sexta-feira, 28 de maio de 2021

Luiz Damo (Poemas Escolhidos) VII

ALMA SEDENTA


Nas profundezas duma alma sedenta
dormem inquietos os sonhos feridos,
porém das alturas, quem a sustenta,
são forças ocultas ou dons nutridos.

Frente às intempéries da convulsão
surgem desejos tão controvertidos,
que exigem proezas e precaução
numa seleção dos mais preferidos.

Pensas que fazes da vida uma flor?
Não peça um favor sem se consultar,
porque pode estar, em si, seu valor.

Jardins floridos, não deixem faltar,
o aroma que faz nascer terno amor
e nos campos da dor, vidas brotar.
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CAPELA

O velho sino na torre anuncia
e conclama o povo a se congregar,
em torno da prece que em harmonia
a todos permite assim celebrar.

A capela há tanto tempo não via
tanta gente ao mesmo tempo a rezar,
ser fonte de paz, embora vazia,
ficando aberta a quem quiser entrar.

Nunca haja na fé, seres rejeitados,
num mundo que poucos querem mandar
e muitos talvez, são desrespeitados.

Juntos no rumo que sonham trilhar,
todos os dons sejam manifestados
e os ocultos também possam brilhar.
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CELEIROS

Dos bons momentos outrora vividos
sempre nos restam as recordações,
restos de passos, quiçá interrompidos,
por tantos motivos ou frustrações.

Fartos celeiros tão bem protegidos
guardaram os frutos das plantações,
pra ser amanhã, talvez consumidos,
em outras mesas, distantes prisões,

Muitos passam pela vida encolhidos
no próprio casulo das ilusões,
sem nunca provar os dons recolhidos.

Ninguém sinta acabar as pretensões,
nem fique chorando os sonhos perdidos
nas longas noites das lamentações.
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GALOPEIOS

Às rédeas da xucra imaginação
no lombo do tempo vai cavalgar,
pelo horizonte sempre a repontar
nobres valores num outro galpão.

A galope descreve o entardecer
à sombra viril da noite serena,
reflete os matizes da bruma amena
que voltam a brilhar no amanhecer.

Cortando os campos do conhecimento
rasga as cortinas da sua existência,
para recobrá-la a todo momento.

Com brio frente à vida em reverência
traduz em canto o seu contentamento
nas longas jornadas com persistência.
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HOMENAGEM I
(Homenagem ao poeta e trovador Raul Poli)

Diversas vezes falaste da lua
e em muitas outras, paraste pra vê-la.
Mas hoje, Deus quis a presença tua,
para que sejas uma nova estrela.

Longos momentos passados na rua
à luz que tanto lutaste pra tê-la,
tendo às mãos o fruto que o perpetua
nesta vida, no dom de descrevê-la.

Que na cadeira pra ti reservada
possas de novo, poemas compor,
ou se o quiser outra trova rimada.

Pelo Supremo Patrono do amor
junto dos Anjos venha ser julgada,
tenha o seleto voto de louvor.
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HOMENAGEM II
(Homenagem ao poeta e trovador Raul Poli)

A natureza, seus campos e flores,
aves e tudo o que nela contém,
serviram de foco a tantos clamores
grafados em prosa e em versos também.

Os vastos campos repletos de cores
foram pedestais que a vida mantém,
muito mais que meros mantenedores
foram precursores da paz de alguém.

Cantos, cantigas, formaram um hino,
no alto dos ramos, deveras gentis,
transformando em grande o ser pequenino.

Canários, tico-ticos, bem-te-vis,
despertavam os olhos do menino
que o deixavam plenamente feliz.

Fonte:
Luiz Damo. Pétalas do Quotidiano. Caxias do Sul/RS: Lorigraf, 2012.
Livro enviado pelo autor.

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