 6a. Feira do Livro de Faxinal do Soturno / RS.

Adélia é festejada pelas suas deliciosas performances poéticas presenciais junto ao público. Esta poeta é uma força viva da literatura brasileira.


Edição especial:

As edições da coletânea LITERATURA: Sentimentos & Razões já ocupam um lugar entre as maiores coletâneas já lançadas no Brasil. Na quinta jornada, publicará poemas, contos, crônicas, ensaios científicos, artigos e trabalhos visuais, como pinturas ou imagens, revelando e ampliando a pujança e diversidade de nosso caleidoscópio literário.

Como característica já consagrada na LITERATURA, cada texto terá uma ilustração personalizada. É com muito orgulho que os escritores de todo o Brasil que participarão da LITERATURA: Sentimentos & Razões | Volume 5, através de poesia, contos, crônicas e artigos, vão homenagear Adélia Einsfeldt e por conseguinte a literatura nacional.

PARTICIPE ∞ ESCREVA ∞ PUBLIQUE

Para participar, encaminhe seus textos (poesias, crônicas, contos, artigos, ensaios científicos ou demais manifestações artísticas) para o e-mail

contato@editoralternativa.com

juntamente com uma biografia resumida e uma fotografia em boa resolução.

Para garantir a qualidade característica da coletânea LITERATURA, cada página publicada possibilitará o recebimento de dois exemplares da obra, por um investimento de R$ 90,00, sem limite de páginas por escritor.

A temática da coletânea é livre, podendo conter textos originais ou já publicados anteriormente.

Também será possível encomendar exemplares extras antes da impressão, por R$ 25,00 a unidade.

O prazo para o envio dos textos é até 25/07/2021.

As opções de pagamento são pela emissão de boleto (com o acréscimo de R$ 3,00 por parcela) ou depósito bancário com comprovante enviado para a Editora. Pode ser pago à vista, ou em até 3 vezes.

Milton José Pantaleão Junior
ORGANIZADOR

Fonte:
Email enviado pela editora

Assis Editora - Primeiro Volume: Prosa (Prazo: 25 de Junho)


OBJETIVO

COLCHA DE RETALHOS: A MULHER BRASILEIRA DE 1920 A 2020, promovida pela Revista Letrilha / Assis Editora, é uma chamada para publicação de uma trilogia digital e/ou impressa, sendo os três volumes:

1) Prosa;
2) Poesia;
3) Tirinha, com chamadas em diferentes períodos.

Volume 1 (PROSA) chamada de 25/05/2021 a 25/06/2021, com foco na mulher de 1920 a 2020, em que os autores poderão abordar o universo feminino durante esse centenário.

As obras inscritas visarão explanar em suas personagens / eu-lírico as batalhas enfrentadas pela mulher, e suas conquistas, durante sua jornada longa ou curta, podendo elucidar o herói e o anti-herói e até mesmo o vilão, em narrativas que descrevam a coragem e o medo, a empatia e o estranhamento, a vida e a morte... que levaram estas mulheres a fazer história, merecendo protagonizar sua escrita.

Cada autor poderá escrever sobre mulheres que se destacaram em algum campo de atuação, ou mulheres invisíveis, cujo maior destaque foi existir.

O objetivo é promover a arte e a literatura. Não se trata de concurso, mas, sim, chamada para publicação de uma trilogia, mesmo assim, haverá sorteios e premiações entre os participantes. É um modo de incentivar e fortalecer os gêneros prosa, poesia e tirinha, de modo criativo e estimulante. A arte e a literatura são a voz de muitas pessoas emudecidas.

REGULAMENTO

INSCRIÇÕES


Inscrição gratuita
Todo participante está condicionado à compra antecipada de pelo menos um exemplar digital dos trabalhos publicados, no ato da inscrição, obrigatória para qualquer categoria: Sendo: e-Book (digital): R$ 10,00 cada. 
 
 Textos somente em Língua Portuguesa. Qualquer pessoa fluente em língua portuguesa, independentemente da nacionalidade ou residência, pode participar.

O texto deve ser inédito.

