Samuel hoje é um motorista pacato, cansado de encrencas, aguardando a chegada da aposentadoria. Mas nem sempre foi assim. Quando jovem, Sassá era "da pá virada", como ele mesmo gosta de dizer.
Tendo iniciado ainda jovem sua carreira de rodoviário na cidade do Rio, após certo tempo Sassá veio trabalhar em Niterói, na empresa Ingá.
Acostumado ao ritmo alucinado do Rio de Janeiro, do lado de cá, todos os dias antes de iniciar os trabalhos, nosso amigo procedia a um sinistro ritual, que trouxera da cidade vizinha: colocava sua grande pistola Beretta 9mm cromada sobre o banco, e sentava-se com a perna por cima. O eventual desconforto já nem o incomodava mais.
Dia vai, dia vem, lá está Samuel, dirigindo pela linha 49, a linha-mãe de todas as tretas. Em certa altura, Samuel percebe que dois elementos suspeitos, que entraram no veículo, "deram um voo", ou seja, passaram por baixo da roleta, que ficava na parte de trás do veículo. Sassá, tranquilo e 'maquinado', seguiu a tocar. Alguns minutos transcorridos, os elementos se levantaram e anunciaram o assalto. Enquanto um fazia a coleta dos passageiros, o outro fora para a dianteira, e, com uma mochila vestida para a frente, sobre o peito, segurava alguma coisa com a mão enfiada por detrás da mesma.
Nisso Samuel, sangue-frio, não aguenta e pergunta:
- Que foi, rapaz? Está com dor de barriga? Tá aí assustado segurando a barriga...
- Dor de barriga nada, mano! Num tá vendo que é um assalto?!
Nesse momento, um idoso que estava sentado naquele banquinho pequeno, à direita do motorista, não suportou a forte emoção e começou a urinar nas calças. Samuel também não aguentou a cena, e desatou a rir. O bandido achou ruim;
- Tá rindo do quê, ô mané? Fica na moral aí! - E nesse momento sacou a 'arma'; um velho revólver calibre 22, enferrujado e capenga. Bem, velho ou não, é sempre uma arma. Samuel ficou em silêncio.
Após a coleta dos passageiros, os dois indivíduos disseram:
- Pare ali, em frente àquela rua.
Samuel parou. Mas, antes de abrir a porta, sacou tranquilamente a sua enorme 'ferramenta', que brilhava como uma estrela, apontou-a para a cara dos dois elementos que, meio que distraídos observando a movimentação na rua, se amontoavam na escada prontos para descer, Sassá então falou, com uma calma perturbadora:
- Antes de descerem, coloquem por favor tudo o que roubaram aqui no capô. Ah, e coloquem também o brinquedinho de vocês. Gostei dele, tão pequenininho... Vou levar para minha filha brincar.
Pegos de surpresa, e vendo o sinistro sorriso e o frio brilho no olhar de Samuel, os vagabundos não tiveram alternativa senão depositar tudo no 'altar' e descer em silêncio.
O cobrador Dada, e os passageiros não acreditavam no que viam.
- Você é maluco, é doido! ~ diziam, assustados.
- Agora senhores passageiros, cada um venha aqui e veja na mochila deles o que é seu.
Mas a notícia chegou a seu Francisco, o dono da empresa, que, claro, convocou Samuel para prestar esclarecimentos. Aquele tipo de atitude imprudente não poderia se repetir.
- Ora seu Francisco, do que o senhor reclama? Me dou ao trabalho de defender o seu patrimônio e o de seus clientes, além da honra de sua empresa, e o senhor ainda acha ruim?
Francisco, percebendo que o jovem Sassá era caso perdido, mandou que ele voltasse ao trabalho, recomendando que ele tomasse cuidado, e evitasse andar armado.
Mas e os bandidos, estará você se perguntado? Não voltaram em busca de vingança, ou ao menos para tentar novos assaltos? Sim. Certa feita, tarde da noite, estavam os mesmos trapalhões em outro ponto, e ao verem o veículo aproximando-se, deram sinal. Reconhecendo-os à distância, Samuel parou bem defronte a eles, abrindo a porta dianteira para que pudessem vê-lo. Apenas olhou em silêncio. Os rapazes, ao reconhecê-lo, gritaram;
- Pode ir tio, pode ir! O senhor é maluco, contigo nós não vamo não!
