segunda-feira, 31 de maio de 2021

Luiz Damo (As Faces da Trova) I

A chuva desce a galope,
vinda no lombo dos ventos,
sem cabresto, o ralo entope,
causando transbordamentos.
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A noite, tão devagar,
faz despertar a estrelinha,
que guia à luz do luar
os passos de quem caminha.
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Chove, calma e mansamente,
a água corre rumo ao mar,
fazendo toda a semente
em fruto se transformar.
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Como a "terra prometida"
que os ancestrais procuraram,
desde o porto de partida,
…os imigrantes buscaram.
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Dá mais luz à minha estrela,
ó Deus, fonte que a ilumina!
Porém se não merecê-la,
brilhe a minha lamparina.
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Decisões precipitadas,
requintadas e vistosas,
logo são decapitadas
por espadas enganosas.
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Deixe o mundo, ó ser pensante,
melhor do que o conheceu!
Ninguém muda o circundante
sem antes mudar o seu...
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Jamais a inveja assassina
se torne arma de batalha,
porque a justiça divina
pode tardar, mas não falha.
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Mal admite alguém chegar,
no desfecho da jornada
e ter que seus bens deixar
partindo daqui com nada.
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Na mesa, se o merecemos,
dai-nos, ó Deus, nosso pão
e às falhas que cometemos
vos pedimos o perdão.
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Não gere a imaturidade
conflitos de gerações
e a divergência de idade
não termine em agressões.
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Não lastimes teu passado
se não foste um vencedor.
() que ontem viste plantado
foi por outro semeador.
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Não pode alguém conquistar
seu sonho, sem atitudes,
tampouco, deve faltar
a ação dentro das virtudes.
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Não tem densa escuridão,
nem treva que se mantém,
quando a luz da gratidão
brilhar junto à fé que tem.
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No horizonte, um vasto véu,
abre à aurora, um palco lindo,
como se os portais do céu
também ficassem se abrindo.
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Nunca erige a paz na terra
quem difunde a luta insana,
transforma o lar numa guerra
e o mundo num mar de lama.
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O canto dos passarinhos
encanta as verdes florestas
e na sombra dos seus ninhos
os grilos fazem serestas.
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O homem, conspurcado, mente,
num mergulho à perversão,
porém tendo Deus presente,
nele encontra a conversão.
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O homem só escuta o que quer
pois, mal sabe ele escutar,
ouve demais e sequer
para um pouco a meditar.
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O tempo não corre, voa,
não posso seu fim prever,
se a vida não fosse boa
ninguém ousava viver.
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O tempo, um algoz horrendo,
cometendo atrocidades,
assusta ao vermos morrendo
entes com tenras idades.
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Para que ao sucesso flua
de uma forma natural,
é mister que contribua
com o esforço laboral.
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Pra que a veste fulgurante,
num Natal tão reluzente?
Se o próprio Aniversariante
do encontro estiver ausente!
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São tantas as soluções
existentes e possíveis,
mas, nenhuma, sem ações,
traz medidas previsíveis.
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Se as dores do corpo agridem,
a alma sofre a punição,
dois entes que se dividem
frente à mesma condição.
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Sendo opacos os sorrisos,
tende em pranto, a dor verter,
que em luz, rostos indecisos,
não conseguem reverter.
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Tal fogo que arde ligeiro,
às vezes, a dor não passa,
restam cinzas do braseiro
e das chamas a fumaça.
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Temos, no mundo dos vivos,
mortos, que vivem na mente,
uns por laços afetivos
e outros, lembrados, somente.
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Toda a barreira encontrada
o homem possa superar,
pondo na pedra da estrada
uma flor em seu lugar.
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Toda a criança de outrora,
com menos, se divertia,
tendo mais, hoje, ela implora,
por um pouco de harmonia.
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Toda a lágrima que escorre
de um rosto leve ou cansado,
lava o sinal que decorre
de algo alegre ou fracassado.
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Todos plantem esperanças
nos campos da humanidade,
para colher, das andanças,
bons frutos na eternidade.

Fonte:
Luiz Damo. As faces da trova. Caxias do Sul/RS: Ed. Do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.

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