Período: 25/05/2021 a 25/06/2021

Envio exclusivamente pelo e-mail: revistaletrilha@gmail.com.

No corpo do email, informar dados cadastrais do autor, para correspondência física: Nome, endereço (rua, casa, apartamento, bairro, cep, cidade, estado...)

No email, enviar a seguinte declaração, nome conforme CPF: 
EU “_______________________”, NASCIDO EM ___/___/______, CPF ________________ COM ENDEREÇO NA “_____________________”, DECLARO QUE LI ATENTAMENTE O EDITAL E ESTOU DE PLENO ACORDO COM OS PRÉ-REQUISITOS.

ESTOU PARTICIPANDO, NA CONDIÇÃO DE AUTOR, NO GÊNERO PROSA, COM O TRABALHO/TÍTULO __________________________________.

CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO PROSA:

Um conto de, no máximo, 4000 caracteres, incluindo espaços. Não há mínimo. Fonte: Arial, tamanho 12. Margens: 3 cm (superior, inferior, esquerda e direita). Espaçamento entrelinhas: 1,5. Título centralizado no alto da primeira página. Abaixo do título, também centralizado, o nome do autor (como será publicado, não poderá mudar depois).

CERTIFICAÇÃO: 
Todo participante receberá o certificado de participação em .PDF, via email.

SORTEIO 1:
– Ao final das inscrições será sorteado um belíssimo objeto decorativo, totalmente em madeira, entre todos os participantes inscritos, confeccionado por um artesão mato-grossense.

SORTEIO 2:
– Ao final das inscrições, 3 (três) participantes serão contemplados, por sorteio, com um livro (à escolha da equipe organizadora) autografado.

PRÊMIO:
– Os 45 primeiros inscritos serão convidados a participar da Maratona CR – A MULHER BRASILEIRA DE 1920 A 2020.

A programação da Maratona será passada à época aos convidados, e será em 3 módulos de 15 participantes, cada. Durante as lives o público participante será decisivo para que um dos convidados seja contemplado com o Prêmio Colcha de Retalhos, o qual consiste em uma matéria exclusiva para a Revista Letrilha (haverá 3 pessoas contempladas) e destes 3, um será escolhido para participar do grande prêmio final (uma linda colcha de retalhos, confeccionada por uma artesã goiana), que será na conclusão do projeto, composto pela trilogia e pelo prêmio Frase Premiada (última etapa).

COMPRA OBRIGATÓRIA

Todo participante está condicionado à compra antecipada de pelo menos um exemplar digital dos trabalhos publicados, no ato da inscrição, obrigatória para qualquer categoria: Sendo: e-Book (digital): R$ 10,00 cada.

NOTA: As obras participantes poderão ser utilizadas, a critério da organização do concurso, para publicação em meio eletrônico e/ou físico, sem que isso incida em pagamento de royalties ao autor. A publicação poderá ser em meio gratuito ou comercial.

RESULTADO

Data provável: 30/07/2021

Onde: Em nossas redes sociais
Instagram: @assiseditora @ivoneescritorabr
Página Facebook: /editoraassis
Linkedin: Assis Editora
No site: www.assiseditora.com.br
Via email.

VETOS

1: Conteúdo que apresente qualquer tipo de preconceito e/ou insulto a terceiros, incitação à violência e/ou desabafo político-partidário, será desclassificado.

2: É de responsabilidade exclusiva do autor a observância e a regularização de toda e qualquer questão relativa a direitos autorais sobre a obra inscrita.

3: Ao se inscrever no presente evento, o autor deixa explícita a sua concordância com este regulamento e autoriza a publicação da obra conforme edital, mantendo ao projeto o direito de utilizar o texto enviado, premiado ou não, em publicação, posterior ao resultado da chamada. Eventuais casos não previstos no Edital serão inapelavelmente dirimidos pelos organizadores do Concurso.

