ANAXIMANDRO GOROROBA, logo cedo, mal tendo tempo de colocar os pés fora do portão, se encontra com seu vizinho de rua, e de casa, o Pelicano Empalhado. Antes de mandar um ‘bom dia,’ ou um ‘como vai’, opta por perguntar, ao amigo, pela filha dele, a linda e encantadora Juldrene Cata Piolhos.
— E ai, Pelicano Empalhado, como está a nossa menina Juldrene Cata Piolhos? Desculpe a curiosidade. Sei que estou sendo meio indiscreto. Soube, pela minha esposa Gasparina, que ela, finalmente, se livrou daquela mania estranha de querer namorar todos os rapazes aqui do nosso bairro. Procede?
— Verdade, meu caro Anaximandro. A pobrezinha, agora, está completamente liberta...
— Que ótimo. Folgo em saber... O que ela está fazendo? A Gasparina me falou também que voltou a trabalhar e a estudar?
— Sim. Havia trancado a matrícula mas orei por ela, pedi tanto, coloquei os joelhos no chão, umas oito vezes por dia. Deus ouviu as minhas preces. A preciosa voltou às funções de supervisora na fábrica de mordaças para bocas de fofoqueiros e retornou à faculdade de odontologia.
— Estou feliz em saber. De verdade. Percebo, olhando para seu rosto, que está feliz. Acertei?
— Sinceramente?
— Claro!
— Não, não estou...
— Posso saber o motivo?
— Ela parou, de fato, com aquela loucura de namorar a galera aqui da nossa rua, inclusive o seu querido filho garanhão, o Enantato Camomilo...
— Eu sei. Acredite, não é de hoje, venho dando conselhos à ele. Domingo tivemos uma conversa séria e fiz questão de deixar pontilhado o seguinte: Enantato, para com esta ideia. Tome vergonha, nesta sua fuça descarada. Não pode ver um rabo de saia... Fuja da Juldrene Cata Piolhos. Ela não é a moça certa para você construir uma família. Lembra, ela é uma...
Pelicano Empalhado muda as feições. Fecha o cenho. Está literalmente carrancudo e pê da vida.
— Continue, Anaximandro... Ela o quê?
— Nada, meu amigo. Esquece...
— Começou, termine. Ela o quê?
O pai de Enantato Camomilo, como se costuma dizer, se vê enfiado numa tremenda saia justa. Pelicano Empalhado, por seu turno, parece fora de si.
— Nada. Eu não disse nem pretendia falar coisa alguma.
— Seu mentiroso. Você ia vomitar algo a respeito da minha filha. Vamos, complete. Juldrene Cata Piolho é uma...? Vamos... desembucha... Seja macho igual a sua esposa Gasparina....
— Qué isto? Papo mais louco! Esquece. Deu branco. Não ia dizer nada. Estou feliz, repito, por saber que ela parou de pular de galho em galho. Mais hoje, mais amanhã, acabaria prenha, buchuda, em decorrência de uma gravidez indesejada. Ela é tão nova...
— Agora é meio tarde, Anaximandro. Ela engravidou. E não foi por falta de aviso, lhe asseguro. Eu cansei de falar: filha, pare com isto, você é nova, tem uma vida toda pela frente... Se quer namorar, arranje um rapaz direito e decente, trabalhador, não um bunda mole que vive surfando de domingo a domingo e às custas dos pais...
— Se fosse meu filho, juro que pegava o cabra de jeito e metia porrada. E diria: eu não lhe avisei, seu filho de uma égua? Está vendo? Tanto fez, tanto aprontou, que embarrigou aquela sirigaita mal acabada. Não se cuidou... Bem feito, agora pega aquela cadela sarnenta e suma da minha frente... Pelicano Empalhado, desculpe, me empolguei. Sabe ao menos, quem é o pai da cria?
— É evidente que sei.
— Dos males o pior. Corre atrás do infeliz e faça o miserável assumir a situação. Virou os olhinhos, balançou os esqueletos, fez o bolo, agora precisa ajudar a partir e comer...
— Seguirei seu conselho, Anaximandro. E farei isto ao pé da letra. O maldito comerá o bolo que ajudou a fazer... pedacinho por pedacinho...
— Assim é que se fala, meu amigo. Obrigue o desgraçado a reparar o erro.
— Farei isto, pode estar certo. E digo mais: se ele não me der ouvidos, poderá pedir para os pais irem encomendando o caixão...
— E você sabe, então, quem é o amaldiçoado, Pelicano Empalhado?
— Não só sei quem é o famigerado, como terei um papo de homem pra homem bem bacana com ele!
— Assim é que se fala, meu amigo. O negócio é botar ordem no galinheiro. Mas agora se abre. Quem é? Me fale que lhe ajudo a encostar o sujeito contra a parede. E, ainda, de contrapeso, lhe ajudo a meter o ferro nele. Ah... se um pilantra faz isto com uma filha minha...
— Você disse bem. Vou precisar, realmente, que me ajude. Assim, nem precisei pedir SOS...
— Sou seu amigo, Pelicano Empalhado. Você sabe melhor que ninguém. Nossa amizade não nasceu numa mesa de botequim. Vamos, meu velho, diz ai: quem emprenhou a pobrezinha da Juldrene Cata Piolhos?