Tendo iniciado ainda jovem sua carreira de rodoviário na cidade do Rio, após certo tempo Sassá veio trabalhar em Niterói, na empresa Ingá.
Acostumado ao ritmo alucinado do Rio de Janeiro, do lado de cá, todos os dias antes de iniciar os trabalhos, nosso amigo procedia a um sinistro ritual, que trouxera da cidade vizinha: colocava sua grande pistola Beretta 9mm cromada sobre o banco, e sentava-se com a perna por cima. O eventual desconforto já nem o incomodava mais.
Dia vai, dia vem, lá está Samuel, dirigindo pela linha 49, a linha-mãe de todas as tretas. Em certa altura, Samuel percebe que dois elementos suspeitos, que entraram no veículo, "deram um voo", ou seja, passaram por baixo da roleta, que ficava na parte de trás do veículo. Sassá, tranquilo e 'maquinado', seguiu a tocar. Alguns minutos transcorridos, os elementos se levantaram e anunciaram o assalto. Enquanto um fazia a coleta dos passageiros, o outro fora para a dianteira, e, com uma mochila vestida para a frente, sobre o peito, segurava alguma coisa com a mão enfiada por detrás da mesma.
Nisso Samuel, sangue-frio, não aguenta e pergunta:
- Que foi, rapaz? Está com dor de barriga? Tá aí assustado segurando a barriga...
- Dor de barriga nada, mano! Num tá vendo que é um assalto?!
Nesse momento, um idoso que estava sentado naquele banquinho pequeno, à direita do motorista, não suportou a forte emoção e começou a urinar nas calças. Samuel também não aguentou a cena, e desatou a rir. O bandido achou ruim;
- Tá rindo do quê, ô mané? Fica na moral aí! - E nesse momento sacou a 'arma'; um velho revólver calibre 22, enferrujado e capenga. Bem, velho ou não, é sempre uma arma. Samuel ficou em silêncio.
Após a coleta dos passageiros, os dois indivíduos disseram:
- Pare ali, em frente àquela rua.
Samuel parou. Mas, antes de abrir a porta, sacou tranquilamente a sua enorme 'ferramenta', que brilhava como uma estrela, apontou-a para a cara dos dois elementos que, meio que distraídos observando a movimentação na rua, se amontoavam na escada prontos para descer, Sassá então falou, com uma calma perturbadora:
- Antes de descerem, coloquem por favor tudo o que roubaram aqui no capô. Ah, e coloquem também o brinquedinho de vocês. Gostei dele, tão pequenininho... Vou levar para minha filha brincar.
Pegos de surpresa, e vendo o sinistro sorriso e o frio brilho no olhar de Samuel, os vagabundos não tiveram alternativa senão depositar tudo no 'altar' e descer em silêncio.
O cobrador Dada, e os passageiros não acreditavam no que viam.
- Você é maluco, é doido! ~ diziam, assustados.
- Agora senhores passageiros, cada um venha aqui e veja na mochila deles o que é seu.
Mas a notícia chegou a seu Francisco, o dono da empresa, que, claro, convocou Samuel para prestar esclarecimentos. Aquele tipo de atitude imprudente não poderia se repetir.
- Ora seu Francisco, do que o senhor reclama? Me dou ao trabalho de defender o seu patrimônio e o de seus clientes, além da honra de sua empresa, e o senhor ainda acha ruim?
Francisco, percebendo que o jovem Sassá era caso perdido, mandou que ele voltasse ao trabalho, recomendando que ele tomasse cuidado, e evitasse andar armado.
Mas e os bandidos, estará você se perguntado? Não voltaram em busca de vingança, ou ao menos para tentar novos assaltos? Sim. Certa feita, tarde da noite, estavam os mesmos trapalhões em outro ponto, e ao verem o veículo aproximando-se, deram sinal. Reconhecendo-os à distância, Samuel parou bem defronte a eles, abrindo a porta dianteira para que pudessem vê-lo. Apenas olhou em silêncio. Os rapazes, ao reconhecê-lo, gritaram;
- Pode ir tio, pode ir! O senhor é maluco, contigo nós não vamo não!
Fonte:
Ron Letta (Sammis Reachers). Rodorisos: histórias hilariantes do dia-a-dia
Ron Letta (Sammis Reachers). Rodorisos: histórias hilariantes do dia-a-dia
dos Rodoviários.
São Gonçalo: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.
São Gonçalo: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.
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