Uberlândia-MG, maio de 2021.
Ivone Gomes de Assis
Revista Letrilha / Assis Editora.
(34) 3222-6033
Instagram: @ivoneescritorabr @assiseditora
Página Facebook: /editoraassis
Linkedin: Assis Editora

Fonte:
Email enviado pela editora
https://assiseditora.blogspot.com/2021/05/colcha-de-retalhos-mulher-brasileira-de.htm
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quarta-feira, 2 de junho de 2021

Cecy Barbosa Campos (O Telefonema)

Talita chegou em casa muito cansada, após um dia de trabalho exaustivo. Só desejava tirar seus elegantes sapatos de bico fino e salto alto que realçavam suas bem torneadas pernas, mas exigiam muito sacrifício. Depois, uma boa chuveirada. Em êxtase, já imaginava a água escorrendo, sensualmente, pelo seu corpo, da cabeça aos pés, num afago apaixonado.

Rapidamente despiu-se. Pronta para entrar debaixo da água recuperadora, ouviu o telefone tocar.

— Logo agora! — pensou. — Não vou atender.

A campainha insistente a inquietou. Não teria o sossego desejado se continuasse com aquele som irritante em seus ouvidos. Com o corpo úmido, deu meia volta e correu ao telefone, marcando o sinteco com seus pés molhados.

Foi a conta de pegar o aparelho e ouvir desligarem.

— Que droga, demorei demais para vir!

Decidiu-se a esperar um pouco para ver se ligavam novamente. Nada. Desistiu de ficar ali parada, nua, no meio da sala. Observou os pingos d'água que tinham marcado o assoalho e foi correndo buscar um pano para secá-los. Afinal, não fora fácil sintecar o apartamento, embora ele fosse pequeno. Sabia bem as horas de trabalho que o sinteco lhe custara.

Voltou ao banheiro, ansiando pelo chuveiro. Tepidamente, a água acariciou seu corpo e o perfume do sabonete inebriou-a.

Entregou-se àquele prazer de forma plena e absoluta, a ponto de assustar-se ao ouvir o telefone.

— Outra vez? Não é possível. Não vou atender.

Entretanto, lembrou-se de Maurício. Podia ser ele, arrependido da ausência nos últimos encontros, sentindo saudades, buscando a reaproximação.

Pulou para fora do chuveiro instantaneamente. Pegou o pano de chão que ficara no banheiro e correu para atender o aparelho. Que decepção! Nenhuma palavra.

— Provavelmente, ele achou que eu ainda não havia chegado. Demorei para atender, pensou.

Resolveu terminar o banho rapidamente. Não queria ser interrompida outra vez. Ou, por outro lado, agora queria que o telefone tocasse.

Envolta na toalha, deitou-se no tapete da sala. Desta vez, não perderia a ligação. Ali, estava o Graham Bell, bem ao alcance de sua mão.

Enquanto esperava, observava as bolinhas de água que rodopiavam pelo seu corpo bronzeado e devidamente nutrido pelos óleos aromáticos que faziam parte da composição do seu sabonete.

— Como o Maurício gosta desse cheiro e da suavidade da minha pele!

Permaneceu ali deitada, à espera, como se ele estivesse ao seu lado. pronto para abraçá-la.

O telefone não chamou outra vez. Nada mais lhe restava senão vestir uma roupa leve e confortável, preparar uma refeição frugal e refugiar-se na solidão dos lençóis para uma noite de merecido descanso.

Ultrapassados todos esses trâmites, seus oIhos já se fechavam gostosamente quando aquele som estridente que, frustrada, desistira de aguardar, desperta-a da sonolência em que mergulhara.

De um salto, levanta-se, mais rapidamente do que se poderia esperar naquelas circunstâncias. Em segundos, chega á sala e coloca o telefone no ouvido.

Ressentida, escuta uma voz grave e quente vinda do outro lado da linha.

— Marilda, até que enfim você atendeu. Já tentei várias vezes...

Ela quer explicar que é ligação errada e que aquele nome não é o seu. Ele não escuta o que ela fala, no afã de justificar-se pelos dias em que estivera afastado e declarar-se confiante na renovação do amor compartilhado.

Talita para de insistir e aceita as juras arrebatadoras como sendo, verdadeiramente, dirigidas a ela.

Refeita, por uma noite de sono recheada de sonhos eróticos, apronta-se pela manhã com cuidado especial. Sente que precisa estar bem, embora não saiba exatamente por quê.