Pelicano Empalhado, muito sério e, a ponto de pular no gogó do pai do miserável que desonrara a sua única herdeira, se segura, engolindo o ódio que sente:
— O vadio malandrino do Enantato Camomilo, seu filho...
— E ai, Pelicano Empalhado, como está a nossa menina Juldrene Cata Piolhos? Desculpe a curiosidade. Sei que estou sendo meio indiscreto. Soube, pela minha esposa Gasparina, que ela, finalmente, se livrou daquela mania estranha de querer namorar todos os rapazes aqui do nosso bairro. Procede?
— Verdade, meu caro Anaximandro. A pobrezinha, agora, está completamente liberta...
— Que ótimo. Folgo em saber... O que ela está fazendo? A Gasparina me falou também que voltou a trabalhar e a estudar?
— Sim. Havia trancado a matrícula mas orei por ela, pedi tanto, coloquei os joelhos no chão, umas oito vezes por dia. Deus ouviu as minhas preces. A preciosa voltou às funções de supervisora na fábrica de mordaças para bocas de fofoqueiros e retornou à faculdade de odontologia.
— Estou feliz em saber. De verdade. Percebo, olhando para seu rosto, que está feliz. Acertei?
— Sinceramente?
— Claro!
— Não, não estou...
— Posso saber o motivo?
— Ela parou, de fato, com aquela loucura de namorar a galera aqui da nossa rua, inclusive o seu querido filho garanhão, o Enantato Camomilo...
— Eu sei. Acredite, não é de hoje, venho dando conselhos à ele. Domingo tivemos uma conversa séria e fiz questão de deixar pontilhado o seguinte: Enantato, para com esta ideia. Tome vergonha, nesta sua fuça descarada. Não pode ver um rabo de saia... Fuja da Juldrene Cata Piolhos. Ela não é a moça certa para você construir uma família. Lembra, ela é uma...
Pelicano Empalhado muda as feições. Fecha o cenho. Está literalmente carrancudo e pê da vida.
— Continue, Anaximandro... Ela o quê?
— Nada, meu amigo. Esquece...
— Começou, termine. Ela o quê?
O pai de Enantato Camomilo, como se costuma dizer, se vê enfiado numa tremenda saia justa. Pelicano Empalhado, por seu turno, parece fora de si.
— Nada. Eu não disse nem pretendia falar coisa alguma.
— Seu mentiroso. Você ia vomitar algo a respeito da minha filha. Vamos, complete. Juldrene Cata Piolho é uma...? Vamos... desembucha... Seja macho igual a sua esposa Gasparina....
— Qué isto? Papo mais louco! Esquece. Deu branco. Não ia dizer nada. Estou feliz, repito, por saber que ela parou de pular de galho em galho. Mais hoje, mais amanhã, acabaria prenha, buchuda, em decorrência de uma gravidez indesejada. Ela é tão nova...
— Agora é meio tarde, Anaximandro. Ela engravidou. E não foi por falta de aviso, lhe asseguro. Eu cansei de falar: filha, pare com isto, você é nova, tem uma vida toda pela frente... Se quer namorar, arranje um rapaz direito e decente, trabalhador, não um bunda mole que vive surfando de domingo a domingo e às custas dos pais...
— Se fosse meu filho, juro que pegava o cabra de jeito e metia porrada. E diria: eu não lhe avisei, seu filho de uma égua? Está vendo? Tanto fez, tanto aprontou, que embarrigou aquela sirigaita mal acabada. Não se cuidou... Bem feito, agora pega aquela cadela sarnenta e suma da minha frente... Pelicano Empalhado, desculpe, me empolguei. Sabe ao menos, quem é o pai da cria?
— É evidente que sei.
— Dos males o pior. Corre atrás do infeliz e faça o miserável assumir a situação. Virou os olhinhos, balançou os esqueletos, fez o bolo, agora precisa ajudar a partir e comer...
— Seguirei seu conselho, Anaximandro. E farei isto ao pé da letra. O maldito comerá o bolo que ajudou a fazer... pedacinho por pedacinho...
— Assim é que se fala, meu amigo. Obrigue o desgraçado a reparar o erro.
— Farei isto, pode estar certo. E digo mais: se ele não me der ouvidos, poderá pedir para os pais irem encomendando o caixão...
— E você sabe, então, quem é o amaldiçoado, Pelicano Empalhado?
— Não só sei quem é o famigerado, como terei um papo de homem pra homem bem bacana com ele!
— Assim é que se fala, meu amigo. O negócio é botar ordem no galinheiro. Mas agora se abre. Quem é? Me fale que lhe ajudo a encostar o sujeito contra a parede. E, ainda, de contrapeso, lhe ajudo a meter o ferro nele. Ah... se um pilantra faz isto com uma filha minha...
— Você disse bem. Vou precisar, realmente, que me ajude. Assim, nem precisei pedir SOS...
— Sou seu amigo, Pelicano Empalhado. Você sabe melhor que ninguém. Nossa amizade não nasceu numa mesa de botequim. Vamos, meu velho, diz ai: quem emprenhou a pobrezinha da Juldrene Cata Piolhos?
Pelicano Empalhado, muito sério e, a ponto de pular no gogó do pai do miserável que desonrara a sua única herdeira, se segura, engolindo o ódio que sente:
— O vadio malandrino do Enantato Camomilo, seu filho...
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Texto enviado pelo autor.
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