quinta-feira, 6 de maio de 2021

Professor Garcia (Poemas do Meu Cantar) Trovas – 8 –

A mais sublime alegria
que vi, confesso e não nego:
– Foi ver um cego de guia
sendo guia de outro cego!
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Aos olhos de tantas cores,
da estação que mais se espera,
Deus põe nos botões das flores
as cores da primavera!
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A saudade que se sente,
não tem cor, forma e nem aba;
mas deixa na alma da gente
mancha que nunca se acaba!
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As notas de antigos gongos,
que escuto quando medito,
soam quais velhos ditongos
na cadência do infinito!
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A vida com seus desvelos
e, o tempo com seus desvãos,
vão deixando em meus cabelos
as marcas de suas mãos!
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É tarde!... E, as almas cansadas,
ao canto dos peregrinos,
um sino dá badaladas
despertando os outros sinos!
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Eu queria que meus gritos
ecoassem nas noites mansas,
levando a paz aos aflitos
que não têm mais esperanças!
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Já curvo ao peso da idade,
nos ombros, o velho ancião,
carrega tanta saudade
que entristece a solidão!
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Liberdade é um grande voo,
quando alguém ainda acredita,
que, na palavra "perdoo",
há liberdade infinita!
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Meu filho, um beijo roubado,
não pode ter punição;
que o sabor desse pecado,
ofusca a luz da razão!
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Meu rosário me enternece;
e entre os mais crentes e ateus,
vou deixando em cada prece,
as preces dos versos meus!
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Na madrugada orvalhada,
por sobre as relvas pagãs...
Vão meus pés pisando a estrada,
dos sóis de minhas manhãs!
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Não se fere uma floresta,
sem preservar-se uma flor...
E a mata que nos empresta,
do verde, o pulmão do amor!
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No banco da velha praça,
a solidão se revela...
Quando uma sombra que passa,
se assusta com a sombra dela!
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Noite adentro e, que surpresa
ao ver na sombra da cruz,
a chama do amor acesa,
na noite escura e sem luz!
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Nossa casinha é singela,
tão simples por onde for,
que o quebra-cabeça dela
é a regra de três, do amor!
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O sol, da manhã, traduz
na luz tosca da alvorada,
um terno beijo de luz
nos lábios da madrugada!
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O tempo deixa na gente,
entre as rugas do desgosto...
Restos de sonhos na mente,
marcas da vida no rosto!
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Ó, tempos de primavera,
como foi bom te esperar...
E a esperança dessa espera,
era a luz do teu olhar!
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O velho mar, entre as brumas,
aos beijos da lua cheia,
escreve em flocos de espumas
lindos poemas na areia!
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Ó, viola que me acalma,
o teu dengo me consola;
parece até que tem alma
no dengo dessa viola!
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Pobre mesmo é aquele alguém,
que é rico e nada produz;
e, diante da Luz do bem,
suplica esmolas de luz!
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Que exemplo, o do passarinho,
que não poupa um só vintém;
mesmo com fome, no ninho,
não quer nada de ninguém!
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Se amai-vos, disse o Senhor,
Deus no amor, tudo permite!...
Pois, o limite do amor,
é se amar, sem ter limite!
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Se aos teus pés tudo eu deponho,
sigo os passos de teus passos,
que o amor, que eu sinto em meu sonho,
seja o que dorme em teus braços!
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Se a solidão desconforta,
à noite, ela me apavora;
mas, quando a aurora abre a porta,
a solidão vai embora!
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Sinto saudade da infância,
boba, do jeito da gente!
Mas a dor, dessa distância,
na saudade é que se sente!
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Toda ausência, tem seus ais!
E, entre nós dois, se deduz,
que somos presos fatais
dos braços da mesma cruz!
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Transponho pedras e espinhos,
feliz entre os manacás,
em busca da paz dos ninhos
onde cantam sabiás!
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Vi, quanto a dor maltratava
aquela mãe maltrapilha
que, com fome, amamentava,
matando a fome da filha!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

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