Ao voltar para casa, após um dia de trabalho igual a muitos outros, encontra-se com disposição invejável. Poderia até fazer uma caminhada pelo calçadão absorvendo o crepúsculo ou mesmo ir pela beira da praia sentindo o mar a lamber-lhe os pés. Lembrou que essa havia sido a sua rotina de fim de tarde por alguns anos. Rotina que abandonou, apesar de sempre tê-la achado prazerosa.

Entretanto, ao entrar em seu apartamento, muda de ideia. Lembra-se da voz grave e quente do amante de Marilda. Desiste da caminhada e resolve esperar que ele "lhe" telefone. Nem entra no banho, temerosa de não chegar a tempo de atender ao chamado.

Impaciente, prepara uma bandeja com o lanche que saboreia ali mesmo, na sala, ao lado do telefone que permanece mudo. Aflita, Talita procura imaginar o que teria acontecido para que ele a deixasse na angustiante espera. Finalmente, mais tarde do que na noite anterior, quase madrugada, o aparelho toca.

— Marilda, desculpe a hora, mas não poderia ficar sem falar com você... Foi como ele começou a conversa que se estendeu por longo tempo.

Após ouvir inúmeras declarações de amor eterno, Talita passou a noite nos braços de Morfeu, feliz como se fosse a Marilda e estivesse dormindo nos braços do homem que tanto a amava.

Os telefonemas foram se sucedendo, todas as noites, por mais de um mês. O casal mostrava-se cada vez mais apaixonado em suas ardentes conversas.

Os amigos e colegas de trabalho de Talita não compreendiam o que se passava com ela. Aparentava uma alegria tranquila e seu olhar luminoso anunciava a existência de um grande amor. Entretanto, vivia reclusa e não participava das reuniões festivas na firma nem dos passeios e celebrações, organizados pelos companheiros mais próximos.

Quando tentavam descobrir a existência de um namorado novo ou "amante secreto", apenas sorria, enigmaticamente.

Maurício também não entendeu. Procurou-a, tentando reatar um relacionamento que, afinal, não havia acabado, mas nada conseguiu. Quando, tornando-se mais enfático, quis convencê-la de que "haviam nascido um para o outro", a rejeição de Talita foi definitiva:

— Por favor, entenda. Eu não suporto a sua voz.

Começaram a perceber que havia algo fundamentalmente errado, quando Talita deixou de responder ao ser chamada pelo seu próprio nome.

Depois, verificou-se que assinara cheques e documentos com nome falso. A firma teve vários problemas, e a moça foi, obviamente, demitida, tendo também que se explicar na justiça pelo mesmo motivo.

Quanto ao amante de Marilda, não se soube nada, exceto que os vizinhos de Talita se sentiam inquietos de tanto ouvir o telefone tocar logo após o seu desaparecimento.

Um rapaz, que morava no décimo andar, soube por duas senhoras que, como ele, esperavam o elevador, da partida de Talita a fim de passar uns tempos na casa dos pais, no interior.

— É, muitas pessoas vêm para a cidade grande e têm problemas de solidão, comentou com um sorriso significativo.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes de Vida. Varginha/MG: Ed. Alba, 2009.
Livro enviado pela autora.

Gislaine Canales (Glosas Diversas) XXV

ALMAS GÊMEAS


MOTE:
Almas gêmeas, enlaçadas,
vivendo um amor profundo,
lá vamos nós de mãos dadas
pelos caminhos do mundo.
Djalda Winter Santos


GLOSA:
Almas gêmeas, enlaçadas,
unidas no mesmo amor!
Mesmas ilusões sonhadas,
com sonhos da mesma cor!

Seguem juntas, vida afora
vivendo um amor profundo,
pois o grande amor de agora,
é, de outras vidas, oriundo!

Somos almas irmanadas
com afeição e amizade;
lá vamos nós de mãos dadas
dizendo adeus à saudade!

