domingo, 30 de maio de 2021

Jérson Brito (A Última estação)

Outro dia, numa estação de trem, deparei-me com um senhor absorto, reflexivo, provavelmente ruminando algumas mal-sucedidas empreitadas.

Com uma passagem na mão, ele não se dava conta de que várias composições ferroviárias já tinham passado. A última se aproximava.

Também não percebeu que, devido ao exíguo tempo, deveria desembarcar na próxima estação. Dezenas havia depois dela e ele tinha direito de conhecê-las caso embarcasse antes. A validade do bilhete só alcançava a seguinte, entretanto.

Ao consultar o relógio e perceber o céu escurecido, seus olhos marejaram.

Possivelmente, imaginou quantas aventuras e amores diferentes poderia ter vivido em cada parada.

Quantas paisagens e pessoas interessantes poderia ter conhecido.

Quantas conquistas poderia ter obtido.

Enfim, o que poderia ter feito se não ficasse ali, inerte, pensativo.

Nada disso era mais possível. O cenário que viu durante o dia inteiro foi o movimento daquele local. Passageiros que tocavam a vida em frente. Gente que ia, gente que chegava, despedidas, reencontros, coisas do gênero...

A ele, o que restava era uma estação. Apenas uma estação.

Trem derradeiro. Desembarque derradeiro.

Apito final. Fim de jornada.

* Qualquer semelhança com a nossa vida não é mera coincidência.

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