Nós nunca nos separamos,
nem mesmo por um segundo...
Segredo? Nós nos amamos
pelos caminhos do mundo.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

MÃE, MEU REFÚGIO

MOTE:
Minha mãe, foram teus braços,
refúgio dos meus segredos,
onde deitei meus cansaços
e adormeceram meus medos!...

Ercy Maria Marques de Faria

GLOSA:
Minha mãe, foram teus braços,
que guiaram minha vida,
foram teus doces abraços
que me aqueceram, querida!

Minha Mãe, tu foste luz,
refúgio dos meus segredos,
abrandaste a minha cruz
com o calor dos teus dedos!

Minha Mãe, os teus regaços,
foram sempre de carinho
onde deitei meus cansaços
e enfrentei o meu caminho!

Minha Mãe, com emoção,
entre beijos e folguedos,
entrei em teu coração
e adormeceram meus medos!…
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TÉDIO

MOTE:
Tédio é o vazio das horas
que parecem nem passar,
no compasso das demoras
de quem nunca vai chegar...

Maria Lua

GLOSA:
Tédio é o vazio das horas,
de uma vida sem amor!
Dias negros, sem auroras
e um sol triste, sem calor!

Essas horas tão vazias
que parecem nem passar...
são cheias de nostalgias,
fazem minha alma chorar!

Descoloridos agoras,
são o tudo que restou,
no compasso das demoras,
que de esperar, se cansou!

Chega a noite e a solidão!
Noite escura, sem luar,
numa espera, com paixão,
de quem nunca vai chegar…
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NOSSAS ALMAS...

MOTE:
No curso de nossas vidas,
por diferentes estradas,
nossas almas distraídas
continuam de mãos dadas!

Sérgio Ferreira da Silva

GLOSA:
No curso de nossas vidas,
trilhamos muitos caminhos,
com chegadas e partidas,
com saudades e carinhos!

Andamos muito, é verdade,
por diferentes estradas,
curtindo o amor e a amizade
em noites enluaradas!

Com nosso amor, sem medidas
enchendo os nossos espaços...
Nossas almas distraídas
trocavam ternos abraços!

Felizes, assim, nós vamos,
como num conto de fadas;
nossas almas – nem notamos,
continuam de mãos dadas!
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BOM HUMOR

MOTE:
Fazer da vida uma festa,
é atitude que fascina,
vamos rir! A hora é esta!
O bom humor contamina!

Vânia Ennes

GLOSA:
Fazer da vida uma festa,
ser feliz a cada instante,
amar o mar e a floresta,
a lua e o sol tão brilhante!

Ter sempre um sorriso aberto
é atitude que fascina,
que conquistará, por certo,
tudo, quebrando a rotina!

Vamos cantar em seresta,
unindo a nossa alegria!
Vamos rir! A hora é esta!
Vamos dar bom-dia, ao dia!

Vivendo, assim, bem contente,
toda a tristeza termina,
pois sabemos, certamente:
o bom humor contamina!

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas. Glosas Virtuais de Trovas XIX. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. 2004.

A. A. de Assis (Maringá Gota a Gota) Seu Silvino

Faz tempo isso. Numa calçada da Avenida Getúlio Vargas encontrei por acaso o amigo Orlando Fernandes Dias, em companhia de um senhor bastante parecido com ele. Apresentou-me: “Este é o meu pai, Seu Silvino”. Que legal, eu disse, de nome já o conhecia. Seu Silvino, o poeta. Orlando sorriu, surpreso. Estava acostumado a ver o pai ser saudado como um dos nossos mais valorosos pioneiros. Mas de repente aparecia um que se manifestava admirador de Seu Silvino como poeta. Que aliás ele de fato era, nas raras horas vagas em que podia distrair-se um pouco da labuta na terra.

Imagine você como foi que um homem de tão líricos sentimentos, portador de um coração cheio de poesia, pôde ter tido peito, disposição e coragem para vir aqui em 1938, se embrenhar na mata e iniciar a roçada na qual iria construir a história de sua linda família.

Não havia nada nesta verde e imensa gleba a não ser a cheirosa floresta. Ele, paulista de Taquaritinga, crescido em Quatá, ouviu maravilhas sobre o eldorado que começava a ser descortinado no norte/noroeste do Paraná. Decidiu vir conferir de perto. De Londrina a Mandaguari veio a cavalo. Entrou no escritório da Companhia Melhoramentos, olhou o mapa, pôs o dedo num lugar pertinho de onde viria a nascer a cidade de Maringá. Sem pestanejar, abriu a bolsa, tirou o talão de cheques, disse ao funcionário que o atendeu: “Pode preparar os papéis”. Comprou um pedação de terras: “Vou formar aqui um belíssimo cafezal”, anunciou. Na volta, mandou de Londrina um telegrama para Dona Helena dando a grande notícia.

Seu Silvino tinha apenas 27 e já era pai. A família cresceu rápido: nove filhos homens, todos nascidos em Quatá. Em Maringá nasceu a caçula, a única menina, Terezinha. Todos gente muito querida. Dois se tornaram políticos importantes, nacionalmente conhecidos e admirados, Álvaro e Osmar Dias.

Homem de fé, Seu Silvino pediu as bênçãos de Deus e mandou ver. Abriu espaço na mata, preparou o terreno, deu início à formação da fazenda. Enquanto o café crescia, plantava roças de milho e feijão e criava porcos e galinhas. De noite olhava a lua, cantava e escrevia versos.

Penso que a história de todos os nossos outros pioneiros foi também mais ou menos assim. Uma geração de bravos. Homens e mulheres sem medo. Saíram de algum lugar antigo em busca de uma nova Canaã. Só Deus sabe quantos perigos enfrentaram, quantas dificuldades passaram, quantos desafios tiveram que vencer. Porém venceram.

A eles devemos a poderosa Maringá que hoje nos enche de alegria. Que bom que eles tiveram peito e valentia para vir e ficar. Seu Silvino, o poeta. Seu Silvino, “antes de tudo um forte”. Despediu-se da gente em 2006, com 95 anos.

Aí no céu, Seu Silvino, receba o nosso abraço de gratidão, carinho e respeito.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 15-4-2021)

Fonte:
Texto enviado pelo autor

terça-feira, 1 de junho de 2021

Fernando Sabino (Dona Custódia)

De empregada ela não tinha nada: era uma velha mirrada, muito bem arranjadinha, mangas compridas, cabelos em bandó num vago ar de camafeu - e usava mesmo um, fechando-lhe o vestido ao pescoço. Mas via-se que era humilde -  atendera ao anúncio publicado no jornal porque satisfazia às especificações, conforme ela própria fez questão de dizer: sabia cozinhar, arrumar a casa e servir com eficiência a senhor só.

O senhor só fê-la entrar, meio ressabiado. Não era propriamente o que esperava, mas tanto melhor: a velhinha podia muito bem dar conta do recado, por que não? E além do mais impunha dentro de casa certo ar de discrição e respeito, propício ao seu trabalho de escritor. Chamava-se Custódia.

Dona Custódia foi logo botando ordem na casa: varreu a sala, arrumou o quarto, limpou a cozinha, preparou o jantar. Deslizava como uma sombra para lá, para cá – em pouco sobejavam provas de sua eficiência doméstica. Ao fim de alguns dias ele se acostumou à sua silenciosa iniciativa (fazia  de vez em quando uns quitutes) e se deu por satisfeito: chegou mesmo a pensar em aumentar-lhe o ordenado, sob a feliz impressão de que se tratava de uma empregada de categoria.

De tanta categoria que no dia do aniversário do pai, em que almoçaria fora, ele aproveitou-se para dispensar também o jantar, só para lhe proporcionar o dia inteiro de folga. Dona Custódia ficou muito satisfeitinha, disse que assim sendo iria  também passar o dia com uns parentes lá no Rio Comprido.

Mas às quatro horas da tarde ele precisou de dar um pulo no apartamento para apanhar qualquer coisa que não  vem à história. A história se restringe à impressão estranha  que teve, então, ao abrir a porta e entrar na sala: julgou mesmo ter errado de andar e invadido casa alheia. Porque aconteceu que deu com os móveis da sala dispostos de maneira  diferente, tudo muito arranjadinho e limpo, mas cheio de  enfeites mimosos: paninho de renda no consolo, toalha bordada na mesa, dois bibelôs sobre a cristaleira - e em lugar da gravura impressionista na parede, que se via? Um velho  de bigodes o espiava para além do tempo, dentro da moldura oval.

Nem pôde examinar direito tudo isso, porque, espalhadas pela sala, muito formalizadas e de chapéu, oito ou dez  senhoras tomavam chá! Só então reconheceu entre elas dona Custódia, que antes proseava muito à vontade mas ao vê-lo se calou, estatelada. Estupefato, ele ficou parado sem saber o que fazer e já ia dando o fora quando sua empregada se  recompôs do susto e acorreu, pressurosa:

- Entre, não faça cerimônia! - puxou-o pelo braço, voltando-se para as demais velhinhas: - Este é o moço que eu falava, a quem alugo um quarto.

Foi apresentado a uma por uma: viúva do desembargador Fulano de Tal; senhora Assim-Assim; senhora Assim-Assado; viúva de Beltrano, aquele escritor da Academia! Depois de estender a mão a todas elas, sentou-se na ponta de uma cadeira, sem saber o que dizer. Dona Custódia veio em  sua salvação.

- Aceita um chazinho?  

- Não, muito obrigado. Eu...  

- Deixa de cerimônia. Olha aqui, experimenta uma  brevidade, que o senhor gosta tanto. Eu mesma fiz.

Que ela mesma fizera ele sabia - não haveria também  de pretender que ele é que cozinhava. Que diabo ela fizera de seu quadro? E os livros, seus cachimbos, o nude Modigliani junto à porta substituído por uma aquarelinha...

- A senhora vai me dar licença, dona Custódia.

Foi ao quarto - tudo sobre a cama, nas cadeiras, na cômoda. Apanhou o tal objeto que buscava e voltou à sala:

- Muito prazer, muito prazer - despediu-se, balançando a cabeça e caminhando de costas como um chinês.  Ganhou a porta e saiu.

Quando regressou, tarde da noite, encontrou como por encanto o apartamento restituído à arrumação original, que o fazia seu. O velho bigodudo desaparecera, o paninho de renda, tudo - e os objetos familiares haviam retornado ao lugar.

- A senhora... Dona Custódia o aguardava, ereta como uma estátua, plantada no meio da sala. Ao vê-lo, abriu os braços dramaticamente, falou apenas:

- Eu sou a pobreza envergonhada!  

Não precisou dizer mais nada: ao olhá-la, ele reconheceu logo que era ela: a própria Pobreza Envergonhada. E a  tal certeza nem seria preciso acrescentar-se as explicações, a  aflição, as lágrimas com que a pobre se desculpava, envergonhadíssima: perdera o marido, passava necessidade, não tinha outro remédio - escondida das amigas se fizera empregada doméstica! E aquela tinha sido a sua oportunidade de  reaparecer para elas, justificar o sumiço...

Ele balançava a cabeça, concordando: não se afligisse, estava tudo bem. Concordava mesmo que de vez em quando, ele não estando em  casa, evidentemente, voltasse a recebê-las como na véspera,  para um chazinho.

O que passou a acontecer dali por diante, sem mais incidentes. E às vezes se acaso regressava mais cedo detinha-se  na sala para bater um papo com as velhinhas, a quem já se ia afeiçoando.

Não tão velhinhas que um dia não surgisse uma viúva bem mais conservada, a quem acabou também se afeiçoando, mas de maneira especial. Até que dona Custódia soube, descobriu tudo, ficou escandalizada! Não admitia que uma  amiga fizesse aquilo com seu hóspede. E despediu-se, foi-se  embora para nunca mais.

Fonte:
Os melhores contos de Fernando Sabino. RJ: Record, 1986.

Luiz Poeta (Poemas Escolhidos) 6

À DERIVA


Quem me deixa à deriva, desconhece
Que meu barco é movido a sentimentos
Pois meus sonhos, toda vez que a maré cresce,
Agradecem ao poder feliz dos  ventos.

Mesmo que a dor me exponha ao relento,
Movimento o meu amor com a  fantasia
E é assim que sobrevivo : eu me alimento
Do momento que alimenta a poesia.

A magia de quem sofre e faz sua parte
Vem da arte que se despe da moldura,
Pois nem mesmo um folhetim é um  encarte
Para a arte que se esculpe com ternura.

Só quem sabe repintar-se com nobreza,
Vê beleza em cada riso que se doa
E se um riso é feliz por natureza,
Num sorriso, a alegria empluma... e voa.

Num rabisco  inusitado,  a parceria
Que há com Deus, mais espontânea se revela...
É  assim que Ele desenha a fantasia
Da poesia a que harmoniza a cor da tela.

Só quem tem dom de amar e transcrevê-lo
Faz quem lê-lo, transportar-se e compreender
Que a linha solitária de um novelo
Só termina, quando quem sabe tecer
Abençoa o terno olhar embevecido
De quem vê, num simples  risco de um bordado,
A ternura que repousa num tecido
Construído  com amor, luz e cuidado.

Quem me deixa à  deriva, não me deixa,
Alimenta minha eterna inspiração,
Porque, quando minha emoção  se queixa,
Ela deixa tão triste meu coração...
Que até mesmo a invenção  de alguma gueixa,
Complementa minha dor de solidão.

Quem me deixa, nunca foi meu par perfeito,
Não me deito com olhares insensíveis...
Conteúdos sempre têm algum defeito
E os defeitos  também são  imprevisíveis...

Meu navio só  precisa de um motor:
É o amor que ainda tens para me dar
E se amar é  recriar um sonhador,
Deixa ao menos, pelo menos, eu te amar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

QUANDO A NOSSA DOR FAZ POESIAS
 
O amor é  o nosso ponto de partida
em tudo que façamos... a razão
não sabe controlar um coração,
quando nossa emoção  comanda a vida.

Não penses que só tu tens incertezas,
mágoas, medos, raivas...  melancolias,
pois quando a nossa dor faz poesias,
copia simplesmente das tristezas.

Nem sempre o que te dói é o que perfura,
há  pobres sem saber o que é  pobreza
e quem é  infeliz por natureza,
nem sempre compreende a alma pura.

A agua não desgasta a pedra dura...
apenas acomoda-a em seu leito,
assim é o coração: só dói  no peito,
quando não  tem mais jeito, a amargura.

Doutor nenhum conserta a criatura,
poeta, sim, engana até a dor,
e engana-se a si mesmo...ele é doutor
em  conversar com a dor com mais ternura.

Quem diz que é grão-mestre em autoajuda,
mas não pratica nada do que ensina,
semeia um amor que não germina,
retira a  proteína que o acuda.

A vida tem um tempo, o destino
não  manda nos desígnios de Deus,
por isto, aprimora os gestos teus
e ensina-te com cada desatino.

Nós  somos seres únicos, porém
somente somos dignos de nós,
quando passamos ter a mesma voz
daqueles que só querem nosso bem.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

SOMOS BARCOS QUE NAVEGAM SEM PARTIRMOS

A distância nos separa, mas sonhamos...
E nos sonhos, somos muito mais felizes,
Pois nas cores mais sensíveis que criamos,
Inventamos flores de novos matizes.

Nossas rosas são azuis sem as tingirmos,
Nossos mares são tranquilos ou selvagens,
Somos barcos que navegam sem partirmos,
Ninguém pode impedir nossas viagens.

Somos seres que transcendem sentimentos,
Nosso voo vai muito além da eternidade,
Recriamos nossos próprios pensamentos,
Nosso amor só sobrevive em liberdade.

Colorimos  as imagens que queremos,
Encurtamos o espaço que separa
Quem nos ama, com o melhor amor que temos
E é assim que a  solidão nos vira a cara.

Mesmo quando alguma dor nos surpreende,
Porque somos seres frágeis e mortais,
Só a nossa fantasia compreende
Esses nossos sofrimentos tão iguais.

Construímos nossas naus e viajamos
Para onde os sonhos possam nos levar
Pois em cada sonho bom que recriamos
Nós soltamos nossa solidão... no mar.